segunda-feira, 29 de abril de 2013

Cultura e lazer em Campos dos Goytacazes


Em que medida o lazer e a cultura são compreendidos pelos jovens como constituidores de suas identidades e direitos? Esta é uma das perguntas centrais que norteiam a dissertação de mestrado da aluna Sandra Rangel de Souza, do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais, intitulada “Fala Juventude! Um estudo sobre as relações entre juventude, cultura e lazer no município de Campos dos Goytacazes”.

— O estudo tem o objetivo de identificar as relações entre juventude, cultura e lazer no uso do tempo livre, e a sua importância na formação identitária, no desenvolvimento pessoal e na sociabilidade dos jovens de Campos dos Goytacazes — explica Sandra.

A compreensão de cultura abordada na pesquisa vai além da noção mercadológica, qualificando a discussão em torno da liberdade de o jovem pode ocupar o seu tempo livre de modo alternativo à industria cultural. Para descobrir as possibilidades e condições de cultura e lazer que os jovens apresentam, Sandra foi a campo e conversou com 30 jovens, de 16 a 19 anos, do ensino médio de duas escolas do município de Campos — uma pública, localizada na área periférica, e outra particular, localizada na região central da cidade.

— Através da aplicação de um questionário, pude concluir que a maioria dos jovens da escola pública prefere atividades de baixo custo, tendo como primeira opção de lazer assistir à TV. Já os jovens da escola privada tinham como primeira opção passear com os amigos, implicando em atividades que possuem um custo, como cinemas e restaurantes — diz Sandra.

Segundo a mestranda, uma das estratégias de lazer dos jovens da periferia é a igreja, já que a região possui alto índice de instituições religiosas que costumam oferecer as únicas atividades de cunho cultural no local, o que evidencia a carência de políticas públicas nesse âmbito.

— Como a cultura é pouco reconhecida como direito, não é vista como prioridade na definição das políticas públicas, o que gera uma precariedade imensa de atendimento — diz.

Sandra também pôde identificar que a desigualdade de oportunidade entre os dois grupos de jovens influencia diretamente não só nas suas escolhas de lazer, como também na sua idealização de futuro. Enquanto os jovens da escola privada se preparavam para iniciar carreiras acadêmicas, os da escola pública consideravam o ensino médio como etapa final dos estudos.

— Ao entrevistar as autoridades locais responsáveis pelas políticas públicas nas áreas de cultura e lazer pude perceber melhor a complexidade do assunto, o que me motiva a dar continuidade à pesquisa — conclui Sandra.

Rebeca Picanço





quarta-feira, 17 de abril de 2013

Coluna Infinitum - Asteroides






Asteroides


Adriana Oliveira Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br 


Muita gente, quando pensa na possibilidade de uma catástrofe mundial, não descarta a possibilidade de que isso aconteça devido à colisão de um asteroide com a Terra. A passagem do asteroide 2012 DA 14, no início de fevereiro, trouxe de volta muitas discussões e, apesar de a Nasa (Agência Espacial Americana) ter descartado a possibilidade de colisão com nosso planeta, ainda assim muitas pessoas ficaram temerosas. Por isso vamos entender melhor o que é um asteroide e quais as consequências de uma possível colisão.

Os asteroides, que já foram chamados de planetoides (dependendo de sua massa e forma), são corpos rochosos, compostos principalmente por silicatos (constituídos de silício, oxigênio e certos metais). Eles orbitam o Sol, a maioria entre Marte e Júpiter, localizando-se no que chamamos cinturão de asteroides.



Estes corpos são pequenos demais e não podem ser considerados planetas. No cinturão de asteroides existem predominantemente corpos cujo tamanho varia de uma bola de futebol ao tamanho de um ônibus. Vale lembrar que é lá também que se localiza o planeta anão Ceres, bem maior que a maioria dos asteroides, tendo sido por isso considerado planeta anão a partir de 2006.

