quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Criação de emas

Pesquisadores da UENF investigam parasitologia destes animais para ajudar produtores

As emas podem ser criadas com autorização do Ibama
A criação de emas vem se tornando uma pecuária alternativa no Brasil devido à boa qualidade dos produtos oriundos dessas aves e também pelo fato de estes animais serem dóceis e sociáveis, o que facilita seu manejo. Com o intuito de avançar no estudo parasitológico, hematológico e bioquímico, identificando e diagnosticando doenças, foram construídos em 2008 um criatório científico e um incubatório de emas na UENF. Professores do Laboratório de Sanidade Animal (LSA/CCTA) da UENF buscam ampliar o número de pesquisas relacionadas à parasitologia e também informar aos criadores de emas as principais doenças que acometem esses animais.

Aberto a diversos professores que têm trabalhado em uma série de pesquisas na UENF, o criatório científico possui hoje 13 emas que vivem sob o cuidado de funcionários da Universidade. De acordo com o professor Francisco de Oliveira, as aves foram adquiridas com autorização do Ibama e através do projeto “Criação de emas (Rhea americana): uma nova alternativa pecuária para o produtor rural do estado do Rio de Janeiro”, aprovado pela Faperj, tendo como principal objetivo trabalhar com os parasitas que causam problemas nas aves e detectar a espécie e as patologias envolvidas, além de fazer pesquisas também com infecção.

Procedimentos de coleta na UENF
— Como as emas são de origem brasileira, e as avestruzes, africana, nós pretendemos introduzir os parasitas da avestruz na ema para ver se há infecção cruzada. A gente vai analisar se os parasitas das avestruzes podem infectar a ema, pois estes são muito patogênicos para as avestruzes. Então nós queremos ver se as emas correm o risco de adquirir essas parasitoses e vir a ter problemas — explica o professor.

Francisco relata também que as emas existentes no criatório possuem OPG (Ovos por Gramas de Fezes) muito baixo, com poucos parasitas, pois elas já chegaram à Universidade vermifugadas, o que é essencial para a saúde do animal. Portanto, a coleta dos parasitas internos a fim de obter uma boa descrição ainda será feita.

Emas e avestruzes pertencem ao grupo das ratitas, aves que não voam. Segundo o professor Francisco, a ideia de fazer pesquisas com emas surgiu após uma constatação de que havia grande dificuldade em trabalhar com avestruz por este ser um animal bastante agressivo. Francisco diz que pouco tempo atrás, na região, existiam pequenos e médios criadores de avestruzes, porém muitos desistiram da criação devido à dificuldade com o manejo. Além disso, havia também sérios problemas em avestruzes devido à parasitose.

— Esse tipo de problema é gerado pela falta de profissionais habilitados com conhecimentos técnicos na criação de ratitas. As avestruzes são animais de grande porte e muito agressivos, o que dificulta o seu manejo. Já as emas possuem menor porte e são mais dóceis, o que facilita a sua lida, além de possuírem as mesmas qualidades de produtos e subprodutos das avestruzes. Portanto, as emas são uma boa alternativa de criação para substituir as avestruzes no Norte Fluminense, tornando-se um mercado promissor para o estado e país — disse.


Interesse vem crescendo no Brasil

Pesquisadores estudam se parasitas de avestruz infectam ema
Existem duas espécies de emas: a ema maior ou comum, Rhea americana, e a ema menor ou de Darwin, Pterocnemia pennata, ambas oriundas da América do Sul. Somente a primeira é criada em cativeiro, principalmente nas Américas e Europa. Estas aves são onívoras, alimentam-se de pastagem, sementes e insetos, e podem viver até 40 anos. De acordo com Francisco, cada fêmea bota um ovo a cada dois ou três dias, totalizando em média 40 ovos por período reprodutivo. Além disso, a carne é livre de gordura, rica em proteínas, ômega 3 e ferro.

Na década de 1990, a exploração comercial de ratitas foi considerada o maior sucesso do agrobusiness nos Estados Unidos. Acompanhando a tendência mundial, embora esta seja uma atividade nova, o interesse pela exploração de avestruzes e emas no Brasil vem crescendo, devido à boa qualidade dos produtos oriundos destes animais.

Atualmente, a criação comercial de emas é uma alternativa pecuária reconhecida pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa). Por se tratar de um animal silvestre, a atividade é controlada pelo Ibama, que proíbe sua caça. O comércio da carne só é permitido de animais oriundos de criatórios comerciais registrados junto aos órgãos competentes (Ibama/Mapa/Anvisa).

