sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Coluna Infinitum - O modelo de Filolau




O Modelo de Filolau

Adriana Oliveira Bernardes
Mestre em Ensino de Ciências - UENF

Após a contribuição da Escola Jônica — na qual se destacaram filósofos como Tales, Anaximandro, Anaxímenes e Heráclito — surgiram também os filósofos pitagóricos. Nesta Escola, destacaram-se os filósofos Pitágoras, Filolau, Arquitas, entre outros.

A Escola Jônica surgiu em Mileto, cidade da Jônia, e a Escola Pitagórica, em Crotona, cidade da Magna Grécia — que mais tarde viria a se tornar a Itália.

No mapa abaixo, observamos o mapa da Grécia Antiga, formada por várias cidades-estados. A organização política dessas cidades e o comércio intenso na região — o que provocava também a troca de ideias — certamente contribuiu  para o surgimento da Filosofia.

Mapa da Grécia Antiga

É bom relembrarmos, que os jônicos acreditavam que os fenômenos terrestres surgiam a partir de elementos primordiais, tais como: o fogo, a água, o ar e a terra. Tales, que ficou conhecido como o primeiro filósofo, acreditava que a água era o elemento fundamental, dando origem a todos os outros. Já Anaximandro trouxe como contribuição o apéiron, discutindo a ideia do ilimitado, algo não definido, que seria a semente do quente e frio, ou seja, de opostos. E Anaxímenes adotava como princípio fundamental o ar, a partir do qual todas as coisas eram criadas.

Podemos observar que as ideias dos filósofos diferiam uma das outras  e eram diversificadas, sendo que as discussões destas ideias eram estimuladas. As diferenças entre as ideias de jônicos e pitagóricos eram significativas, pois enquanto os primeiros acreditavam que os elementos ar, fogo, terra e água eram responsáveis pelos fenômenos observados no universo, os pitagóricos acreditavam que havia algo que vinha antes destes elementos  e que agia sobre eles — “a alma”, aqui compreendida com um sentido diferente daquele hoje existente.

Na figura abaixo, o símbolo dos pitagóricos:

Símbolo dos pitagóricos

Os pitagóricos, além de introduzir a Matemática na ciência, influenciaram os modelos cosmológicos que surgiram depois. Um dos modelos elaborados pelos pitagóricos, o modelo de Filolau, chama atenção. Filolau, chamado Filolau de Crotona, cidade da antiga Grécia, especificamente da Magna Grécia, nasceu no século V a.C e se destacou entre os pitagóricos pelo modelo cosmológico que elaborou.

Filolau de Crotona, discípulo de Tales

Filolau elaborou um modelo no qual o centro do universo era o fogo central, chamado Héstia. Ao redor dele, giravam a Contra-Terra, a Terra e os planetas conhecidos na época, além do Sol e da Lua.
Existia, segundo ele, a Terra e a Contra-Terra, o que fazia com que o fogo central não pudesse ser visto pelos seres humanos.  A ordem dos planetas ao redor do fogo central era: Contra-Terra, Terra, Lua, Sol, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, havendo uma esfera na qual localizavam-se as estrelas fixas.

No modelo de Filolau, a Terra era esférica e não estava no centro do universo. Esta ideia foi retomada muito tempo depois por Copérnico, que também não tinha a Terra no ponto central do universo e sim o Sol.

Na figura abaixo, o modelo cosmológico de Filolau:



O modelo cosmológico de Filolau foi o mais importante da Escola Pitagórica, influenciando outros modelos que viriam depois, como o de Eudoxo de Cnido, que elaborou o modelo cosmológico das esferas homocíclicas.

Sugestão de leitura:
A Ciência Grega
www.disciplinas.stoa.usp.br/mod/resource/view.php?id=88260

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Prêmio em Fruticultura

Doutora formada pela UENF ganha prêmio por pesquisa que tem por objetivo controlar o avanço de virose que afeta a produção de maracujá

Um das maiores limitações para a produção de maracujá no país é a chamada “virose do endurecimento dos frutos”, causada pelo CABMV (Cowpea aphid-borne mosaic vírus). Com um trabalho de pesquisa voltado para a obtenção de genótipos resistentes à doença, a doutora em Genética e Melhoramento de Plantas pela UENF Eileen Azevedo Santos foi a vencedora do Prêmio Jovem Cientista em Fruticultura 2014, na categoria “Doutor”.

Intitulado “Resistência ao Cowpea aphid-borne mosaic virus em espécies e híbridos de Passiflora”, o trabalho é uma parte da tese de doutorado de Eileen, que teve a orientação do professor Alexandre Pio Viana, do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV) da UENF. A pesquisa de doutorado deu início ao programa de melhoramento do maracujazeiro-azedo, a partir do cruzamento das espécies P.edulis e P.setacea.

— A obtenção de variedades de maracujazeiro-azedo resistentes à virose do endurecimento dos frutos é um objetivo que pretendemos alcançar a médio prazo — afirma.

Relatada pela primeira vez no Brasil no final de década de 1970, a virose do CABMV tem acarretado graves prejuízos aos produtores de maracujá do país, como redução da produção, da área cultivada e da longevidade do pomar. As plantas acometidas pela virose apresentam mosaico foliar (manchas nas folhas), frutos com pericarpo (parte do fruto entre a casca e as sementes) endurecido e grande redução da polpa. 

Eileen ao lado do seu orientador, professor Alexandre Pio
— As medidas de controle até o momento não foram efetivas o suficiente para controlar ou erradicar a doença dos pomares comerciais. Como não há controle químico, a obtenção de fontes de resistência genética tem sido prioridade nos programas de melhoramento do maracujazeiro-azedo no Brasil — diz Eileen.

Em sua pesquisa, ela confirmou a existência do CABMV em Campos dos Goytacazes (RJ) e avaliou a resistência ao vírus em 178 genótipos de maracujá constituídos por híbridos interespecíficos e seus genitores (P.edulis e P.setacea). Ela também estimou parâmetros genéticos visando à obtenção futura de cultivares de maracujazeiro-azedo resistentes ao vírus. 

— A pesquisa nos permite concluir que as plantas híbridas consideradas resistentes poderão ser selecionadas e recombinadas com os genótipos de P. edulis e, novamente, avaliadas para a confirmação da resistência ao CABMV, dando continuidade ao programa de melhoramento visando à resistência a este vírus. Os resultados obtidos com esse trabalho avançam para um possível controle do CABMV (via resistência genética) na cultura do maracujazeiro no Brasil — conclui Eileen.

Fúlvia D'Alessandri

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Causas para o declínio da goiabeira

O município de São João da Barra já foi conhecido pela qualidade de seus doces caseiros e oriundos de produção industrial — dentre os quais um dos destaques era a deliciosa goiabada. No entanto, a queda na produção da fruta — que levou à quase total eliminação das lavouras de goiaba que havia no município — alterou drasticamente este cenário. O problema chamou a atenção de um grupo de pesquisadores do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da UENF (CCTA), que se dedicam a encontrar as causas e possíveis soluções para o problema.

Um deles é o professor Ricardo Moreira de Souza, do Laboratório de Entomologia e Fitopatologia (LEF), que há sete anos se dedica às pesquisas.  O trabalho — que já rendeu cinco dissertações de mestrado e uma tese de doutorado — apontou como causa do problema a conjugação de dois fatores: o fitomenatoide Meloidogyne enterolobii e o fungo de solo Fusarium solani. Associados, os dois permitem que o fungo invada a planta e faça apodrecer todas as suas raízes, provocando rapidamente a morte do vegetal.

