domingo, 2 de junho de 2013

Ameaças às tartarugas marinhas

Raphael Medina ao lado de uma tartaruga pesquisada
Estudo da UENF analisa animais mortos na costa fluminense e capixaba

Pelo menos 150 tartarugas encalharam e foram encontradas mortas ou morreram durante o tratamento no litoral dos estados do Rio e Espírito Santo ao longo de 2011. É o que aponta pesquisa do mestrando Raphael Medina, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UENF. Como parte importante do ecossistema marinho, as tartarugas marinhas representam um componente primitivo e único da diversidade biológica.

O estudo aponta que as principais ameaças a estes animais têm sido a atividade pesqueira, o desenvolvimento costeiro, o uso direto para consumo humano, as mudanças climáticas, poluição e patógenos. Devido à contaminação no litoral, essas tartarugas confundem plástico com águas vivas e acabam morrendo engasgadas ou com problemas intestinais.

— Corpos estranhos podem causar danos à saúde das tartarugas marinhas direta e indiretamente. Plástico e outros resíduos sólidos podem bloquear o tubo digestório e causar erosões, ulcerações ou necrose. Indiretamente, resíduos podem degradar as condições das tartarugas por interferir com o metabolismo lipídico, aumentar o tempo de trânsito intestinal, ou contribuindo para o acúmulo de gases intestinais e flutuação incontrolável — disse Raphael.

O trabalho estudou tecidos doentes (análises histopatológicas) e constatou que as principais lesões observadas nos órgãos e vísceras dos animais estavam associadas a ovos de parasitas, o que induzia acentuada inflamação granulomatosa em quase todos os tecidos. Segundo Raphael, estas lesões em tartarugas de um segmento longo da costa brasileira permitem um conhecimento sistemático das principais doenças pertinentes às espécies estudadas nos litorais capixaba e fluminense.

O material do estudo foi obtido de necropsias em tartarugas marinhas de ambos os sexos e com idades que variavam de juvenis a adultas. Dos 150 exemplares recolhidos, foi observado que 144 eram da espécie Chelonia mydas, o que se justifica pelo fato desta espécie existir em maior quantidade no território brasileiro. Os demais identificados foram Caretta caretta, Eretmochely simbricata e Lepidochely solivacea (sendo dois de cada espécie).

De acordo com a pesquisa, as alterações nos órgãos, para a espécie C. mydas, concentraram-se no sistema digestório (36,73%), seguido pelos sistemas respiratório (20,41%), urinário (15,82%), linfoide(12,76%), muscular (9,69%) e exócrino (1,53%).

— O sistema respiratório das tartarugas marinhas foi o segundo mais afetado, representando 20,41% (40 animais) das lesões observadas nos quelônios (Cheloniamydas) necropsiados, sendo que 32 animais apresentavam pneumonia granulomatosa devido a ovos de parasitas, dois animais pneumonia heterofílica e seis animais pneumonia granulomatosa micótica — explicou Raphael, que teve a orientação do professor Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho, do Laboratório de Morfologia e Patologia Animal (LMPA) da UENF.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) mostra que todas as espécies que ocorrem no Brasil estão classificadas como ameaçadas e recebem categorias de "vulnerável", "em perigo" ou "criticamente em perigo". Porém, as espécies que desovam no litoral são as mais ameaçadas, pois estão mais expostas. Na costa brasileira o projeto “Tartarugas Marinhas – Tamar” atua desde 1980 na conservação das espécies. O projeto possui 22 bases, alocadas em nove estados, abrangendo mais de 1.100 km de praias.

O perigo que mora no lixo

Atualmente centenas de espécies de tartarugas marinhas já foram relatadas com hábitos alimentares distintos (filtradores, detritívoros, decompositores) e foram encontradas intoxicadas por resíduos plásticos.
De acordo com a pesquisa de Raphael, o lixo é considerado um dos grandes poluentes do ecossistema marinho, juntamente com o petróleo e seus derivados, plástico, agentes químicos, efluentes, borracha, metais pesados, dentre outros. Qualquer uma destas substâncias pode transformar o mar em uma área inabitável para os animais.
— Os efeitos incluem aumento na mortalidade e má-formação no desenvolvimento de embriões, mortalidade direta em filhotes, juvenis e adultos, e impactos negativos devido ao contato do óleo com a pele, ou contaminação do sangue, sistema digestório, sistema imunológico e glândulas de sal, entre outros — conclui.

Thaís Peixoto

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