Thais Peixoto

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Pesquisa da Uenf ganha prêmio Milton Krieger

Suzane Ariádina de Souza, ao ganhar o Prêmio
O trabalho intitulado “O papel de PQQ na resistência a estresses abióticos em Gluconacetobacter diazotrophicus e interação com Arabidopsis thaliana” de autoria da doutoranda Suzane Ariádina de Souza, do Programa de Genética e Melhoramento de Plantas da UENF, recebeu o prêmio Milton Krieger, oferecido pela Sociedade Brasileira de Genética. A entrega do Prêmio foi realizada durante o 59º Congresso Brasileiro de Genética, que ocorreu entre os dias 16 e 19/09, em Águas de Lindoia, São Paulo.

Ao todo, foram 878 trabalhos inscritos desenvolvidos no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.O trabalho da UENF, que conquistou o primeiro lugar na categoria "Genética de Microrganismos”, foi desenvolvido sob a orientação do professor Gonçalo Apolinário de Souza Filho, do Laboratório de Biotecnologia (LBT), e coorientação da professora Aline Chaves Intorne, do Laboratório de Fisiologia e Bioquímica de Microrganismos (LFBM), ambos do Centro de Biociências e Biotecnologia da UENF.

A pesquisa teve como principal objetivo investigar o papel da molécula PQQ na tolerância a estresses abióticos em Gluconacetobacter diazotrophicus e interação com  Arabidopsis thaliana. Gluconacetobacter diazotrophicus é uma bactéria que promove o crescimento vegetal, agindo no controle biológico de patógenos. Esse microrganismo apresenta alta tolerância a diferentes estresses ambientais, incluindo metais, salinidade, pressão osmótica e calor.

Segundo Suzane, Gluconacetobacter diazotrophicus foi isolada de cana-de-açúcar, porém a pesquisa utiliza a Arabidopsis thaliana por se tratar de uma planta com curto ciclo de vida e mais fácil de ser trabalhada em laboratório.

— Trata-se de uma planta modelo muito utilizada por pesquisadores da área de biologia molecular. Iniciamos o estudo na Arabidopsis thaliana para posteriormente termos a possibilidade de trabalhar com outras plantas como a cana-de-açúcar. — explica.

Suzane conta que o processo de pesquisa foi iniciado ainda em 2009, quando a professora Aline cursava doutorado e desenvolvia um estudo na biblioteca de mutantes do LBT.

— Ao fazer a caracterização, ela observou que alguns mutantes não solubilizavam fósforo e zinco e achou interessante. Iniciamos o processo de identificação desses mutantes e verificamos que eles pertenciam à via PQQ. A Pirroloquinolina quinona (PQQ) pode ser encontrada não só em bactérias, como também em plantas e animais. É uma molécula muito importante, pois possui atividade antioxidante, faz parte da produção de vitaminas e é muito utilizada na fabricação de medicamentos — diz.

Suzane afirma que o trabalho já possui dados suficientes para ser finalizado e deve ser publicado até o final desse ano. A doutoranda destaca a importância do trabalho premiado e afirma que pretende dar continuidade à pesquisa até 2015, quando concluirá o programa de doutorado.

— Esse trabalho é importante porque conseguimos estudar a importância da molécula PQQ, tanto para a bactéria quanto para a planta. Pretendo dar continuidade à pesquisa através do estudo de outros mutantes — afirma.

Rebeca Picanço

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Bem-estar animal

Rosemary Bastos alimenta um filhote de lhama
Modo como os animais de criação são tratados está diretamente relacionado aos índices de produtividade dos rebanhos

Cuidar bem dos animais não é só uma demonstração de afeto aos amigos de quatro patas. No que se refere aos animais de produção - como bovinos, bubalinos, suínos, ovinos, caprinos, peixes e aves — a forma de tratamento pode fazer toda a diferença na produtividade. O manejo inadequado pode interferir, por exemplo, na qualidade da carne e do leite.

Segundo a professora Rosemay Bastos, do Laboratório de Reprodução e Melhoramento Genético Animal (LRMGA) da UENF — que coordena um projeto de extensão desde 2007 sobre bem-estar animal, guarda responsável e zoonoses em escolas direcionado as crianças/adolescentes e professores — o bem-estar animal é uma ciência que busca garantir condições básicas para uma boa qualidade de vida de todos os animais, sendo estes de produção ou não.

O conceito de bem-estar envolve três elementos que se inter-relacionam: a questão física, mental e comportamental do animal — aspectos estes que podem interferir na produtividade e qualidade final do produto.