O "declínio da goiabeira", como foi denominada esta nova doença, é uma grande preocupação de toda a sociedade. Isto porque a doença vem afetando não só o Norte Fluminense, como diversas outras partes do país, acarretando sérios prejuízos econômicos aos pequenos produtores rurais. A questão vem sendo alvo de pesquisas em várias regiões do país.

— O problema já matou entre 6 e 7 mil hectares de goiabeiras em todo o Brasil. Em São João da Barra, os produtores abandonaram a lavoura e isso logicamente teve grandes reflexos na agroindústria — afirma Ricardo, acrescentando que as pesquisas devem ajudar a descobrir uma forma de controlar o problema, possibilitando a retomada da produção de goiaba em todo o país.

O trabalho tem participação de outros três professores da UENF: Silvaldo Felipe da Silveira, que também atua no LEF; Alexandre Pio Viana, do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV); e Cláudia Sales Marinho, do Laboratório de Fitotecnia (LFIT).

Cilênio Tavares
Fúlvia D'Alessandri

Coluna Nutrição - Nitro ácidos graxos: mais um fator positivo na dieta do Mediterrâneo



Nitro ácidos graxos: mais um fator positivo na dieta do Mediterrâneo

              Karla Silva Ferreira, Luiz Fernando Miranda da Silva e Maicon Martins Teixeira


A dieta do mediterrâneo ficou mundialmente conhecida pelo fato de reduzir a incidência de doenças cardiovasculares. Esta dieta é caracterizada pelo elevado consumo de frutas, hortaliças, azeite de oliva e sementes; moderado consumo de laticínios; baixo consumo de carne bovina e consumo regular de pescados. Indiscutivelmente, é uma dieta saudável, rica em vitaminas, minerais e substâncias antioxidantes. Além disso, há que se considerar que o potássio é importante na redução da pressão arterial e este mineral é abundante nos vegetais, principalmente nas leguminosas.

Entretanto, seu efeito na redução de doenças cardiovasculares não poderia ocorrer apenas pelo fato de ela ser nutritiva, rica em antioxidantes e nem pelo baixo consumo de carne vermelha. Quanto ao azeite de oliva, não é um óleo que se destaque de outros. Até pelo contrário. Os óleos de soja, canola e linhaça são os que, além de conter o ácido graxo essencial da família ômega-6, o ácido linoleico, são melhores fontes do outro ácido graxo essencial, o ácido linolênico da família ômega-3.


A partir do ácido linoleico, um ômega-6, os animais produzem o ácido araquidônico, ômega-6. Já a partir do ácido linolênico, um ômega-3, o organismo produz os ácidos graxos ácido eicosapentaenóico (EPA) e docosahexaenóico (DHA), todos também da família ômega-3. Entretanto, esta transformação é muito limitada e por isso é recomendado o consumo de peixes e produtos marinhos, principais fontes destes ômega-3.

Os ácidos graxos das famílias ômega-6 e ômega-3 têm muitas funções nos seres vivos. Uma delas é serem precursores de substâncias vasodilatadoras, que atuam reduzindo a pressão arterial. A substância clássica é o epoxieicosatrienóico, formado a partir do ácido graxo araquidônico, da família ômega-6.  Outras mais potentes são formadas a partir dos ácidos graxos da família ômega-3. A partir do EPA é formado o epoxieicosatetraenóico e, a partir do DHA, o epoxidocosapentaenóico, que é o mais potente de todos. Estas substâncias não permanecem por muito tempo no organismo. São logo modificadas pela enzima epóxi hidrolase que as transforma em substâncias sem atividade vasodilatadora e anti-inflamatória ou que têm atividade até contraria, elevando a pressão arterial. Muitos medicamentos utilizados na prevenção de doenças cardiovasculares atuam na inibição desta enzima.

A importante descoberta na dieta do mediterrâneo é que o consumo de gorduras, no caso deles o azeite, com alimentos ricos em nitrito e nitratos, propicia a formação de nitro ácidos graxos, que são potentes inibidores das enzimas epóxi hidrolases. Estes nitro ácidos graxos se ligam às enzimas epóxi hidrolases inativando-as, de forma que os epóxis vasodilatadores formados a partir dos ácidos graxos ômega-6 e ômega-3 permanecem por mais tempo no organismo.

Um aspecto interessante nesta pesquisa é que o oxido de nitrogênio (NO) já era conhecido como uma substancia sintetizada em nosso organismo e que possuía ação anti-inflamatória e de dilatação dos vasos sanguíneos, o que culmina com a redução da pressão arterial, de ataques cardíacos e de arteriosclerose. A maneira clássica do organismo sintetizá-lo é a partir de um componente das proteínas, o aminoácido arginina. Entretanto, há indivíduos que não fazem essa síntese devidamente.

A outra via é por meio de bactérias que habitam a boca. Os nitratos e nitritos presentes nos alimentos são absorvidos, atingem a corrente sanguínea e a maior parte deles vai para as glândulas salivares. Na saliva, as bactérias os convertem em oxido de nitrogênio (NO). Este óxido de nitrogênio, no estômago, pode reagir com ácidos graxos formando os nitro ácidos graxos. Mas isso só ocorre quando a alimentação contém também ácidos graxos insaturados, como é o caso do azeite de oliva e outros óleos vegetais. No caso do azeite de oliva, já foi constatado que possui nitro ácidos graxos já prontos.


Esta informação mostra a evolução do conhecimento e do rompimento de paradigmas.  Um dos pontos polêmicos é sobre a ingestão de nitratos e nitritos, o que durante muito tempo foi considerado prejudicial para a saúde. Os nitratos e nitritos são potentes bactericidas e utilizados desde séculos passados na conservação de carnes, no processo de cura. Ainda atualmente são os mais potentes inibidores do crescimento do Clostridium botulinum, uma bactéria que produz uma toxina letal. Tanto é que a saliva é utilizada pelos animais e humanos para tratar machucados, o que realmente procede, porque contém elevadas quantidades de nitrato.

A associação entre nitratos e problemas para a saúde começou  a partir de 1940, quando sua presença na água foi associada à incidência de meta-hemoglobinemia em crianças. Esta doença se caracteriza pela alteração da hemoglobina (oxidação do ferro), o que impossibilita o transporte de oxigênio. Ela pode ser causada por diversos fatores, dentre eles o nitrato e nitrito. Com isso o governo de alguns países, inclusive Estados Unidos, estabeleceu que a quantidade de nitrato na água potável deveria ficar abaixo de 44 mg/Litro.

Associado a isso, em 1956, pesquisadores identificaram substâncias com potencial carcinogênico, as nitrosaminas, formadas a partir da reação de nitratos e nitritos com componentes das proteínas. Estas substâncias poderiam ser formadas nas carnes curadas, principalmente quando aquecidas, e também no estômago. Posteriormente, foi descoberto que a vitamina C inibia a formação das nitrosaminas, que a quantidade formada no organismo não era suficiente para causar câncer e que nem todas as crianças são susceptíveis à formação de meta-hemoglobinemia.

