segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Coluna Nutrição: Minerais e exercício físico: há necessidade de suplementação?




Minerais e exercício físico: há necessidade de suplementação?


Luiz Fernando Miranda da Silva e Karla Silva Ferreira

Os principais minerais que vêm sendo utilizados em suplementação para praticantes de atividade física são cálcio, ferro, cromo e selênio. Entretanto, muitas pesquisas não comprovaram a necessidade de suplementação com estes minerais, conforme é descrito abaixo. Uma boa alimentação, composta por todos os grupos de alimentos, é capaz de suprir o organismo com as quantidades necessárias destes nutrientes.

Há muitos anos, atribuía-se à suplementação de cálcio melhoras dos estoques deste mineral nos ossos, já que a maioria dos indivíduos não ingeriam quantidade necessária deste elemento. Em 2008(1), porém, foi publicado um estudo associando a ingestão desses suplementos a problemas cardiovasculares, como arritmia, infarto, acidente vascular cerebral, trombose e infarto agudo do miocárdio.  Após esta publicação, diversos cientistas de vários países contestaram o trabalho, apontando erros cometidos nos estudos que inviabilizariam a veracidade da conclusão(2,3,4).

Durante o experimento(1), a maioria dos voluntários desistiu de participar. Todos os participantes eram idosos, sendo, portanto, um grupo de pessoas com maior probabilidade de possuir problemas cardíacos, e também não seria possível extrapolar estes achados às outras faixas etárias. Além disso, não se sabia qual a ingestão total de cálcio, haja vista que o cálcio ingerido por meio dos alimentos não foi contabilizado, pois não se tinha informação do consumo alimentar. Portanto, não se pode afirmar que a suplementação de cálcio cause problemas cardiovasculares e mais estudos são necessários para estudar este efeito.

O ferro é essencial para a produção de hemácias, células que transportam oxigênio para o corpo. A suplementação de ferro em casos de ausência de anemia não se justifica. Esta prática, sobretudo, pode elevar muito a quantidade de ferro no sangue, aumentando o extresse oxidativo, a produção de radicais livres por reação de Fenton. Determinar o nível sério de ferro e a ferritina (reserva de ferro corporal), é importante para dosar o teor no corpo(5).

O cromo e o vanádio são minerais que potencializam o efeito da insulina no corpo, permitindo o controle melhor da glicose no sangue e prevenção de diabetes(5). Com base nisto, muitas empresas acreditam que a ingestão de suplementos à base destes elementos poderia melhorar o desempenho físico durante o exercício. Todavia, os estudos ainda não comprovaram este efeito por meio da suplementação. E doses de vanádio utilizadas nos estudos (30 a 300 mg) (6) causam diversos efeitos colaterais, como diarreia, náuseas e dores de cabeça.

O selênio não é um antioxidante, mas faz parte de enzimas que possuem atividade antioxidante, e por isto é essencial sua presença na alimentação, principalmente aos atletas, que produzem grande quantidade de radicais livres. Entretanto, não se sabe se os atletas necessitam de quantidade de selênio acima da recomendação para indivíduos fisicamente inativos(5). A recomendação de selênio é de 20-55 mcg ao dia, mas a comunidade europeia atualmente recomenda que a ingestão de selênio deva ser calculada como 1 mcg por kg de peso corporal(7).

São escassos os estudos científicos que demonstram melhora do desempenho atlético após a suplementação de minerais em indivíduos sem deficiência nutricional. Inicialmente seria necessário investigar o consumo nutricional de minerais pelos atletas para que se possa discutir possíveis recomendações mais específicas para este grupo em especial. No entanto, é necessário que a quantidade nos alimentos seja conhecida, bem como a quantidade dos minerais nestes alimentos. Entretanto, os teores de muitos minerais que estão sendo estudados atualmente são pouco conhecidos nos alimentos, como vanádio, cromo, molibdênio, lítio, níquel, boro e manganês. Na Tabela 1 são apresentados os teores de alguns minerais em grupos de alimentos. Os dados referem-se à faixa detectada por diversos autores.



