sexta-feira, 21 de junho de 2013

Segurança alimentar

Professor do CCH/UENF coordena mapeamento das políticas públicas ligadas à área de segurança alimentar no Norte Fluminense

Você sabe como é a produção dos alimentos no município ou como essa produção agrícola é comercializada e distribuída? Essas são algumas das perguntas que o projeto “Estratégias em Segurança Alimentar e Nutricional: um mapeamento das políticas públicas do Norte Fluminense”, coordenado pelo professor Mauro Campos, tem tentado responder há pouco mais de um ano. O projeto tem como eixo central ações previstas no quadro conceitual de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e tem como foco o município de Campos dos Goytacazes e suas interrelações com os demais municípios do Norte Fluminense.

— O programa inovador de SAN implantado em Belo Horizonte a partir de 1994, sob liderança da professora Maria Regina Nabuco, uma das colaboradoras do Projeto Fome Zero ora executado pelo Governo Federal, servirá de modelo para a formulação do projeto em implementação pela UENF — explica o professor Mauro Campos, que é economista e doutor em Ciência Política.

Ele conta que a primeira etapa do trabalho foi um levantamento da produção de alimentos, renda, abastecimento, políticas sociais e segurança alimentar. Uma das primeiras constatações (à semelhança de outros municípios) foi que os principais órgãos municipais como as secretarias de Agricultura, Educação, Saúde e Promoção Social não “conversam”, ou seja, não trabalham de maneira articulada.

— Além disso, muitos dados não estão ainda catalogados. A gente não conseguiu saber, por exemplo, quantas hortas comunitárias existem na cidade porque não há um cadastro sobre isso — conta o professor.

Embora já tenha diagnosticado algumas lacunas na condução das políticas de SAN, há uma boa notícia ressaltada pela equipe do projeto, que é o surgimento do Conselho Municipal de Segurança Alimentar, criado recentemente e que tem como integrantes representantes da UENF, Universidade Federal Fluminense (UFF), Instituto Federal Fluminense (IFF) e representantes da sociedade civil.

— O conselho é importante porque pode colaborar na articulação e nessa “conversa” entre os órgãos públicos — acredita Mauro.

Constata-se que a maioria dos alimentos produzidos na região vai para o Ceasa, no Rio de Janeiro. O resultado é o aumento de preços, o desperdício da produção (com perdas no processo de comercialização) e o custo elevado, já que os alimentos passam por atravessadores nessa trajetória de ir e voltar para Campos.

Outro dado importante é que a desnutrição e a obesidade ainda são consideráveis no município, que tem a maior área agricultável e a maior produção do estado.

— As pessoas ainda se alimentam de forma errada. Um dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 36% da população tem dificuldades para se alimentar corretamente —, diz Mauro.

Ele acredita que o papel da extensão e da Universidade é facilitar essa “conversa”, ao colaborar no levantamento de dados e formulação de um diagnóstico que possa permitir o desenho de um projeto de um programa ou de uma política pública de SAN para Campos e região.

— O objetivo geral do projeto é formular um diagnóstico e formular uma proposta ou um desenho preliminar de uma política pública em segurança alimentar e nutricional para o município de Campos e o Norte Fluminense — diz. 

Em sua primeira fase de execução, o projeto vem buscando promover novas linhas de pesquisa na Universidade, bem como articular ações, juntamente com as comunidades envolvidas, nas áreas de produção, distribuição/comercialização (regulação do mercado de alimentos) e consumo de alimentos de maneira saudável. Para tanto, parte de diagnósticos das ações de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), nos municípios da região.

Além de Mauro, o projeto tem a participação dos bolsistas Daniet Fernandes Rocha (economista e doutora em sociologia), Moisés Machado (economista e mestre em Administração Pública, atuando como consultor do projeto), além dos alunos do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF Décio Vieira da Rocha e Sabrina Fernandes Santos.



Mariane Pessanha

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Foco nos açougues

Projeto de extensão busca conscientizar população quanto às normas de higiene e limpeza nos açougues de Campos

Com dois filhos menores, a dona de casa Ana Alice da Silva Guimarães não é muito criteriosa na hora de escolher açougues. Quando precisa comprar carnes prefere sempre os estabelecimentos com preços mais baixos, sem se preocupar com a higiene do local. “Nem quero saber de onde vem a carne. O que importa é o custo”, afirma. Mas o que ela não sabe é que essa economia pode acabar custando caro à saúde de sua família. O alerta vem através do projeto de extensão "Avaliação das carnes comercializadas no município de Campos dos Goytacazes-RJ", coordenado pelo professor da UENF Fábio Costa e desenvolvido há um ano no município. O resultado do trabalho não é nada agradável. Dos 20 estabelecimentos visitados pelos alunos bolsistas do projeto, cerca de 90% estavam em péssimo estado de conservação.

