quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ciência na escola


UENF inaugura laboratório de ciências em escola pública de Campos nesta sexta, 01/06

Laboratório montado pela UENF em outra escola pública de
Campos, Sílvio Bastos Tavares

Física, química e biologia podem parecer bem complicadas quando estamos na escola. Porém, tudo fica mais interessante quando é possível colocar em prática toda a teoria aprendida em sala de aula. Este é objetivo do projeto de implantação do Laboratório de Ciências do Colégio Estadual João Pessoa, coordenado pelo professor Juraci Sampaio, do Laboratório de Ciências Físicas (LCFIS) da UENF. A inauguração está marcada para esta sexta, 01/06, às 10h30.

A montagem do laboratório só foi possível graças ao apoio financeiro da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro (Faperj), que destinou R$ 37,9 mil ao projeto, contemplado no Edital de Melhoria das Escolas Públicas. Os recursos foram disponibilizados pela Faperj em maio do ano passado e, desde então, novos equipamentos vêm sendo adquiridos. O projeto envolve ainda os professores Roberto Weider de Assis Franco, Denise Ribeiro dos Santos e Maria Priscila Pessanha de Castro, todos do LCFIS.

— O objetivo é despertar o interesse pela ciência no aluno do ensino médio, que tem necessidade de pôr em prática aquilo que lê nos livros. Do contrário, acaba perdendo o interesse pelas disciplinas que, sem o experimento, tornam-se apenas contas complicadas e nomes para decorar — afirma Juraci.

O professor era coordenador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) na área de Física quando teve o primeiro contato com o Colégio João Pessoa. Por exigência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), as escolas que participam do PIBID devem ter notas baixas nos índices de avaliação escolar. Por este motivo, o Colégio João Pessoa foi escolhido para a implantação do laboratório de ciências.

— Ao visitar a escola verifiquei a existência de uma sala com apenas algumas banquetas, que era para ser o laboratório de ciências, mas vazia — conta.

Dentre os muitos envolvidos no projeto estão ex-alunos da UENF que hoje são professores da escola, como Rosa Maria de Alvarenga, Aline Escocard e Pedro Tavares. Segundo Juraci, a ideia é ter um laboratório multidisciplinar onde todos são responsáveis por seu funcionamento. Uma das ideias da escola é implantar um projeto de pré-iniciação científica.

— Os professores estão ansiosos para usar o laboratório e os alunos, muito curiosos. Não adianta cobrar o professor do ensino fundamental e médio se não há condições de desenvolver o seu trabalho. Esperamos de fato contribuir para a melhoria da escola nos índices de avaliação escolar — conclui.

Fúlvia D'Alessandri
Rebeca Picanço 

Veja como foi a inauguração

terça-feira, 29 de maio de 2012







De que é constituído o universo?
 As partículas elementares


Adriana Oliveira Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br

A maioria das pessoas que passam pelo ensino médio aprende que os corpos são formados por átomos, que por sua vez são formados por prótons, nêutrons e elétrons. Geralmente, termina-se este segmento de ensino sem saber que prótons e nêutrons também são formados por outras partículas: os quarks. Ou seja, prótons e nêutrons não são partículas elementares, pois são constituídos de outras partículas.

A física de partículas, inserida no que chamamos de física moderna, vem sendo introduzida aos poucos na educação básica. O fato acaba fazendo com que o conhecimento atual não seja de domínio da nova geração, que sofre bombardeio constante da mídia no que diz respeito a vários temas da área. Muitas informações divulgadas estão relacionadas ao funcionamento do maior acelerador de partículas já construído, o LHC (Large Hadrons Colider).

Radiação, partículas e teoria da relatividade são assuntos presentes na mídia nos dias de hoje e, por este motivo, devem fazer parte dos currículos, a fim de motivar o aprendizado do aluno.

Saindo de minha incursão pelo mundo do ensino, voltemos ao assunto que nos propomos a desenvolver: afinal de contas, de que é constituído o universo?

A matéria, tal qual a conhecemos — formada por prótons, nêutrons e elétrons —, representa 4% do total de massa do universo; os outros 96% são formados por matéria escura e energia escura.
Nesses 96%, 23% é matéria escura e 73%, energia escura. Tanto uma quanto a outra não são visíveis e não podem ser detectadas por telescópios.

Sabemos que elas existem devido aos efeitos que causam na matéria visível. Esses fenômenos nos levam a crer que ou as leis físicas devem ser modificadas ou realmente existe algo que nos escapa à compreensão — aquilo que vem sendo chamado de matéria e energia escura.

Uma discussão mais aprofundada do assunto será realizada em artigos futuros. O objetivo deste é tratar especificamente do que chamamos partículas elementares que constituem a matéria.

Uma partícula elementar é o menor elemento do qual é feito a matéria. Elétrons, quarks e fótons, que constituem a matéria, são elementares. Pelo menos, até hoje não se descobriu que são compostos de outras partículas.

Galáxia de Andrômeda: em rota de colisão com a Via Láctea,
 é formada, como todo universo visível, por matéria bariônica,
formada por prótons e elétrons.



Prótons e nêutrons, bem como partículas denominadas hádrons — vale a pena lembrar que o acelerador de partículas, o LHC, é chamado ‘grande colisor de hádrons’ — não são elementares, pois são formados por partículas chamadas quarks.

Existem seis tipos de quarks: top, botton, charm, up, down e strange. Os prótons são formados por dois quarks up e um quark down e o nêutron por dois quarks down e um up.

Cada um dos quarks possui sua antipartícula correspondente. Então temos até agora 12 partículas fundamentais. Porém, os quarks também possuem o que chamamos de cores. Isto está relacionado à sua unidade de carga hadrônica. São três cores diferentes. Se cada quark pode possuir três cores diferentes, já temos em nossa contagem,   um total de 36 partículas elementares.



Foto disponível em http://www.astro.iag.usp.br
O lépton também é uma partícula fundamental. Existem seis deles: elétron, neutrino do elétron, múon e neutrino do múon, tau e neutrino do tau. Cada um possui uma antipartícula correspondende, ou seja, igual, porém com carga contrária. Temos então 12 léptons. Somados aos 36, já chegamos a 48 partículas elementares.

Temos também as partículas de força, chamadas partículas mediadoras: fóton, bóson w, bóson z, glúons e grávitons (não foram detectados). Chegamos ao número 53. Também existem oito tipos de glúons, o que aumenta o número de partículas para 60.

A última partícula, também chamada ‘partícula de Deus’, o bóson de Higgs, ainda não foi detectado, porém trabalhos estão sendo realizados no LHC para detectá-lo e já existem evidências dele em experimentos.

