quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Efeitos do aquecimento global


Cheia do Rio Muriaé, Campos (Wesley Machado, 05/01/12 )
As altas temperaturas registradas em todo o país nos últimos meses podem se tornar cada vez mais frequentes no decorrer do século. É o que aponta o estudo sobre os impactos do aquecimento global divulgado no final de 2013 pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), organismo criado em 2009 pelo Governo Federal com o objetivo de disponibilizar informações científicas sobre os aspectos relevantes das mudanças climáticas no Brasil.

Embora o momento seja de estiagem no Centro-Sul, as projeções mostram aumento de chuva no Sul e Sudeste e diminuição das chuvas no Norte e Nordeste, podendo apresentar, até o final do século, um acréscimo médio da temperatura global de 2ºC a 5,8°C (graus Celsius). A porção nordeste da Mata Atlântica poderá ter alta de temperatura (entre 2°C e 3°C) e baixa pluviométrica (entre 20% e 25%).

Mata Atlântica em Pernambuco (Wikipedia)
Com base em experimentos realizados no Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal da UENF (LZNA), o professor de aquicultura Manuel Vazquez Vidal Júnior afirma que, com o aquecimento das águas, animais de algumas espécies aquáticas podem sofrer morte embrionária em decorrência do aumento do consumo das reservas de vitelo, uma reserva de nutrientes das células-ovo que alimenta o embrião.

— O aquecimento provoca aumento no metabolismo dos animais pecilotérmicos (sangue frio), que passam a consumir mais nutrientes e antecipam sua época de reprodução. Num primeiro momento fica parecendo que apenas o calendário de desovas mudaria, mas o desenvolvimento embrionário também é afetado pela elevação da temperatura — disse.


Os anfíbios também poderão sofrer uma significativa diminuição nas suas populações existentes na Mata Atlântica. Estudo realizado por pesquisadores do Laboratório de Biogeografia da Conservação da Universidade Federal de Goiás (UFG) estima que até 12% das 431 espécies desses animais do bioma poderão ser extintas nas próximas décadas. O professor Carlos Ruiz-Miranda, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF, lembra que os impactos não se restringiriam à óbvia perda destas espécies nativas.


— Os anfíbios são parte de uma cadeia alimentar que envolve várias espécies de vertebrados.


Outros organismos como mamíferos, aves, insetos e vegetais também ficariam suscetíveis a tais mudanças climáticas. Diferentemente do que ocorre com a espécie humana, muitas dessas espécies não conseguem se adaptar, principalmente as vegetais. Professor do Laboratório de Engenharia Agrícola da UENF (LEAG), Elias Fernandes de Sousa explica de que forma este cenário afetaria a produção agrícola na região Norte Fluminense.

— O aumento da demanda hídrica no inverno poderia  intensificar os efeitos das estiagens que ocorrem frequentemente no inverno e, no verão, a maior frequência de chuvas intensas provocaria inundações e alagamentos. Esses dois eventos já prejudicam bastante a produção agrícola na região. Com o cenário de aquecimento, os efeitos danosos poderão se intensificar — afirma Elias, lembrando que o Norte Fluminense normalmente se destaca no Estado do Rio de Janeiro pelo baixo índice pluviométrico comparado a outras regiões.

Para o pesquisador, os efeitos desse aquecimento não se restringirão a uma determinada espécie.


— Com esse cenário, muito provavelmente todas as espécies vegetais e animais seriam alcançadas, pois as alterações climáticas previstas podem afetar toda forma de vida — afirma.


Como uma das soluções para o Norte Fluminense, Elias afirma que a região dispõe de recursos hídricos e de estruturas hidráulicas que podem ser utilizadas para um manejo da água visando reduzir os efeitos das estiagens.


— Deve-se investir na recuperação dos solos e da vegetação nativa em áreas estratégicas para contenção de morros e redução da erosão, aumentando a infiltração de água no solo e reduzindo os efeitos das chuvas intensas, principalmente em áreas de baixa produção agrícola — conclui.

Rebeca Picanço

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Fenômeno global explica calor e seca no Brasil

Anomalia da temperatura no RJ em janeiro de 2014. Unidade: ºC
A falta de chuvas e as altas temperaturas registradas no Brasil no início deste ano provavelmente estão ligadas a fenômenos e processos dinâmicos ocorridos em escala global. É o que sugere um estudo preliminar do pesquisador Isimar de Azevedo Santos, professor titular do Laboratório de Meteorologia da UENF (LAMET). Ele espera, com a pesquisa, obter previsões mais acertadas de eventuais ondas de calor que venham a afetar o país.

Segundo o pesquisador, tanto o forte calor quanto a estiagem que se observou em algumas regiões do Brasil em janeiro de 2014 se deveram a bloqueios atmosféricos provavelmente originados no Oceano Pacífico. Tais bloqueios impediram as frentes frias de se deslocarem do sul do continente até as latitudes tropicais.

— Estamos usando dados ambientais, tanto locais quanto globais, para compor um quadro elucidativo desses processos de bloqueio. O diagnóstico preliminar nos permite dizer que houve uma distribuição regionalizada das anomalias de precipitação e temperatura — afirma o professor, que tomou por base informações do banco de dados Reanálises, do serviço meteorológico americano (National Centers for Environmental Prediction / NCEP).

Anomalia da precipitação no RJ em 2014. Unidade: mm/dia
A análise das anomalias climáticas no Estado do Rio revela que a capital fluminense teve as temperaturas mais altas, bem como a maior seca dos últimos 36 anos. O Sul Fluminense também viveu a maior estiagem dos últimos 36 anos. No entanto, não foi o janeiro mais quente — os janeiros de 1995, 1998 e 2010 tiveram temperaturas ainda maiores.

No Norte Fluminense, as temperaturas estiveram bem próximas da média histórica. Os janeiros mais quentes da região foram os de 1990, 1995 e 2010. Com relação à estiagem, o estudo aponta o mês de janeiro de 2014 como um dos mais secos, juntamente com os janeiros de 1990, 2006 e 2010.

A análise global da temperatura no Hemisfério Norte mostra que enquanto algumas regiões tiveram aquecimento anômalo (Groenlândia, oeste da América do Norte, Canadá, China e África), outras experimentaram temperaturas mais baixas que a média histórica dos últimos 36 anos (norte da Rússia, o norte da Europa e o leste da América do Norte).

— Já no Hemisfério Sul ocorreu um resfriamento no centro da América do Sul, noroeste da Austrália e no entorno do continente antártico. Mas a maior porção do Hemisfério Sul experimentou temperaturas acima do normal em janeiro, inclusive a maior parte do continente antártico — afirma o pesquisador.

Para saber mais leia o artigo Um Diagnóstico Preliminar das Anomalias Climáticas de Janeiro de 2014

Fúlvia D'Alessandri