Esta região entre Marte e Júpiter é considerada o principal cinturão de asteroides, mas existem alguns deles além deste local do Sistema Solar. O cinturão de asteroides principal possui áreas (faixas orbitais) praticamente vazias, chamadas de lacunas de KIRKWOOD.

Desenho representando o cinturão de asteroides

Existem duas teorias a respeito destes corpos: uma diz que os mesmos já foram planetas que sofreram uma brutal colisão, desintegrando-se; a outra, que são materiais que nunca conseguiram se fundir na época em que nosso Sistema Solar era formado pelos chamados planetesimais. Sim, houve uma época em que o Sistema Solar em formação possuía partículas sólidas, com gases agregados a elas, que foram progressivamente se aglutinando até formarem corpos rochosos que colidiam entre si, dando origem a corpos cada vez maiores. Muitos desses corpos transformaram-se em planetas, já que possuíam tamanho suficiente para se tornarem únicos em suas órbitas.

A maioria de nós já observou no céu meteoros luminosos. Quando asteroides entram em rota de colisão com a Terra são chamados meteoroides. Ao penetrarem na atmosfera terrestre, o atrito à alta velocidade faz com que o material se queime. Se ele não queimar completamente e atingir a superfície da Terra, será chamado então de meteorito. Ou seja, o asteroide dá origem aos meteoritos, que são facilmente observáveis na fase de meteoros na atmosfera terrestre mas erroneamente chamados pela população de estrela cadente.



A passagem do asteroide 20012 DA14, que aconteceu no dia 15 de fevereiro, chamou e muito a atenção da mídia, tendo sido noticiado em telejornais, jornal impresso e internet. Há cem anos um cortejo de meteoros foi visto desde o Canadá até o nordeste do Brasil em um dos mais espetaculares eventos do tipo já registrados.

O 2012 DA 14 tem 50 metros de largura e passou a uma distância de 27.000 km da terra. Para se ter uma ideia, a órbita dos satélites geoestacionários se situa a cerca de 35.000 km da Terra. Asteroides como o 2012 DA 14, que podem até ser restos de cometas, não são capazes de causar um cataclismo universal. O  que gerou a Cratera do Meteoro no Arizona há 50.000 anos, que também tinha aproximadamente o tamanho do DA 14, provocou o episódio de Tungusta na Sibéria (União Soviética) em 1908.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Coluna Nutrição - Gelatina e colágeno




Gelatina e colágeno


Luiz Fernando Miranda e Karla Silva Ferreira*


A gelatina é uma proteína obtida por meio da desnaturação e hidrólise do colágeno. A ingestão de gelatina e colágeno tem sido recomendada para fins estéticos, como crescimento e fortalecimento de cabelos e unhas, na prevenção do envelhecimento precoce, ganho de massa muscular, emagrecimento e melhora no desempenho físico. Contudo, não há comprovação científica para estas alegações.

Os diferentes tipos de colágenos, ao contrário de outras proteínas de origem animal, são proteínas de difícil digestão e pobres em aminoácidos essenciais. Portanto, não se recomenda o consumo destes alimentos como principais fontes de proteína, principalmente aos indivíduos com deficiência nutricional, pois o quadro clínico de saúde pode se agravar.

Para que a síntese de colágeno na pele e em outros tecidos não seja prejudicada, recomenda-se ingestão de proteínas de alto valor biológico, como as do queijo, leite, carnes, da combinação “arroz e feijão”, soja, ervilha e quinoa; e também alimentos ricos em vitamina C, como as frutas e derivados, bem como as hortaliças. A ingestão de 1 copo de suco de  laranja (200ml) ou de caju, por exemplo, já ultrapassa a recomendação diária de vitamina C (45mg).

Em razão de muitos vegetais serem fontes de vitamina C e pela quantidade diária recomendada ser baixa, torna-se fácil ingerir a quantidade necessária da vitamina para prevenir a doença causada pela carência nutricional, o escorbuto. Esta patologia compromete a estrutura dos tecidos do corpo, e sintomas como feridas na pele, fragilidade da gengiva (figura 1) e sangramento de outras mucosas podem ocorrer. A vitamina C previne o escorbuto, pois a mesma é fundamental para a síntese adequada de colágeno.

