sexta-feira, 27 de abril de 2012

Menor desperdício na produção de frutas


Francisco Fechine (à esquerda) e Jurandi Oliveira
Uma tecnologia inovadora pode dar maior agilidade na hora de avaliar a qualidade das frutas antes de serem comercializadas. Desenvolvida pelo professor Francisco Fechine Borges, do Instituto Federal da Paraíba, a tecnologia utiliza sensores eletrônicos para avaliar como está a fruta por dentro, permitindo saber em quanto tempo ela poderá ser consumida.

Fechine está na UENF desde quarta-feira, 25/04, a convite do professor Jurandi  G. Oliveira, do Setor de Fisiologia Vegetal do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV) da UENF. Na quinta, ele proferiu a palestra "Aquisição de dados de grandezas físicas e sinais biológicos com microcomputadores e sensores MEMS de baixo custo”. E nesta sexta, ministrou uma oficina sobre o assunto.

— Estamos fazendo testes, aqui na UENF, para validar o sistema desenvolvido pelo professor Francisco. Enquanto ele utilizou a manga, nós estamos utilizando o mamão, que já é alvo de nossas pesquisas. A empresa Caliman, que é nossa parceira, já demonstrou interesse no equipamento, que tem como principal vantagem o baixo custo — explica o professor Jurandi.

Tecnologias similares são utilizadas em Israel, China e Tailândia, mas não são acessíveis a pequenos e médios produtores rurais. Segundo Fechine, a ideia é futuramente obter um financiamento para que seja desenvolvido um protótipo do equipamento. Novos testes deverão ser realizados e, se tudo der certo, deverá ser feita a transferência do conhecimento para a indústria.

— A ideia é aplicá-lo em uma linha de embalagem de frutas, substituindo a manipulação (que é feita atualmente) pela esteira com sensores que levam os dados ao computador. Este classifica na hora o produto, que já sai direto para a caixa apropriada, indicando em quanto tempo deverá ser consumido. Com isso teremos menos perdas, que hoje chegam a 50% — explica Fechine.

Fúlvia D'Alessandri

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Setor acadêmico x setor produtivo


Um maior relacionamento entre o setor acadêmico e o setor produtivo contribui para aumentar o número de inovações originadas dentro das universidades? Pesquisa feita pelo mestrando Matheus Sepúlvida Peres Monteiro, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UENF, mostra indícios de que este fenômeno, de fato, ocorre.

— No entanto, também foram levantados indícios de que o setor acadêmico ainda se encontra pouco aberto ou é ineficaz neste tipo de relação, pelo menos no que tange à cooperação para a realização de pesquisas — diz Matheus, que teve a orientação do professor Manuel Antonio Molina Palma, do Laboratório de Engenharia de Produção da UENF (LEPROD).

Intitulada ‘Estudo sobre a influência da cooperação entre o setor acadêmico e industrial na inovação gerada pelas pesquisas universitárias no Estado do Rio de Janeiro: um olhar nas Engenharias”, a pesquisa foi defendida em 09/04/12. O trabalho aponta ainda indícios de que o desenvolvimento regional auxiliado pelas universidades pouco tem a ver com as inovações geradas nestas instituições.

— As universidades são grandes centros de conhecimento, apresentando grande potencial para a geração de inovações. Porém, a visão focada na aplicação do conhecimento é pouco difundida nos meios acadêmicos, mais focados na expansão de suas fronteiras. Uma maneira de potencializar a capacidade inovativa das universidades é aliar esta visão voltada para a criação de novos conhecimentos, típica da área acadêmica, à necessidade de aplicar tais conhecimentos de uma forma útil, típica da visão empresarial — afirma o pesquisador.

O universo da pesquisa foram os pesquisadores das áreas de Engenharia das principais universidades públicas do Estado do Rio — UENF, Uerj, UFF, UFRJ, UFRRJ e Unirio. Segundo Matheus, o que motivou a preferência por universidades públicas foi o fato de estas serem as principais produtoras de trabalhos científicos no Brasil. Já a área de Engenharias foi escolhida por cobrir um amplo ramo da ciência aplicada, tendo assim mais chance de manter relações com a indústria.