Conforme se pode observar, em alguns casos a faixa de variação dos teores de alguns minerais é bem ampla, havendo grupos de alimentos que são ricos em um mineral específico e outros grupos que são ricos em outros minerais. Desta forma, a dieta deve conter alimentos variados e de todos os grupos alimentares, o que propicia que ela forneça a  quantidade necessária de todos os nutrientes para manter as funções vitais do corpo. Assim, a recomendação de ingestão de porções diárias são(12):

Pães, cereais, raízes e tubérculos (pães, farinhas, massas, bolos, biscoitos, cereais matinais, arroz, feculentos e tubérculos): 5 a 9 porções por dia;
Hortaliças (todas as verduras e legumes, com exceção das citadas no grupo anterior): 4 a 5 porções por dia;
Frutas (cítricas e não cítricas): 3 a, no máximo,  5 porções por dia;
Carnes (carne bovina e suína, aves, peixes, ovos, miúdos e vísceras): 1 a, no máximo,  2 porções por dia;
Nozes e sementes oleaginosas (castanhas, avelã, pistache, noz): 1 porção por dia;
Laticínios (leites, queijos e iogurtes): 3 porções por dia;
Leguminosas (feijão, soja, ervilha, grão de bico, fava, amendoim): 1 porção por dia;
Óleos e gorduras (margarina/manteiga, óleo: 1 a  2 porções por dia;
Açúcares e doces (doces, mel e açúcar): 1 a, no máximo, 2 porções por dia.

Quando se fala em porções de alimentos, sempre há dúvidas. Segundo a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária,  RDC 359, de 23 de dezembro de 2003 (13) porção é a quantidade média do alimento que deveria ser consumida por pessoas sadias, maiores de 36 meses de idade em cada ocasião de consumo, que fornece uma determinada quantidade de energia, e que tem a finalidade de promover uma alimentação saudável. De qualquer forma, são quantidades aproximadas. A Tabela 2 apresenta a porção de alguns alimentos dos grupos anteriormente citados.




Referências

1. Bolland et al. Vascular events in healthy older women receiving calcium supplementation: randomised controlled trial. BMJ(1), 2008
2. Bolland MJ, Grey A. Calcium supplements and cardiovascular risk: 5 years on. Ther Adv Drug Saf. 2013 Oct; 4(5): 199–210.
3. Pine A. The Cardiovascular Safety Aspects of Calcium Supplementations: Where Does the Truth Lie? A Personal Perspective. Climacteric 18 (1), 6-10. 2014 Oct 16.
4. Wang Xi, et al. Dietary calcium intake and mortality risk from cardiovascular disease and all causes: a meta-analysis of prospective cohort studies. BMC Medicine 12:158. 2014
5. Cozzolino, FMS. Biodisponibilidade de nutrientes. 5a ed. Manole. 2016.
6. Smith DM, Pickering RM, Lewith GT. A systematic review of vanadium oral supplements for glycaemic control in type 2 diabetes mellitus. Q J Med 2008; 101:351–358
7. Kipp AP et al. Revised reference values for selenium intake. Journal of Trace Elements in Medicine and Biology. 32: 195-199, 2015.
8. Silva, LFM. Teores de cromo em alimentos brasileiros e ingestão dietética por jogadores de basquetebol. Tese de doutorado. Universidade Estadual do Norte Fluminense. 2014, 220p.
9. NEPA - Núcleo de Estudos e Pesquisa em Alimentação. Tabela brasileira de composição de alimentos. Campinas: NEPA-UNICAMP; 2006.
10. Ferreira KS, Gomes JC, Bellato CB, Jordão CP. Concentração de selênio em alimentos consumidos no Brasil. Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 11(3), 2002
11. Rodrigues AM, et al. Quantificação de Selênio e Zinco em frutos oleaginosos. 52o Congresso Brasileiro de Química. Recife, 2012.
12. Philipp ST, Latterza AR, Cruz ATR, Ribeiro LC. Pirâmide Alimentar Adaptada: Guia Para Escolha Dos Alimentos. Rev. Nutr., Campinas, 12(1): 65-80, 1999
13. Brasil. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n. 359 de 23 de dezembro de 2003. Dispõe porções de alimentos embalados para fins de rotulagem nutricional.


quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Coluna Nutrição - Corantes caramelo IV e III: o veneno que ingerimos sem saber



