domingo, 11 de novembro de 2018

Coluna Nutrição: De olho na lancheira



De olho na lancheira


Julia Torres, Carolina de Mello Schelck, Karina Alves e Karla Silva Ferreira


A alimentação adequada na infância contribui para um bom desenvolvimento físico e mental, evitando carências nutricionais que podem ser responsáveis pela desnutrição infantil, além de promover o conhecimento de novos alimentos, contribuindo para a construção de hábitos saudáveis e consequentemente prevenir doenças crônicas, como a obesidade infantil. A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), no ano de 2008-2009, realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, indicou que 40% da população brasileira está acima do peso. Considerando apenas crianças entre cinco e nove anos, esse percentual chega a 36,6%. A probabilidade de uma criança obesa desenvolver patologias como a hipertensão, diabetes tipo 2 e obesidade mórbida na fase adulta ou na adolescência é muito maior, por isso é tão importante desenvolver boas práticas desde cedo.

A principal causa do excesso de peso na população mais jovem é o consumo excessivo de alimentos ricos em açúcar e gordura, principalmente os industrializados, justamente os alimentos preferidos das crianças. Ao sentir o sabor adocicado, a criança tende a dar preferência a esses tipos de alimentos e rejeitar o consumo de frutas, verduras e legumes que não possuem um sabor tão doce quanto as guloseimas, biscoitos recheados, bolinhos industrializados, entre outros. Por esse motivo, a educação nutricional nos primeiros anos de vida é ideal a fim de promover atitudes positivas sobre os alimentos, além de ter grande importância na construção de bons hábitos alimentares que vão se perpetuar até a adolescência e vida adulta.



Um escolar com as necessidades nutricionais supridas tem um maior rendimento que aqueles que não possuem uma boa qualidade na alimentação. Algumas deficiências nutricionais na infância deixam sequelas irreparáveis. Consequentemente, a qualidade dos alimentos oferecidos às crianças é fundamental para seu desenvolvimento mental e redução da incidência de Doenças Crônicas não Transmissíveis (hipertensão, doenças cardiovasculares, câncer e doenças respiratórias) na idade adulta.

A família exerce a maior influência na alimentação infantil. Se os pais não consomem alimentos saudáveis, é difícil fazer com que a criança tenha esse costume.  Ainda que o ambiente familiar seja o principal referencial de alimentação que as crianças possuem, deve-se também considerar o âmbito escolar como um formador relevante na construção da educação alimentar.

Os três grandes obstáculos são facilmente identificados para que a educação nutricional aconteça de maneira efetiva na vida da criança:

1. O primeiro é o mau hábito alimentar da família. Os pais devem dar exemplo e incentivar o consumo de alimentos mais saudáveis, visto que os alimentos que a criança leva para a escola são uma extensão dos que ela come em sua casa. Portanto, as crianças devem ter a oportunidade de experimentar em casa novas opções de alimentos saudáveis. A partir disso, seus pais ou responsáveis poderão conhecer suas preferências alimentares e consequentemente montar lancheiras com opções de alimentos que agradem Á criança e ao mesmo tempo possuam qualidade nutricional.



2. O segundo é o bullying escolar. É observado que as crianças sentem vergonha  quando não levam para a escola os lanches iguais aos das outras crianças, gerando dificuldade de identificação no grupo. Diante disso, é importante que a escola interfira para evitar esse tipo de acontecimento.  Além dos professores ficarem atentos para combater o bullying relacionado aos alimentos, a escola deve possuir atividades voltadas para a educação nutricional. Algumas destas medidas podem ser: a inserção de conteúdos que relacionem as matérias lecionadas aos hábitos alimentares; a promoção de atividades extraclasse, como, por exemplo, o estabelecimento de um dia para lanche comunitário e/ou um dia com algum tipo de alimento específico na merendeira; workshops e brincadeiras educativas que estimulem os bons hábitos alimentares dos escolares, e também é muito relevante as atividades incluindo os pais ou responsáveis.



3. E o terceiro é a vida corrida dos responsáveis pela criança, que em busca da praticidade optam por opções de merendas industrializadas. Para contornar este problema, uma sugestão é a organização. Os pais devem possuir um planejamento semanal, o qual garanta que os alimentos possam ser previamente escolhidos e que possam ser preparados para vários dias, evitando diversas idas ao mercado. Uma excelente prática é reservar um tempo no fim de semana para preparar junto com eles os alimentos da merenda semanal, como iogurtes e biscoitos caseiros saudáveis.



De acordo com o manual de orientação ‘'Lanche Saudável’’, fornecido pela Sociedade Brasileira de Pediatria, uma lancheira eficiente deve possuir alimentos baseados na pirâmide alimentar que contenham: uma fonte de carboidrato, de cálcio, de proteína, de minerais e de vitaminas. Deve-se focar no consumo restrito de gorduras saturadas, bem como o controle da ingestão de sal. Priorizar o consumo de carboidratos complexos em detrimento dos simples e estimular o consumo de peixes duas vezes na semana são ótimas medidas.

Uma lancheira saudável deve ser também atrativa para as crianças. Portanto deve-se atentar para as cores e montagem. Os alimentos devem ser colocados em podes, vasilhas ou outras embalagens apropriadas para garantir a organização e manutenção de sua qualidade. As frutas devem estar frescas, ser de fácil consumo e estar previamente cortadas, descascadas e higienizadas. A lancheira deve ser lavada diariamente para evitar acúmulo de restos de comida e mau cheiro. O uso de lancheiras térmicas é apropriado quando o alimento necessitar de conservação em temperatura específica ou o tempo de armazenamento até a hora de seu consumo o exigir.

Referências Bibliográficas

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009. Antropometria e Estado Nutricional de Crianças, Adolescentes e Adultos no Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenação de Trabalho e Rendimento. IBGE, 2010. Disponível em: https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009_encaa/default.shtm
MURGUERO, Juliana Costa. Avaliação do lanche de crianças de 7 a 10 anos de duas escolas em Araranguá, sc.2009. Trabalho de conclusão do curso de Nutrição-Universidade do Extremo Sul Catarinense, Santa Catarina, 2009. Pág 11-13
BARBOSA,   Vera   Lúcia   Perino.   Prevenção   da   obesidade   na   infância   e   na adolescência:exercício, nutrição e psicologia. Barueri (SP): Manole, 2004.
VIRGINIA RESENDE SILVA WEFFORT.. [et al.]. Manual do lanche saudável – São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia, 201. 16-19

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