Entre os problemas observados, a maioria se refere à manipulação das carnes; falta de avental nos funcionários; presença de insetos como moscas; e má conservação do produto. Sem esses requisitos básicos no estabelecimento, o consumidor pode levar para casa, junto com a carne, uma série de problemas, como intoxicação alimentar causada pelos microorganismos presentes no alimento — a salmonela é uma das mais comuns, causada por bactérias — e até mesmo intoxicação por produtos de limpeza e corpos estranhos como vidro e madeira, que podem estar presentes na carne por causa de exposição inadequada no ambiente. De acordo com o professor, as maiores vítimas, nesse caso, são as crianças e os idosos. 

— A criança corre risco, porque ainda não desenvolveu completamente seu sistema imunológico, e o idoso, porque seu sistema de defesa está mais debilitado. Nos Estados Unidos houve um caso de infecção alimentar provocado por coliformes fecais no qual as maiores vítimas foram as crianças. Os pais devem ter essa preocupação na hora de levar um alimento para casa. No mal que pode fazer à própria família — alerta Fábio Costa, que atua no Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da UENF.

Cuidados – Para evitar surpresas desagradáveis, o professor Fábio sugere que o consumidor siga algumas regras básicas na hora de comprar carnes. Um dos principais cuidados é observar se o alimento está sob refrigeração. Nunca comprar carnes expostas à poeira e insetos. O ambiente deve ser limpo, livre de mofo e insetos, e o balcão, onde é feita a manipulação da carne, não pode ser de madeira para não acumular fungos. Outra dica importante é que os funcionários devem usar uniformes limpos, estar de barba feita e unhas cortadas. Em caso de carnes vendidas embaladas, é necessário o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF).

O professor conta que a ideia do projeto surgiu através dos cursos de linguiças e embutidos — oferecidos regularmente durante a Semana do Produtor Rural da UENF —, nos quais eram grandes as dúvidas dos participantes em relação à manipulação dos alimentos. Em um primeiro momento, foram realizadas pesquisas nos açougues do Mercado Municipal, onde a concentração de estabelecimentos irregulares é maior. O próximo passo é a conscientização dos açougueiros e funcionários quanto às normas de higiene e limpeza.

— O público alvo são os manipuladores de carnes e donos de açougues. O curso tem dois períodos: O primeiro é a orientação, que compreende a manipulação correta dos alimentos, higiene e apresentação dos produtos. Depois, uma avaliação no local. Concluída essa etapa, vamos ouvir as dúvidas e sugestões dos participantes. Para finalizar, faremos um levantamento da eficácia do ,retornando aos locais e verificando, na prática, o que foi mudado nos ambientes — conta Fábio.

O professor diz ainda que pretende entrar em contato com a Vigilância Sanitária do município, tendo em vista uma possível parceria para a confecção de  uma espécie de cartilha para a orientação do consumidor, com critérios e cuidados que devem ser seguidos na hora de comprar carnes.
Após o trabalho no Mercado Municipal, o projeto deverá ir mais longe, alcançando as comunidades mais distantes. Nesses locais, o trabalho irá se concentrar nos abates clandestinos.

— Sabemos que esta é uma questão cultural, porque no interior as pessoas estão acostumadas a essa prática. Entretanto, muitos desconhecem os riscos que correm com esse tipo de trabalho porque sempre consumiram carne dessa forma. Mas nada que não possa ser mudado — diz o professor.

Mas não são somente os açougues e abates clandestinos que estão na mira dos integrantes do projeto. As bancas de peixe do Mercado também estão incluídas na lista.

— Vamos pesquisar a exposição e conservação do pescado no local — finaliza Fábio Costa.

Cuidados ao comprar carnes

- Observar se o alimento está sob refrigeração.
- Nunca comprar carnes expostas à poeira e insetos.
- Ambiente deve ser limpo, sem mofo e insetos.
- Balcão de manipulação das carnes não pode ser de madeira, para não acumular fungos.
- Funcionários devem usar uniformes limpos, manter a barba feita e as unhas cortadas.
- Carnes embaladas devem apresentar o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF).