Corantes caramelo IV e III: o veneno que ingerimos sem saber


Pamela Oliveira Vargas, Karla Silva Ferreira e Luiz Fernando Miranda da Silva


Os aditivos alimentares têm sido cada vez mais utilizados no desenvolvimento de novos produtos com os objetivos de melhorar aroma, sabor, cor, textura e conservação. Ao considerar que o aspecto visual é um fator importante para a seleção e escolha do produto, os corantes destacam-se entre uma das classes de aditivos mais utilizadas. Seu uso poderia ser dispensado se não fosse a importância que os consumidores dão ao aspecto visual dos alimentos.(1)

Dentre os diversos tipos de corantes, os caramelos estão entre os mais utilizados pelas indústrias de alimentos. São utilizados para conferir cor escura a alimentos e bebidas. Existem quatro categorias de corante caramelo: caramelo I, Caramelo II, Caramelo III e Caramelo IV. A diferença entre eles é o processo de fabricação.

O caramelo I é um corante natural. Já os caramelos II, III e IV são corantes orgânicos sintéticos iguais ao natural. Os corantes caramelos III e IV são fabricados com amônia (processo amônia) que leva à formação de 4-metil-imidazol, substância que tem sido associada com o desenvolvimento de câncer, particularmente no intestino e pulmão, conforme demonstrado pelo Programa Nacional de Toxicologia do Governo dos Estados Unidos.(2) Na Tabela 1 são listados os tipos de corante caramelo, código e processo de fabricação.

A Agencia Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (Anvisa) estabelece que o teor do 4-metil-imidazol não deve exceder a 200 mg/kg de corante e que uma pessoa adulta de 60 kg pode consumir, sem riscos para a saúde, até 3 mg de 4-metilimidazol /dia, enquanto que, para uma criança de 30 kg, o consumo não deve ultrapassar 1,5 mg de 4-metilimidazol/dia. Com base nos cálculos dos teores de 4-metil-imidazol presente nos corantes e este nos alimentos, a Anvisa considera que sua  concentração em bebidas e alimentos encontra-se abaixo do limite máximo aceitável 3


Tabela 1: Tipos de Corante Caramelo, Código INS e Processo de Fabricação



Fonte: Informe Técnico n. 68, de 3 de setembro de 2015, ANVISA.

É interessante o fato de a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária utilizar como argumento para a utilização de corantes que contenham o 4-metil-imidazol o fato desta substancia ser formada no processamento e/ou cocção de alimentos. Por exemplo, ela cita o seguinte em seu informe técnico número 48: “Cabe ressaltar que os níveis de 4-metilimidazol encontrados pelos autores em
cafés   são maiores que aqueles obtidos para refrigerantes de cola. Apesar de os cafés não serem adicionados de corantes caramelos, o 4-metilimidazol pode ser formado durante o processamento térmico dos grãos, bem como em outros alimentos submetidos a aquecimento, inclusive no preparo caseiro”. Ora, se uma substancia prejudicial para a saúde já é encontrada naturalmente em alimentos tradicionais de uma população, o mais prudente é que não seja adicionada em nenhum outro alimento.(4)

O corante caramelo I, sendo um produto considerado natural, consta na lista dos corantes sem estabelecimento de limite de quantidade para uso (Legislação de corantes segundo as boas práticas de fabricação) (5). Já os demais (II, III e IV) não constam nesta lista, o que significa que existe um limite de ingestão acima do qual são prejudiciais para a saúde. Entretanto, as legislações específicas para adição de aditivos em alimentos não estabelecem quantidade máxima para estes corantes. A indústria pode colocar a quantidade que considerar necessária para obter o efeito desejado.(6)

 A alegação da Anvisa para isso é que a quantidade necessária para proporcionar o efeito desejado é abaixo da quantidade que poderia ser prejudicial para a saúde. Alega também que, se colocados em maior quantidade, antes de atingirem o nível máximo permitido, estes corantes acarretariam gosto indesejável no alimento.  No caso das bebidas não alcoólicas, eles podem ser utilizados na quantidade necessária para se obter o efeito desejado.(7)

Ora, se é assim, fica a pergunta: porque então tais corantes não estão na lista dos aditivos segundo as boas práticas de fabricação, isto é,  dos aditivos que podem ser utilizados na quantidade necessária para se obter o efeito desejado? Outra questão que nos intriga: por que as industrias optam por utilizar o corante caramelo IV ou III ao invés do caramelo I ou II? Certamente por questões tecnológicas e, ou custo de produção.