Então, em 2003, especialistas da Organização Mundial de Saúde declararam que as pesquisas até então não comprovavam que o consumo de nitrato e nitrito era prejudicial para a saúde humana.  A partir desta data, foram intensificadas as pesquisas sobre a presença de nitratos e nitritos nos alimentos e muitas comprovaram seus  efeitos benéficos para a saúde. Inclusive foram identificados como importantes  fatores  positivos na dieta dos japoneses. O que não se sabia era como eles atuavam para baixar a pressão arterial.

Agora a questão: Quais são os alimentos ricos em nitratos e nitritos? A beterraba é apontada como a melhor fonte. Há diversos estudos mostrando o efeito hipotensor do suco de beterraba. As folhas verdes também são ricas nestas substâncias. De acordo com os pesquisadores, os alimentos que não recebem intensa radiação solar tendem a acumular nitrito e nitrato. As carnes curadas (presunto, mortadela, patês de carne, bacon etc) são tratadas com nitrato e nitrito para a conservação. Mas como a maior parte dos nitratos ingeridos vão para a saliva, o ato de cuspir é uma forma de eliminá-los, portanto, os  indivíduos que cospem muito podem ter menor formação de nitro ácidos graxos. 


Enfim, pode-se concluir que há vários fatores que tornam a dieta do mediterrâneo benéfica para a saúde: possui variedade de alimentos e alimentos nutritivos: hortaliças, frutas, sementes, laticínios, óleos vegetais, peixes e até mesmo carne vermelha. Sendo assim, fornece vitaminas, minerais, ácidos graxos insaturados, substâncias antioxidantes e, pelo consumo simultâneo de azeite e vegetais, propicia a formação dos nitro ácido graxos que têm função anti-hipertensiva e anti-inflamatória, o que previne doenças cardiovasculares.   Além disso, pelo sim ou pelo não, as frutas e hortaliças folhosas são boas fontes de vitamina C, o que minimiza a formação das nitrosaminas. Mas não se pode desconsiderar outros aspectos do povo do mediterrâneo, como os hábitos de vida, particularmente a prática de atividade física moderada regularmente e o bem estar emocional.

Referências

1)     Arthur A. Spector, AA; Fang, X; Snyder, GD;  Weintraub, NL. Epoxyeicosatrienoic acids (EETs): metabolism and biochemical function. Progress in Lipid Research. 2004. Vol 43, p. 55–90.
2)     Charles, RL, Rudyk, O; Prysyazhna, O;Kamynina, A;  Yang, J; Morisseau, C; Hammock, BD;  Freeman, , BA; Eaton, P. Protection from hypertension in mice by the Mediterranean diet is mediated by nitro fatty acid inhibition of soluble epoxide hydrolase. PNAS, 2014. V. 11, p. 8167–8172.
3)     Christie, WW.  Nitro fatty acids and related metabolites: occurrence, chemistry and biology. lipidlibrary.aocs.org.  http://lipidlibrary.aocs.org/Lipids/nitrofa/file.pdf
4)     Gilchrist, M; Winyard, PG; Benjamin, N. Dietary nitrate – Good or bad? Nitric Oxide, 2010. V. 22, p. 104–109.
5)     Petersson, J; Jagare, A; Carlstrom, M; Roos, S; Schreiber, O; Jansson, EA; Phillipson, M; Persson, AEG; Christoffersson, G; Lundberg, JO; and Holm, L. - Gastroprotective and blood pressure lowering effects of dietary nitrate are abolished by an antiseptic mouthwash. Free Radical Biology & Medicine, 2009. V. 46, p. 1068-1075.
6)     Sand, J; Bryan, NS. – Unique combination of beetroot and hawtrom berry promotes nitric oxide production and reduces triglycerides in humans – Nitric Oxide, 2011. p. 62-69.

7)     Sobko, T; Marcus, C; Govoni, M;  and Kamiya, S. - Dietary nitrate in Japanese traditional foods lowers diastolic blood pressure in healthy volunteers. Japanese Traditional Food,  2009. V. 22, p. 136-140. 

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Biochar, nova aposta para agricultura e meio ambiente

Doutoranda Karla Rodrigues monitorando emissão de gases
Você já ouviu falar em biochar, um produto rico em carbono, obtido através da decomposição térmica de matéria orgânica e que é usado para melhorar a fertilidade do solo, reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e reter água e nutrientes para as plantas? Esta é a nova aposta de um grupo de pesquisadores da UENF. Liderados pelo professor Hernán Maldonado Vásquez, do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal (LZNA), eles conduzem experimento de produção de biochar a partir de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum). Os primeiros resultados, ainda preliminares, apontam que o aquecimento do material deve ser feito à temperatura ideal de 400ºC, gerando um produto com elevado teor de carbono (55%).

O aquecimento da matéria-prima, no caso o capim-elefante, é feito através da pirólise. Trata-se de um processo no qual o carbono, ao invés de ser liberado para a atmosfera na forma de gás carbônico (CO2), é retido no biochar, que é posteriormente incorporado ao solo.

- Os outros gases liberados na pirólise podem ser capturados e convertidos em bióleo, que pode ser utilizado para a geração de energia. Contudo, nosso objetivo atual não é trabalhar com o bióleo – explica Hernán Maldonado.

O pesquisador explica que no momento estão sendo efetuadas as análises de emissões de gases de efeito estufa no solo e a volatilização de amônia. A fertilidade do solo e a produtividade do capim-elefante serão monitoradas durante pelo menos mais dois anos. Segundo Maldonado, trata-se de um experimento pioneiro no Brasil.

A utilização do biochar permite, além da incorporação de carbono no solo, o aumento da capacidade de troca catiônica (CTC) do solo, o que favorece a retenção de nutrientes essenciais, como o nitrogênio, evitando que seja perdido para a atmosfera na forma de gases como metano e amônia. Além disso, por ser uma fonte de carbono estável, o biochar sofre decomposição lenta e gradativa, ao contrário do que acontece com a matéria orgânica em processo natural, que apresenta rápida decomposição e maior liberação de gases de efeito estufa.

- Outro fator que confere ao biochar o potencial de mitigador das mudanças climáticas é apresentar em sua estrutura microporos que favorecem a retenção de água e nutrientes, promovendo um microambiente adequado para micro-organismos do solo – explica Maldonado.

Estudos têm origens em solos de terras indígenas

Incorporação do Biochar  no solo 
O nome biochar vem da junção de duas palavras do inglês: biomass e charcoal, biomassa e carvão. Ele pode ser obtido a partir de matéria orgânica vegetal ou animal. Os fatores que interferem no produto final são temperatura, tempo de pirólise e matéria-prima utilizada.

Segundo a literatura, a ideia do biochar surgiu de estudos da matéria orgânica das Terras Pretas de Índios (TPI), solos amazônicos alterados pela presença humana com excelentes características agronômicas e ambientais. Além da alta fertilidade, apresentam alto conteúdo de carbono estável (de origem pirogênica, ou seja, produzido por fogo ou calor) em sua fração orgânica, o que forneceu um modelo de solo adequado ao sequestro de carbono. O conhecimento da sua estrutura e de suas propriedades vem possibilitando a busca por materiais e técnicas que visem imitá-lo em práticas agrícolas.

O grupo envolvido na pesquisa inclui, além do professor Hernán Maldonado, a doutoranda Karla Rodrigues de Lima, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal; o zootecnista e mestre Rogério Aguiar; a doutoranda Georgia Amaral Mothé, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais; e o professor Marcelo Sthel, do Laboratório de Ciências Físicas (LCFIS/UENF).  As determinações do teor de carbono no biochar foram feitas no Laboratório de Ciências Ambientais (LCA/ UENF). O projeto tem financiamento da Faperj.

