Pesquisadores da UENF ajudam a firmar
diagnóstico e orientam produtores sobre como evitar novos surtos da doença
Uma
intoxicação exógena, denominada botulismo hídrico, causada pela ingestão de
toxinas através da água contaminada, levou a óbito 163 bubalinos de diversas
categorias, sendo 65% (105 animais) fêmeas gestantes ou em fase de amamentação.
A mortalidade foi registrada em um período de cinco meses, com estudo em local
pantanoso e topografia de baixo declive em Campos dos Goytacazes. O diagnóstico
foi firmado pelo professor Eulogio Queiroz de Carvalho; seu orientado, o
doutorando Raphael Mansur Medina; do Laboratório de Morfologia e Patologia
Animal (LMPA) da UENF; e os médicos veterinários Serafim Saldanha Braga de
Azeredo, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e
Cláudio Vilela Vieira, coordenador de Defesa Agropecuária do Rio de Janeiro.
Na
maioria dos casos, o gado apresentava dificuldades respiratórias, estado mental
aparentemente normal e sinais neurológicos de paralisia flácida da musculatura,
o que dificultava a locomoção. Nos pastos foram observadas coleções de água
esverdeada com elevada quantidade de matéria orgânica, constituída por fezes
dos próprios búfalos, aves aquáticas e urubus. Nesses locais os animais vinham a
óbito.
O
grupo detectou que a prática nas propriedades era a de não recolher as carcaças
que se decompunham na pastagem ou em contato com a água pantanosa. Com a
ocorrência crescente da enfermidade e de óbitos, eram muitas as carcaças
decompostas presentes na água que os animais bebiam, fator que retroalimentava
a mortalidade.
Segundo Eulógio, a ocorrência de botulismo
depende de uma série de fatores envolvendo a intensidade da contaminação
ambiental pelos esporos da bactéria Clostridium
botulinum, além da presença de substrato e a existência de condições ideais
para sua multiplicação e formação de toxina. A proliferação da doença foi
causada pelo sistema de produção utilizado (o manejo dos animais). Os dejetos deixados no ambiente determinaram
a forma e intensidade do surto. Diante do quadro encontrado, os pecuaristas
receberam orientações técnicas para evitar que novos surtos da doença venham a
ocorrer.
Nas análises realizadas no Laboratório de
Enfermidades Infecciosas dos Animais, da Unesp/Araçatuba, foi possível detectar
a toxina botulínica tipo C, o que levou à confirmação do diagnóstico
clínico-patológico e epidemiológico de botulismo hídrico realizado na UENF. Também
foram feitas análises em amostras de fígado, conteúdo intestinal e conteúdo ruminal
dos animais necropsiados, nos quais foram diagnosticadas lesões compatíveis com
a desnutrição. Na opinião de Eulógio, este fator deve ter contribuído para o
agravamento dos efeitos da toxina encontrada no ambiente e nos órgãos
examinados.
Intoxicação pode acometer
também o homem
Resultante da
ingestão de toxinas previamente
formadas pela bactéria anaeróbia Clostridium
botulinum, o botulismo é uma intoxicação exógena grave que pode estar
acometer tanto o homem quanto os animais, inclusive aves e outras espécies.
Nos
Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás foram registrados surtos
esporádicos de botulismo hídrico em bovinos. No Maranhão existem descrições de
surtos de botulismo enzoótico em búfalos, relacionados com a presença de
matéria orgânica vegetal nas poças formadas em períodos de estiagem e ingeridas
pelos animais.
Para
controlar e evitar a enfermidade, é necessário evitar a permanência de cadáveres
no pasto e no pântano e/ou áreas alagadas e evitar situações de descontrole no
manejo da suplementação mineral e alimentar.
— É
necessária a retirada imediata dos animais da pastagem contaminada; a eliminação
de carcaças nos campos e no pântano; tratamento de suporte fornecendo água e
alimentos de boa qualidade; vacinação do rebanho contra botulismo a partir de
quatro meses e revacinação 30 a
40 dias após, depois a vacinação anual. Porém, como o desafio é muito grande,
faz-se necessária a vacinação semestral até o controle total do problema — conclui
o professor.
Thais Peixoto
Excelente trabalho epidemiológico
ResponderExcluirParabéns!