O panorama que se tem é que o corante caramelo IV é o mais utilizado nos alimentos e bebidas. Sua produção é de 200.000 toneladas/ano e representa 90% em peso de todos os corantes adicionados em alimentos e bebidas no mundo.(8)   A Coca-Cola tem sido o produto mais visado pela presença do corante Caramelo IV e, em consequência, do 4-metil-imidazol. Entretanto, outros refrigerantes e alimentos que contêm calda de caramelo também têm em sua formulação o Caramelo IV ou o III, como por exemplo temperos em tabletes, caldas de doces, guaraná, guaravita, pepsi, kuat, mineirinho, dentre outros. Quem quiser evitar a ingestão deste corante deve ler a lista de ingredientes dos alimentos e bebidas antes de comprá-los. As Figuras 1 e 2 são fotos de listas de ingredientes de alguns destes produtos.





De acordo com o Centro de Ciências de Interesse Público dos Estados Unidos, a Coca-Cola vendida no Brasil contém 267 mcg (microgramas) de 4-metil-imidazol em 350 mL (mililitros), ou seja, cerca de 267 mcg em uma latinha. Dentre os nove países citados por este centro, a Coca-Cola comercializada no Brasil é a que contém maior quantidade de 4-metil-imidazol. Essa é uma concentração muito elevada. A segunda maior concentração foi encontrada no refrigerante do Quênia, 177 mcg. E a menor, no Estado da Califórnia, Estados Unidos, apenas 4 microgramas.(9) Veja na Tabela 1 as quantidades de 4-metil-imidazol encontradas nos refrigerantes dos outros países.

O governo do Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, estabeleceu que os fabricantes deveriam colocar uma advertência nos alimentos que contivessem mais que 29 mcg de 4-metil-imidazol. Ao invés de fazer este alerta para a população, a Coca-Cola optou por reduzir a quantia do corante utilizado na formulação de seu refrigerante na Califórnia.

A utilização de aditivos em alimentos suscita uma série de dúvidas, principalmente se a quantidade de cada aditivo ingerida pela população ultrapassa a quantia considerada segura para ser ingerida diariamente. Isso porque, até o momento, não existe obrigatoriedade legal para que as indústrias declarem as quantidades de cada ingrediente presente no alimento. O que é exigido pela legislação é que os ingredientes sejam escritos na lista de ingredientes começando pelo ingrediente utilizado em maior quantidade e finalizando com o utilizado em menor quantidade.

Tabela 2: Quantidade de 4-Metil-Imidazol   na Coca-Cola de alguns países



Contudo, o fato de não somente refrigerantes, como diversos  outros alimentos terem este tipo de corante em sua composição, torna o assunto preocupante, pois pode haver casos de ingestão superior ao limite aceitável. Os venenos são colocados à disposição das pessoas e estas não são informadas sobre a quantidade que podem estar ingerindo.

Sendo assim, por se tratar de uma substância comprovadamente carcinogênica, o bom senso diz que seu consumo deve ser evitado para excluir qualquer possível risco à saúde.