Os experimentos são conduzidos na área experimental no Setor de Forragicultura e Nutrição de Ruminantes do LZNA/CCTA, no Colégio Agrícola Antonio Sarlo, em Guarus.

Gustavo Smiderle
Fotos: LZNA/UENF

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Coluna Infinitum



Conhecendo as Escolas Jônica e Pitagórica e sua influência nas ideias cosmológicas

Adriana Oliveira Bernardes
Mestre em Ensino de Ciências - UENF

Inicialmente as explicações a respeito do universo tinham características fortemente religiosas: o universo, tudo que existia nele e todos os fenômenos observáveis eram fruto da ação dos deuses; assim surgiram as cosmologias antigas.

Os egípcios, por exemplo, acreditavam que o universo era constituído por uma porção de terra em forma de travessa, atribuindo à Terra, ao Ar e ao Céu o status de divindades. Segundo eles, o Deus Terra sustentava o Deus Ar, que por sua vez sustentava a deusa Céu, que para eles eram respectivamente: Geb,  Shu e Nut. O Sol e a Lua eram explicados como resultado da trajetória de dois barcos, pertencentes a dois deuses, que atravessavam o céu todos os dias, passando por baixo da terra e aparecendo novamente no céu no dia seguinte.

Fonte: http://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2013/01/o-grande-livro-dos-signos-simbolos.html

Já os indianos acreditavam que habitávamos sobre a superfície terrestre, apoiada por uma tartaruga gigante de proporções gigantescas, sustentada por três elefantes, que para eles constituíam-se em divindades, dotadas de força suficiente para amparar a Terra.

Porém, num período de aproximadamente 900a.C, floresceram na Grécia explicações para o universo não determinadas pela ação e vontade de deuses. Estas foram de grande contribuição para a ciência. A Escola Jônica trazia explicações para o universo destacadamente sem aliar à ação ou  vontade de deuses. Nela destacaram-se filosófos como Heráclito, Empédocles e Anaxágoras, entre outros, trazendo grande contribuição à cosmologia. Esta escola era tradicionalmente ateia e explicava o universo como ação dos elementos ar, terra, água e fogo. Para eles, esse conjunto de elementos que deu origem a tudo que existe; e a interação entre deles que provocava os fenômenos observáveis em nosso planeta.

No mapa abaixo, podemos observar a proximidade entre as cidades que eram ligadas por comércio intenso, tendo a escola Jônica surgido na cidade de Mileto.


Já a Escola Pitagórica, apesar de mística — ou seja, acreditava em algo além do observável que viria antes dos elementos e era responsável pelos fenômenos relacionados a ele — introduziu a Matemática no desenvolvimento da cosmologia, influenciando modelos cosmológicos futuros. Sem dúvida nenhuma, a introdução da Matemática para explicação dos fenômenos observáveis foi um grande feito da Escola fundada por Pitágora de Crotona.

A Escola Pitagórica acreditava na alma como fator preponderante para a existência de todos os elementos que compunham o universo. Filolau, filósofo pitagórico, elaborou uma teoria cosmológica na qual haveria um fogo central responsável pelos fenômenos observáveis no universo. Este fogo era o centro do universo e moviam-se a seu redor a Contra Terra, a Terra, a Lua, o Sol e os planetas conhecidos na época: Mercúrio, Marte, Júpiter e Saturno.

Segundo Filolau, a Terra girava ao redor do fogo central. Mas não podíamos vê-lo devido à Contra-Terra, que protegia a Terra do fogo central. Neste modelo, a Terra não era o centro do Universo e se movia, o que é um grande passo em relação a teorias anteriores. Era também a primeira teoria a cogitar o movimento terrestre.

Sugestões de Leitura:
A Ciência Grega
www.disciplinas.stoa.usp.br/mod/resource/view.php?id=88260

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Tomate: produto rentável

Pesquisa da UENF avalia diferentes sistemas de cultivo e manejo de adubação para o tomateiro

Ele está na salada, no molho, no sanduíche, no tempero e até no suco. Alimento que não pode faltar na mesa de milhões de brasileiros, o tomate foi um dos vilões da inflação no ano passado, com elevação no preço acima dos 100%. Tornar o produto mais acessível economicamente à população e, ao mesmo tempo, mais rentável para o produtor, tem sido uma das preocupações dos pesquisadores da UENF. Tudo isso, é claro, dentro de uma perspectiva mais equilibrada de produção, buscando a preservação ambiental e a produção de alimentos isentos de resíduos nocivos à saúde.

Em sua pesquisa de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, a agrônoma Andrezza da Silva Machado Neto procurou avaliar o desempenho agroeconômico de duas cultivares de tomate de mesa: Siluet e Santa Clara, em diferentes condições de cultivo e manejo. Intitulada Viabilidade agroeconômica da produção de tomate de mesa sob diferentes sistemas de cultivo e manejo de adubação, a pesquisa foi orientada pelo professor Niraldo José Ponciano, do Laboratório de Engenharia Agrícola (LEAG) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da UENF. Os experimentos foram realizados na Unidade de Apoio à Pesquisa da UENF (UAP).

Foram instaladas duas unidades experimentais na UAP. Na primeira, as plantas foram cultivadas em casas de vegetação sob manejo orgânico de adubação e controle fitossanitário (pragas e doenças). No segundo experimento, o cultivo foi realizado no campo, sob dois sistemas de produção: um sistema orgânico e outro livre de agrotóxicos (Sislagro) com o emprego de adubos minerais. Em todos os casos, Andrezza calculou os custos operacionais e totais da produção, os indicadores e riscos econômicos.

O sistema orgânico de produção em ambiente protegido mostrou-se eficiente do ponto de vista técnico e viável economicamente para as duas cultivares, sendo o melhor desempenho apresentado pela Siluet, com produtividade de 3,56 Kg/planta e lucro líquido de R$ 9,10 por planta.

- Além disso, as atividades se mostraram de baixo risco, com 30,31% e 4,48% de probabilidade de insucesso financeiro, para ‘Santa Clara’ e ‘Siluet’, respectivamente - explica Andrezza.

Já sob condições de campo, o sistema misto (Sislagro) apresentou inviabilidade agroeconômica tanto para o tomateiro Siluet quanto para o Santa Clara. A pesquisadora explica que a produtividade e o preço foram as variáveis (fatores) preponderantes para a inviabilidade agroeconômica, sobretudo o preço recebido. Isto porque, segundo a legislação brasileira para produtos orgânicos, sistemas mistos ou que tenham qualquer insumo ou técnica diferente do regulamentado não podem ser classificados como orgânicos, e, portanto, o preço de venda do produto acaba tendo que ser o mesmo de produtos convencionais (até 80% mais barato).

- A pesquisa nos permite concluir que a melhor proposta é o cultivo orgânico do tomateiro Siluet, com produtividade de 6,02Kg/planta. A atividade foi capaz de remunerar o custo total de R$ 23,70 por planta com a geração de um lucro líquido de R$ 6,34 por planta. Além disso, apresentou-se como uma proposta de baixo risco, com probabilidade de 14,81% para geração de prejuízo econômico, e uma taxa anual de retorno de 83,2%. - conclui Andrezza.

Se quiser saber mais sobre a pesquisa, veja aqui a tese de Andreza.