Foram enviados e-mails para professores/pesquisadores de 12 engenharias (agronômica, ambiental, civil e estrutural, de computação, elétrica e eletrônica, florestal, mecânica, metalúrgica e de materiais, de produção, de petróleo, química e de telecomunicações), propondo que respondessem a um questionário. Os dados obtidos foram analisados utilizando ferramentas da estatística não paramétrica.

Se você quiser saber mais sobre o assunto, veja a dissertação completa aqui.

Fúlvia D'Alessandri

sexta-feira, 20 de abril de 2012

SciELO Brasil lança portal de livros eletrônicos

Foi lançado em 30 de março, durante evento na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São Paulo, o portal SciELO Livros. O portal visa à publicação on-line de coleções de livros de caráter científico editados, prioritariamente, por instituições acadêmicas. 
Leia a reportagem, na íntegra, na Revista Fapesp.

Bebê anencéfalo não tem sensações conscientes


Toda a polêmica em torno da descriminalização do aborto de anencéfalos — aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última semana — enseja uma pergunta: afinal, o feto com anencefalia pode sentir dor? Em outras palavras  o aborto pode trazer algum tipo de sofrimento para ele? Para o professor Arthur Giraldi Guimarães, do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual da UENF (LBCT), especialista em neurobiologia, a resposta é não.

— O bebê anencéfalo é incapaz de ter consciência e de ter sensações somáticas ou executar movimentos voluntários. Pode apenas ter movimentos involuntários e reflexos, ambos inconscientes, e não tem a capacidade de sentir dor, por exemplo. Isso se deve ao fato de o bebê anencéfalo não possuir o córtex cerebral — sede da consciência e das funções somáticas ou voluntárias, ou seja, aquelas que envolvem a consciência — explica.

Segundo o professor, a anencefalia é um tipo de malformação do tubo neural, estrutura que dá origem ao Sistema Nervoso Central (encéfalo e medula espinhal). Mais especificamente, se caracteriza pelo não fechamento do tubo neural na porção cefálica (correspondente à cabeça, onde fica localizado o encéfalo). Com isso, não se formam o córtex cerebral e o cerebelo. O encéfalo do bebê é constituído basicamente pelo tronco encefálico (região responsável por funções vitais, como a regulação da função cardiorrespiratória, por exemplo).

— Raramente os bebês anencéfalos sobrevivem mais que seis dias após o nascimento. A explicação exata ainda não é conhecida, mas provavelmente deve ter relação com o fato de o tronco encefálico, apesar de formado, provavelmente ser ineficiente. Embora a malformação mais grave seja no córtex, que nem se forma, o tronco encefálico também pode estar malformado, ainda que num menor grau. De qualquer forma, mesmo que o tronco fosse plenamente funcional, a vida seria vegetativa — diz.

Na maioria das vezes, a própria natureza se encarrega de abreviar a gravidez. Os 35% que nascem vivos sobrevivem apenas por horas ou poucos dias. Em raríssimos casos, o bebê sobrevive mais tempo, mas os cuidados, neste caso, devem ser constantes, uma vez que o tronco encefálico não é plenamente funcional. Isto impede a boa execução de funções basais e vitais, como o controle da respiração e da deglutição.

— Além disso, a anencefalia aumenta o risco de pré-eclâmpsia e de polidramnia (aumento do volume de líquido amniótico). Isso ocorre porque o bebê não tem o reflexo natural de engolir o líquido amniótico, aumentando o seu volume no interior do útero, o que pode levar a problemas secundários, como falta de contração na hora do parto e hemorragias — afirma o professor, que considera acertada a medida do STF que descriminaliza o aborto nestes casos. Para ele, a família deve ter o direito de decidir se quer manter a gravidez ou não, sabendo previamente que o bebê não tem chance de permanecer vivo.

Fúlvia D'Alessandri

quarta-feira, 18 de abril de 2012




Planetas Extrassolares

Adriana Bernardes

Via Láctea, a nossa galáxia
Para um melhor entendimento do que são planetas extrassolares, vamos iniciar este artigo com a definição de planeta. Tudo começou assim: na antiguidade, os gregos perceberam que havia corpos celestes que se movimentavam no céu, em relação às estrelas fixas. Eles os chamavam de “errantes”. Portanto o significado da palavra planeta é exatamente este: errante.