REFERÊNCIAS

1. ASHFAQ, N.; MASUD, T. Surveillance on Artificial Colours in Different Ready to Eat Foods. Pakistan Journal of Nutrition, v. 1, n. 5, p. 223-225, 2002.
2. NATIONAL TOXICOLOGY PROGRAM et al. Toxicology and carcinogenesis studies of 4-methylimidazole (Cas. No. 822-36-6) in F344/N rats and B6C3F1 mice (feed studies). National Toxicology Program Technical Report series, n. 535, p. 1, 2007.
3. BRASIL. ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Informe Técnico nº 68, de 03 de setembro de 2015 -. Classificação dos corantes caramelos II, III e IV e dos demais corantes autorizados para uso em alimentos.
4. BRASIL. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Informe Técnico nº 48, de 10 de abril de 2012 – Esclarecimento sobre a segurança de uso do corante Caramelo IV – processo sulfito amônia (INS 150d).
5. Brasil. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n. 45, de 03 de novembro de 2010. Dispõe sobre aditivos alimentares autorizados para uso segundo as Boas Práticas de Fabricação (BPF). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 de novembro de 2010.
6. BRASIL. Resolução nº 34, de 09 de março de 2001. Regulamento Técnico que aprova o uso de Aditivos Alimentares, estabelecendo suas funções e seus limites máximos para a Categoria de Alimentos 21: Preparações culinárias industriais", constante do Anexo desta Resolução. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 de março de 2001.
7. BRASIL. Resolução nº 5, de 15 de janeiro de 2007. Anexo com lista de aditivos para uso em bebidas não alcoólicas.  Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 de janeiro de 2007.
8. NETO, R. C. M. Dossiê dos Corantes. Food Ingredientes Brasil, n. 9, 2009.
9. CSPI - Center for Science in the Public interest. http://www.cspinet.org/new/201206261.html

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Coluna Nutrição: Carnes brancas x carnes vermelhas




Carnes brancas x carnes vermelhas


Vanessa Alves Henrique, Karla Silva Ferreira e Luiz Fernando Miranda da Silva 


Carnes são os tecidos musculares dos animais, como os músculos e as vísceras. Os tecidos musculares possuem a função de fornecer estrutura e movimento aos animais e as vísceras, funções específicas propiciando integração entre todo o organismo animal. Então, porque algumas carnes são vermelhas e outras mais claras? As carnes brancas são mais saudáveis que as vermelhas?

O que define a cor da carne é o teor de mioglobina. A mioglobina é um complexo que possui um átomo de ferro (Fe) no centro. Esta substância possui a função de armazenar oxigênio nos tecidos dos animais. O oxigênio é necessário para a produção de energia, para que o animal possa se movimentar e realizar suas atividades corporais O ferro ligado na mioglobina é melhor absorvido que outros tipos de ferro presente nos alimentos de origem vegetal (Figura 1).


Os animais que precisam de uma reserva maior de oxigênio têm maior teor de mioglobina no músculo, portanto esta carne terá coloração mais avermelhada. O exemplo mais característico é a baleia, que precisa de oxigênio para produzir energia quando submersa. Desse modo, ela possui elevada quantidade de mioglobina e sua carne apresenta coloração vermelha acentuada. Outros animais (como o beija-flor e o peixe) possuem um sistema cardiovascular (veias e artérias) eficiente em carrear sangue (rico em oxigênio) para o músculo, assim, não será necessário armazenar grande quantidade de oxigênio, consequentemente, terão menor quantidade de mioglobina e a carne será mais clara (Figura 2).



Dentro de uma mesma espécie, tanto a idade do animal quanto a atividade muscular afetam o teor de mioglobina. Alguns animais mais velhos têm o sistema cardiovascular mais desenvolvido. Desse modo, eles conseguem carrear sangue (rico em oxigênio) com maior rapidez para os músculos, tendo assim, uma carne mais branca (menos mioglobina). Como também, um animal que realiza atividade muscular intensa pode ter a carne mais escura porque precisa armazenar maior quantidade de oxigênio para produzir mais energia.

Portanto, a carne vermelha tem maior quantidade de ferro do que a carne branca, já que possui maior teor de mioglobina. Nos tipos e quantidade dos demais componentes, as carnes são muito semelhantes. Possuem elevado valor nutritivo, sendo fonte de proteínas de alto valor biológico (compostas por aminoácidos essenciais), de minerais como magnésio (Mg), fósforo (P), zinco (Zn) e das vitaminas do complexo B. Por outro lado, não são fontes de vitamina C, carboidratos, cálcio e nem fibras. Observe a composição dos diferentes tipos de carne na Tabela 1.



A gordura é um nutriente que só é metabolizado na presença de oxigênio. Por este motivo, há uma tendência de que as carnes vermelhas possuam também maior quantidade de gordura no interior dos músculos.  Entretanto, há cortes de carne de boi com teores baixos de gordura. A tabela 1 apresenta os teores de proteínas, lipídios e ferro de diferentes tipos de carne. Observa-se que os teores de proteínas são semelhantes. Os teores de gordura e de ferro são os que mais variam.
Na tabela 2 é apresentado o valor nutritivo de alguns vegetais. Estes alimentos, com poucas exceções, possuem baixos teores de ferro, gordura, proteínas e vitaminas do complexo B. Eles se destacam por serem fontes de vitamina C e fibras. 