— Se a pessoa for agressiva durante o manejo, por exemplo, gera estresse no animal.  Isso é altamente prejudicial, pois o estresse prejudica fisiologicamente, além de afetar o próprio desenvolvimento e a produção de carne ou de leite. Já se sabe que o estresse faz com que ocorra a diminuição da acidez da carne que é necessária para conservá-la; além disso, gera uma carne escura, dura e seca — explica a professora.

O manejo inadequado pode ocorrer, segundo Rosemary, em qualquer etapa do processo da cadeira produtiva, como na alimentação, no transporte e na condução para o abate, gerando prejuízos econômicos aos produtores e danos aos animais e tratadores. Ela observa que a prática do bem-estar considera as cinco liberdades necessárias aos animais: ser livres de medo e estresse; de fome e sede; de desconforto; de dor, lesões e doenças e a liberdade de expressar seus comportamentos naturais.

Juliana Costa
Rosemary destaca que as boas práticas voltadas ao bem-estar animal não requerem necessariamente custos ao produtor. Segundo ela, materiais de baixíssimo custo podem ser utilizados. Por exemplo, durante o manejo para condução de bovinos, podem ser utilizadas bandeiras feitas com sacos plásticos ou tecidos de baixíssimo custo. O objetivo do uso de bandeiras é orientar os animais, bem como minimizar os riscos aos peões, já que a haste é longa.  Outro exemplo são os chocalhos para a condução de suínos, que podem ser feitos de garrafa pet, com pedras dentro. O intuito é sempre o de evitar o manejo agressivo e facilitar o entendimento do animal.

— O custo só é um pouco alto quando é necessário trocar toda a estrutura de confinamento, por exemplo. Mas o lucro compensa depois, pois o produtor pode se inserir na cadeia dos produtos agroecológicos e orgânicos e assim atingir um público-alvo mais exigente, disposto a pagar um preço mais alto pelo produto de melhor qualidade — diz a zootecnista Juliana Costa, que junto com Rosemary coordenou/ministrou o curso “Bem-estar animal: cuidar para produzir”, realizado este ano pela terceira vez, durante a Semana do Produto Rural da UENF.

Também é essencial que o ambiente de confinamento seja limpo, do contrário os animais podem evitar deitar mesmo quando cansados. Isso pode gerar problemas como, por exemplo, claudicação em bovinos. No caso dos animais que vivem no pasto, também é necessário que haja árvores e a quantidade e dimensões corretas de bebedouro e comedouro, de acordo com o número de animais.

— Como existe dominância dentro dos rebanhos, nem todos os animais conseguem comer ou beber água se houver um número excessivo de animais para cada comedouro ou bebedouro. Há casos de fêmeas que, inclusive, tem a reprodução prejudicada devido a problemas nutricionais.

Juliana lembra que, em meio aos protestos ocorridos no Brasil recentemente, uma das reivindicações é a criação de um departamento específico, no campo do meio ambiente, para lidar com a questão dos maus tratos aos animais. A ideia é criar um canal no qual as pessoas possam fazer denúncias de crueldades contra os animais e que estas possam originar investigações mais direcionadas. É importante lembrar que todos os animais são protegidos por lei.

Os animais precisam de sombra
Rosemary e Juliana pretendem realizar em breve um projeto de divulgação das boas práticas animais (manejo racional), com palestras itinerantes nas propriedades do Norte Fluminense.

Fazendas em São Paulo e Mato Grosso já adaptadas

Embora a questão do bem-estar animal ainda caminhe a passos lentos no Brasil — se comparado aos demais países — já existem fazendas adaptadas no interior de São Paulo e no Mato Grosso. Segundo Rosemary, há até uma propriedade, no Mato Grosso, com certificado internacional de boas prática voltadas ao bem-estar animal.

— Isso é muito importante, pois o Brasil é um dos maiores exportadores de carne, e alguns países da Europa, por exemplo, já solicitam este certificado. No exterior, já é comum que as fazendas tenham o selo de boas práticas de bem-estar animal. É uma exigência de mercado, à qual o Brasil também tem que se adaptar — afirma.

Segundo a professora, as cinco liberdades relacionadas ao bem-estar animal foram criadas em 1992 pelo Conselho de Bem-estar de Animais de Produção do Reino Unido. As normas foram elaboradas após a denúncia feita por uma jornalista acerca dos maus tratos que os animais vinham sofrendo na década de 60. Hoje as cinco liberdades são utilizadas universalmente.     

— Se preocupar com o bem-estar animal é sem dúvida vantajoso para os animais, pessoas e para toda a cadeia produtiva. Esta será uma exigência universal para o futuro bem próximo e os produtores brasileiros realmente terão de se adequar para permanecerem competitivos no mercado nacional e internacional – conclui.

Thais Peixoto
Fulvia D'Alessandri