Porém, em 2006, após a descoberta de outros corpos celestes, como Sedna e Éris, foi necessário determinar o que era realmente um planeta. Então, no dia 24 de agosto, na reunião internacional de Astronomia, que aconteceu em Praga, Tchecoslováquia, foi dada a definição exata de planeta. Assim, decidiu-se que um planeta deveria estar em órbita de uma estrela, ter forma esférica e ser dominante em sua órbita. Foi exatamente esta definição que fez com que Plutão deixasse de ser considerado planeta e que agora seja chamado “planeta anão”. Mas sobre isto falarei num artigo próximo.

Por muito tempo pensou-se que nosso sistema solar constituía todo o universo existente. Conheciam a terra, o sol, a lua, os planetas — e isto era tudo. Foi também há pouco tempo que deixamos de pensar que nossa galáxia era então todo o universo conhecido.

Sabemos hoje que existem bilhões e bilhões de galáxias e que a Via Láctea tampouco é a maior, ou a central, ou tem alguma particularidade que a faça melhor que as outras.No fim do século XX, constatou-se não só a existência de outras galáxias, como também a existência de outros planetas orbitando estrelas destas galáxias.

Estes planetas que orbitam outras estrelas, que não o nosso Sol, são chamados planetas extrassolares ou exoplanetas. Já foram descobertos 598 planetas extrassolares e todos os dias são descobertos outros. Em sua maioria, estes planetas são gasosos e próximos demais de sua estrela, porém também vêm sendo descobertos planetas rochosos.

Os primeiros exoplanetas descobertos eram planetas que orbitavam pulsares.  Variações na frequência de emissão destas estrelas indicavam corpos girando ao seu redor. Estas descobertas ocorreram em 1992.
Planetas extrassolares são descobertos na maioria das vezes pela variação da emissão de luz emitida pela estrela. Quando um planeta transita frente a uma estrela, esta emissão é diminuída e a percepção dela é alterada. Constata-se então a existência de um planeta em órbita da estrela.

Conhecendo-se a estrela, pode-se determinar onde se localiza sua zona habitável e assim cogitar a possibilidade de vida no planeta, fato que amplia as possibilidades de estudo da astrobiologia.
Os satélites também podem auxiliar na detecção de planetas extrassolares. O Corot, francês, o Kepler, da NASA (Agência Espacial Americana), Gaia e Darwin da ESA (Agência Espacial Europeia) têm realizado um grande trabalho na detecção destes planetas.

Giordano Bruno
É importante lembrar, há mais de quatro séculos, Giordano Bruno já acreditava que estrelas são ‘sóis’ semelhantes ao nosso, com possibilidade de existência de vida em planetas girando ao seu redor. E foi justamente por estas ideias que ele foi morto.

São esses e tantos outros fatos que tornam a ciência, por si só, extremamente fascinante.

Neste site você pode acompanhar as descobertas de novos planetas extrassolares:

http://exoplanets.eu/catalog.php

Cresce valorização da divulgação científica

Confira a entrevista do editor de Ciência do jornal Financial Times, de Londres - Clive Cookson -, à Agência Fapesp. Na entrevista, reproduzida pelo Jornal da Ciência da SBPC de 17/04/12, o jornalista avalia a trajetória e os rumos do Jornalismo Científico na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil.

Cresce valorização da divulgação científica
 
Editor de Ciência do Financial Times há duas décadas, o jornalista britânico Clive Cookson acredita que os temas científicos têm se tornado mais familiares e mais valorizados para o público, graças a uma cobertura jornalística que se revela pouco a pouco mais profunda e mais precisa que no passado.

Essa transformação, de acordo com Cookson, deve-se em parte às novas tecnologias que facilitaram o trabalho do jornalista nos últimos anos. Mas, segundo ele, a principal razão para que o noticiário de ciência ganhasse mais qualidade está em uma mudança de atitude dos próprios cientistas, que perceberam a importância da comunicação.


Cookson, que atua há mais de 30 anos na cobertura dos temas de ciência e tecnologia, em diversos países e diferentes veículos e contextos, participou nesta segunda-feira (16) do seminário "Ciência na Mídia", promovido pela Fapesp na sede da Fundação, em São Paulo.