Então, são 36 quarks, 12 léptons, 12 partículas mediadoras e o bóson de Higgs — um total de 61 partículas.

Com a descoberta do bóson de Higgs, estaria fechado o Modelo Padrão, explicando os 4% de matéria visível do universo.

Em breve prosseguiremos nesta viagem pelo interior da matéria. Até lá!


SUGESTÃO DE LEITURA:

Recomendo o texto de Maria Cristina Batoni Abdala, que é completo, descrevendo as partículas elementares e abordando o Modelo Padrão.

http://www.sbfisica.org.br/fne/Vol6/Num1/charme.pdf

segunda-feira, 28 de maio de 2012

IV Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica (CONFICT)

Embora jovens, eles já participam de projetos de pesquisa e vão mostrar seus trabalhos — junto com seus rostos e seus sonhos — para avaliadores e para o público em geral. Os alunos bolsistas de Iniciação Científica da UENF, do IFF e da UFF serão os astros do IV Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica (CONFICT), que ocorrerá de 02 a 05/07. O tema geral do evento é ‘Ciência & Tecnologia no caminho da cooperação internacional’.

A programação inclui palestras com pesquisadores em atuação no Brasil e no exterior e nada menos do que 22 minicursos gratuitos. O prazo para inscrição, aberto a todos os interessados, se estende até 28/06.

Faça sua inscrição on-line aqui. 

O IV CONFICT é resultado da união de esforços de três instituições públicas de ensino atuantes no Norte/Noroeste Fluminense. O evento conjunto engloba o 17º Encontro de Iniciação Científica da UENF, 9º Circuito de Iniciação Científica do IFF e a 5ª Jornada de Iniciação Científica da UFF-Campos.

Este ano o CONFICT pretende ajudar a encurtar a distância entre o Brasil e o mundo no campo da ciência. O tema ‘Ciência & Tecnologia no caminho da cooperação internacional’ traduz o empenho em inserir a pesquisa nacional no âmbito global, incluindo ações que incentivam a ida de alunos a universidades estrangeiras. Com essa iniciativa, os ‘jovens cientistas’ têm a oportunidade de se integrar a novos profissionais e metodologias, além de experimentarem o contato com diferentes culturas.

A Iniciação Científica da UENF foi duas vezes reconhecida pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) com o Prêmio Destaque do Ano na Iniciação Científica – categoria Mérito Institucional. O prêmio foi conferido à UENF já na sua primeira edição, em 2003, e quando a UENF pôde voltar a concorrer, em 2009. Por força do regulamento, instituições agraciadas têm que ficar certo período de tempo sem participar.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

‘Aborto de anencéfalos pode levar à eugenia’

A permissão do aborto em casos de anencefalia pode abrir caminho para a legalização do aborto também em outros casos de anomalias fetais, oficializando, na prática, a eugenia. A opinião é do filósofo Júlio Esteves, que nesta entrevista critica a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito do assunto. “Mais uma vez, o Supremo esteve tomando uma decisão que caberia ao Congresso. Ocorre que os parlamentares, por conveniência política, lavam as mãos”, afirma. Graduado, mestre e doutor em Filosofia pela UFRJ, Esteves é professor do Laboratório de Cognição e Linguagem (LCL) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF. Ele procurou a equipe do Blog Ciência UENF após ler a matéria Bebê anencéfalo não tem sensações conscientes, publicada em 20/04, que busca explicar o que é a anencefalia do ponto de vista da neurobiologia. Veja a entrevista:

Júlio Esteves
Ciência UENF -  Muitas pessoas, mesmo sendo contrárias ao aborto, acham plausível a
interrupção da gravidez no caso de anencefalia, já que o bebê não tem como sobreviver. Por que o senhor é contra?


Júlio Esteves - Começo a resposta fazendo-lhe a seguinte pergunta: suponha que um médico lhe diga que você tem um problema tão sério no cérebro que não terá como sobreviver por mais de uma semana. Você acharia plausível que ele quisesse interromper logo a sua vida, alegando, por exemplo, que você só vai dar uma despesa inútil consumindo alimentos para manter uma vida sem perspectiva?  Evidentemente, você não concordaria com isso. O problema na base desse argumento pragmático a que você aludiu, um argumento quase que “mercantilista”, está em condicionar o valor da vida humana ao tempo de sua sobrevivência, ao passo que a vida humana tem um valor incondicional, é algo que não tem preço, tem um valor absoluto, jamais relativo ao tempo de sua existência.  Ou será que a vida de uma pessoa que sobrevive por 80 anos, pois, no fundo, todos somos “sobreviventes”, vale mais do que a vida de alguém que morre aos 10 anos ou a de alguém que vive por apenas algumas horas?  E eu acho até engraçado quando algumas pessoas retrucam com um surrado clichê, segundo o qual eu estaria “sacralizando” a vida humana.  Costumo responder a isso lembrando que a alternativa à sacralização da vida humana é a sua banalização. E eu desafio qualquer defensor do aborto a admitir que a sua própria vida seja coisa banal! É claro que mesmo um defensor do aborto julga que sua própria vida é sagrada e preciosa. Mas ele se arroga o direito de decidir em que condições outra vida humana pode ser considerada sagrada e digna de ser vivida!   

Ciência UENF - Segundo consta, um dos motivos que levaram esta discussão ao STF foi o
elevado número de casos de mães que entram na Justiça para garantir o direito de abortar quando descobrem que o feto tem anencefalia. Como o senhor acha que o STF deveria ter se posicionado sobre essa questão?


