sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Coluna Nutrição: Dietas com teor moderado de carboidratos promovem maior expectativa de vida



Dietas com teor moderado de carboidratos promovem maior expectativa de vida


Karina Alves, Fernanda Belgone e Karla Silva Ferreira


Os nutrientes que fornecem energia são os carboidratos, as proteínas e as gorduras. Em uma dieta balanceada, a porcentagem de energia proveniente de carboidrato deve ser em torno de 60%. Por exemplo, uma dieta com 2000 Kcal deve conter 300 gramas de carboidratos. Nas dietas low carb, uma parte do carboidrato é substituída por gordura e proteínas, podendo predominar produtos de origem animal (carnes, ovos, leite e seus derivados) ou vegetal (óleos, azeites, grãos e cereais integrais). Na Figura 1 são mostrados alimentos usados em dietas low carb.



As dietas low carb entraram em evidência ao prometerem uma perda de peso rápida. Alguns estudos também a apontam como promissora para a diminuição do risco de algumas doenças. Entretanto, até então, não havia pesquisas que indicassem sua segurança a longo prazo. Agora, esta questão está respondida: dietas low carb podem reduzir a expectativa de vida em até quatro anos. Em termos de longevidade, e considerando um indivíduo com 50 anos, os pesquisadores estimam que o indivíduo com uma dieta moderada em carboidrato pode viver 83 anos versus 79 anos no caso dos indivíduos com dieta low carb.

A conclusão de que dietas low carb são prejudiciais para a saúde a longo prazo foi obtida em uma grande pesquisa realizada com cerca de 15 mil pessoas que foram acompanhadas durante 25 anos. O resultado desta pesquisa foi publicado no dia 16 de agosto de 2018 na revista The Lancet Public Health.

Uma explicação para o fato de que dietas com baixo teor de carboidrato levem a menor expectativa de vida pode ser pelo fato de que estas dietas sejam pobres em frutas, legumes e grãos, que são fontes de micronutrientes e outras substâncias bioativas importantes para o organismo.

Além de detectar que dietas low carb a longo prazo são prejudiciais para a saúde, esta pesquisa pode detectar outros aspectos sobre a influência das dietas no índice de mortalidade, que são aos seguintes:
1) Os indivíduos que alcançaram maior expectativa de vida foram os que consumiam dietas
moderadas em carboidratos. Nestas dietas, cerca de 50% a 55% da energia total era proveniente de carboidratos. Os pesquisadores consideraram a diferença nos teores de compostos bioativos, tais como como aminoácidos de cadeia ramificada, ácidos graxos, fibras, fitoquímicos, ferro heme, vitaminas e outros minerais como o fator responsável pelo menor risco de mortalidade nas dietas com teores moderados de carboidratos versus dietas com baixo teor de carboidrato.

2) Em segundo lugar ficaram as dietas ricas em carboidratos, nas quais mais que 70% do valor energético era proveniente de carboidratos. A redução da expectativa de vida foi de 1 ano em relação ao grupo de indivíduos que consumiam dieta com quantidade moderada de carboidratos. A ocorrência de hipertensão entre os indivíduos que seguiram esta dieta e a dieta com quantidade moderada de carboidrato foi similar. O inconveniente destas dietas é que elas tendem a ser compostas por alimentos ricos em carboidratos refinados, como arroz branco, açúcares, massas e pães feitos com cereais não integrais e outros alimentos de baixa qualidade nutricional e que podem conferir um nível glicêmico cronicamente elevado.

3) Em terceiro lugar ficaram as dietas com baixo teor de carboidrato nas quais os carboidratos foram substituídos por gordura e proteínas de origem vegetal. Nestas dietas os indivíduos consumiam maior quantidade de legumes e menor de frutas, conferindo assim maior teor de gorduras polinsaturadas e menor de gorduras saturadas e vitamina C. Esta substituição foi correlacionada com menor risco de morte por doenças cardiovasculares do que quando os carboidratos foram substituídos por gorduras e proteínas de origem animal.

4) Em quarto lugar ficou o grupo de indivíduos com menor consumo de carboidratos e substituição dos carboidratos por gorduras e proteínas de origem animal. Neste grupo houve maior incidência de morte por doenças cardiovasculares. Os pesquisadores consideraram o efeito estimulante das vias inflamatórias, envelhecimento precoce e estresse oxidativo deste tipo de dieta na redução da expectativa de vida neste grupo de indivíduos.  Uma das causas pode ser o baixo consumo de frutas e hortaliças, alimentos que comprovadamente possuem substâncias bioativas benéficas para a saúde.

É importante ressaltar que, associado à fonte dos nutrientes, também a forma de preparo do alimento pode modificar seu efeito para a saúde. As proteínas são essenciais para a vida. São compostas por, basicamente, vinte aminoácidos, dos quais, aproximadamente dez devem ser fornecidos pela alimentação. Entretanto, os aminoácidos podem sofrer transformações devido a altas temperaturas, o que é sabido desde o século passado. Reforçando este conhecimento, uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo apontou a formação de substancias tóxicas (aminas heterocíclicas) em proteínas de origem animal submetidas a altas temperaturas. Esta é uma condição comum no preparo dos churrascos, que são tradicionalmente preparados com carnes, principalmente bovinas. O preparo de vegetais na forma de churrasco ainda é pouco comum, mas se for tostado, conforme ocorre com as carnes, podem também gerar substancias tóxicas. Sendo assim, é importante atentar para a forma de preparar o alimento e não consumir partes queimadas ou tostadas.



 Os resultados desta pesquisa mostraram que tanto dietas com altos teores de carboidratos quanto dietas low carb acarretam menor expectativa de vida em relação a dietas com quantidades moderadas de carboidratos, conforme mostrado no gráfico em “U” na Figura 2. Entretanto, caso haja necessidade de se restringir o consumo de carboidrato, o aconselhável é substitui-los por proteínas e gorduras de origem vegetal, que a longo prazo são mais apropriadas para promover envelhecimento saudável. Já as dietas low carb ricas em gorduras e proteínas de origem animal devem ser desencorajadas.

Referências Bibliográficas:

BRASIL. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003 – Estabelece o Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 de dezembro de 2003.

CARVALHO, A. Consumo de carnes e aminas heterocíclicas como fatores de risco para câncer. 2016. Tese (Doutorado em Nutrição em Saúde Pública) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. doi:10.11606/T.6.2017.tde-04012017-104250. Acesso em: 23/08/2018.
SEIDELMANN, S.; CLAGGETT, B.; CHENG, S.; HENGLIN, M.; SHAH, A.; STEFFEN, L.; FOLSOM, A.; RIMM, E.; WILLET, W.; SOLOMON, S. Dietery carbohydrate intake and mortality: a prospective cohort study and meta-analysis. The Lancet Public Health. (2018) 1-10.

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