O evento teve o objetivo de estimular a reflexão, por parte de todos os envolvidos na produção e divulgação científicas, sobre as maneiras de propiciar um espaço para a troca de conhecimentos e a proposição de novos modos de pensar a divulgação desses temas na sociedade. Em entrevista, Cookson comentou esses temas.

Agência Fapesp - Como tem evoluído a cobertura jornalística sobre ciência, considerando os seus 30 anos de experiência na área?

Clive Cookson - Apesar de existirem muitos blogs e sites de ciência, as pessoas continuam obtendo a maior parte de suas informações sobre o que está acontecendo no mundo científico por meio da mídia tradicional: jornais impressos, revistas, TV e rádio. Assim, o cientista se comunica com o público por meio desses veículos não especializados em ciência. Essa não é uma relação trivial. Mas sou muito otimista, porque, olhando com essa perspectiva de 30 anos, percebo que os cientistas estão se tornando muito melhores na tarefa de se comunicar com a mídia.

Agência Fapesp - O que mudou nessa relação, da perspectiva dos cientistas?

Clive Cookson - Eles estão se tornando muito mais proativos, mais abertos. Perderam o medo do contato com os repórteres. É uma mudança muito grande se você olha em uma perspectiva de longo tempo. E acredito que se trata de algo até certo ponto generalizado. Aqui no Brasil percebi que os cientistas são muito abertos.

Agência Fapesp - Qual pode ter sido a razão para essa transformação?

Clive Cookson - Os cientistas perceberam - certamente nos Estados Unidos e Europa, mas acho que no Brasil também - que é mais provável conseguir investimentos públicos e auxílios para fazer suas pesquisas na medida em que eles se tornam bons comunicadores. Na Grã-Bretanha os conselhos de pesquisa incluem explicitamente a comunicação dos resultados científicos como um dos critérios importantes para conseguir investimentos. De modo geral, podemos dizer que você tem mais facilidade para conseguir o investimento se você estiver preparado para comunicar. Isso é verdade para os pesquisadores, de forma individual, mas também em uma perspectiva mais geral: os pesquisadores sabem que a ciência como um todo terá mais apoio público se os cientistas gastarem um pouco de tempo e esforço para falar com jornalistas.

Agência Fapesp - Além dessas mudanças do lado da comunidade científica, houve também evolução do lado da produção da notícia? A qualidade do jornalismo melhorou?

Clive Cookson - Houve melhora, mas nada que justificasse um aumento muito grande da confiança dos pesquisadores nos jornalistas. A qualidade do jornalismo melhorou, mas não acho que isso tenha acontecido porque os jornalistas se tornaram melhores. O que ocorreu é que ficou muito mais fácil escrever uma matéria sobre ciência, agora que podemos ter acesso a artigos científicos na internet, podemos obter comentários por e-mail e coisas assim. Quando eu comecei no ofício, se quiséssemos ter acesso a um artigo era preciso ir às bibliotecas e para um simples comentários era preciso ter muita sorte e localizar os pesquisadores por telefone na hora certa.

Agência Fapesp - No Brasil os jornalistas de ciência, com frequência, têm formação em jornalismo, mas não uma formação científica. Qual é a característica dos divulgadores na Inglaterra?

Clive Cookson - Na Inglaterra há uma mistura. A maior parte dos jornalistas de ciência tem uma formação em ciência. Eu, por exemplo, sou formado em química. Mas há outros ótimos jornalistas de ciência que têm seu background em artes ou humanidades e depois começaram a trabalhar com ciência e foram excepcionalmente atraídos pela área. Acho que há prós e contras em ambos os casos.

Agência Fapesp - Em uma situação hipotética: se o senhor tivesse que contratar um repórter, iria preferir um indivíduo com uma formação científica, que escreve bem, mas não tem nenhuma experiência prévia em jornalismo, ou alguém que é um jornalista capaz e talentoso, mas sem qualquer envolvimento com ciência, nem experiência em jornalismo científico?

Clive Cookson - Se eu estivesse contratando essa pessoa para um trabalho de reportagem de ciências em um jornal, por exemplo, não hesitaria: escolheria o jornalista que tem experiência em reportagem, em vez de escolher o cientista. Acho que a capacidade para ser um bom jornalista é de fato o mais importante. Não adianta ser um bom cientista que escreve corretamente. Porque a ciência realmente requer um texto diferente, vívido. Prefiro um excelente jornalista que um excelente cientista para fazer isso.