Cilênio Tavares
Fúlvia D'Alessandri

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Resíduos do vidro podem ser usados na indústria de cerâmica

Pesquisa feita na UENF obteve o 2º lugar no Prêmio Jovem Ceramista 2014

Luciana Simões mostra o resultado de sua pesquisa
Uma pesquisa sobre o aproveitamento dos resíduos do vidro na indústria cerâmica rendeu à aluna Juliana Simões Chagas Licurgo, do curso de Engenharia Metalúrgica do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da UENF, o 2º lugar no Prêmio Jovem Ceramista 2014, modalidade "universitário", promovido pela Associação Nacional de Cerâmica (Anicer). O resultado do trabalho, realizado no Laboratório de Materiais Avançados (Lamav), foi apresentado em maio, com o artigo: “Aproveitamento de resíduo da etapa de lapidação de vidro em cerâmica vermelha” durante o Congresso Nacional de Cerâmica, realizado em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.

Na pesquisa — que durou oito meses e teve como orientador o professor Carlos Maurício Fontes Vieira —  Juliana constatou que é possível aplicar menos água na produção da cerâmica e, ao mesmo tempo, confeccionar um produto de melhor qualidade. Essa associação permite menos danos ao meio ambiente, uma vez que os resíduos do vidro geralmente são subaproveitados — grande parte deste material acaba sendo descartara em aterros, ou, então,diretamente no meio ambiente, como em rios, por exemplo.

O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da incorporação de até 40% deste resíduo — gerado na forma de lama proveniente da etapa de lapidação da fabricação de vidros — em cerâmica vermelha. Os resultados indicaram que o resíduo altera as propriedades da cerâmica vermelha com redução da absorção de água  e aumento da resistência mecânica.

A pesquisa foi feita no LAMAV/UENF
Vantagens – O professor Carlos Maurício destaca como uma das vantagens desta técnica a redução do uso de argila, o que traz vantagens ao meio ambiente, uma vez que este é um recurso natural não renovável. A diminuição na quantidade de água, por sua vez, diminui o gasto energético na etapa de secagem, diminindo a retração de secagem e acarretando também um menor risco de aparecimento de defeitos dimensionais. Ele destaca ainda a melhoria da qualidade do produto, com a redução na absorção de água  e aumento da resistência mecânica.

— Além disso, há o reuso do resíduo como um subproduto e possível redução do custo para a empresa geradora. A disponibilidade do resíduo para as indústrias de cerâmica vermelha pode ter um custo menor do que a sua disposição em aterros sanitários industriais — conclui.

O trabalho também foi apresentado no VI Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica (CONFICT), realizado de 02 a 06/06/14 no Centro de Convenções Oscar Niemeyer da UENF. O Prêmio Jovem Ceramista é promovido pela Anicer com o apoio da Associação Brasileira de Cerâmica (ABC) e tem como objetivo estimular as pesquisas voltadas para a indústria de cerâmica vermelha e premiar projetos com destaque inovador e que contribuam para o desenvolvimento do setor. O primeiro lugar ficou com o artigo “Obtenção de um compósito cerâmica-polímero para a produção de telhas cerâmicas com a eliminação da etapa de queima”, do aluno Fábio Rosso, do Centro Universitário Barriga Verde (Unibave), de Santa Catarina.

Cilênio Tavares
Fotos: Paulo Damasceno

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Pesquisa explica baixa produção de abacaxi

Thiago (ao meio), ao lado de Sérgio e Karla
Doenças provocadas por cinco espécies de fitonematoides que parasitam a raiz das plantas estariam por trás do problema

Numa região onde o abacaxi já foi uma cultura promissora, a realidade atual vem desanimando os produtores rurais. Tudo por conta da queda da produtividade e da qualidade dos frutos colhidos. O problema se transformou em tema de tese de doutorado no Laboratório de Entomologia e Fitopatologia (LEF) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da UENF, sob a orientação do professor Ricardo Moreira de Souza. 

Através de pesquisas realizadas durante cerca de dois anos e meio, os pesquisadores descobriram que a baixa produção e qualidade do fruto se deve, entre outros aspectos, a duas doenças associadas, provocadas por cinco espécies de fitonematoides que parasitam a raiz das plantas, bem como pela praga chamada murcha do abacaxizeiro. Constatou-se que as duas, juntas, potencializam os problemas que vinham se agravando na última década. 

—Na realidade, trata-se de uma interação entre os fitonematoides e a murcha do abacaxizeiro —  diz o professor, lembrando que a área destinada à cultura do abaxizeiro no Norte Fluminense está entre 2 e 3 mil hectares.

O estudo, produzido pelo doutorando Thiago de Freitas Ferreira e auxiliado pelos alunos Karla Daiana dos Santos e Sérgio Wellington Idalino, representa um passo para que, a partir do conhecimento das causas da redução da produtividade do abacaxi, se possa buscar uma solução visando, futuramente, reduzir os reflexos nas lavouras.

— A tese de doutorado teve dois objetivos: primeiro, conhecer os fitonematoides e, segundo, perceber o que estava acontecendo com as lavouras de abacaxi na região — explica Ricardo.

Com a queda da produtividade e da qualidade do abacaxi, os produtores da região foram perdendo mercado gradativamente. O resultado pode ser conferido nas ruas dos municípios do Norte Fluminense, onde, em períodos de safra, os frutos comercializados, em geral nas ruas, são muito pequenos. Isso porque os produtores não conseguem bons preços no mercado fora da região, conforme explicou o professor Ricardo Moreira de Souza. 

— Esses abacaxis são muito pequenos e de baixa qualidade. Por isso não têm colocação no mercado. É muito comum vê-los sendo vendidos nas ruas — diz.

O trabalho foi apresentado em fevereiro deste ano e agora está em fase de preparativos para publicação.

Cilênio Tavares

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Novos caminhos para controle de tuberculose agressiva

Equipe da UENF que participou da pesquisa, tendo à frente a
professora Elena Lassounskaia (terceira à esquerda). 
Estudo de pesquisadores da UENF e da USP identifica mecanismo que aumenta a severidade da doença

Pesquisadores da UENF, tendo à frente a professora Elena Lassounskaia, em colaboração com colegas da USP, nucleados pela dra. Maria Regina D'Império-Lima, conseguiram desenvolver novo modelo experimental para estudo da tuberculose, causada pelo micro-organismo Mycobacterium tuberculosis, conhecido como bacilo de Koch. O estudo identifica um fator genético do organismo hospedeiro que aumenta a severidade da doença, agravando a lesão pulmonar. Tal fator pode ser um alvo terapêutico atrativo em pacientes com formas graves da tuberculose.

O estudo foi publicado no início deste mês na revista PLOS Pathogens, dos Estados Unidos (fator de impacto 8,1). Dos 13 autores, seis são ligados à UENF, incluindo o primeiro autor do artigo, Eduardo Pinheiro Amaral, que se formou em Ciências Biológicas em Campos (RJ) em 2008, tendo atuado como bolsista de Iniciação Científica, e hoje faz doutorado na USP sob a orientação da professora Maria Regina e coorientação da professora Elena.

A tuberculose continua sendo um grande problema de saúde global e especificamente de saúde pública no Brasil, sendo que o país ocupa 17ª posição no ranking mundial de países emergentes na doença. Apesar da existência de métodos de diagnóstico e tratamento, mais de 9 milhões de novos casos são registrados anualmente no mundo inteiro, com cerca de 1,5 milhão de mortes. O desenvolvimento de novas abordagens para controle da tuberculose depende de avanços de pesquisa na área.

