terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Fortalecendo as cooperativas de catadores


A profissão de catador de lixo é reconhecida pelo Ministério do Trabalho, mas que mecanismos fazem dela uma opção capaz de garantir a sobrevivência do trabalhador? Para a pesquisadora Magda Tirado Soto, doutora em Engenharia de produção pela Coppe/UFRJ, o fortalecimento da atividade passa principalmente pelo associativismo, e uma estratégia para garantir a sobrevivência e a competitividade das cooperativas de catadores é a organização em rede no mercado de trabalho.

Magda, que participa da equipe de Assessoria Técnica do Núcleo de Solidariedade Técnica (Soltec) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — que apoia cooperativas de catadores no Rio —, proferiu o seminário "Análise e formação de redes de cooperativas de catadores de materiais recicláveis no âmbito da economia solidária" no último dia 15, na UENF, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade.

— Os catadores já são uma profissão reconhecida. A nossa ideia é de que eles sejam pessoas ativas, que ouçam e sejam ouvidos. Assim como eles precisam aprender, também têm muito a ensinar e é isso que nós queremos que seja explorado e aproveitado — disse Magda, que fez o mestrado, também em Engenharia de Produção, na UENF.

Durante o seminário, ela falou sobre uma experiência positiva de organização em rede: a associação Recicla Rio, que existe há três anos e reúne cinco cooperativas em comunidades carentes da Zona Norte. A associação foi contemplada no Edital 001/2010 Funasa (Fundação Nacional de Saúde), obtendo financiamento (ainda em execução) para a compra de veículos e equipamentos, como caminhão para a coleta, balança e prensa. A rede conta com a parceria da Petrobras, setor de Tecnologia de Informação e Comunicaão (TIC), responsável pela elaboração de um software livre para obter a rota ótima de coleta.

— Na medida em que cada uma das cooperativas que integram a rede esteja fortalecida (estrutura física, equipamentos, transporte e capacitação) a atuação em rede adquire sentido e consequentemente garante sua sustentabilidade — afirmou.

Segundo a pesquisadora, as cooperativas ajudam os catadores em três pontos básicos para que o trabalho possa se inserir mais fortemente na economia. Primeiro, permite a parceria entre os catadores e o governo municipal para o aproveitamento completo do lixo. Segundo, possibilita a realização de um trabalho social, que aproxima estes profissionais da comunidade em que vivem. E, por último, ajuda na padronização da produção.

— Somente a partir daí é possível pensar na visibilidade econômica, o que pode se dar através dos trabalhos artesanais feitos com o material coletado — afirmou, acrescentando que as cooperativas capacitam o catador visando à qualidade do serviço, inserindo-o formalmente no mercado de trabalho.

Letícia Barroso
Fúlvia D'Alessandri

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Conhecendo a Floresta Atlântica


Palicourea

A cobertura da Floresta Atlântica, que na época do descobrimento do Brasil estendia-se por uma área de 1,3 milhões de quilômetros quadrados (do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul), abrange hoje apenas 7,9% da área original. Mais de 80% dos fragmentos florestais que ainda restam correspondem a áreas com menos de 50 hectares. A preservação destas áreas requer, entre outras coisas, o conhecimento das espécies que nelas habitam.

A pesquisa de mestrado da bióloga Camilla Ribeiro Alexandrino, pelo Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia da UENF, buscou exatamente ampliar os conhecimentos sobre as espécies vegetais que habitam a Floresta Atlântica. As espécies escolhidas foram as dos gêneros Palicourea e Rudgea — ambas pertencentes à tribo Psychotrieae, que por sua vez integra a subfamília Rubioideae, incluída na família Rubiaceae.

— Estes gêneros têm tido suas delimitações taxonômicas  discutidas na literatura. A pesquisa confirmou a separação dos gêneros e ainda uma separação intraespecífica com relação às espécies do gênero Rudgea. O fato sugere a existência de características na anatomia foliar destas espécies que podem auxiliar na discussão sobre os limites entre estes gêneros da tribo Psychotriaea — explica Camilla, que teve a orientação da professora Maura Da Cunha, do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual (LBCT) do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da UENF.

Rudgea
Intitulada “Anatomia e micromorfologia foliar comparada de espécies dos gêneros Palicourea (Aubl.) e Rudgea (Salisb.) (Rubiaceae) em remanescentes florestais do Estado do Rio de Janeiro”, a pesquisa teve por objetivo a caracterização comparativa, anatômica e micromorfológica das folhas das espécies em questão.  Para tanto, Camilla utilizou as técnicas de microscopia óptica e de microscopia eletrônica de varredura.

O material de pesquisa foi coletado em três áreas de proteção ambiental no Estado do Rio de Janeiro: o Parque Nacional do Itatiaia, a Reserva Biológica de Poço das Antas e a Reserva Biológica do Tinguá, atualmente ameaçada por caçadores de animais silvestres, empresas poluidoras e a presença de um aterro sanitário beirando o local.

— Esta família se destaca, entre outras coisas, pelo seu potencial terapêutico. Há espécies que podem atuar como microbicidas, antiplasmódicos, analgésicos, anti-inflamatórios, antioxidantes e antitumorais — diz.

Fúlvia D'Alessandri

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Divulgação científica

O jornalista e mestrando em Ciência da Informação Bruno Lara acaba de criar o blog "Dissertação sobre divulgação científica", que reúne notícias, vídeos, links para documentos, dicas de livros etc, entre outros conteúdos relacionados à popularização da ciência. Veja reportagem no Jornal da Ciência.

Gel recupera músculo cardíaco

Cientistas americanos desenvolveram um produto que pode ajudar a recuperar o músculo cardíaco após um infarto. Testado em suínos - animais cujo coração é semelhante em tamanho ao do homem -, o gel mostrou eficácia, indicando a possibilidade de ser utilizado também em humanos. Leia a reportagem publicada no Jornal O Globo.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sustentabilidade do uso da água no Norte Fluminense


A água própria para o consumo é “insípida, incolor e inodora”. Isto é o que todos nós aprendemos desde cedo na escola. Mas, na visão do professor João Almeida, do Laboratório de Fisiologia e Bioquímica de Micro-organismos (LFBM) da UENF, este é um conceito errado. Segundo o professor, mesmo a água que não possui sabor, cor ou cheiro pode conter bactérias que causam doenças.

Este é um dos temas apresentados no capítulo 34 do livro ‘Sustainable water management in the tropics and subtropics - and case studies in Brazil” – volume 3 (“Gestão sustentável da água nos trópicos e subtrópicos — e estudos de caso no Brasil”), publicado pela Universidade de Kassel, na Alemanha. O livro, em cada um de seus volumes, apresenta textos sobre o Brasil. O primeiro abordou o tema 'água e agricultura', o segundo, 'água e suas tecnologias' e o terceiro, 'água e ambiente'.

O capítulo 34, intitulado "Uso da água em comunidades carentes em áreas rurais do Estado do Rio de Janeiro", aborda a sustentabilidade do uso da água no Norte Fluminense e é fruto de projetos de extensão coordenados pelo professor João Almeida, com a participação das alunas Juliana Guzzo Fonseca e Aline Correia da Silva. Depois de muita pesquisa e coleta de dados, os pesquisadores chegaram à conclusão de que, antes de mais nada, é preciso disseminar um novo conceito a respeito da água:

— Se desde cedo as pessoas aprenderem o que é certo, isso irá contribuir para a diminuição de doenças causadas pela água contaminada. Infelizmente, a população acredita em conceitos errados, que são ensinados pelos livros didáticos, campanhas de saúde pública etc. É fundamental que, através da educação, estes conceitos sejam mudados — afirma João.

João Almeida
Uma ideia errada que grande parte das pessoas tem é que a água boa para se beber deve ser fervida ou filtrada. Segundo João, as velas de porcelana não detêm bactérias (nenhuma, praticamente). Elas foram feitas para ser usadas com água previamente clorada, pois detêm detritos e ovos de vermes que são resistentes à cloração. No entanto, a maioria das embalagens, também analisadas pelos pesquisadores, não fornecem esta informação. A água fervida mata as bactérias, mas não é recomendada pelo seu alto custo (de gás ou lenha para ferver a água), risco de acidentes domésticos e sabor ruim. O melhor método, segundo o professor,  é o mesmo utilizado pelas companhias de água — o uso do cloro, seguido de filtração.

—Basta colocar três gotas de água sanitária para cada litro de água e deixar durante 30 minutos, filtrando logo em seguida. Esta água poderá, então, ser consumida sem medo, porque estará livre de bactérias e de outros contaminantes, como os ovos de vermes, retidos pelo filtro — explica o pesquisador, lembrando que, durante as visitas feitas às comunidades, foi distribuída uma cartilha com algumas “receitas” bem simples para que todos saibam como deixar a água própria para o consumo.

Segundo João, o grande objetivo do projeto é trabalhar pela mudança dos conceitos "beba apenas água filtrada ou fervida" e "água boa para o consumo deve ser inodora, incolor e insípida" para "beba apenas água clorada e filtrada".

Na lista dos problemas, também está a contaminação da água dos lençóis freáticos, provocada, entre outros fatores, por vazamentos de postos de gasolina e indústrias químicas, bem como lixo despejado no solo.  O livro pode ser conferido na íntegra aqui.

Rafaella Dutra

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Nova teoria para o início da vida na Terra

Estudo sugere que a vida não teria surgido no oceano, e sim em lagos rasos e barrosos formados por vapor condensado, no interior de bacias hidrotermais terrestres. A teoria, que contraria a versão mais aceita para o início da vida — a de que ela teria surgido nos mares primitivos — foi apresentada em um artigo na Revista Pnas. O estudo é liderado pelo biofísico russo Armen Mulkidjanian, da Universidade de Osnabruck, na Alemanha, e da Universidade de Lomonosov, na Rússia.

Saiba mais na reportagem publicada na Revista Ciência Hoje.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Crescimento de espécies florestais nativas


Jequitibá

O Brasil já perdeu a maior parte de suas florestas devido ao desmatamento. Iniciativas de reflorestamento, no entanto, esbarram na carência de estudos científicos que possam tornar as ações nesta área mais eficazes.  Uma pesquisa feita na UENF pode ajudar a entender um pouco mais sobre o plantio de espécies nativas para fins de reflorestamento. Trata-se do estudo “Crescimento de espécies florestais nativas em solos degradados da Região Serrana do Rio de Janeiro”, que embasou a dissertação do mestrando Daniel Gomes de Moraes pelo Programa de Pós-Gradação em Produção Vegetal da UENF.

Sob orientação da professora Deborah Guerra Barroso, do Laboratório de Fitotecnia (LFIT) da UENF, a pesquisa teve por objetivo conhecer o potencial de crescimento de espécies florestais nativas existentes na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, bem como o seu  efeito sobre determinadas características do solo. As espécies foram plantadas pelo Inea (Instituto Estadual do Ambiente) em uma área degradada, anteriormente utilizada com pastagem.

— A importância deste trabalho está na carência de estudos sobre o potencial de produção de espécies florestais nativas. A ideia é pesquisar o efeito ambiental e o potencial produtivo para que tais espécies possam ser utilizadas futuramente tanto em plantios silviculturais e agroflorestais quanto nos trabalhos de recuperação e adequação ambiental das propriedades rurais — explica a professora Deborah.

Segundo Daniel, ainda é insignificante a experiência com espécies nativas no Brasil, embora exista uma grande quantidade de áreas aptas à inserção de florestas e agroflorestas, bem como extensas áreas degradadas e de reserva legal que devem ser, preferencialmente, recompostas e manejadas com espécies da flora brasileira.

— Pouco se sabe, por exemplo, sobre o seu potencial para a exploração comercial, que tanto pode ser direcionada para a produção de matéria-prima para fins econômicos quanto para trabalhos de recuperação de áreas degradadas — afirma.

As espécies estudadas são provenientes do trabalho realizado em 1992 pelo Inea (antigo Instituto Estadual de Florestas – IEF), que iniciou, neste ano, a implantação de talhões homogêneos e heterogêneos de espécies florestais  nativas, como forma de preservação dos remanescentes florestais e recuperação de áreas degradas em Trajano de Moraes (RJ). Os plantios tinham como objetivo a recomposição florestal em áreas de pastagem.

— O estudo do desenvolvimento de espécies florestais nativas em áreas degradadas permite avaliar o processo de recuperação da fertilidade dos solos, assim como o potencial de desenvolvimento das espécies para produção madeireira e não madeireira, além de introduzir novos produtos que atendam padrões de qualidade exigidos pelo mercado, ampliando e diversificando a oferta — explica. As pesquisas têm o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Fúlvia D'Alessandri

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Doenças de plantas no Estado do Rio

Vicente Mussi Dias é o responsável técnico da Clínica
Como saber as doenças de plantas incidentes no Estado do Rio desde o século XIX e aquelas mais frequentes nos últimos 15 anos nas propriedades do Norte e Noroeste Fluminense? O pesquisador Vicente Mussi Dias, da UENF, tomou para si esta tarefa e a executou na elaboração de sua tese de doutorado em Produção Vegetal, aprovada em 2011 na UENF.

Ao catalogar em ordem cronológica mais de 1 mil referências bibliográficas, Vicente compilou relatos de doenças em cerca de 635 espécies de plantas hospedeiras, pertencentes a 402 gêneros em 130 famílias botânicas. Isto no período de 1870 a 2010, com base em 2,8 mil relatos de doenças de plantas no Estado do Rio. Os agentes de todas estas doenças são de espécies as mais variadas – na verdade, mais de 970, pertencentes a 370 gêneros. Foram listados cerca de 300 gêneros de fungos ou pseudofungos (Oomycota), 40 tipos de vírus ou viroides, 15 gêneros de bactérias ou fitoplasmas e dez gêneros de nematoides. Como fruto desse trabalho, será editado o livro “Índice de doenças de plantas do Estado do Rio de Janeiro”, em versões impressa e on-line, para disponibilizar as informações aos pesquisadores e demais interessados.

Os trabalhos desenvolvidos para a tese tiveram a supervisão do professor Silvaldo Felipe da Silveira (LEF/CCTA/UENF) em colaboração com o fitopatologista José Ricardo Liberato, do Department of Resources - Northern Territory Government – Darwin – Austrália, com apoio da UENF e Faperj.

Em esforço complementar, o pesquisador Vicente Mussi Dias levantou as análises das 1.835 amostras de plantas doentes encaminhadas, entre 1995 e 2009, à Clínica Fitossanitária da UENF. A clínica, uma espécie de consultório de plantas, atende principalmente a produtores do Norte e Noroeste Fluminense. O estudo concluiu que cerca de 54% das amostras vieram de lavouras de maracujá, abacaxi, coco, tomate, goiaba ou citros.

Os grandes vilões destas culturas foram os fungos, causadores das doenças em 41% dos casos. Causas abióticas (não relacionadas a organismos vivos) representam 15%, enquanto insetos foram os agentes em 14% das amostras. As bactérias foram responsáveis em 6%, e houve ainda outros causadores, como nematoides, algas, aves e roedores, além de amostras inadequadas para exame.

Amostras de cultura do fungo Fusarium solani (Foto
Alexsandro Azevedo / ASCOM UENF)
Maracujá – O estudo lança luz sobre o que ocorreu com a cultura do maracujá, largamente introduzida no Norte Fluminense a partir de 2000, mas não consolidada. Com base em estudos anteriores, foi possível descartar que a morte das plantas tivesse sido causada por bactérias, como se chegou a pensar.

- Em muitas lavouras, a morte de plantas foi atribuída à incidência de fungos chamados Fusarium solani e Fusarium oxysporum, agentes causais da podridão do colo e raízes e da murcha vascular, respectivamente, associada à má qualidade do plantio e a problemas de manejo. Muitas plantas foram mortas a partir do florescimento devido à restrição do desenvolvimento das raízes por diversas causas, dentre as quais espelhamento de cova e afogamento do coleto – acrescenta Vicente Mussi Dias.

Tamara Locatelli, aluna e bolsista de extensão
A Clínica Fitossanitária da UENF funciona no andar térreo do prédio P5, no Campus Leonel Brizola prestando serviços a toda a comunidade. Além de Vicente, encontram-se hoje, em treinamento especializado, as doutorandas Claudia Roberta Ribeiro de Oliveira e Roselainne Sánchez, os mestrandos Alexandre Macedo Almeida e Jackeline Araújo, três estagiários em fase de conclusão do curso de Agronomia — Amanda Ferraz de Oliveira, Cássia Roberta de Oliveira Moraes e Jefferson Rangel da Silva — e duas bolsistas de Extensão: Tamara Locatelli e Priscila Gurgel do Nascimento Lopes, ambas do sexto período de Agronomia.

Consulte a íntegra da tese.

Gustavo Smiderle

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ciberbullying em debate

Se o bullying já é uma prática perniciosa e muitas vezes difícil de ser combatida, o que dizer do ciberbullying, em que o agressor muitas vezes é protegido pelo anonimato?  Esta é uma das questões que serão abordadas durante o X Congresso Latino-Americano de Humanidades, que será realizado de 16 a 18/02 na Universidad de Guanajuato, no México. A UENF é uma das instituições organizadoras.

Fenômeno que vem crescendo substancialmente no Brasil — país que ocupa um dos primeiros lugares no ranking da utilização de redes sociais —, o ciberbullying será abordado em duas palestras durante o Congresso: “Consequências psíquicas na prática no bullying e ciberbullying” e “Estruturas psíquicas presentes na prática do ciberbullying”. O professor Carlos Henrique Medeiros de Souza, da UENF, estudioso do assunto, será um dos palestrantes.

— O ciberbullying apresenta particularidades que o diferem de agressões presenciais e diretas e o tornam um fenômeno que nos parece ainda mais cruel. O assédio se abre a mais pessoas rapidamente devido à velocidade de propagação de informações, e os danos causados são ainda maiores, pois a internet garante o anonimato daquele que agride, o que dificulta os mecanismos de respostas e proteção a este tipo de humilhação — diz o professor, que também atua na organização do Congresso.

Fazendo uma análise psicológica da prática do ciberbullying, ele diz que o fenômeno remonta às bases da formação da personalidade do indivíduo e sua relação com os fatores ambientais. Segundo Carlos Henrique, o ciberbullying aproxima-se do preconceito, refletindo fatores culturais e históricos.

— Normalmente, as vítimas possuem cor ou religião diferentes, são pessoas com necessidades especiais, são mais altos, baixos, gordos ou magros, têm acne, possuem aparência que sobressai, usam óculos ou aparelho nos dentes, são novos na escola, são calmos e tímidos, têm notas muito boas ou usam roupas diferentes — diz.

A vítima normalmente apresenta consequências psicológicas — sente-se infeliz, sozinha, ansiosa e deprimida; tem vontade de mudar de escola, de cidade ou de casa; pode adquirir vários transtornos, como baixa autoestima, depressão, pensamento e ações suicidas; e pode demonstrar posteriormente violência explícita ao agressor ou ao meio social.

— Antes de tudo devem-se estabelecer limites para que a estruturação psíquica seja estabelecida dentro de parâmetros socialmente aceitáveis e monitorar se as crianças e jovens vêm sofrendo  ou promovendo constrangimentos e ameaças. É importante oportunizar debates e atividades voltadas para a conscientização no âmbito escolar. O mau uso da internet deve ser coibido através da conscientização e de leis civis. Mas é importante frisar que tudo começa no âmbito da família, pois ninguém nasce com este tipo de cultura ou postura — diz.

Fúlvia D'Alessandri

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O que motiva os cientistas?

O que faz um cientista se sentir motivado e que fatores podem inibir o seu trabalho? Esta foi a pergunta que o professor Luiz Claudio Tavares Silva buscou responder em sua pesquisa de mestrado, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UENF. Intitulada “Motivadores e não-motivadores da pesquisa acadêmica: um estudo-piloto de condições ambientais em laboratórios de uma universidade pública”, a pesquisa teve a orientação do professor Manuel Antônio Molina Palma, do Laboratório de Engenharia de Produção (LEPROD) da UENF.

O universo da pesquisa foram os professores que atuam nos programas de pós-graduação (mestrado e doutorado) vinculados aos quatro Centros da UENF — Biociências e Biotecnologia (CBB), Ciência e Tecnologia (CCT), Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) e Ciências do Homem (CCH). Eles responderam a um questionário que permitiu medir a sua percepção sobre os fatores que contribuem ou não para o melhor andamento de seu trabalho. Como não foi possível obter uma amostra representativa do universo total de professores, Luiz Claudio prefere tratar os resultados como ‘indícios’ dos fatores que interferem no trabalho dos cientistas.

Dentre os fatores que podem fomentar a pesquisa estão: troca de experiências com outras instituições,  dedicação exclusiva dos pesquisadores, laboratórios bem equipados, boa vontade dos demais pesquisadores, subsídios do governo, prazer em trabalhar, eficiente interdisciplinaridade, número suficiente de bolsas de pesquisa e um bom ambiente de trabalho. Já entre os fatores inibidores destacam-se: excesso de burocracia, relacionamento pessoal, falta de pesquisadores com espírito de liderança e relação precária com laboratórios de outros Centros.

— Não foram observados, no entanto, indícios da existência de diferenças entre os núcleos de pesquisa. Apesar de cada Centro possuir objetivos, processos, políticas, conteúdos e principalmente pessoas diferentes, não podemos afirmar que há fatores distintos interferindo no andamento das pesquisas — afirma Luiz Claudio.

Também não há indícios de que a existência de parcerias com empresas, bem como o tempo em sala de aula possam interferir de forma positiva ou negativa no desenvolvimento das pesquisas. O baixo grau de interação entre os Centros também não parece interferir no trabalho. No entanto, a ausência de profissionais com uma personalidade participativa, integradora e dinâmica pode impactar o desempenho das atividades em cada núcleo.

— O núcleo da representação social da comunidade científica estudada está voltado para as relações interpessoais. Estas relações, por sua vez, interferem de forma incisiva no desempenho da função. Em um ambiente onde o prazer de ser pesquisador parece transcender as dificuldades impostas pelo plano estrutural, é esperado que fatores como liderança, burocracia e relacionamentos pessoais e profissionais apareçam em destaque — afirma.

Segundo Luiz Claudio, nem todos os pesquisadores responderam ao questionário — muitos chegaram mesmo a se recusar a participar, enquanto outros simplesmente não devolveram o material. No total, participaram da pesquisa 36 professores/pesquisadores — 11 do CBB, 11 do CCT, três do CCH e 11 do CCTA.

— Apenas o CCTA manteve na amostra sua representatividade do universo. O CBB teve uma representatividade acima, enquanto CCT e CCH ficaram abaixo — conclui.

Veja aqui a apresentação da dissertação.


Fúlvia D'Alessandri

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Resíduo de maracujá vira matéria-prima para cosméticos

Parceria com UENF e outras instituições rende prêmio a empresário

Sandro Reis ao lado de Suelen Regis
Uma bem-sucedida história de integração entre universidade e indústria acaba de ser reconhecida com o ‘Prêmio Brasil de Engenharia 2011’, na categoria ‘Profissional’, temática ‘Resíduos sólidos’. A empresa é a ‘Extrair Óleos Naturais’, de propriedade de Sandro Reis, que utiliza tecnologia desenvolvida na UENF para o aproveitamento das sementes de maracujá.

A tecnologia - desenvolvida a partir das pesquisas de doutorado de Suelen Alvarenga Regis e Eliana Monteiro Soares de Oliveira, com orientação do professor Eder Dutra de Resende (LTA/CCTA) — permite separar completamente e de forma rápida as sementes envolvidas nas mucilagens e arilo — vesícula que contém o suco e que favorece o crescimento de micro-organismos. Esses materiais eram descartados como resíduos das indústrias de suco.

— A semente purificada e desidratada pode ser estocada por mais de seis meses, sem nenhum problema. Nessas condições, a prensagem permite a obtenção de um óleo mais puro, com melhor qualidade e um maior rendimento de extração — explica o professor Eder. Este óleo é utilizado como matéria-prima pela indústria de cosméticos, podendo ser incorporado a cremes, sabonetes e xampus.

‘Casamento’ - Inaugurada em 2009, em Bom Jesus do Itabapoana, Noroeste Fluminense, a fábrica é fruto de uma parceria entre a UENF, a Embrapa Agroindústria de Alimentos e a Pesagro, com financiamento da Faperj. O mais curioso é como tudo começou: decidido a montar uma fábrica do gênero, Sandro Reis buscou na internet informações sobre a cultura do maracujá e acabou descobrindo que o pesquisador Sérgio Cenci, da Embrapa (que mantinha colaboração com Eder Dutra de Resende), tinha praticamente a mesma ideia.  Daí surgiu o que Sandro chama de ‘um casamento perfeito’.

Resíduo de maracujá vira óleo para indústria
O empresário passou dois anos estudando o assunto — da montagem do projeto até a inauguração da empresa. A Faperj investiu R$ 250 mil em três projetos, e o próprio Sandro investiu mais R$ 200 mil de capital próprio. Hoje a empresa compra sementes de fábricas de suco situadas no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. E vende o óleo extraído delas para empresas do Rio, São Paulo, Minas e até do Acre. Logo a empresa também vai fornecer para uma rede de hospitais dos Estados Unidos.

O Prêmio Brasil de Engenharia é concedido pelo Sindicato dos Engenheiros do Distrito Federal e Instituto Atenas de Pesquisa e Desenvolvimento – Brasil, com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Academia Brasileira de Ciências (ABC), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA Brasil) e da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE).

Saiba mais no Informativo da UENF.

Fúlvia D'Alessandri

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

De onde vem o petróleo do Pré-Sal?

Todo mundo já ouviu falar no Pré-Sal — gigantesco reservatório de petróleo e gás natural situado no subsolo, abaixo do leito do mar, a uma profundidade de mais de 7 mil metros, entre o Sul e o Sudeste do país. As expectativas em torno do Pré-Sal são tão grandes que, confirmando-se a possibilidade de exploração total destas jazidas, o Brasil poderá se transformar, em algum tempo, num dos maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo. 

Mas como todo esse petróleo foi parar lá? Quem explica é o professor Abel Carrasquilla, do Laboratório de Engenharia e Exploração de Petróleo (LENEP) da UENF. Tudo teria começado há cerca de 200 milhões de anos, quando ocorreu a separação do único continente que havia no planeta: a Pangeia. A separação formou dois megacontinentes: Laurásia e Gondwana. O primeiro se desdobraria mais tarde na América do Norte, Europa e Ásia. Já o segundo, na América do Sul, África, Austrália e Índia.

Entre a África e a América do Sul — onde hoje está situado o Atlântico Sul — formaram-se inicialmente mares rasos e áreas semi-pantanosas, nas quais proliferaram-se algas e micro-organismos chamados de fitoplâncton e zooplâncton. Tais micro-organismos se depositavam continuamente no leito marinho e, à medida que se juntavam com sedimentos como areia e sal, iam formando camadas de rochas impregnadas de matéria orgânica. Estas deram origem às rochas reservatório.

— Por sobre estas rochas, formaram-se ao longo de milhões de anos camadas de sedimentos salinos, provenientes da evaporação da água nos mares rasos. Nos períodos inter-glaciais, quando as calotas polares derretiam, os oceanos aumentavam fazendo com que estas camadas fossem soterradas por novas camadas de sedimentos. Os micro-organismos sedimentados e soterrados sob pressão e pouca oxigenação transformaram-se, em milhares de anos, no petróleo que conhecemos hoje — explica o professor.

Cientistas de todo o país, inclusive da UENF, participam de pesquisas financiadas pela Petrobras para permitir a exploração do Pré-Sal. Parte desse esforço pôde ser vista durante o curso sobre rochas carbonáticas (as rochas onde está depositado o petróleo do Pré-Sal) promovido pelo Laboratório de Engenharia e Exploração de Petróleo (LENEP) da UENF. Ministrado pelo professor Johannes Reijmer (Universidades de Amsterdam e DUT-Universidade Tecnológica de Delft, ambas na Holanda), o curso foi realizado de 23 a 26/01/12.

Novos cursos estão previstos para este ano, no âmbito do projeto “Simulação numérica tridimensional de perfis resistivos em poço na determinação da invasão do filtrado do fluido de perfuração em reservatórios de petróleo da Bacia de Campos”, vinculado à Rede Temática Caracterização e Modelagem de Reservatórios (Carmod) da Petrobras. Em março (19 a 23) acontecerá o mini-curso “Carbonate systems from deposition to reservoir“, ministrado pelos professores Stefan Luthi e Giovanni Bertotti, ambos da DUT.  E em junho será realizado o minicurso “Carbonatos continentais e diagênese de carbonatos”, a ser ministrado pelos professores Ana Alonso e Álvaro Rodriguez, ambos da Universidade Complutense de Madri, na Espanha.

Fúlvia D'Alessandri