Agência Fapesp -A percepção do público em relação à importância da ciência também tem mudado?

Clive Cookson - Minha impressão é que o conhecimento sobre ciência em meio ao público geral melhorou sim. Ainda não é o suficiente, mas acho que, em geral, a população ficou mais alfabetizada em ciência que há alguns anos atrás. Muita gente passou a entender melhor as bases da ciência. As pessoas têm mais intimidade com temas e termos centrais no mundo científico. Até certo ponto a internet contribuiu com isso, mas não sei se há grande potencial para melhorar muito mais, porque na rede também temos muito ruído e desinformação.

Agência Fapesp - Os jornalistas procuram fazer a ciência mais atraente para o público. Ao mesmo tempo, tendem a mostrar exclusivamente os resultados de sucesso, deixando em segundo plano o processo de produção da ciência. Com isso não se corre o risco de mistificar a ciência junto ao público?

Clive Cookson - Tem toda razão, esse é um problema absolutamente fundamental na relação entre jornalismo e ciência. No noticiário não há tempo nem espaço para descrever todos os passos da produção da ciência, mostrando ao público que não se trata de mágica, mas de um processo difícil, pontuado de dificuldades e fracassos momentâneos. O que deixa essa situação pior é que mesmo que você privilegie as pesquisas de qualidade, publicadas em revistas de prestígio, os artigos científicos também não lhe darão pistas sobre o processo de como a ciência funciona. Você só conseguiria dar ao público uma educação científica se fosse possível acompanhar o trabalho por meses a fio no laboratório. Geralmente isso é impossível.

Agência Fapesp - Além disso, os insucessos raramente são publicados, não é?

Clive Cookson - Sim, essa é outra questão. A publicação, em particular na área de saúde, normalmente descreve apenas os resultados positivos. Os resultados negativos quase nunca têm espaço em publicações. É preciso estar atento a isso para não dar uma falsa impressão de que a ciência é feita só de acertos.

Agência Fapesp - Quando se noticia os resultados de um novo estudo, pode ser difícil repercutir a notícia com outros cientistas, porque muitas vezes eles alegam que ainda não tiveram contato com o artigo. Como o senhor lida com essa situação?

Clive Cookson - É uma situação extremamente difícil. Em primeiro lugar porque os cientistas normalmente não indicam seus competidores que trabalham na mesma área e que poderiam contribuir com um comentário. Além disso, geralmente é difícil conseguir um comentário sobre um artigo que acaba de sair e que não foi lido por quase ninguém. Na Inglaterra temos uma organização é muito útil, nesse sentido, para os jornalistas da área de saúde: o Science Media Centre.

Agência Fapesp - Como funciona?

Clive Cookson - É um serviço que foi criado há exatos 10 anos e reúne cientistas que atuam como se fossem assessores de imprensa. Eles pegam qualquer estudo e avaliam se é controverso, ou interessante o suficiente para render uma manchete. Então usamos seus contatos, que fazem comentários com grande qualidade. Acho que o SMC fez mais que qualquer outra instituição para melhorar a cobertura jornalística de ciência na Inglaterra. Eles têm excelentes bases de dados e uma incrível lista de contatos especializados. É muito eficiente.

Agência Fapesp - Muita gente vê os repórteres de ciência como tradutores de uma linguagem especializada para a linguagem do senso comum. O que o senhor acha dessa noção?

Clive Cookson - Parte do que fazemos pode ser visto como uma espécie de tradução, mas espero que nosso trabalho seja algo mais criativo e complexo que isso. Acho que os jornalistas são capazes de colocar novas maneiras de se olhar para a ciência que os próprios cientistas não poderiam proporcionar. É algo mais que simplesmente traduzir. Podemos gerar imagens, comparações, que os cientistas não conceberiam. Não se trata apenas de questão de simplificar uma linguagem, mas de fornecer uma interpretação nova de ideias, contextos e visões. E, mesmo no campo da linguagem, acho que esse trabalho extrapola a simples tradução: devemos ser autores capazes de tornar o conhecimento mais vívido, mais interessante para o público.

Agência Fapesp - Como foi sua trajetória? Por que se interessou por ciência?