De acordo com a OMS, as carnes podem conter substâncias químicas prejudiciais para a saúde formadas durante o processamento e/ou cozimento. As mais conhecidas são compostos contendo nitrogênio derivados dos aminoácidos das proteínas. Estas substâncias são formadas durante a queima de proteínas nos processos de fritura, churrasco e defumação. Algumas dessas substâncias são consideradas carcinogênicas e outras com fortes suspeitas de afetarem o organismo negativamente. Portanto, as carnes de peixe, galinha, frango entre outras classificadas como brancas, tem o mesmo potencial cancerígeno que a carne vermelha. 

Considerando a composição das carnes, pode-se afirmar que são alimentos muito nutritivos, mas devem ser ingeridas com moderação. A quantidade máxima de carne “in natura” que se deve ingerir por dia são 150 gramas. Lembre-se que elas não devem passar por processamento que possa queimar suas proteínas e nem terem adição de sais de cura. Portanto, é importante também evitar os embutidos.

 Referências Bibliográficas

1. International Agency for Research on Cancer; World Health Organization. IARC Monographs evaluate consumption of red meat and processed meat. Comunicado de imprensa, Nº 240, 26 de Outubro de 2015.
2. World Health Organization. Q&A on the carcinogenicity of the consumption of red meat and processed meat. Disponível em: <http://www.who.int/features/qa/cancer-red-meat/en/> Acesso em 14 de setembro de 2016. 
3 -  UNICAMP. TACO - Tabela Brasileira de Composição de Alimentos. 4ªEdição. Campinas .SP, 2011.
4. Damodaran, S; Parkin, K; Fenema, O. Química de Alimentos de Fenema. 4a Edição. Porto Alegre: Artmed, 2010. 





sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Chocolate e os benefícios cardiovasculares...quando tem cacau! - Coluna Nutrição





Chocolate e os benefícios cardiovasculares
...  quando tem cacau!


Antonione Araújo Coelho, Karla Silva Ferreira e Luiz Fernando Miranda



O consumo do chocolate tem sido incentivado por conter diversas substâncias com efeitos medicinais provenientes do cacau. Portanto, seu efeito benéfico depende da quantidade de cacau utilizada em sua fabricação. A Legislação Brasileira não estabelece uma quantidade mínima de cacau a ser colocada no chocolate. Apenas define chocolate como o produto preparado com cacau obtido por processo tecnológico adequado e açúcar, podendo conter outras substâncias alimentícias aprovadas (1).

Desde a Antiguidade, as sementes de cacau já eram utilizadas de forma terapêutica pelos maias e astecas como estimulante, pomada analgésica e bebida energética consumida pelos guerreiros antes das batalhas. Os incas consideravam a bebida à base de cacau como uma bebida dos deuses (2). Atualmente seus atributos medicinais são comprovados. Ele possui substâncias antioxidantes (polifenóis), que atuam na prevenção de câncer, doenças neurodegenerativas e cardiovasculares. Os efeitos na prevenção das doenças cardiovasculares são obtidos por meio da redução do colesterol LDL (colesterol ruim), aumento do colesterol HDL (colesterol bom) e estímulo da produção de substâncias precursoras do óxido nítrico, importante para a redução da pressão arterial (3,4).




Os benefícios do cacau foram comprovados por diversos estudos científicos. Por exemplo, um destes estudos foi realizado com mulheres no período da menopausa, sem diagnóstico de doenças cardiovasculares. Estas mulheres foram observadas durante 16 anos e, neste período, houve redução do risco de morte por doenças cardiovasculares associado ao alto consumo de alimentos ricos em polifenóis (5). Outro estudo envolvendo homens idosos, saudáveis, mostrou redução da mortalidade por doença cardiovascular e por todas as outras causas no grupo com maior ingestão de cacau (6).
Os derivados do cacau presentes no chocolate são a massa de cacau e a manteiga de cacau (que é a gordura do cacau). A massa de cacau é oriunda da semente do cacau, que é fermentada e seca. Ela é que contém os compostos benéficos para a saúde, por sinal em quantidade superior à encontrada em chás e vinho tinto (7,8,9). Quanto à gordura do cacau, ela não é prejudicial ao coração. Porém, como todas as gorduras, possui valor energético elevado, o que contribui para o ganho de peso quando consumida em excesso, e não contem polifenóis.

