sexta-feira, 2 de março de 2012

Pesquisas buscam recuperar movimentos de vítimas de derrame


Uma das maiores causas de morte em todo o mundo, o Acidente Vascular Encefálico (AVE) (ou Acidente Vascular Cerebral – AVC) — vulgarmente conhecido por “derrame” — é também o principal fator de incapacitação entre indivíduos adultos. É provocado pela interrupção do fluxo sanguíneo em alguma região do encéfalo, o que ocasiona uma lesão no tecido encefálico. O AVE isquêmico normalmente deixa suas vítimas com um dos lados do corpo enfraquecido ou paralisado, passando a depender de terceiros para a realização de atividades básicas da vida diária.

Pesquisadores da UENF vêm tentando contribuir para o tratamento dos indivíduos acometidos por AVE, através de estudos com o uso da terapia celular em um modelo animal da doença. A mestranda Maria de Fátima dos Santos Sampaio, do Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia, avaliou o efeito do tratamento com as células mononucleares de medula óssea (MNMOs) em ratos submetidos à lesão isquêmica do córtex cerebral. Os resultados mostram que estas células são capazes de induzir a recuperação de movimentos menos refinados da pata dianteira dos animais.

— No entanto, as MNMOs não se mostrou capaz de fazer o mesmo no que se refere aos movimentos mais complexos e que envolvem destreza, como segurar e conduzir objetos. Isto sugere que estas células podem apresentar limitações ao nível de recuperação promovida aos pacientes, podendo agir sobre certas vias sensorimotoras e não em outras — diz Maria de Fátima, que teve a orientação do professor Arthur Giraldi Guimarães.

Segundo a pesquisadora, os resultados não esgotam a questão, sendo necessários mais estudos para analisar se em outros modelos da doença a terapia com as MNMOs ou outros tipos celulares pode ser efetiva na recuperação de movimentos de destreza. Ela observa que as MNMOs possuem algumas vantagens, como a facilidade de obtenção, podendo ser isoladas e transplantadas no paciente num período curto de tempo (horas), e apresentam um menor custo em relação a outras terapias com células-tronco. Além disso, sua segurança e eficácia vêm sendo demonstradas em estudos sobre outras doenças. Pesquisas mostraram, por exemplo, importantes melhorias na função cardíaca e reparo do miocárdio lesado.

— As MNNOs são constituídas por alguns tipos celulares, como células progenitoras hematopoiéticas e células-tronco, sendo que todos podem ter sua contribuição na recuperação. Células-tronco são células indiferenciadas que apresentam a capacidade de se autorrenovarem e de dar origem a células diferenciadas (especializadas), que compõem os tecidos e órgãos do corpo. Elas podem ser obtidas do embrião, do feto e do indivíduo adulto — explica.

Ela observa que, ao contrário da ideia de que a terapia possa estar regenerando neurônios perdidos, na verdade o principal mecanismo de ação das MNMOs é a liberação de diversos fatores tróficos e neuroprotetores, reduzindo assim o número de neurônios perdidos, além de estimular a regeneração e a reestruturação das conexões nervosas.

Dentre os principais fatores de risco para o AVE estão a hipertensão, a obesidade e o tabagismo. Como é de grande ocorrência, a doença provoca altos gastos para o sistema de saúde. Segundo projeções do Ministério da Saúde, até 2015 deverão ocorrer cerca de seis milhões de óbitos no país em decorrência de AVE. Além disso, considerando que, de todos os casos, cerca de 30% dos pacientes vem a óbito e que cerca de 50% apresentam sequelas permanentes, pode-se imaginar o tamanho do impacto socioeconômico desta doença.

— Nosso objetivo é contribuir, de alguma forma, para que os indivíduos acometidos por AVE possam ter maior qualidade de vida. Que possam, por exemplo, executar funções comuns do dia a dia, mas para as quais eles dependem da ajuda de outras pessoas, como por exemplo, pentear os cabelos e escovar os dentes — diz Maria de Fátima.

Éder Souza
Fúlvia D'Alessandri

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