Clive Cookson - Sempre me interessei por ciência e me formei em Química em Oxford. Mas dois fatos mudaram minha trajetória. Um deles é que notei que o jornalismo científico na Inglaterra não era bom. Ao mesmo tempo, percebi que eu não seria brilhante o suficiente para fazer um bom doutorado em química. Eu sabia que se não fosse tão brilhante, um doutorado em química poderia se transformar em algo não muito criativo, uma espécie de trabalho braçal para um orientador. Eu sabia que não era na verdade bom o suficiente para me tornar um grande cientista. Mas percebi que poderia escrever bem sobre ciência.

Agência Fapesp - E como começou de fato a atuar como jornalista?

Clive Cookson - Fui aceito em um programa de treinamento de um jornal local, em Londres. Depois de dois anos, tive a oportunidade de ir para Washington, nos Estados Unidos, por quatro anos, para trabalhar no suplemento de Educação Superior do Times. Foi uma experiência fantástica, eu escrevia sobre as universidades e institutos de pesquisa norte-americanos. Depois voltei para Londres para me tornar repórter de tecnologia do Times. Comecei, na década de 1980, a trabalhar na rádio BBC, como correspondente da área da saúde. E de lá fui para o Financial Times, onde tenho atuado como editor de ciência nos últimos 20 anos.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Os riscos da internet em excesso


Dor de cabeça, nos olhos e na coluna, visão embaralhada, irritabilidade, dificuldade de dormir, lapsos de memória, ansiedade, stress. Se você sofre de algum desses sintomas e é fanática por internet, há uma grande possibilidade de estar sendo vítima de uma patologia ainda pouco conhecida, mas que já é alvo de muitos estudos: a normose informacional. Também denominada “patologia da normalidade”, a normose pode ser definida como o conjunto de normas, conceitos, hábitos e valores que, embora possam ser aprovados por consenso ou pela maioria em uma determinada sociedade, podem provocar sofrimento, doença e morte.

— A normose informacional caracteriza os aspectos patogênicos da cultura informacional. Ela pode ser desencadeada pelas facilidades e hábitos impostos pelas novas tecnologias de informação — diz a jornalista Carla Cardoso, autora da pesquisa intitulada “Informação em excesso: a normose e a percepção de nativos e imigrantes digitais no twiter”. Orientada pelo professor Carlos Henrique Medeiros de Souza (LCL), a pesquisa embasou sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem da UENF.

O principal objetivo da pesquisa — que usou uma metodologia quantitativa e qualitativa — foi verificar se há vestígios da normose informacional entre os usuários do microblog Twitter. A hipótese de Carla era a de que o ambiente do Twitter é propício para a propagação da normose, em virtude de sua dinâmica de atualização constante. Na primeira etapa da pesquisa, foi elaborado um questionário com 18 questões de múltipla escolha, endereçado a usuários do Twitter. O questionário ficou disponível por 30 dias, obtendo 205 respostas.

Embora a maior parte dos entrevistados não se considere “dependente” da internet ou do Twitter, Carla observa que grande parte deles admite ficar conectado “o dia inteiro”, lendo mais que 30 mensagens por dia. Dentre os entrevistados, 37% disseram sentir dor nos olhos, 27%, dor de cabeça; 35%, dor na coluna; 30% sentem ansiedade diante da busca e compartilhamento das informações na rede; e 30% afirmaram não sentir vontade de desligar o computador. Dezoito por cento informaram que sentem solidão, mesmo participando de uma rede que possibilita relações sociais.

— Embora esses sintomas possam ser identificados em pessoas que sofrem de diversas patologias, foram apontados por estudiosos da normose informacional como fortes indícios da patologia. Segundo Ryon Braga, tais sintomas podem evoluir para desordens do humor, irritabilidade, dificuldade de adormecer, distúrbios de memória, até chegar a níveis elevados de stress e desenvolvimento de comportamento neurótico — diz Carla.

A pesquisa sugere, segundo Carla, que os indivíduos que utilizam a internet de forma excessiva — embora este hábito seja atualmente considerado normal —, já demonstram sentir os sintomas característicos da normose informacional. Ela ressalta a necessidade de mais estudos sobre os efeitos físicos, cognitivos, comportamentais e sociais relacionados ao uso excessivo da internet.

Se você quiser saber mais sobre a pesquisa, veja a dissertação completa aqui.

Fúlvia D'Alessandri



sexta-feira, 13 de abril de 2012

Carência de sono prejudica aprendizado


Hora de dormir. Um momento de descanso para muitos, mas de desespero para tantos outros. O que nem todo mundo sabe é que quem dorme pouco pode ter muita dificuldade em assimilar novos conhecimentos. Iniciado em 2009, o projeto “Melhor dormir para melhor aprender”, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Neuropsicologia Cognitiva (NEPENC) do Laboratório de Cognição e Linguagem (LCL) da UENF, tem se dedicado a divulgar para estudantes e professores, de forma simples e direta, conhecimentos a respeito da qualidade e da quantidade de sono necessárias e o papel que as diferentes fases do sono desempenham no processo de aprendizagem — tanto na seleção quanto na  fixação de novas informações.

— A carência de horas de sono leva ao déficit de memória, sonolência diurna, alterações de humor e queda da imunidade. Tudo isso provoca a diminuição da motivação e da concentração, essenciais para o aprendizado — explica a professora Sylvia Joffily, que coordena o NEPENC.

Segundo Sylvia, os professores podem ajudar os alunos conhecendo melhor os mecanismos geradores do sono e sua influência nos processos cognitivos responsáveis pela aprendizagem. E, além disso, podem compartilhar seus conhecimentos com os alunos e com seus familiares em reuniões de grupo.

— Este não é um problema exclusivo do Brasil, mas vem se agravando devido à situação socioeconômica do país, considerando que a aprendizagem depende da qualidade do sono e que este depende da qualidade de vida, a qual envolve fatores como alimentação, moradia, saneamento, segurança, educação e saúde — diz Sylvia.

Dentre os fatores que prejudicam o sono estão o excesso de luminosidade — em maior proporção nas cidades grandes —, o uso indiscriminado de aparelhos eletrônicos, o uso de drogas — dentre as quais se incluem drogas lícitas, como o álcool e a nicotina — além da vida pautada pela competição, característica do capitalismo desenfreado.

Medicamentos que induzem o sono, segundo Sylvia, só podem ser usados quando mudanças nos hábitos alimentares e de vida, além do acompanhamento psicológico, não resolverem o problema. Estes medicamentos atuam sobre os neurotransmissores moduladores do sono, tais como dopamina, serotonina, melatonina, entre outros. Quando utilizados sem a devida supervisão do médico especialista, estes medicamentos podem, além de viciar, causar adversos efeitos colaterais.

Ela dá algumas dicas para um sono melhor: dormir e acordar sempre nos mesmos horários; não ingerir bebidas alcoólicas antes de dormir; evitar bebidas estimulantes como café, chá-preto, guaraná em pó etc.; não fumar; dormir em local escuro, com cama e travesseiros confortáveis; alimentar-se com refeições leves pelo menos duas horas antes de dormir; submeter-se a práticas relaxantes, como a meditação, e só tomar remédios para dormir em ocasiões especiais e sob orientação médica.

Fúlvia D'Alessandri
Rafaella Dutra

terça-feira, 10 de abril de 2012

Eficácia dos recifes artificiais marinhos no Norte Fluminense


Módulos constituintes do complexo de recifes artificiais 
marinhos na costa norte do Estado do Rio de Janeiro. 
Os recifes artificiais vêm sendo utilizados, em várias partes do mundo, como forma de aumentar a biodiversidade em ecossistemas marinhos desprovidos de recifes naturais. Uma pesquisa feita pelo Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF está mostrando a eficácia dessa ferramenta ecológica na praia de Manguinhos (município de São Francisco de Itabapoana, Norte Fluminense), onde desde 1996 está implantado um complexo de recifes artificiais, a quatro quilômetros da costa.

A pesquisa, feita pelo mestrando Phillipe Machado, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UENF, comprovou o aumento da abundância e diversidade de invertebrados marinhos como poliquetas, crustáceos, moluscos e equinodermas que vivem no sedimento do entorno dos recifes. O estudo teve a orientação da professora Ilana Rosental Zalmon, que há 17 anos realiza pesquisas nesta área.

O complexo de recifes artificiais da praia de Manguinhos é composto por 36 blocos de concreto com cerca de 500 quilos cada um. Além do aumento do número de indivíduos, a pesquisa mostrou também o aumento da diversidade dos invertebrados.

Equipe de trabalho: à esquerda, a professora  Ilana Rosental. 
E, na extrema direita, Phillipe Mota Machado
— Nós verificamos que os recifes artificiais contribuem para diferenças no sedimento do entorno. Eles atuam como uma barreira física, diminuindo a velocidade de correntes na área e favorecendo a permanência dos organismos que ali vivem, devido a uma maior estabilidade do ambiente — explica.

Segundo Phillipe, o trabalho também pode contribuir com pesquisas futuras envolvendo efeitos de mudanças climáticas em ambientes marinhos. Ele observa que os recifes artificiais podem ajudar a minimizar os efeitos climáticos, auxiliando, por exemplo, no decréscimo da erosão em ambientes costeiros.

 — A importância dos recifes artificiais está na sua capacidade de atrair vários organismos marinhos, incluindo os peixes. Por isso, são utilizados para incremento de estoques pesqueiros, aumento da biodiversidade e atividades de lazer, como pesca esportiva e mergulho etc. A presença dos recifes artificiais na costa norte do Estado do RJ é fundamental, pois a região é pobre em recifes naturais e costões rochosos — conclui.


Letícia Barroso
Fúlvia D’Alessandri

quarta-feira, 4 de abril de 2012




Anãs Brancas

Adriana  Oliveira Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br


Umas das perguntas mais frequentes em relação à nossa estrela central, o Sol, é sobre a possibilidade de ele se transformar em um buraco negro. Poucos sabem, mas mesmo se isto acontecesse os planetas continuariam a orbitá-lo, pois sua massa permaneceria a mesma e a distância também, logo a força gravitacional também ficaria inalterada.

Mas a resposta a esta pergunta é não — e a razão é que ele não tem massa suficiente para que isto ocorra.
Ao finalizar suas atividades, o que ocorrerá daqui a cinco bilhões de anos,  nosso Sol se encaminhará para a fase de anã branca. Terão se passado então dez bilhões de anos desde a sua formação.

Podemos dizer que 98% das estrelas evoluem para este estágio. Conhecemos hoje mais de 15 mil anãs brancas. Para se ter uma ideia, até 1917 eram conhecidas apenas três: Sirius B,  40 Eridani B e van Maanen 2.

Nosso Sol passará pelas seguintes fases: gigante, gigante vermelha, nebulosa planetária e anã branca. Na fase em que ocorrer uma significativa expansão da estrela, ela se transformará numa gigante vermelha, que passará à fase de nebulosa planetária, para só então seguir como anã branca.

Nebulosa Planetária “Olho do Gato” em foto da NASA, obtida 
através do  Telescópio Espacial Hubble.
Uma nebulosa planetária é algo belíssimo. A chamada “olho do gato” é um bom exemplo disso. É bom lembrar que o processo em que o gás passa para o meio interestelar dura aproximadamente 5 mil anos. Conhecemos hoje cerca de mil nebulosas planetárias. Têm-se o estágio de anã branca quando o gás da nebulosa planetária, principalmente o hidrogênio, se dispersa no meio interestelar e é excitado pelos raios ultra-violetas da estrela central.

O maior estudioso do assunto foi o astrofísico Chandrasekhar. Temos hoje um telescópio de raios-x, da NASA, com o nome dele. Em 1931 este indiano estabeleceu um limite de massa para a estrela entrar neste estágio.

Estas estrelas vêm sendo estudadas desde 1850, porém como são pouco brilhantes torna-se difícil observá-las. Das estrelas da via Láctea, 10% são anãs brancas. A mais famosa é a Sirius B, que forma um sistema binário com Sirius A, a estrela mais brilhante do nosso céu à noite. 

As anãs brancas possuem massa semelhante à do nosso Sol, porém tamanho semelhante ao da Terra, o que lhes confere grande densidade. Neste estágio, ela sofre um resfriamento lento, até tornar-se uma anã negra, que não emitirá mais luz.

As estrelas, que no século XIX eram tidas como eternas, têm hoje conhecidas as principais fases de sua evolução: do nascimento à morte. E o universo? Será este, sim, eterno?
Telescópio espacial de Raios-x Chandra


SUGESTÃO DE SITES:

Site da NASA:


Site  educacional do Telescópio Espacial Chandra