Entretanto, nem todos estes benefícios estão nos chocolates que consumimos. Algumas indústrias colocam muito mais açúcar e outros ingredientes do que massa de cacau em seus chocolates. Pela lista de ingredientes é possível ter uma ideia da quantidade de massa de cacau presente em cada tipo de chocolate. A legislação brasileira estabelece que os ingredientes utilizados nos alimentos industrializados sejam colocados em ordem decrescente de quantidade. Portanto, o ingrediente citado em primeiro lugar na lista de ingredientes é o que está em maior quantidade no referido alimento e o último em menor quantidade.

As figuras abaixo são fotos da informação nutricional e lista de ingrediente de alguns tipos de chocolate comercializados no Brasil. Observa-se que os ingredientes colocados em maior quantidade são o açúcar, o leite em pó e a manteiga de cacau (Figura 1). O chocolate branco nem contém massa de cacau. Nele, de cacau, apenas a manteiga (Figura 2)







Os chocolates de melhor qualidade possuem maior quantidade de cacau e, normalmente, especificam o teor de cacau presente. Alguns chegam a conter até 85% de massa de cacau. Nos chocolates em que o cacau é o ingrediente majoritário, a massa de cacau deve ser o primeiro ingrediente citado na lista de ingredientes.  A figura 3 é de um chocolate que alega conter 70% de massa de cacau. Em sua lista de ingredientes pode-se observar que a massa de cacau foi o ingrediente citado em primeiro lugar.





Deve-se atentar também para outros ingredientes, como a gordura vegetal presente em muitos chocolates. Dentre as gorduras vegetais industrializadas, há o tipo hidrogenada, que contém altos teores de gordura trans e é extremamente prejudicial para a saúde. O fato de não haver especificação sobre o tipo de gordura que está sendo colocado nos chocolates levanta dúvida de que possa ser hidrogenada. Observe nas figuras 1 e 2, nas listas de ingredientes, que há presença de gordura vegetal. Já na lista de ingredientes mostrada na Figura 3 não há menção de gordura hidrogenada.

Agora consumidor, na hora de escolher o chocolate, leia a lista de ingredientes. Dê preferência ao que contém maior teor de massa de cacau e nenhuma gordura vegetal. Seu corpo vai agradecer!

REFERÊNCIAS

1 - BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 12, de 24 de jul. 1978, Normas técnicas especiais, revistas pela CNNPA, relativas a alimentos (e bebidas). Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_78_bombons.htm>. Acessado em: 12 abr. 2009.

2 - Corti R, Flammer Aj, Holemberg NK, et al. Cocoa and cardiovascular health. Circulation 2009; 119 (10): 433-1441.

3 - Schenarr O, Brassette T, Mammo TY, et al. cocoa flavonoles lawer vascular orgenase  acivity  in human endothelial cells in vitro and in erythraeytes in vivo.Arch Beachem Beophys 2008, 476(2):211-215.

4 - Fraga CG,Littero MC, Princ PD, et al. Cocoa flavonoles: effect on  vascular nitric oxide and bland pressure. J  clin Beachim Nutr 2011, 48(1): 65-67.


5 - Mink PJ, Scrafford CG,Borraj LM, et al. Flavonoid intact and cardiovascular disease mortality: a prospective study in partmenapousal women. Am  J clen Nutr 2007, 85(3) 895-909.

6 - Buijsse b, weikert C,Bragan D, et al. chocolat consumpetian in relation to blood pressure and resk of cardiovascular deseare in German adult, Eur Heart J. 2010;31(13)1616-1623.

7 - BRITO, E. S. Estudo de Mudanças Estruturais e Químicas Produzidas Durante Fermentação, Secagem e Torração do Cacau (TheobromaCacao L.); e Propostas de Tratamento Para o Melhoramento de Sabor. 2000. Tese (Doutor em Tecnologia de Alimentos)-Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas,Campinas.

