Lana Lage*
Embora algumas pessoas desconheçam, a UENF já apresenta uma larga tradição nos estudos sobre as questões afro-brasileiras, com a preocupação de analisar criticamente as formas históricas de inserção/exclusão dos afrodescendentes em nossa sociedade, contribuindo para o combate ao racismo e para a valorização da cultura afro-brasileira.
Um marco nessa trajetória da universidade foi a criação, em dezembro de 1995, do Centro de Referência da Cultura Afro-brasileira – CCAB, instalado na na Casa de Cultura Villa Maria, então sob a direção de Joca Muylaert. O centro foi efetivamente implantado em 21 de Março de 1996, Dia Mundial de Combate à Discriminação Racial, com o seminário intitulado: “Um reflexão sobre a influência da Cultura Afro-brasileira na sociedade brasileira”, acompanhado de lançamento de livros e exposição de arte.
O CCAB tinha como objetivo reunir o maior número informações possíveis sobre a influência africana na cultura e na sociedade brasileiras; apoiar e preservar o patrimônio cultural afro-brasileiro da região norte e noroeste fluminense; criar um acervo bibliográfico, musical e de vídeo; estimular pesquisa; fomentar discussões e promover eventos sobre a cultura afro-brasileira.
Ainda no ano de 1996, somando-se às comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra, foram organizadas exposições, apresentações musicais e de dança, em que se destacaram o jongo, a mana-chica, expressões típicas dos escravos da região norte-fluminense. Em 1997 foi organizado o debate “Ação Afirmativa e os Direitos Humanos na Ótica da Questão Racial” com a presença do assessor do Governo Estadual para Assuntos Afro-brasileiros, Januário Garcia, e do secretário executivo do Grupo Interministerial para Valorização da População Negra do governo federal Carlos Moura. Também a cultura afro-brasileira foi contemplada com a realização da Festa Black Music: Reggae - Rap- Soul e Charm, realizada na Faculdade de Filosofia, e uma exposição de selos africanos, em parceria com o Núcleo de Filatelia de Empresa de Correios e Telégrafos da cidade de Campos.
Em agosto de 1998, o CCAB foi transferido para o CCH, sob a coordenação da professora Lana Lage, continuando a realizar as atividades previstas desde sua criação, entre as quais se destacou, ainda nesse mesmo ano, um levantamento das obras sobre história e cultura afro-brasileiras encontradas nas bibliotecas campistas. Também foi iniciado o desenvolvimento do Projeto de Pesquisa e Extensão O Negro no Norte Fluminense: história, cultura e relações sociais, composto por três subprojetos. O primeiro, intitulado O Jongo no Norte Fluminense, visava a analisar o papel do jongo como elemento formador de identidade e espaço de construção de solidariedades entre a população afrodescendente da região. O segundo, Estratégias de Combate ao Racismo em Campos, objetivava estudar o movimento negro em Campos, resgatando os processos de sua formação, analisando suas estratégias de combate ao racismo e buscando compreender os limites e a eficácia de sua atuação. Por último, o Projeto de Extensão Curso de Capacitação em História e Cultura Afro-brasileiras, realizado em fevereiro de 1999, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Campos e a Fundação Municipal Zumbi dos Palmares, procurava capacitar 150 professores da rede municipal de Campos para o cumprimento da Lei Municipal N° 5.428/93, que obrigava a Prefeitura a incluir os estudos afro-brasileiros nos currículos escolares. O curso foi aberto pela secretária municipal de Educação, Maria Auxiliadora Freitas de Souza, e em seu encerramento teve a presença do prefeito de Campos, Arnaldo Viana.
Entre outras atividades, foi realizado ainda um Projeto de Extensão intitulado Meninos da Villa, em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UENF e com o Criam/Degase de Campos, com o objetivo de oferecer atividades culturais e profissionalizantes ligadas à cultura afro-brasileira para meninos de rua frequentadores da Casa de Cultura Villa Maria e adolescentes infratores (2001).
Após um tempo desativado, o CCAB foi reestruturado a partir de março de 2010, passando a constituir um setor do Núcleo de Estudos de Exclusão e da Violência -NEEV, coordenado pela professora Lana Lage, reiniciando suas atividades com o Projeto de Pesquisa Administração institucional de conflitos envolvendo discriminação ou intolerância étnica racial e religiosa em Campos dos Goytacazes, vinculado ao Projeto A crença na igualdade e a produção da desigualdade nos processos de administração institucional dos conflitos no espaço público fluminense: religião, direito e sociedade, em uma perspectiva comparada contemplado no Edital FAPERJ – Humanidades/2009, desenvolvido no âmbito do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos – INCT/Ineac.
O curso de Graduação em Ciências Sociais do CCH também vem contemplando essa temática em suas disciplinas. Como exemplos recentes, temos a disciplina Tópicos Especiais em História Regional, cuja ementa aborda a agroindústria açucareira e a escravidão; o Abolicionismo e suas relações com as rebeliões escravas na região Norte Fluminense e o processo abolicionista, oferecida no primeiro semestre de 2010, e também a disciplina Tópicos Especiais em História: pensamento racial, ciência e nacionalidade, que tem como objetivo discutir a emergência do conceito de raça e suas implicações na formulação de políticas referentes à nacionalidade e à constituição do Brasil como país. São abordadas então as teorias raciais da segunda metade do século XIX e início do XX e suas consequências para o relacionamento étnico em nosso país na atualidade.
No Programa de Pós-graduação em Sociologia Política, a linha de pesquisa Segurança Pública, Exclusão Social, Violência e Administração Institucional de Conflitos aborda as relações interétnicas e suas formas de interação cotidiana, incluindo a violência cotidiana e os processos de dominação. Recentemente, foram defendidas as seguintes dissertações de mestrado: Limites da Reforma Agrária e as Fronteiras Religiosas: Os dilemas remanescentes do quilombo do Imbé – RJ, da aluna Yolanda Gaffrée Ribeiro (2011), e O negro e o seu mundo: Vida e trabalho no pós-abolição em Campos dos Goytacazes, da aluna Rafaela Machado Ribeiro (2012).
Assim, a UENF vem contribuindo para a produção de uma reflexão crítica, a partir dos instrumentos fornecidos pelas Ciências Sociais, sobre a questão racial no Brasil, visando à democratização efetiva da sociedade brasileira pela inclusão de toda a população nos direitos de cidadania.
* Professora do Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (LESCE) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF.
Visite o blog do Núcleo de Estudos da Exclusão e da Vîolência
Achei esta matéria inadequada para o Blog da Ciência. É uma prestação de contas ou relatório, nada científico no meu entendimento. Uma alusão do que tinha (pelo jeito não se firmou no tempo)ou algo como dar resposta a algum desafeto/intruso que incomoda.
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