Fiscal diz que situação é ‘crítica’

“A situação no Mercado Municipal é crítica”. A afirmação é do fiscal da Vigilância Sanitária de Campos, Miguel Antônio Neto. Para ele, esta é uma questão cultural, pois são realizadas fiscalizações constantes no local e, embora sejam dadas várias intimações, os estabelecimentos voltam a funcionar.

— Infelizmente, muitos consumidores não abrem mão de ver a carne exposta, de tocar no alimento e isso faz com que esses açougues continuem existindo — explica Miguel, acrescentando ainda que esse quadro pode mudar quando for colocado em prática o projeto de reformulação do Mercado. Ele explica que, por enquanto, é difícil fazer exigências aos comerciantes, uma vez que o local não conta com infraestrutura adequada. Desta forma, não há como estabelecer um padrão.

Para amenizar situações como esta, a Vigilância Sanitária conta com um setor especial: Informação, Educação e Cultura (IEC), responsável por promover palestras para os funcionários dos estabelecimentos que receberam uma intimação. O IEC também vai ate a comunidade, em parceria com as escolas e associações comerciais, para mostrar como escolher melhor os alimentos.

— O projeto da UENF é bem vindo,  porque é mais uma fonte de informação para o consumidor — conclui Miguel.

Mariane Pessanha

terça-feira, 11 de junho de 2013

Coluna Infinitum - A sonda espacial Kepler





 Adriana Oliveira Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br

A sonda espacial Kepler


Sondas espaciais são naves lançadas ao espaço com o objetivo de estudar os corpos celestes, sejam eles estrelas, planetas, satélites naturais ou ainda cometas e asteroides. A sonda espacial Kepler tem por objetivo procurar planetas extrassolares, ou seja, planetas que se encontram fora do nosso Sistema Solar.

Isto ocorre apesar de o conhecimento que temos do nosso próprio Sistema ainda estar bem longe de tornar-se pleno. Temos muito que conhecer ainda dos nossos próprios planetas e suas luas, a fim de que, eventualmente, sirvam num futuro próximo, quem sabe, de base para viagens cada vez mais longas aos confins do Sistema Solar.

A sonda espacial Kepler foi lançada em março de 2009 de Cabo Canaveral, Flórida, Estados Unidos, pelo veículo espacial Delta II para uma missão de quatro anos. Ela consiste num observatório espacial de 995Kg, provido de um fotômetro (medidor de luz) acoplado a um telescópio do tipo Schmidt de 1,4m que usa uma lente corretora de 0,95m.

A detecção de planetas extrassolares pode ser realizada quando o telescópio, em trânsito, passa na frente da estrela que orbita. O trânsito produz alteração no brilho da estrela, que é detectada pelo fotômetro do Kepler. Veja na figura abaixo, a imagem da Sonda Espacial Kepler:

Sonda espacial Kepler

A propósito, o nome da sonda é uma homenagem ao físico alemão Johannes Kepler, que, através dos dados obtidos pelo astronômo Tycho Brahe, elaborou três leis no século XVII, chamadas hoje leis de Kepler, relativas às órbitas planetárias. Bom relembrarmos essas leis!









Joahnes Kepler, físico alemão

Se você pensa que as órbitas dos planetas ao redor do Sol são círculos, engana-se! Segundo a primeira Lei de Kepler, as órbitas dos planetas ao redor da estrela que orbita são elípticas. A estrela em questão ocupa um dos focos desta elipse. Sabemos também que as órbitas dos planetas do nosso Sistema Solar não são muito excêntricas, logo as elipses se parecem bastante com círculos, ainda que sejam elipses.

A segunda lei diz que os planetas em órbita de sua estrela cobrem áreas iguais em intervalos de tempos iguais, e a terceira lei diz que o período do planeta é proporcional ao semieixo maior da órbita, ou seja, quanto mais afastado da estrela que orbita, maior será o tempo que irá demorar para dar uma volta completa a seu redor. Por isso Júpiter (5º planeta a partir do Sol) demora 12 anos para dar uma volta completa ao redor da nossa estrela e Saturno (6º planeta a partir do Sol), 29 anos. Matematicamente escreve-se de modo mais detalhado que num Sistema Solar o quociente entre o quadrado do período e o cubo do semieixo maior é um valor constante.