Júlio Esteves - A pergunta acima foi colocada por você e respondida por mim do ponto de vista moral. Essa outra pergunta tem a ver com o aspecto jurídico e até político do problema. Para começo de conversa, tecnicamente falando, o Supremo esteve mais uma vez tomando uma decisão que caberia ao Congresso. Ocorre que os parlamentares, por conveniência política, lavam aos mãos e evitam discutir a questão do aborto em quaisquer de suas modalidades, porque sabem que a esmagadora maioria da população brasileira, em suma, seus eleitores, é terminantemente contrária a que se legalize a prática. Desse modo, grupelhos de esquerda tentam encontrar um “atalho” para fazer valer pontos de sua agenda política particular. Isso é muito ruim para a democracia, porque nos países em que se veio a legalizar o aborto, isso pelo menos foi o resultado de uma ampla, franca e democrática discussão entre todos os setores da sociedade. Aliás, a respeito do suposto “grande número de mulheres que recorreriam à justiça para abortar fetos anencéfalos”, você poderia me dizer onde estão as estatísticas oficiais a respeito? De minha parte, o que eu sei é que há um grande, na verdade, um enorme número de mães pobres e carentes que gostariam de poder recorrer à justiça contando com o apoio de ONGs e de grupos de esquerda para, por exemplo, garantir água encanada e esgotamento sanitário em suas casas, de modo a proporcionar uma vida digna a seus filhos, sem falar em escola, alimentação etc. E isso não é achismo de minha parte, não. Dados do próprio Governo Federal, obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), mostram que apenas 59,1% das residências do país em 2009 eram atendidas pelo serviço de rede coletora ou por fossa séptica ligada à rede. Mas — isto é curioso — por alguma razão, esse tipo de problema não suscita o interesse dos ongueiros e dos grupelhos de esquerda. Na verdade, pare e pense: com tantos problemas sérios que os brasileiros pobres ainda enfrentam para viver dignamente, mesmo depois de praticamente dez anos de um governo supostamente preocupado com o social, você acha que a legalização da permissão para matar possa ser uma demanda urgente da maioria da população brasileira? Claro que não é! O aborto de um modo geral é um pleito da agenda particular de ongueiros e esquerdistas auto-declarados “progressistas”, um pleito totalmente descolado da realidade do povo brasileiro. Essa é também uma razão pela qual os políticos não se interessam por esse tema: se fosse do interesse de expressivas camadas da população, qual político não iria querer abraçar essa causa? Voltando ao aspecto jurídico da questão, a decisão do STF é insustentável: a Constituição brasileira garante e protege o direito à vida. Assim, o STF, que deveria ser o guardião da Carta Suprema, acabou por violá-la em nome de um suposto “direito achado nas ruas”. Além disso, como disse o ministro Lewandowski, com toda correção, o Supremo deu um passo decisivo para permitir o aborto de fetos com má-formação, o que aponta para a eugenia.

Ciência UENF – Então o senhor acredita que isto pode, no futuro, levar à oficialização do aborto em outros casos de anomalias fetais, oficializando práticas eugênicas?

Júlio Esteves - Evidente! Se o critério apresentado para justificar a interrupção da gravidez está baseado numa relação mercantilista entre “custo/ benefício”, onde se põe na balança o tempo e, principalmente, a qualidade de sobrevida do feto, de um lado, e o correspondente sofrimento da mulher, de outro lado, então abre-se o caminho para a permissão da prática em outras formas de anomalias fetais. Chamo a atenção para o fato de que foi exatamente tendo por base princípios de relação custo/benefício para a sociedade que os nazistas autorizaram e praticaram o aborto em tais circunstâncias, ou seja, exatamente a prática da eugenia. Mas, é claro, nossos abortistas não são nazistas, pois são movidos por sentimentos “cristãos”, pela compaixão para com o inútil sofrimento da gestante que traz em seu ventre um feto anencéfalo.  Eu só me pergunto por que essa mesma compaixão não os leva a iniciar uma campanha por um programa nacional de fornecimento de ácido fólico, que comprovadamente evita a anencefalia em 50 % dos casos! Também me pergunto por que essas mesmas pessoas não se sensibilizam e não têm a mesma compaixão, por exemplo, para com o sofrimento de uma mãe que vê seu filho sem professor de matemática ou de português numa escola pública! 

Ciência UENF – O senhor considera errado, portanto, delegar às mães o direito de interromper ou não a gravidez quando houver um laudo médico atestando a anencefalia fetal?

Júlio Esteves - Como afirmei acima, discordo completamente não só da decisão, mas do próprio procedimento adotado pelo STF, pois feriu prerrogativas do Legislativo. Mas essa pergunta toca numa premissa muito usada pelos abortistas, a saber, a do suposto direito da mãe decidir pela interrupção de uma gravidez, porque, afinal, ela teria direito ao seu próprio corpo. Começo observando que, pelas informações que obtive de especialistas, a anencefalia do feto não acarreta para a gestante nunhum risco físico que já não esteja envolvido numa gravidez normal. Aliás, se fosse o caso, não haveria necessidade de levar o problema ao STF: o aborto de fetos anencéfalos já estaria garantido e consagrado pela lei que permite a prática em casos de risco para a vida da gestante.  Agora, deve-se observar que a premissa ético-jurídica que está na base da permissão do aborto em casos de risco para a gestante não é a do direito ao próprio corpo, mas justamente a da proteção da vida humana: interrompendo uma gravidez de risco, sacrifica-se uma vida incerta em prol de uma outra vida capaz de gerar mais vidas. Mas é verdade que cada qual tem direito ao próprio corpo, e também toda mulher e mãe tem direito ao seu, o que não é senão outra maneira de se referir ao direito à própria vida, que eu mesmo afirmei ser algo sagrado. Mas, evidentemente, esse direito tem limites! Suponha que eu esteja muito aborrecido com o casamento, com o não-pagamento da DE pela UENF, com a corrupção endêmica no Brasil etc., e declare para quem queira me ouvir que vou tirar minha própria vida, que considero sagrada, em grande estilo, por exemplo, alugando uma BMW para pilotar a 260 km por hora pela BR-101. E suponha que alguém me quissesse impedir dizendo que eu estaria colocando em risco a vida de pessoas que não têm nada a ver com isso. Seria justo que eu alegasse que tenho direito a fazer com o meu corpo o que bem entendesse? Evidentemente, o direito ao meu próprio corpo e à minha própria vida não me dá o direito de dispor sobre o corpo e a vida dos outros; na verdade, de acordo com algumas teorias morais, com as quais concordo, eu não tenho direito, moralmente falando, a dispor nem de meu próprio corpo e de minha própria vida, ou seja, não tenho direito de retirá-la a meu bel-prazer. Desse modo, os abortistas estão totalmente  enganados quando supõem que o direito ao corpo por parte da mulher lhe dê o direito de dispor da vida de um feto a seu bel-prazer. Extrair prematuramente um feto, uma vida humana, não é o mesmo que extrair um dente ou excesso de gordura abdominal! Além disso, como fica o direito dos pais? Nessa discussão, parte-se sempre do princípio de que a parte masculina não está nem aí para a existência ou não da criança, e, portanto, nem precisa ser consultada ou nem tem direito a isso. Mas isso é puro preconceito feminista! E chamo a atenção para o fato de que a sociedade brasileira vive um momento de repúdio absoluto a toda e qualquer forma de preconceito, seja ele de raça, de preferência sexual ou de gênero. 

Ciência UENF - É contra qualquer tipo de aborto? Inclusive quando há risco para a saúde da mãe ou quando a gravidez é decorrente de estupro?
 

