terça-feira, 11 de setembro de 2012

Animais têm consciência?

Mamíferos são considerados mais evoluidos (foto Wikipedia)
Será que daqui a um século a humanidade vai considerar consensualmente inaceitável a forma como tratamos hoje os animais? Se depender de um grupo de cientistas reunidos na Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, não vai demorar tanto assim: eles lançaram em julho um manifesto defendendo a ideia de que os animais também têm consciência (saiba mais aqui). Para ajudar a melhorar a compreensão do nosso público sobre o tema, o Blog Ciência UENF ouviu o professor de Neurobiologia Arthur Giraldi, que assina a coluna “Um quê de neurociência”, aqui mesmo no blog.

Para o pesquisador da UENF, a consciência é uma questão complexa e não foi definida claramente no manifesto. Segundo Arthur, existe grande confusão quanto aos significados das palavras consciência, mente e cognição. Na definição do professor, mente seria o conjunto de processos (memória, análise, raciocínio, emoção) que permitem a capacidade de responder de forma analítica a estímulos externos. Isso exige uma circuitaria nervosa complexa, permitindo o que se chama de “plasticidade comportamental” — ou seja, a habilidade do animal em responder a estímulos de forma analítica, sempre alterando e melhorando seu desempenho na conclusão da tarefa. É diferente de uma resposta automática, estereotipada e reflexa que é observada na grande maioria dos invertebrados. Cognição seria o ato ou processo de conhecer, a expressão dos processos mentais, como atenção e percepção. E consciência seria uma qualidade da mente, uma faculdade resultante desta. É a capacidade de autorreconhecimento, da percepção de si e do externo como coisas distintas, sendo a base da subjetividade e da individualidade, mas que não necessariamente está presente em seres com mente.

Arthur Giraldi: "Este é o tema mais complexo"
— Este é um tema extremamente complexo e que tem diferentes visões e definições. É certamente o tema mais complexo de todos, na ciência e na filosofia. O único bem real que temos é o quê, senão a nossa consciência? Somos essencialmente seres solitários que apreendemos as coisas externas ao nosso cérebro pelos sentidos. E estas informações são filtradas e processadas pelo nosso cérebro. Logo, nossa consciência é formada por impressões e reconstruções da realidade feitas por ele — explica.

Seguindo a linha de “eminentes neurocientistas como Antônio Damásio e Michael Gazzaniga”, Giraldi diz que a consciência é uma emergência da mente. Primeiro mente, depois consciência.

— Que a maioria dos animais tem mente, isso é fato. Já vi relatos de que aranhas têm capacidade de memória e aprendizado, ainda que rudimentares. Mas daí a concluir que eles tenham consciência, é outra história. Ter plasticidade comportamental não é suficiente para dar título de “ser consciente” — defende.

Arthur Giraldi diz ter algum grau de segurança para concordar que os mamíferos tenham alguma forma de consciência, pela presença do neocórtex, embora este dado tenha sido minimizado pelo manifesto, a seu ver sem maiores explicações. Quanto aos vertebrados não-mamíferos e alguns invertebrados, diz o pesquisador, eles têm mente, mas não é certo que tenham consciência.

— Parece-me que o manifesto é mais para levantar a possibilidade do que para comprovar alguma coisa. Os tais cientistas certamente sabem que essa comprovação ainda não é possível — afirma.

Thaís Peixoto
Gustavo Smiderle

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