sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sustentabilidade do uso da água no Norte Fluminense


A água própria para o consumo é “insípida, incolor e inodora”. Isto é o que todos nós aprendemos desde cedo na escola. Mas, na visão do professor João Almeida, do Laboratório de Fisiologia e Bioquímica de Micro-organismos (LFBM) da UENF, este é um conceito errado. Segundo o professor, mesmo a água que não possui sabor, cor ou cheiro pode conter bactérias que causam doenças.

Este é um dos temas apresentados no capítulo 34 do livro ‘Sustainable water management in the tropics and subtropics - and case studies in Brazil” – volume 3 (“Gestão sustentável da água nos trópicos e subtrópicos — e estudos de caso no Brasil”), publicado pela Universidade de Kassel, na Alemanha. O livro, em cada um de seus volumes, apresenta textos sobre o Brasil. O primeiro abordou o tema 'água e agricultura', o segundo, 'água e suas tecnologias' e o terceiro, 'água e ambiente'.

O capítulo 34, intitulado "Uso da água em comunidades carentes em áreas rurais do Estado do Rio de Janeiro", aborda a sustentabilidade do uso da água no Norte Fluminense e é fruto de projetos de extensão coordenados pelo professor João Almeida, com a participação das alunas Juliana Guzzo Fonseca e Aline Correia da Silva. Depois de muita pesquisa e coleta de dados, os pesquisadores chegaram à conclusão de que, antes de mais nada, é preciso disseminar um novo conceito a respeito da água:

— Se desde cedo as pessoas aprenderem o que é certo, isso irá contribuir para a diminuição de doenças causadas pela água contaminada. Infelizmente, a população acredita em conceitos errados, que são ensinados pelos livros didáticos, campanhas de saúde pública etc. É fundamental que, através da educação, estes conceitos sejam mudados — afirma João.

João Almeida
Uma ideia errada que grande parte das pessoas tem é que a água boa para se beber deve ser fervida ou filtrada. Segundo João, as velas de porcelana não detêm bactérias (nenhuma, praticamente). Elas foram feitas para ser usadas com água previamente clorada, pois detêm detritos e ovos de vermes que são resistentes à cloração. No entanto, a maioria das embalagens, também analisadas pelos pesquisadores, não fornecem esta informação. A água fervida mata as bactérias, mas não é recomendada pelo seu alto custo (de gás ou lenha para ferver a água), risco de acidentes domésticos e sabor ruim. O melhor método, segundo o professor,  é o mesmo utilizado pelas companhias de água — o uso do cloro, seguido de filtração.

—Basta colocar três gotas de água sanitária para cada litro de água e deixar durante 30 minutos, filtrando logo em seguida. Esta água poderá, então, ser consumida sem medo, porque estará livre de bactérias e de outros contaminantes, como os ovos de vermes, retidos pelo filtro — explica o pesquisador, lembrando que, durante as visitas feitas às comunidades, foi distribuída uma cartilha com algumas “receitas” bem simples para que todos saibam como deixar a água própria para o consumo.

Segundo João, o grande objetivo do projeto é trabalhar pela mudança dos conceitos "beba apenas água filtrada ou fervida" e "água boa para o consumo deve ser inodora, incolor e insípida" para "beba apenas água clorada e filtrada".

Na lista dos problemas, também está a contaminação da água dos lençóis freáticos, provocada, entre outros fatores, por vazamentos de postos de gasolina e indústrias químicas, bem como lixo despejado no solo.  O livro pode ser conferido na íntegra aqui.

Rafaella Dutra

2 comentários:

  1. Parabéns pelo belíssimo trabalho João!
    Nadir

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  2. Que legal! Isso reforça cada vez mais a importância do aprendizado e da pesquisa no Brasil. Como é importante ter informações durante toda a nossa vida, seja ela acadêmica ou não. Ainda bem que podemos contar com os brilhantes ensinamentos do Prof. João Almeida. Parabéns pela pesquisa!

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