Para entender os mecanismos que determinam o desenvolvimento agressivo da doença, os pesquisadores trabalharam em um modelo de camundongos que reproduzem os sintomas da tuberculose pulmonar grave que atinge pessoas. Assim como os pacientes humanos, os camundongos infectados com micobactérias hipervirulentas podem desenvolver lesões necróticas no pulmão. Trata-se de áreas de células infectadas mortas que se rompem, como resultado da multiplicação da bactéria, e liberam seus conteúdos. Este material contém moléculas que promovem um recrutamento de células do sistema imunológico do hospedeiro, e a inflamação local resultante causa ainda mais danos ao tecido pulmonar.

Os pesquisadores trabalharam com modelos de camundongos
Papel do receptor - Um dos componentes de restos necróticos é a molécula ATP (adenosina trifosfato), responsável pelo armazenamento de energia nas células. Quando se encontra fora das células, esta molécula estimula as células de defesa do organismo ligando-se a um receptor chamado P2X7R. Estimulação prolongada do receptor induz nas células um mecanismo chamado ativação de inflamassoma, que promove a produção de moleculas inflamatórias, levando à morte celular. Os pesquisadores perguntaram se essa via molecular desempenha um papel em casos graves de tuberculose, que estão associados à necrose do pulmão. Eles estudaram camundongos que foram deficientes para receptor P2X7R e descobriram que aqueles ratinhos sobreviveram bem às infecções causadas pelas cepas hipervirulentas, enquanto os camundongos normais morreram precocemente devido à severa inflamação.

- Isto abre caminho para novas abordagens terapêuticas em que os medicamentos destinados a inibir o receptor P2X7R serão usados para melhorar os resultados do tratamento de formas agressivas da tuberculose – explica a professora Elena Lassounskaia.

Entretanto, as melhorias no quadro de doença em camundongos sem o P2X7R só foram vistos após a infecção com as micobactérias hipervirulentas. Em animais infectadaos com uma cepa de bactéria menos agressiva, a estimulação de células imunitárias mediada por P2X7R foi menos intensa e não resultou em morte celular e liberação de micobactérias vivas, e assim efetivamente contribuiu para a contenção da infecção, em vez da sua propagação.

Os efeitos opostos de P2X7R observados na infecção pulmonar com cepas micobacterianas hipervirulentas e cepas menos agressivas, respectivamente, poderiam explicar um enigma epidemiológico: as variantes defeituosas do gene de P2X7R que determinam a perda da sua função de P2X7R são comuns na população humana moderna, apesar do fato de que o receptor funcional pode contribuir para a proteção contra micobactéria em casos da infecção moderada. Com base nos seus resultados, os investigadores sugeriram que tais variações podem aumentar o risco de doença moderada, mas reduzir o risco de tuberculose grave. Isso, dizem eles, "poderia explicar por que a pressão evolutiva tem mantido esses polimorfismos do gene a taxas elevadas na população humana".

UENF reforça estrutura laboratorial

Pesquisas com micro-organismos como a bactéria causadora da tuberculose, que é transmitida facilmente através de ar, exigem estrutura laboratorial cuidadosa. Até agora, os pesquisadores da UENF estavam encontrando dificuldades no desenvolvimento dos seus projetos de pesquisa dos micro-organismos de maior risco por falta da infraestrutura adequada, dependendo da  cooperação com outras instituições, como foi o caso da parceria com a USP.

Com verba de R$ 430 mil captada junto à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep, vinculada ao governo federal), a UENF iniciou este ano a construção de uma sala multiusuária de nível 3 de biossegurança (NB3), apropriada para  pesquisas com agentes de maior risco. Segundo a professora Elena Lassounskaia, a nova estrutura também será importante em função do aumento dos fluxos migratórios de pessoas na região por conta do funcionamento do Complexo Portuário do Açu, que pode levar ao aparecimento de micro-organismos patogênicos não típicos para a região. A sala multiusuária será usada não apenas por vários laboratórios da própria UENF, mas também por pesquisadores-colaboradores do Instituto Federal Fluminense (IFF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/polo Macaé) e do Hospital Geral de Guarus, da Prefeitura de Campos.

Além da conclusão da obra, prevista para cerca de quatro meses, Elena vislumbra o desafio de treinar toda a equipe técnica envolvida no trabalho NB3 e oferecer a ela um adicional condizente de insalubridade, a seu ver ainda insatisfatório.

- Também é preciso que o Conselho Universitário aprove finalmente a criação da Comissão Interna de Biossegurança, que de acordo com a legislação nacional deve organizar e fiscalizar todo trabalho com organismos geneticamente modificados (animais, plantas, células, micróbios), além de patógenos e animais infectados – lembra a professora.

Reportagem: Gustavo Smiderle
Fotos: Alex Cordeiro

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Toxoplasmose e toxoplasma: livro atualiza informações

Obra será lançada em 10/07/14, às 17h, na Academia Nacional de Medicina

O livro compila conhecimentos sobre o tema
Infecção hoje muito disseminada ao redor do mundo, especialmente no Brasil: assim é a infecção por Toxoplasma gondii, protozoário descoberto em 1908 por cientistas no Brasil e na Tunísia, simultaneamente. Começando pela história da descoberta desse parasita e da doença por ele causada, a toxoplasmose, e visitando os diferentes aspectos relacionados ao tema – ciclo evolutivo, epidemiologia, diagnóstico, quadro clínico e tratamento –, os professores Wanderley de Souza (UFRJ e Inmetro, ex-reitor da Uenf) e Rubens Belfort Jr. (Unifesp) organizaram ampla revisão sobre o assunto. O resultado desse trabalho é a coletânea Toxoplasmose & Toxoplasma gondii, com 16 capítulos e 27 autores, lançamento da Editora Fiocruz.

Os mais importantes protozoários causadores de doenças no homem foram descritos no período entre 1875 e 1910. O T. gondii estava entre eles.

- Embora a identificação do Toxoplasma gondii tenha ocorrido em 1908, sua transmissão permaneceu um mistério durante trinta anos -, dizem os pesquisadores do  Helene Santos Barbosa, Renata Morley de Muno e Marcos de Assis Moura, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), autores de um dos capítulos do livro. Em 1937, foi demonstrada a evidência de que o T. gondii é um parasita intracelular obrigatório, isto é, ele só se multiplica no interior de células do animal infectado. E somente nos anos 1970 desvendou-se o ciclo de vida desse protozoário, do qual o gato é hospedeiro definitivo. Outros animais de sangue quente, entre eles o ser humano, são hospedeiros intermediários.

As fezes de gatos infectados contêm formas do parasita que podem contaminar água, ar, solo e alimentos, e, assim, ser transmitidas a outros animais, incluindo aves, bovinos e suínos. O homem contrai a infecção por duas rotas principais: oral (pela ingestão de água e alimentos contaminados, assim como da carne crua ou malpassada) e congênita (de mãe para filho, durante a gestação). A toxoplasmose congênita – a mais grave e notável das manifestações da doença – é abordada em outro capítulo do livro, que também dedica espaço à toxoplasmose na criança.

- Há pouco mais de cinquenta anos era patente o caráter de ser a toxoplasmose uma doença nova. Depois, graças ao labor de vários cientistas, ficou evidente que essa protozoose é muito comum e, felizmente, benigna, só eventualmente assumindo feição de enfermidade grave -, afirma o professor Vicente Amato Neto, da USP, que assina o prefácio da coletânea.

