sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pesquisa busca controle biológico de vermes usando fungos

Estudos da UENF podem levar a método alternativo de controle do parasito em criação de ovinos; vermes adquirem resistência a produtos convencionais

Clóvis de Paula: 'Controle gradual'
O controle de vermes é fundamental em qualquer criação comercial, mas os vermífugos convencionais com o tempo perdem o efeito porque os parasitos adquirem resistência. Buscando um controle alternativo, pesquisadores da UENF vêm trabalhando em pesquisas que utilizam fungos nematófagos (que matam nematoides) para controlar verminoses em rebanhos de ovinos. Os estudos são coordenados pelo professor Clóvis de Paula Santos, do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual (LBCT) da UENF.

Os fungos nematófagos podem ser encontrados em muitos lugares na natureza. Eles estão, por exemplo, no solo de florestas e de áreas cultivadas, em pastagens, em esterco ou em vegetação em decomposição. Coletados em ambiente natural, eles têm sido cultivados em laboratório para servir às pesquisas. Misturados à alimentação do rebanho, os fungos são expelidos pelas fezes junto com os ovos de vermes. É ali, no pasto, que os fungos atacam os próprios ovos ou, principalmente, as larvas que resultam de sua eclosão.

Como os ovos evoluem muito rápido, os pesquisadores da UENF têm apostado nas espécies de fungos que atacam as larvas. Atualmente, os estudos se concentram na espécie Duddingtonia flagrans. Ao matar as larvas presentes nas fezes, os fungos reduzem a contaminação do pasto e a reinfecção dos carneiros e ovelhas.  Segundo a literatura científica, 97% dos vermes vivem no pasto, e não dentro nos animais.

- Estamos tentando uma metodologia de controle gradual, que tende a mostrar resultados ao longo de certo tempo. À medida que o animal ingere os fungos misturados com seu alimento, ele elimina estes fungos pelas fezes e eles combatem os vermes que nasceriam ali, interrompendo o ciclo reprodutivo do parasito - explica Clóvis.

A grande vantagem do “remédio natural” é que ele não perde seu efeito por conta de resistência dos vermes, ao contrário do controle químico. Outro ponto positivo é que certas espécies de fungos atacam nematoides das mais variadas espécies, e não apenas uma ou outra. Mas a pesquisa ainda tem desafios importantes para superar.

Um deles é identificar e elevar o chamado “tempo de prateleira” do produto, encontrando uma maneira de tornar mais longo o período em que os fungos permanecem vivos para serem usados no combate aos vermes. Outra tarefa é descobrir como obter grandes quantidades dos fungos para permitir a produção em larga escala do remédio alternativo. Em laboratório, a equipe do professor Clóvis já testou o cultivo em arroz parboilizado, milheto, milho, subprodutos da cana-de-açúcar como o bagaço e a torta de filtro e até nas próprias fezes dos animais. O melhor resultado até agora foi o uso de canjiquinha, feita de milho triturado.

Fungos usam de ‘astúcia’ para capturar nematoides


Duddingtonia flagrans predando nematoide Panagrellus spp
Clóvis de Paula Santos está na UENF desde 2001, quando veio da Embrapa Gado de Leite, onde tinha atuado durante nove anos. Desde então ele vem pesquisando o uso de fungos nematófagos no combate a vermes em rebanhos.

Os estudos apontam situações muito interessantes da luta entre estes dois inimigos naturais, que travam batalhas só perceptíveis com o uso de microscópios. Os fungos têm diversas estratégias para matar os vermes. Alguns são chamados predadores e usam armadilhas. Eles assumem a forma de um entrelaçamento de filamentos (chamados hifas), com anéis adesivos (que grudam no nematoide “desavisado”) ou constritores (que se fecham e matam o verme), entre outros tipos de armadilhas.

Mas há outras situações em que os fungos se apresentam não como hifas, e sim protegidos por uma espécie de casca dura - forma tecnicamente chamada de esporos. Na forma de esporos os fungos infectam o nematoide, seja se deixando engolir por ele, seja germinando e penetrando ativamente em seu organismo. Uma vez inserido no verme, a destruição é questão de tempo.

Nos testes de laboratório e de campo, o produto tem dado bons resultados. Mas ainda é preciso avançar para se chegar a um produto que possa ser usado pelo produtor.

Gustavo Smiderle

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