Nos últimos anos vem sendo descoberto um grande número de planetas extrassolares. Alguns deles se encontram na zona habitável, região ao redor da estrela em condições para se encontrar água em estado líquido, o que traz a discussão da instigante possibilidade de vida nesses planetas.
Os cientistas não excluem essa possibilidade, porém lembram que as grandes distâncias interestelares tornariam nossa interação com os mesmos inviável em princípio.

domingo, 2 de junho de 2013

Ameaças às tartarugas marinhas

Raphael Medina ao lado de uma tartaruga pesquisada
Estudo da UENF analisa animais mortos na costa fluminense e capixaba

Pelo menos 150 tartarugas encalharam e foram encontradas mortas ou morreram durante o tratamento no litoral dos estados do Rio e Espírito Santo ao longo de 2011. É o que aponta pesquisa do mestrando Raphael Medina, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UENF. Como parte importante do ecossistema marinho, as tartarugas marinhas representam um componente primitivo e único da diversidade biológica.

O estudo aponta que as principais ameaças a estes animais têm sido a atividade pesqueira, o desenvolvimento costeiro, o uso direto para consumo humano, as mudanças climáticas, poluição e patógenos. Devido à contaminação no litoral, essas tartarugas confundem plástico com águas vivas e acabam morrendo engasgadas ou com problemas intestinais.

— Corpos estranhos podem causar danos à saúde das tartarugas marinhas direta e indiretamente. Plástico e outros resíduos sólidos podem bloquear o tubo digestório e causar erosões, ulcerações ou necrose. Indiretamente, resíduos podem degradar as condições das tartarugas por interferir com o metabolismo lipídico, aumentar o tempo de trânsito intestinal, ou contribuindo para o acúmulo de gases intestinais e flutuação incontrolável — disse Raphael.

O trabalho estudou tecidos doentes (análises histopatológicas) e constatou que as principais lesões observadas nos órgãos e vísceras dos animais estavam associadas a ovos de parasitas, o que induzia acentuada inflamação granulomatosa em quase todos os tecidos. Segundo Raphael, estas lesões em tartarugas de um segmento longo da costa brasileira permitem um conhecimento sistemático das principais doenças pertinentes às espécies estudadas nos litorais capixaba e fluminense.

O material do estudo foi obtido de necropsias em tartarugas marinhas de ambos os sexos e com idades que variavam de juvenis a adultas. Dos 150 exemplares recolhidos, foi observado que 144 eram da espécie Chelonia mydas, o que se justifica pelo fato desta espécie existir em maior quantidade no território brasileiro. Os demais identificados foram Caretta caretta, Eretmochely simbricata e Lepidochely solivacea (sendo dois de cada espécie).

De acordo com a pesquisa, as alterações nos órgãos, para a espécie C. mydas, concentraram-se no sistema digestório (36,73%), seguido pelos sistemas respiratório (20,41%), urinário (15,82%), linfoide(12,76%), muscular (9,69%) e exócrino (1,53%).

— O sistema respiratório das tartarugas marinhas foi o segundo mais afetado, representando 20,41% (40 animais) das lesões observadas nos quelônios (Cheloniamydas) necropsiados, sendo que 32 animais apresentavam pneumonia granulomatosa devido a ovos de parasitas, dois animais pneumonia heterofílica e seis animais pneumonia granulomatosa micótica — explicou Raphael, que teve a orientação do professor Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho, do Laboratório de Morfologia e Patologia Animal (LMPA) da UENF.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) mostra que todas as espécies que ocorrem no Brasil estão classificadas como ameaçadas e recebem categorias de "vulnerável", "em perigo" ou "criticamente em perigo". Porém, as espécies que desovam no litoral são as mais ameaçadas, pois estão mais expostas. Na costa brasileira o projeto “Tartarugas Marinhas – Tamar” atua desde 1980 na conservação das espécies. O projeto possui 22 bases, alocadas em nove estados, abrangendo mais de 1.100 km de praias.

O perigo que mora no lixo

Atualmente centenas de espécies de tartarugas marinhas já foram relatadas com hábitos alimentares distintos (filtradores, detritívoros, decompositores) e foram encontradas intoxicadas por resíduos plásticos.
De acordo com a pesquisa de Raphael, o lixo é considerado um dos grandes poluentes do ecossistema marinho, juntamente com o petróleo e seus derivados, plástico, agentes químicos, efluentes, borracha, metais pesados, dentre outros. Qualquer uma destas substâncias pode transformar o mar em uma área inabitável para os animais.
— Os efeitos incluem aumento na mortalidade e má-formação no desenvolvimento de embriões, mortalidade direta em filhotes, juvenis e adultos, e impactos negativos devido ao contato do óleo com a pele, ou contaminação do sangue, sistema digestório, sistema imunológico e glândulas de sal, entre outros — conclui.

Thaís Peixoto