Figura 1. Comprometimento da mucosa bucal
pela cadência nutricional de vitamina C

Depois de todos estes argumentos, você deve estar se perguntando: se a gelatina e o colágeno não são boas fontes de proteínas e basta uma alimentação equilibrada para normalizar a síntese de colágeno no corpo, por que então tantos suplementos à base destes ingredientes são lançados todos os anos com promessa de melhorar a aparência da pele? E por que são adicionados de vitamina C?

A maioria dos fabricantes destes suplementos alega que nos produtos há elevado teor de duas substâncias: os aminoácidos hidroxiprolina e hidroxilisina, as quais constituem o colágeno. Entretanto, o nosso corpo só aproveita estas substâncias quando elas são produzidas pelo próprio organismo, e não as obtidas da alimentação. Portanto, a ingestão de colágeno ou gelatina, seja na forma de suplemento ou não, não aumenta a produção de colágeno do corpo!

A explicação técnica é que, durante as etapas iniciais da síntese de colágeno, as enzimas aminoacil-t-RNA-sintetases catalisam a reação de esterificação de cada aminoácido ao seu RNA-transportador específico, formando, após algumas etapas, cadeias de proteínas primárias de colágeno. No entanto, aminoácidos hidroxilados não são reconhecidos por estas enzimas e o processo de hidroxilação da prolina e lisina, feito pelas enzimas prolil e lisil-hidrolixases, é específico, não ocorrendo em todas as prolinas e lisinas. Além disso, algumas hidroxilisinas devem ser glicosiladas para a formação das cadeias pró-α, que constituem a molécula de pró-colágeno, a qual será endereçada ao espaço extracelular para a fase final de síntese do colágeno.

Portanto, só a hidroxilação não basta. A adição da vitamina C nestes suplementos explica-se pelo fato de que o ferro contido no centro ativo de cada uma das enzimas prolil e lisil-hidrolixases, após fazer uma série de hidroxilações,se oxida e estas perdem atividade. Para que estas enzimas se tornem ativas é necessária a presença da vitamina C para reduzir o átomo de ferro. Esta também é a explicação mais aprofundada para justificar a importância da vitamina C na prevenção do escorbuto. Pois, sem hidroxilações, o colágeno se torna frágil ou é degradado antes de ser formado.

Em uma pesquisa realizada em nosso laboratório (LTA/UENF) em 2010, após avaliar os 10 produtos à base de colágeno e gelatina mais vendidos no Brasil,  observou-se que a quantidade de proteínas existentes nas porções diárias recomendadas pelos fabricantes era inferior à quantidade proteica presente em 1 ovo de galinha, ou em 1 copo de leite (200ml) ou ainda em 14g de carne bovina (filé mignon). Na pesquisa, feita por Luiz Fernando Miranda e Karla Silva Ferreira, verificou-se também que 50% dos produtos não possuíam registro obrigatório na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e ainda, continham no mínimo 9g de gelatina ou colágeno. Segundo os cientistas, se consumidos regularmente, estes alimentos podem contribuir para o surgimento de cálculos renais (litíase renal) em função do aumento da síntese de glicolato e oxalato pelo excesso de hidroxiprolina não aproveitada pelo organismo.

Figura 2. Sobremesa à base de gelatina

Vale ressaltar que as gelatinas de caixinha (figura 2), embora sejam proteínas de má qualidade, não são maléficas à saúde. A quantidade de gelatina contida nestes produtos é pequena e a concentração proteica é bastante reduzida, uma vez que o produto é diluído durante o preparo. A vantagem desta gelatina é que esta é uma sobremesa pouco calórica e de fácil mastigação, ideal para crianças, alguns indivíduos hospitalizados e idosos. Entretanto, por não ser nutritiva, não se recomenda consumo muito frequente.

* Doutorando e professora do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF