sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Darcy Ribeiro dá nome a alcaloide

Substância extraída da planta Rauvolfia grandiflora foi isolada por pesquisadores da UENF e batizada de ‘darcyribeirina’

Imortalizado no nome da UENF e, mais recentemente, em uma estátua colocada no foyer do Centro de Convenções, o mestre Darcy Ribeiro também será lembrado para sempre no reino vegetal. Seu nome foi escolhido para denominar um alcaloide da planta Rauvolfia grandiflora, da família Apocynaceae. Isolada em 2001, a substância foi batizada de “darcyribeirina” pelos pesquisadores do Laboratório de Ciências Químicas (LCQUI) do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da UENF, responsáveis pelo estudo.

O trabalho foi publicado em 2002 na revista científica internacional Tetrahedron Letters, sob o título “Darcyribeirine, a novel pentacyclic indole alkaloid from Rauvolfia grandiflora Mart”. A substância foi isolada durante as atividades de pesquisa da então mestranda em Produção Vegetal da UENF Náuvia Maria Cancelieri, com a orientação do professor Ivo José Curcino Vieira e coorientação do professor Raimundo Braz Filho.
   
Nativa da Mata Atlântica, a planta Rauvolfia grandiflora é abundante nas regiões Norte e Noroeste Fluminense e também no Espírito Santo. A coleta da espécie foi feita em uma fazenda no município de Bom Jesus do Itabapoana, com o objetivo de analisar a composição química das cascas de suas raízes. Segundo Curcino, trata-se de um tipo de planta invasora que pode ser uma das responsáveis pela mortalidade dos animais, já que os alcaloides são bastante tóxicos quando consumidos por bovinos.
Ivo Curcino

— Para o gado não comer, os fazendeiros costumam podar a planta por cima, mas as raízes possuem um tronco bem grande. Então a gente coletou as cascas desses troncos para fazer a análise de sua composição química — diz. 

No entanto, os alcaloides são substâncias que apresentam em seu esqueleto um ou mais átomos de nitrogênio. Portanto, a produção dessa substância na Rauvolfia é considerada importante, uma vez que ela possui grande variedade de atividade biológica, agindo no tratamento de diversos problemas, como arritmias cardíacas, tumores, febre, depressão, entre outros.

A pesquisa resultou no isolamento de oito alcaloides: isoreserpilina, darcyribeirina, darcyribeirina B, 11-demetoxidarcyribeirina, 10-demetoxidarcyribeirina, N-óxido-isoreserpilina, N-óxido-7-hidroxiindolina-isoreserpilina e isoreserpina. Segundo o professor, dentre os oito alcaloides, seis são inéditos na espécie, inclusive a darcyribeirina, o que torna a pesquisa pioneira. Apesar de a planta já ter sido analisada no Recife, ainda não havia estudos com essa classe de substâncias.

— Até então ninguém tinha pesquisado os alcaloides dessa espécie, especialmente o novo alcaloide darcyribeirina, pois era uma substância natural desconhecida. Essa dissertação foi inédita, criando o cenário para outras atividades de pesquisa com a classe dos alcaloides, envolvendo o grupo de pesquisadores de produtos naturais da UENF — disse Curcino, lembrando que o trabalho estimulou outro estudo com uma substância diferente, publicado em outra revista. Graças às pesquisas, o grupo  se tornou referência para trabalhar com essa classe substâncias.

O professor observa que, após esta pesquisa com os alcaloides,  surgiram parcerias entre a UENF e outras universidades, como a UFF e UFRJ. Estas parcerias resultaram em trabalhos de prevenção contra a enzima da inibição do mal de Alzheimer, atividades biológicas anticancerígenas e anti-leucêmicas.

Raimundo Braz
Atividades medicinais deverão ser investigadas

De acordo com o professor Raimundo Braz Filho, o Brasil possui de 40 a 200 mil espécies vegetais — o que representa um terço das espécies de plantas existentes no planeta — e cerca de 10 mil delas são medicinais. Portanto, é possível realizar mais pesquisas com diversas substâncias para tratamento e preservação da saúde humana. Braz ressalta que o alcaloide darcyribeirina poderá ser investigado para avaliação de atividades medicinais.

Para a autora da dissertação, Náuvia Maria Cancelieri, o estudo foi muito gratificante e as constatações despertaram mais empenho na pesquisa.

— Estes fatos, aliados à grande importância farmacológica dos alcaloides isolados de espécies do gênero Rauvolfia, fizeram com que o estudo fitoquímico de Rauvolfia grandiflora fosse bastante excitante — conclui a pesquisadora.

Thaís Peixoto
Fúlvia D'Alessandri

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