Muitos indivíduos infectados pelo T. gondii não apresentam sintomas, mas, quando a doença se manifesta, pode ter diferentes configurações, afetando gânglios, olhos, coração, pulmões, fígado, cérebro e meninges, ou articulações. Outro capítulo do livro é dedicado à toxoplasmose em pacientes com sistema imunológico debilitado, como na Aids, pois eles costumam apresentar um quadro clínico mais sério e generalizado, ao terem vários órgãos atingidos. Outros capítulos abordam aspectos importantes da toxoplasmose como a sua epidemiologia, os modernos métodos laboratoriais para o diagnóstico da doença, a toxoplasmose congênita, as manifestações da infecção na criança, a toxoplasmose ocular e considerações sobre o desenvolvimento de novas drogas com ação antiparasitária bem como as utilizadas atualmente para o tratamento da infecção pelo Toxoplasma gondii.

- A coletânea cobre praticamente todos os campos do conhecimento sobre o agente etiológico e a doença, apresentando novos aspectos, particularmente em relação à bioquímica, à interação entre o parasita e a célula hospedeira e à resposta imunológica à infecção -, avalia o pesquisador José Rodrigues Coura, do IOC/Fiocruz.

Lançamento: 

Simpósio Toxoplasmose e Toxoplasma, 10/07/14,  às 14h, na sede da Academia Nacional de Medicina (ANM), Av. General Justo, 365 / 7º andar -  Centro - Rio de Janeiro (RJ)

(Texto:  Paula Almeida, com informações da ANM/ Editora Fiocruz)

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Cafeína na água

O tratamento da água não elimina a presença da cafeína
O café é um dos alimentos mais consumidos em todo o mundo — e o Brasil é o segundo maior consumidor da bebida. Mas se você não integra o grupo dos viciados em café, saiba que, mesmo sem querer, pode estar consumindo diariamente, através da água que consome, o seu principal componente: a cafeína.

É o que mostram estudos feitos por pesquisadores brasileiros financiados pelo CNPq e pela Fapesp e que resultaram no livro Cafeína em Águas de Abastecimento Público, lançado durante a 37ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, realizada entre os dias 26 e 29/05/14, em Natal, Rio Grande do Norte.

Ao detectar a presença de resíduos de cafeína na água que abastece a população, a pesquisa — que envolve a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade de Brasília (UnB) — lança luz à possibilidade de que outras substâncias, potencialmente mais perigosas, também estejam presentes.

 Katia Bichinho (esq., autora), Wilson Jardim e Cristina Canela (editores*)
— A presença de cafeína na água de abastecimento é um indicador da possível presença de outros contaminantes emergentes, que ainda não são legislados pela portaria do Ministério da Saúde, mas que podem ser prejudiciais à saúde humana — afirma a professora Maria Cristina Canela, do Laboratório de Ciências Químicas (LCQUI) da UENF, que também atua como coordenadora da Diretoria de Química Ambiental do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA).

Estudos geraram livro com nove capítulos
Coube à equipe da UENF coletar amostras da água que abastece as cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória e Salvador.  O trabalho foi realizado juntamente com a aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais da UENF (PPGCN) Camila Ramos de Oliveira Nunes, no período entre julho e outubro de 2011 e 2012.

— É justamente neste período que os rios estão mais secos, refletindo uma situação mais crítica, com uma maior concentração destes contaminantes na captação da água a ser tratada. Embora as estações de tratamento cumpram as normas, não é possível eliminar a cafeína da água, o que pode provocar interferência no organismo humano — afirma Maria Cristina, lembrando que o trabalho poderá servir como parâmetro de orientação para que, futuramente, sejam adotadas medidas com o objetivo de eliminar a dificuldade de ter uma água livre de contaminantes emergentes.

O livro, que possui nove capítulos, será distribuído gratuitamente às empresas responsáveis pelas estações de tratamento de água e esgoto e prefeituras que eventualmente tenham interesse nas informações. A previsão é de que, a partir de julho, também já esteja disponibilizado pelo site do INCTAA.

Cilênio Tavares
Fúlvia D'Alessandri

(*) Foto Cristiane Vidal

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Efeitos do aquecimento global


Cheia do Rio Muriaé, Campos (Wesley Machado, 05/01/12 )
As altas temperaturas registradas em todo o país nos últimos meses podem se tornar cada vez mais frequentes no decorrer do século. É o que aponta o estudo sobre os impactos do aquecimento global divulgado no final de 2013 pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), organismo criado em 2009 pelo Governo Federal com o objetivo de disponibilizar informações científicas sobre os aspectos relevantes das mudanças climáticas no Brasil.

Embora o momento seja de estiagem no Centro-Sul, as projeções mostram aumento de chuva no Sul e Sudeste e diminuição das chuvas no Norte e Nordeste, podendo apresentar, até o final do século, um acréscimo médio da temperatura global de 2ºC a 5,8°C (graus Celsius). A porção nordeste da Mata Atlântica poderá ter alta de temperatura (entre 2°C e 3°C) e baixa pluviométrica (entre 20% e 25%).

Mata Atlântica em Pernambuco (Wikipedia)
Com base em experimentos realizados no Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal da UENF (LZNA), o professor de aquicultura Manuel Vazquez Vidal Júnior afirma que, com o aquecimento das águas, animais de algumas espécies aquáticas podem sofrer morte embrionária em decorrência do aumento do consumo das reservas de vitelo, uma reserva de nutrientes das células-ovo que alimenta o embrião.

— O aquecimento provoca aumento no metabolismo dos animais pecilotérmicos (sangue frio), que passam a consumir mais nutrientes e antecipam sua época de reprodução. Num primeiro momento fica parecendo que apenas o calendário de desovas mudaria, mas o desenvolvimento embrionário também é afetado pela elevação da temperatura — disse.


Os anfíbios também poderão sofrer uma significativa diminuição nas suas populações existentes na Mata Atlântica. Estudo realizado por pesquisadores do Laboratório de Biogeografia da Conservação da Universidade Federal de Goiás (UFG) estima que até 12% das 431 espécies desses animais do bioma poderão ser extintas nas próximas décadas. O professor Carlos Ruiz-Miranda, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF, lembra que os impactos não se restringiriam à óbvia perda destas espécies nativas.


— Os anfíbios são parte de uma cadeia alimentar que envolve várias espécies de vertebrados.


Outros organismos como mamíferos, aves, insetos e vegetais também ficariam suscetíveis a tais mudanças climáticas. Diferentemente do que ocorre com a espécie humana, muitas dessas espécies não conseguem se adaptar, principalmente as vegetais. Professor do Laboratório de Engenharia Agrícola da UENF (LEAG), Elias Fernandes de Sousa explica de que forma este cenário afetaria a produção agrícola na região Norte Fluminense.

— O aumento da demanda hídrica no inverno poderia  intensificar os efeitos das estiagens que ocorrem frequentemente no inverno e, no verão, a maior frequência de chuvas intensas provocaria inundações e alagamentos. Esses dois eventos já prejudicam bastante a produção agrícola na região. Com o cenário de aquecimento, os efeitos danosos poderão se intensificar — afirma Elias, lembrando que o Norte Fluminense normalmente se destaca no Estado do Rio de Janeiro pelo baixo índice pluviométrico comparado a outras regiões.

Para o pesquisador, os efeitos desse aquecimento não se restringirão a uma determinada espécie.


— Com esse cenário, muito provavelmente todas as espécies vegetais e animais seriam alcançadas, pois as alterações climáticas previstas podem afetar toda forma de vida — afirma.


Como uma das soluções para o Norte Fluminense, Elias afirma que a região dispõe de recursos hídricos e de estruturas hidráulicas que podem ser utilizadas para um manejo da água visando reduzir os efeitos das estiagens.


— Deve-se investir na recuperação dos solos e da vegetação nativa em áreas estratégicas para contenção de morros e redução da erosão, aumentando a infiltração de água no solo e reduzindo os efeitos das chuvas intensas, principalmente em áreas de baixa produção agrícola — conclui.

Rebeca Picanço

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Fenômeno global explica calor e seca no Brasil

Anomalia da temperatura no RJ em janeiro de 2014. Unidade: ºC
A falta de chuvas e as altas temperaturas registradas no Brasil no início deste ano provavelmente estão ligadas a fenômenos e processos dinâmicos ocorridos em escala global. É o que sugere um estudo preliminar do pesquisador Isimar de Azevedo Santos, professor titular do Laboratório de Meteorologia da UENF (LAMET). Ele espera, com a pesquisa, obter previsões mais acertadas de eventuais ondas de calor que venham a afetar o país.

Segundo o pesquisador, tanto o forte calor quanto a estiagem que se observou em algumas regiões do Brasil em janeiro de 2014 se deveram a bloqueios atmosféricos provavelmente originados no Oceano Pacífico. Tais bloqueios impediram as frentes frias de se deslocarem do sul do continente até as latitudes tropicais.

— Estamos usando dados ambientais, tanto locais quanto globais, para compor um quadro elucidativo desses processos de bloqueio. O diagnóstico preliminar nos permite dizer que houve uma distribuição regionalizada das anomalias de precipitação e temperatura — afirma o professor, que tomou por base informações do banco de dados Reanálises, do serviço meteorológico americano (National Centers for Environmental Prediction / NCEP).

Anomalia da precipitação no RJ em 2014. Unidade: mm/dia
A análise das anomalias climáticas no Estado do Rio revela que a capital fluminense teve as temperaturas mais altas, bem como a maior seca dos últimos 36 anos. O Sul Fluminense também viveu a maior estiagem dos últimos 36 anos. No entanto, não foi o janeiro mais quente — os janeiros de 1995, 1998 e 2010 tiveram temperaturas ainda maiores.

No Norte Fluminense, as temperaturas estiveram bem próximas da média histórica. Os janeiros mais quentes da região foram os de 1990, 1995 e 2010. Com relação à estiagem, o estudo aponta o mês de janeiro de 2014 como um dos mais secos, juntamente com os janeiros de 1990, 2006 e 2010.

A análise global da temperatura no Hemisfério Norte mostra que enquanto algumas regiões tiveram aquecimento anômalo (Groenlândia, oeste da América do Norte, Canadá, China e África), outras experimentaram temperaturas mais baixas que a média histórica dos últimos 36 anos (norte da Rússia, o norte da Europa e o leste da América do Norte).

— Já no Hemisfério Sul ocorreu um resfriamento no centro da América do Sul, noroeste da Austrália e no entorno do continente antártico. Mas a maior porção do Hemisfério Sul experimentou temperaturas acima do normal em janeiro, inclusive a maior parte do continente antártico — afirma o pesquisador.

Para saber mais leia o artigo Um Diagnóstico Preliminar das Anomalias Climáticas de Janeiro de 2014

Fúlvia D'Alessandri

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Resgate da história de SJB

(Fonte: http://www.sjbonline.com.br/)
Nem todos os habitantes de São João da Barra, no Norte Fluminense, conhecem a história do município, que começou com uma pequena vila de pescadores e durante muito tempo teve sua economia voltada para a pesca e agricultura, com a produção de mandioca, café e açúcar. Mas, se depender do professor Alcimar das Chagas Ribeiro, do Laboratório de Engenharia de Produção (LEPROD) da UENF, esta história vai passar a fazer parte do universo da população de São João da Barra, bem como dos municípios vizinhos.

Alcimar coordena o projeto de extensão Resgate e disseminação da história local: Uma estratégia para a mudança sociocultural e econômica, que tem por objetivo mostrar a história do município desde a sua criação até os dias atuais, para que os moradores possam ter referências do lugar onde moram e sejam capazes de lutar pelo seu crescimento e desenvolvimento. O projeto é desenvolvido com a ajuda de dois alunos de uma escola pública, Débora Longue e Chrisson Monteiro, e de um animador cultural, Francisco Moreira, que atuam como bolsistas Universidade Aberta.

Depois de realizarem uma ampla pesquisa para conhecer a história do município, os bolsistas  vêm ministrando palestras em escolas e acabam de elaborar uma cartilha com todas as informações coletadas, que será impressa e distribuída em toda a região. Nas palestras, os estudantes mostram os primeiros povoados, a evolução e o estágio de cidade e ainda o ciclo portuário, que durou aproximadamente 150 anos.

Alcimar observa que, nessa época, a cidade de São João da Barra tinha uma importância logística muito grande, porque escoava a produção para praticamente toda a região. Agora, com a construção do Porto do Açu, espera-se que seja retomada a sua importância econômica.

— A nossa meta é resgatar a história do município, que hoje não é mostrada sequer nas escolas. Queremos mexer com as pessoas. Tenho consciência de que o projeto não vai transformar a vida dos moradores em um curto prazo, mas queremos que eles conheçam, discutam suas origens e que os jovens possam ter condições de criar políticas públicas, de lutar pela cidade para que se torne cada dia melhor — diz Alcimar, ressaltando que antes do projeto os alunos não conheciam sequer um escritor ou jornalista de São João da Barra.

Os bolsistas do projeto ministram palestra em escola de SJB
Os próprios integrantes do projeto, Débora e Chrisson, contam que não sabiam praticamente nada sobre o município até fazerem a pesquisa. Foi uma surpresa para eles descobrir que a cidade já teve um porto. A atividade portuária teve início em 1740, com a indústria de construção naval, que começava a se desenvolver. Seis estaleiros foram instalados entre a Vila e Atafona para começar a produzir embarcações. Pouco tempo depois, surge o porto, que passa a ser frequentado por embarcações que transportavam toda a produção do Norte-Noroeste Fluminense — açúcar, café, madeira, couro, aguardente, carne e peixe salgado, queijo, farinha de mandioca e aves — para o Mercado Nacional.

No início do ano, os estudantes fizeram uma palestra para a Capitania dos Portos. Os marinheiros tiveram a oportunidade de conhecer melhor a cidade e descobrir como tudo começou.

— Foi uma surpresa para os militares. Um choque positivo, pois desde que chegaram à região poucos tinham ouvido falar sobre o surgimento de São João da Barra — conta Alcimar.

A ideia de resgatar a história do município surgiu através de outro projeto, também coordenado pelo professor Alcimar por volta de 2003: o  “Capacitar para Transformar”. O projeto tinha como meta ajudar os pescadores de São João da Barra a substituir a pesca artesanal pela piscicultura, o que daria mais lucros e reduziria o impacto ambiental.

— Mas este projeto apresentou dificuldades em função do comportamento individualista dos empreendedores, da extrema dependência das forças políticas, além do desinteresse do governo pelo projeto — explica Alcimar.


Mariane Pessanha