Júlio Esteves - A questão da permissão do aborto em caso de risco de vida para a gestante já foi respondida acima. - Já a questão do aborto decorrente de estupro constitui um exemplo daquilo que em ética se chama de “casos-limite”, diante dos quais, sem dúvida, é humanamente difícil dar uma resposta, porque você tem o que se chama de “conflito de normas”. Por um lado, se toda vida humana é sagrada e preciosa, então mesmo nesses casos, a gestação deveria, moralmente falando, ser levada adiante. Afinal, abortar uma criança gerada nessas condições seria punir um inocente que nada fez para merecer isso. As pessoas esquecem muitas vezes que em casos de estupro há não apenas uma, mas duas vítimas. Por outro lado, de fato, não é fácil levar a termo uma gravidez gerada em tais circunstâncias, sendo essa uma das razões pelas quais a permissão do aborto nesses casos é garantida e consagrada pelo nosso ordenamento jurídico. Pois creio, embora não tenha certeza, que se leve em conta também o lado da criança: não há de ser fácil vir a tomar conhecimento de que se foi gerado em tais circunstâncias. Como quer que seja, percebo que há uma tendência a generalizar abusivamente o que vale para um caso reconhecidamente problemático e complexo, a gravidez seguida de estupro, para casos que são de contornos claros e bem delineados, por exemplo, quando um marido ou namorado força a parceira a ter relações sexuais. Há uma tendência por parte dos auto-proclamados “progressistas” a considerar essas situações como casos de estupro, por conseguinte, como admitindo o aborto legal. E aí nos vemos quão “progressistas” e “revolucionários” eles são. Do mesmo modo que eles preferem resolver a anencefalia focando na retirada do feto, ou seja, na consequência, ao invés de se baterem pela prevenção das causas do problema mediante uma campanha nacional pelo fornecimento de ácido fólico, eles também preferem se bater pela permissão do aborto quando a mulher é forçada pelo marido, ao invés de lutarem vigorosamente pela prevenção desse tipo de comportamento, por exemplo, exigindo que se institua uma lei que obrigue o homem a assumir o sustento da criança sob pena de ir para a prisão.  Não, os “progressistas” preferem deixar tudo como está: o marido ou namorado poderá continuar fazendo tudo que seu instinto animalesco pedir, pois será permitido à mulher se descartar do traste, ou seja, da criança, tranquilamente, logo em seguida. E os abortistas ainda têm a coragem de chamar seus opositores de “reacionários” ou “conservadores”!  Quem é o verdadeiro conservador? 

Ciência UENF - O fato de muitas mulheres desejarem o aborto nesses casos não é revelador quanto ao caráter traumático da questão, do ponto de vista da gestante? Como evitar que a manutenção forçada de uma gravidez assim prejudique a saúde psicológica da mulher?

Júlio Esteves - Como eu perguntei acima, quantas “muitas mulheres” são mesmo? Mas, sim, essa situação deve ser mesmo muito prejudicial para a saúde psicológica da mulher, como o é certamente para a saúde psicológica de uma mãe ver seus filhos fora da escola ou brincando sobre o esgoto a céu aberto, como se vê ainda hoje na capital de Pernambuco, o Estado em que nasceu o ex-presidente Lula.  De todo modo, se você for pensar dessa maneira, quantas outras tantas situações na vida são traumáticas e causadoras de sofrimento?  Lembro do sofrimento psicológico de minha mãe cuidando de meu avô, que morreu de cancer. Bem mais próximo do problema em tela, pense no que devia ser o sofrimento de muitas mães, há uns dez anos atrás, ao tomarem conhecimento de que traziam no ventre uma criança portadora de síndrome de down!  De acordo com o que foi aprovado no STF e com o princípio da compaixão para com o sofrimento da mãe, essas mulheres teriam podido abortar fetos com síndrome de down. E, no entanto, sabemos hoje, quantas alegrias essas crianças são capazes de nos proporcionar! Mas, aí vão dizer que isso é totalmente diferente dos anencéfalos; que, nesse caso, não vale a pena o sacrifício. Ao que eu respondo citando o famoso verso de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena,  se a alma não é pequena”. 

Fúlvia D’Alessandri

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Estudos afro-brasileiros na UENF: uma trajetória

Lana Lage*


Embora algumas pessoas desconheçam, a UENF já apresenta uma larga tradição nos estudos sobre as questões afro-brasileiras, com a preocupação de analisar criticamente as formas históricas de inserção/exclusão dos afrodescendentes em nossa sociedade, contribuindo para o combate ao racismo e para a valorização da cultura  afro-brasileira.

Um marco nessa trajetória da universidade foi a criação, em dezembro de 1995, do Centro de Referência da Cultura Afro-brasileira – CCAB, instalado na na Casa de Cultura Villa Maria, então sob a direção de  Joca Muylaert.  O centro foi efetivamente implantado em 21 de Março de 1996, Dia Mundial de Combate à Discriminação Racial, com o seminário intitulado: “Um reflexão sobre a influência da Cultura Afro-brasileira na sociedade brasileira”, acompanhado de lançamento de livros e exposição de arte.

O CCAB tinha como objetivo reunir o maior número informações possíveis sobre a influência africana na cultura e na sociedade brasileiras; apoiar e preservar o patrimônio cultural afro-brasileiro da região norte e noroeste fluminense; criar um acervo bibliográfico, musical e de vídeo; estimular pesquisa; fomentar discussões e promover eventos sobre a cultura afro-brasileira.

Ainda no ano de 1996,  somando-se às comemorações  do   Dia Nacional da Consciência Negra, foram organizadas exposições, apresentações musicais e de dança, em que se destacaram o jongo, a mana-chica, expressões típicas dos escravos da região norte-fluminense. Em 1997 foi organizado o debate “Ação Afirmativa e os Direitos Humanos na Ótica da Questão Racial” com a presença do assessor do Governo Estadual para Assuntos Afro-brasileiros, Januário Garcia, e do secretário executivo do Grupo Interministerial para Valorização da População Negra do governo federal Carlos Moura. Também a cultura afro-brasileira foi contemplada com a realização da Festa Black Music: Reggae - Rap- Soul e Charm, realizada na Faculdade de Filosofia, e uma exposição de selos africanos, em parceria com o Núcleo de Filatelia de Empresa de Correios e Telégrafos da cidade de Campos.

Em agosto de 1998, o CCAB foi transferido para o CCH, sob a coordenação da professora Lana Lage, continuando a realizar as atividades previstas desde sua criação, entre as quais se destacou, ainda nesse mesmo ano, um levantamento das obras sobre história e cultura afro-brasileiras encontradas nas bibliotecas campistas. Também foi iniciado o desenvolvimento do Projeto de Pesquisa e Extensão O Negro no Norte Fluminense: história, cultura e relações sociais, composto por três subprojetos. O primeiro, intitulado O Jongo no Norte Fluminense, visava a analisar o papel do jongo como elemento formador de identidade e espaço de construção de solidariedades entre a população afrodescendente da região. O segundo, Estratégias de Combate ao Racismo em Campos, objetivava estudar o movimento negro em Campos, resgatando os processos de sua formação, analisando suas estratégias de combate ao racismo e buscando compreender os limites e a eficácia de sua atuação. Por último, o Projeto de Extensão Curso de Capacitação em História e Cultura Afro-brasileiras, realizado em fevereiro de 1999, em parceria com a  Secretaria Municipal de Educação de Campos e a  Fundação Municipal Zumbi dos Palmares, procurava capacitar 150 professores da rede municipal de Campos para o cumprimento da Lei Municipal N° 5.428/93, que obrigava a Prefeitura a incluir os estudos afro-brasileiros nos currículos escolares. O curso foi aberto pela secretária municipal de Educação, Maria Auxiliadora Freitas de Souza, e em seu encerramento teve a presença do prefeito de Campos, Arnaldo Viana.

Entre outras atividades, foi realizado ainda um Projeto de Extensão intitulado Meninos da Villa, em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UENF e com o Criam/Degase de Campos, com o objetivo de oferecer atividades culturais e profissionalizantes ligadas à cultura afro-brasileira para meninos de rua frequentadores da Casa de Cultura Villa Maria e adolescentes infratores (2001).

Após um tempo desativado, o CCAB foi reestruturado a partir de março de 2010, passando a constituir um setor do Núcleo de Estudos de Exclusão e da Violência -NEEV, coordenado pela professora Lana Lage, reiniciando suas atividades com o Projeto de Pesquisa Administração institucional de conflitos envolvendo discriminação ou intolerância étnica racial e religiosa em Campos dos Goytacazes,  vinculado ao Projeto A crença na igualdade e a produção da desigualdade nos processos de administração institucional dos conflitos no espaço público fluminense: religião, direito e sociedade, em uma perspectiva comparada contemplado no Edital FAPERJ – Humanidades/2009, desenvolvido no âmbito do Instituto  de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos – INCT/Ineac.

O curso de Graduação em Ciências Sociais do CCH também vem contemplando essa temática em suas disciplinas. Como exemplos recentes, temos a disciplina Tópicos Especiais em História Regional, cuja ementa aborda a agroindústria açucareira e a escravidão; o Abolicionismo e suas relações com as rebeliões escravas na região Norte Fluminense e o processo abolicionista, oferecida no primeiro semestre de 2010,  e também a disciplina Tópicos Especiais em História: pensamento racial, ciência e nacionalidade, que tem como objetivo discutir a emergência do conceito de raça e suas implicações na formulação de políticas referentes à nacionalidade e à constituição do Brasil como país. São abordadas então as teorias raciais da segunda metade do século XIX e início do XX e suas consequências para o relacionamento étnico em nosso país na atualidade.

No Programa de Pós-graduação em Sociologia Política, a linha de pesquisa Segurança Pública, Exclusão Social, Violência e Administração Institucional de Conflitos aborda as relações interétnicas e suas formas de interação cotidiana, incluindo a violência cotidiana e os processos de dominação. Recentemente, foram defendidas as seguintes dissertações de mestrado: Limites da Reforma Agrária e as Fronteiras Religiosas: Os dilemas remanescentes do quilombo do Imbé – RJ, da aluna Yolanda Gaffrée Ribeiro (2011), e O negro e o seu mundo: Vida e trabalho no pós-abolição em Campos dos Goytacazes, da aluna Rafaela Machado Ribeiro (2012).

Assim, a UENF vem contribuindo para a produção de uma reflexão crítica, a partir dos instrumentos fornecidos pelas Ciências Sociais, sobre a questão racial no Brasil, visando à democratização efetiva da sociedade brasileira pela inclusão de toda a população nos direitos de cidadania.


* Professora do Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (LESCE) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF.

Visite o blog do Núcleo de Estudos da Exclusão e da Vîolência

Livro de receitas para doentes renais

A professora Karla Silva Ferreira, do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF, e a mestre em Produção Vegetal pela UENF Neila Faber da Silva disponibilizam o conteúdo do livro 'Alimentação adequada e qualidade de vida na doença renal crônica — Receitas com informação nutricional', que deverá ser publicado em breve.

O livro traz 43 receitas acompanhas de informações nutricionais, tais como valor energético e teores de água, carboidratos, proteínas, gordura total, gordura trans, gordura monoinsaturada, gordura poli-insaturada, fibras, sódio, potássio e fósforo.

— Os mais diversos, agradáveis, nutritivos e balanceados cardápios poderão ser elaborados combinando as receitas aqui apresentadas, o que proporcionará ao doente renal crônico mais liberdade e satisfação com a alimentação — afirmam as autoras na contracapa do livro.

Para ter acesso ao conteúdo, clique aqui.

Veja também a matéria Insuficiência Renal Crônica.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Entendendo os buracos-negros


Entendendo os buracos-negros

Adriana Oliveira Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br 

Como alguém que vem trabalhando com divulgação de astronomia há alguns anos, tenho tido a oportunidade de apresentar palestras em escolas, universidades, clubes de astronomia e também em eventos relacionados à área. Os assuntos são variados e tento escolhê-los de forma adequada ao público que irá assistir à palestra — que tanto pode ser formado por alunos de ensino fundamental e médio, como por alunos de graduação em física.  Nos clubes de astronomia, também tenho a oportunidade de falar ao público em geral.

Muitas questões despertam o interesse do público — como por exemplo o nascimento da astronomia, o nosso Sistema Solar, a mitologia que explica o nome dos corpos celestes, a descoberta de novos planetas fora do Sistema Solar etc. Enfim, são muitos os assuntos e, de uma maneira geral, todos despertam a atenção. Mas nenhum assunto traz tanto interesse como os buracos negros. Bom, esta é uma opinião pessoal, mas que tal entender como se forma e o que faz um buraco negro?

Dos primórdios de seu entendimento — quando se falava em ‘estrela escura’—, ao grande passo dado por Stephen Hawking em relação aos buracos negros, muitas são as dúvidas e discussões que pairam sobre este assunto.

Um buraco negro é dotado de grande força gravitacional na sua superfície, pois é extremamente denso, de forma que de lá nem a luz pode escapar. É justamente por isso que ele é chamado de buraco negro, pois não pode ser observado diretamente.

Podemos descobri-los, contudo, por sua ação sobre outras estrelas. Principalmente quando estão num sistema duplo, ou seja, quando o buraco negro e uma estrela comum giram um ao redor do outro, ou melhor, ambos ao redor do centro de massa do conjunto.

Há uma idéia geral errada sobre os buracos negros, de que eles são vorazes devorados galácticos, engolindo estrelas, planetas e tudo mais que se ponha em seu caminho. Na verdade eles só “devoram” algo quando este vai em direção a eles. Se o nosso Sol, por exemplo, se tornasse um buraco negro, os planetas continuariam girando ao redor dele como sempre o fizeram.

Quando a estrela envelhece, a taxa de transformação de hidrogênio em hélio vai diminuindo e a pressão de radiação é menor. Essa pressão já não contrabalança mais a força gravitacional, então a estrela começa a aumentar de tamanho. Neste momento ela poderá seguir três caminhos: transformar-se num buraco negro, numa anã branca ou em uma estrela de nêutrons.

Nosso Sol não tem massa suficiente para se tornar um buraco negro e terminará seus dias como uma anã branca. Nesta fase, ele irá parar de brilhar e não emitirá mais energia. No núcleo de nossa galáxia , existe um buraco negro que fica na direção da constelação de Sagitário. Temos a evidência de que este possui três milhões de massas solares.

Alguns cientistas acreditam que os buracos negros sejam a chave para desvendar o cosmos. Outros são mais céticos em relação a sua importância para compreensão de como se deu a formação do universo. Porém uma coisa é certa: os buracos negros exercem um grande fascínio nas pessoas, haja vista a grande confusão gerada quando o acelerador de partículas entrou em funcionamento. Muitas pessoas acreditaram que os buracos negros gerados pelo acelerador de partículas acabariam destruindo nosso planeta, o que, conforme haviam previsto os cientistas, não ocorreu.

Sugestão de livro:

Explorando a Astronomia, pode ser obtido no site do MEC:



Hospital ajuda em pesquisas na área animal

Cabritos, bois, cavalos, porcos e ainda animais silvestres são alguns dos pacientes atendidos todos os dias no Hospital Veterinário da UENF. Criado em 2006, o hospital funciona como uma via de mão dupla entre o ensino e a pesquisa produzida na UENF  e a comunidade local. Ao mesmo tempo em que permite o treinamento prático dos alunos do curso de Medicina Veterinária — e, consequentemente, presta um serviço à comunidade —, os casos diagnosticados servem, muitas vezes, como subsídios para novas pesquisas.

Segundo o diretor do Hospital Veterinário, Reginaldo da Silva Fontes, em 2011 foram registrados 1.259 atendimentos, entre animais de grande e pequeno porte e silvestres. Ele observa que a finalidade primeira do Hospital é aprimorar o ensino, permitindo que os alunos possam praticar o conhecimento apreendido em sala de aula.

— Todos os atendimentos são acompanhados por professores da Universidade. Nosso objetivo é formar bons profissionais. Como temos também uma função social, dois dias na semana (terça e quinta) são reservados para o atendimento gratuito à comunidade de baixa renda — afirma.

Dentro do Hospital, há áreas específicas de atendimento para cada tipo de animal. Segundo o professor Flávio Graça, responsável pela área de animais de grande porte, são diversos os problemas de saúde dos animais que chegam ao Hospital. Há, por exemplo, casos de indigestão, cólica, feridas e doenças infecciosas.

— Fazemos o diagnóstico da doença e iniciamos o tratamento. Sendo necessário, também estamos aptos a realizar cirurgias. Hoje estamos aqui com um cabrito que chegou com cálculo renal. Ele foi operado e agora está se restabelecendo. Há também um cavalo com uma ferida infeccionada que está sendo tratado — conta.

O professor Antônio Albernaz, responsável pela área de animais de pequeno porte, destaca o fato de o Hospital Veterinário funcionar como um hospital comum, voltado para humanos. Há diversos equipamentos para exames, como o de radiografia, por exemplo. Além disso, há várias especialidades médicas, como dermatologia, cardiologia etc.

Letícia Barroso
Fúlvia D'Alessandri

terça-feira, 15 de maio de 2012

Uenf terá Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas

Professora Clareth Reis

A partir da próxima semana, a UENF passa a contar com um Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI), liderado pelos professores Leandro Garcia Pinto e Clareth Reis, ambos do Laboratório de Estudos da Educação e da Linguagem (LEEL) do Centro de Ciências do Homem (CCH). A inauguração está marcada para a próxima segunda-feira, 21/05, às 18h, na Sala de Multimídia do CCH.

O NEABI se insere em uma rede de articulação nacional formada por cerca de 70 núcleos localizados em instituições de ensino superior. A ideia central é atuar no campo do ensino, pesquisa e extensão, com ações voltadas para a promoção da igualdade. Segundo Clareth, o principal objetivo do NEABI/UENF é incentivar os estudos sobre a história das populações negras e indígenas da região.

— Existe um desconhecimento muito grande sobre as nossas origens, e as pessoas não sabem onde procurar estas informações. Por exemplo, muita gente nem sabe de onde surgiu o nome da cidade, muito menos que aqui viviam comunidades indígenas. Outros gostariam de saber mais sobre a história da escravidão e seus descendentes em Campos e região, mas acham isso muito difícil por não encontrar materiais disponíveis — diz.

O apoio da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) foi fundamental para a implantação do Núcleo. Um projeto com o objetivo de fomentar a montagem de um núcleo de referência para estudos sobre a História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no Norte e Noroeste Fluminenses, no LEEL/CCH, foi aprovado pela Faperj no ano passado.

Professor Leandro Garcia
— A legislação hoje estabelece que esta temática seja incluída no currículo oficial da rede de ensino, mas as escolas têm enfrentado dificuldade. O NEABI vem contribuir para ampliar os conhecimentos nesta área, ajudando os professores nesta tarefa — afirma a professora.

Dentre os objetivos do Núcleo, também está “fomentar estudos que discutam a originalidade, a particularidade e as peculiaridades das culturas africanas e afro-brasileiras que se desenvolveram no país e as reminiscências da cultura indígena que ainda sobrevivem na atualidade, em especial na região Norte e Noroeste Fluminense”.

— Vamos criar um acervo de documentos, materiais, documentários, entrevistas e resultados de pesquisas realizadas na UENF e em outras instituições. E acima de tudo fazer com que os estudantes da graduação e pós-graduação da Universidade e demais participantes do munícipio possam discutir e se aprofundar no assunto  — finalizou a professora.

