Um dos três principais gases do efeito estufa — com potencial de aquecimento global 21 vezes superior ao dióxido de carbono — o metano é liberado na atmosfera, em grande parte, pela ação antrópica (realizada pelo homem). A agropecuária é uma delas, respondendo por 30% das emissões mundiais de metano na atmosfera. E os ruminantes constituem o grupo de animais que mais contribui para isso, sendo responsável por 25% das emissões totais de gás metano.
Uma pesquisa coordenada pelo professor Carlos Augusto de Alencar Fontes, do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal (LZNA) da UENF, mostra que é possível interferir nesse processo através da alimentação dos animais. Intitulada “Níveis de metano e perdas energéticas em bovinos de corte, suplementados ou não, em pastagem de capim mombaça (Panicum maximum c. Mombaça), a pesquisa foi considerada a melhor apresentada durante a 49ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia (SBZ), realizada de 22 a 26/07/13, fazendo jus ao Prêmio Ismael Leal Barreto, concedido pela SBZ.
Financiada pela Capes e pela Faperj, a pesquisa teve como um de seus objetivos quantificar a emissão de metano por bovinos criados em regime de pasto, em forrageira tropical, suplementados ou não com ração concentrada.
— Concluimos que a suplementação com concentrado age de forma efetiva na mitigação da emissão de metano, reduzindo a proporção da energia perdida na forma de CH4 — disse o professor Fontes.
Segundo o professor, estima-se que o rebanho bovino brasileiro libere anualmente para a atmosfera 9,4 milhões de toneladas de metano, provenientes da fermentação ruminal. Isso corresponde a 92,1% de todo o metano gerado pelas atividades agrícolas nacionais.
— Só o CO2 gerado pelo desmatamento das florestas tem participação mais importante que o metano na produção do efeito estufa no país — afirma.
Ele explica que o metano é produzido pelos microrganismos metanogênicos ruminais, a partir de hidrogênio (H2) e gás carbônico (CO2). Durante a fermentação ruminal, os carboidratos são convertidos em ácidos graxos de cadeia curta, principalmente os ácidos acético, propiônico e butírico. A formação destes ácidos é acompanhada pela produção de H2 gerando metano.
— A proporção dos ácidos graxos formados e, consequentemente, a produção de metano são influenciadas pelo alimento consumido pelo animal, bem como outros fatores. Com o aumento de alimentos concentrados na dieta, as emissões de metano podem ser reduizidas em até 67% — explica.
Professor Carlos Augusto Alencar Fontes |
Segundo o professor, o rebanho bovino brasileiro — constituído predominantemente por animais zebuínos criados em sistemas extensivos — está sujeito à estacionalidade (climática) de oferta de alimentos. Isso resulta em baixos ganhos diários médios de peso e no alcance tardio do peso de abate. A suplementação energética pode reduzir a emissão diária de metano, resultando em ganho de peso e reduzindo a idade de abate.
— No caso dos animais destinados ao abate, produzidos em regime de pasto, a intensificação do processo produtivo, com utilização de forrageiras adaptadas e mais produtivas, práticas adequadas de manejo e animais com melhor potencial genético podem reduzir significativamente a produção total de metano, com benefícios para o meio ambiente — afirma, lembrando o conhecimento da emissão de CH4 nas condições locais é indispensável para balizar tomadas de decisões futuras que conduzam a sistemas de produção mais sustentáveis.
O estudo teve ainda a participação dos seguintes pesquisadores: Alexandre Berndt (Embrapa Pecuária Sudeste-São Carlos), Rosa Toyoko Shiraishi Frighetto (Embrapa Meio Ambiente-Jaguariúna), Viviane Aparecida Carli Costa (Pós-doc do sistema PNPD/Capes), João Gomes de Siqueira (técnico de nível superior, doutor da UENF), Karina Zorzi (Pós-doc do sistema PNPD/Capes), Elizabeth Fonsêca Processi (doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UENF) e Tiago Neves Pereira Valente (Pós-doc do sistema PNPD/Capes).
Fulvia D'Alessandri
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