Letícia Barroso
Fúlvia D'Alessandri


segunda-feira, 14 de maio de 2012

A divulgação científica e a Rio+20

Ildeu de Castro Moreira
 'A ciência não é neutra. Sua aplicação, bem como a sua divulgação, revela uma intenção política'. A afirmação foi feita na última segunda, 07/05, pelo professor Ildeu de Castro Moreira, diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), ao proferir a palestra "A ciência na Rio+20 - um espaço de popularização do conhecimento".

Ildeu, que é professor do Instituto de Física e do Programa de Pós-Graduação em História da Ciência e das Técnicas e Epistemologia da UFRJ, disse que a Rio+20 será "um momento importante para aproximar as pessoas da ciência'. Segundo ele, uma das lutas da conferência será, justamente, pela ampla divulgação das informações científicas na área de meio ambiente.

A palestra foi realizada no âmbito do encontro "Ciência em pauta: química e sustentabilidade", promovido na Casa da Ciência da UFRJ, em parceria com o Museu da Vida (IOC/Fiocruz) e a Sociedade Brasileira de Química (SBQ). 


Veja matéria sobre o assunto no Jornal da Ciência.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Prêmio José Reis de Divulgação Científica


Instituições e veículos de comunicação têm até 18/05 para se inscrever no 32º Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, organizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O prêmio é dirigido a instituições (pesquisa, ensino, museus de ciência e tecnologia, órgãos governamentais e empresas públicas ou privadas) ou veículos de comunicação coletiva que tenham tornado acessível ao público conhecimentos sobre ciência e tecnologia e seus avanços.


Além de troféu, o dirigente da instituição ou veículo vencedor receberá passagem aérea e hospedagem para participar da reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que será realizada em julho, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).


Mais informações: www.premiojosereis.cnpq.br

terça-feira, 8 de maio de 2012

Insuficiência renal crônica


Livro ajuda paciente renal crônico a ter uma alimentação adequada, diversificada e, ao mesmo tempo, saborosa

Hipertensos e portadores de diabetes devem ter atenção redobrada à possibilidade de desenvolver a insuficiência renal crônica — doença que, nos estágios mais avançados, pode levar o paciente à necessidade de filtragem artificial do sangue (hemodiálise) ou transplante. Uma pesquisa feita na UENF com 104 pacientes renais constatou que a causa da insuficiência renal, em 49% deles, era a hipertensão arterial, e em 36,5%, o diabetes tipo 2. A pesquisa foi feita pela mestranda Neila Faber da Silva, sob orientação da professora Karla Silva Ferreira, do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA).

— Portanto, quem sofre de hipertensão ou diabetes deve seguir rigorosamente as recomendações do médico, usando regularmente os medicamentos recomendados e adotando hábitos de vida saudáveis para controlar estes problemas, como boa alimentação e atividade física regular — afirma a professora Karla, que deverá lançar, ainda este mês, um livro de receitas com informações nutricionais para facilitar e melhorar a alimentação destes pacientes.

Intitulado ‘Alimentação adequada e qualidade de vida na doença renal crônica: receitas com informação nutricional’, o livro pretende ajudar o paciente renal crônico a ter uma alimentação adequada, diversificada e saborosa.  Com lançamento previsto para este mês, o livro também ficará disponível na internet.

Segundo Karla, a doença renal crônica se caracteriza pela presença de dano renal ou redução da função renal por um período igual ou superior a três meses, independentemente das causas. Inicialmente, pode não apresentar sintomas. Como uma doença crônica, ela vai se agravando com o decorrer do tempo. Quanto mais cedo a insuficiência renal for diagnosticada, mas rápido e eficaz será o tratamento.

— É possível, por exemplo, retardar a progressão da doença, adiando o início da hemodiálise, o que trará ganhos para a qualidade de vida do paciente e redução de custos do sistema público de saúde. Mas para isso é preciso que a pessoa siga uma dieta adequada. Neste estádio, há a necessidade de rigoroso controle na ingestão de proteínas, fósforo e potássio. O excesso de proteína contribui para acelerar a deterioração da função renal — explica.

Segundo a professora, a maior parte dos alimentos possui elevados teores de fósforo e de potássio, como, por exemplo, o feijão, os diversos tipos de batatas, o inhame e muitas outras hortaliças, frutas, refrigerantes e carnes. Por este motivo, a dieta para estas pessoas é difícil de ser seguida. O excesso de fósforo, por exemplo, pode dar origem a problemas cardíacos nestes pacientes. E o de potássio, a morte repentina.

— Manifestações cardíacas são mais perigosas e frequentes quando a concentração plasmática de potássio ultrapassa 8,0 mEq/l. Quando isto ocorre, o paciente pode apresentar bradicardia, hipotensão, fibrilação ventricular e parada cardíaca — explica. O contrário ocorre com o cálcio, cuja absorção é limitada, devendo, portanto, ter seu consumo aumentado.

Após o paciente ter entrado em hemodiálise, a dieta pode ser mais liberal quanto aos teores de proteína. Entretanto, este terá sua vida mais restrita, o que faz com que os portadores desta doença sofram com a necessidade de constantes visitas ao médico, sessões semanais de hemodiálise (que duram em torno de quatro horas) além das restrições alimentares, fatores que desestruturam sua rotina e comprometem a qualidade de vida.

 — Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, cerca de 90% das pessoas não sabem que têm o problema, já que não há sintomas aparentes nos primeiros estágios. Isso leva, na maioria dos casos, ao diagnóstico tardio, quando há insuficiência renal avançada e já é necessário fazer diálise ou transplante — diz.

Se você quiser saber mais, consulte o conteúdo do livro Alimentação adequada e qualidade de vida na doença renal crônica, que será publicado em breve.

Fúlvia D'Alessandri
Letícia Barroso


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Controle biológico com insetos

Crisopídeo adulto
Pesquisa pode tornar mais eficaz o controle biológico de pragas através de insetos

Pesquisadores da UENF estão mostrando que as fêmeas de alguns insetos são bastante seletivas na hora de depositar seus ovos. Em sua pesquisa de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UENF, o biólogo Fortunato Brunetti Lambert descobriu que, no caso de duas espécies da família Chrysopidae — um dos grupos mais utilizados no controle biológico de pragas —, as fêmeas tendem a depositar seus ovos preferencialmente próximo a presas que venham a proporcionar um melhor desempenho da prole — melhor desenvolvimento, sobrevivência e reprodução.

Orientado pelo professor Gilberto Soares Albuquerque, o trabalho está inserido na linha de pesquisa do Setor de Inimigos Naturais do Laboratório de Entomologia e Fitopatologia (LEF) da UENF, que desde o final da década de 1990 investiga a diversidade, características bionômicas e potencial dos crisopídeos no controle de pragas no Norte Fluminense.

Uma presa do crisopídeo
— A pesquisa é muito importante para o controle biológico, porque há a possibilidade de apontar qual espécie predadora é o inimigo natural mais adequado para controlar a população de uma determinada praga agrícola. Quanto mais conhecimento sobre tal assunto adquirirmos, mais viável esta prática se torna, diminuindo assim a quantidade de agroquímicos pesticidas utilizados na lavoura — explica Fortunato, acrescentando que ainda são necessários estudos, principalmente, sobre a ecologia e o comportamento destes insetos antes que este conhecimento possa ser aplicado no campo.

Segundo o pesquisador, os insetos da família Chrysopidae estão presentes com relativa abundância na maioria dos agroecossistemas, predando diversas presas, tais como pulgões, cochonilhas, ácaros e muitos outros pequenos artrópodes com tegumento facilmente perfurável. Por este motivo, vêm sendo muito utilizados no controle biológico de pragas em todo o mundo.

Se você quiser saber mais sobre o assunto veja a versão preliminar da dissertação de Fortunato aqui.

Fúlvia D'Alessandri
Letícia Barroso

quarta-feira, 2 de maio de 2012





Os satélites do nosso Sistema Solar


Adriana Oliveira Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br


Muitas pessoas pensam que a nossa Lua é a única do Sistema Solar. Ledo engano, pois temos uma extensa população de satélites, que chega a mais de 170. Mercúrio e Vênus, os planetas mais próximos do Sol, não possuem satélites, porém os outros seis planetas do nosso Sistema Solar, os planetas anões e até um asteroide, presente no cinturão entre Marte e Júpiter, possuem satélite.

Os satélites apresentam diferença em sua cor, superfície e atmosfera. Alguns são maiores que nossa Lua, e outros, minúsculos. A observação e a constatação de todas essas características nos levam a uma viagem de grande beleza em busca destes corpos que povoam o Sistema Solar. O objetivo deste artigo é exatamente fornecer mais detalhes sobre os satélites de nosso Sistema Solar. Preparem-se, então, pois vamos iniciar nossa viagem!

Marte, o chamado 'planeta vermelho', possui duas pequenas luas: Fobos e Deimos, cujo formato de “batata” as diferencia de outras tantas.

Na foto da Nasa, abaixo, podemos ver Fobos:



Júpiter possui 66 luas, número que vem aumentando a cada dia, pois as descobertas de corpos pelo Telescópoio Espacial Hubble têm sido grandes. Suas quatro maiores luas foram descobertas em 1610 por Galileu Galilei. Por isso são chamadas de luas galineanas.

As luas de Júpiter — maior planeta do sistema solar, gasoso, que possui um tênue anel não observável da Terra — receberam os nomes de figuras mitológicas ligadas a Zeus, o deus do Olimpo, chamado Júpiter entre os romanos. Esta sugestão foi feita pelo físico e astrônomo alemão Johannes Kepler (1571-1630) ao alemão Simon Marius (1573-1624), astrônomo que afirmara anteriormente a Galileu, em 1609, ter observado as luas de Júpiter, embora não tenha publicado o feito. Io, Europa, Calixto e Ganimedes são os nomes das quatro maiores luas  de Júpiter.

Io possui grande quantidade de vulcões, detectados desde a passagem da  sonda Voyager em 1979 e, mais recentemente, pelo Telescópio Espacial Hubble. Calixto, a segunda maior lua de júpiter, aproximadamente do tamanho do planeta Mercúrio, chama a atenção pela grande quantidade de crateras. Europa é famosa por possuir um grande mar congelado, no qual se especula a possibilidade de abrigar vida extraterrestre.
Por último, Ganimedes, a maior lua do sistema solar, maior que o planeta Mércurio, possui características que a fariam ser chamada de planeta, caso orbitasse o Sol.

Vale ressaltar que o número de satélites do sistema solar tem sido modificado continuamente graças às descobertas do Telescópio Espacial Hubble. Na foto abaixo, o Hubble, responsável por inúmeras descobertas importantes, desde o início de seu funcionamento em 1990.



Saturno, que também é planeta gasoso e possui o mais belo sistema de aneis, possui 60 luas. A maior delas, Titã, foi descoberta por Christian Huygens (1629-1695) e é a segunda maior do Sistema Solar.

Urano, planeta gasoso que, ao contrário de todos os outros, possui seu polo direcionado para o Sol, apresenta por isso anel perpendicular ao plano de  rotação da Terra, possuindo 23 luas.

O último planeta do nosso sistema, Netuno — que recebeu o nome do deus dos mares por ser azul (devido à presença de metano entre os gases que compõem sua atmosfera) — também é gasoso e possui um anel não observável da Terra. No total, Netuno possui 13 luas.

Os planetas anões também apresentam satélites. É isso mesmo: Plutão não é o único. São cinco os planetas anões, em ordem de distância do Sol: Ceres, que se localiza no cinturão de asteroides; Plutão, que foi considerado planeta até 2006; Haumea, Makemake e Éris — este o mais distante, demorando 560 anos para dar uma volta completa ao redor do Sol.

Plutão, por exemplo, possui quatro satélites: Caronte, Nix, Hidra e um recentemente descoberto pelo telescópio Hubble, que recebeu o código de P4. Éris possui um satélite, chamado Disnomia. E o planeta anão Haumea, cuja particularidade é possuir o formato de uma melancia, possui dois satélites: Nãmaka e Hiiaka.  Makemake, o penúltimo planeta anão, não possui satélites conhecidos.

Temos também o asteroide Ida, que tem um satélite chamado Dactil. O mesmo localiza-se no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter.

Na foto abaixo, pode-se ver a relação entre os tamanhos de algumas luas do Sistema Solar:



No momento, a sonda New Horizons cruza o Sistema Solar em direção a Plutão, numa viagem de 15 anos, com o objetivo de vasculhar os confins do nosso Sistema Solar.

Vivemos um momento de intensa busca por informações sobre os corpos na nossa vizinhança. Percebemos que este conhecimento não só nos dará indicações sobre o mundo em que vivemos, como também sobre a própria formação do universo e sua evolução.

Em próximo artigo, abordaremos características de algumas luas com aspectos diferenciados presentes em nosso sistema solar. Até lá!


SUGESTÃO DE SITE :

Site do Centro de Divulgação de Astronomia da USP (Universidade de São Paulo)
http://www.cdcc.usp.br/