8 - ZUMBÉ, A. Polyphenols in cocoa: are there health benefits? BNF Nutrition Bulletin, London, v. 23, n. 1, p. 94-102, 1998. http:// dx.doi.org/10.1111/j.1467-3010.1998.tb01088.x

9 - Manoel C, Scalbert A, Morand C, et al. Polyphenols; food sources and bioavailability Am J clin Nutr. 2004; 79(5): 727-747.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Controle biológico contra Aedes aegypti

Pesquisadores da UENF e da Universidade de Swansea mostram que ação de fungo consegue matar larvas do mosquito em poucas horas

Richard Samuels, Aline Carolino e Tallhes Mattoso, na UENF
Um método natural de controle do mosquito Aedes aegypti, baseado no ataque de um fungo entomopatogênico (que naturalmente parasita insetos), foi desenvolvido conjuntamente por pesquisadores da UENF e da Universidade de Swansea, Reino Unido, liderados pelos professores Richard Ian Samuels, do Laboratório de Entomologia e Fitopatologia (LEF), e Tariq Butt (Swansea). A pesquisa, Financiada pela Faperj, Capes e CNPq, foi publicada pela Revista Científica americana PLoS Pathogens nesta quinta-feira, 07/07/16.

O estudo mostra que fungos entomopatogênicos podem crescer em suspensões líquidas e em substratos sólidos e os seus esporos podem atacar e matar mosquitos em ambientes aquáticos ou terrestres. De acordo com a pesquisa, num ambiente aquático, o ataque dos fungos contra as larvas do mosquito ocorre de forma especializada, rápida e eficaz, com alto potencial para controle do mosquito.

Tariq Butt
— O mosquito Aedes aegypti transmite vírus, incluindo dengue, Zika, e chikungunya, contra os quais não há vacinas ou tratamentos disponíveis no momento. O controle dos insetos vetores é a única forma de reduzir a transmissão, que atualmente depende da aplicação de pesticidas sintéticos. Há preocupações com a saúde e os impactos ambientais destes pesticidas, bem como o desenvolvimento e propagação da resistência em populações de mosquitos. O controle biológico do vetor usando agentes patogénicos para os insetos é uma alternativa atraente — explica Richard.

Segundo ele, os fungos podem matar insetos em diferentes ambientes.  Eles produzem esporos aéreos chamados conídios em substratos sólidos e blastosporos em meios líquidos. Blastosporos são considerados mais virulentos (isto é, mais prejudiciais para o inseto alvo), mas as razões para isso não são bem compreendidos.

— Neste estudo, nós conseguimos dar uma olhada mais de perto de como os blastosporos do fungo Metarhizium brunneum atacam os insetos e matam as larvas de mosquitos em seu habitat natural, ou seja, em água doce. Descobrimos que os blastosporos de M. brunneum mataram as larvas de Aedes aegypti muito mais rápido do que os conídios do mesmo fungo — afirma o professor da UENF.

Blastosporo penetrando o intestino da larva
A morte das larvas foi associada às características específicas da interação blastosporo-inseto, que provavelmente contribuem para a virulência. Os pesquisadores descobriram que blastosporos facilmente aderiram no tegumento larval, o que é facilitado pela secreção de mucilagem pelos blastosporos. Esta mucilagem não é solúvel em água e é difícil de quebrar-se ou remover tanto mecanicamente ou com detergentes. Depois de colar no tegumento, os blastosporos penetram facilmente a cutícula larval (sem a formação de estruturas de perfuração especializadas chamadas appressoria usados por alguns fungos para romper a superfície do hospedeiro). Os blastosporos na água também são ingeridos pelas larvas. Em seguida, começam a se multiplicar rapidamente no intestino das larvas e de lá invadem o equivalente larval da sistema circulatório.

Já os conídios podem atacar as larvas de Aedes aegypti, mas não aderem facilmente ao tegumento larval como ocorre com os blastosporos.  Além disso, os conídios dependem de uma combinação da penetração mecânica e da produção de enzimas chamadas proteases, que degradam a cutícula para penetrar no hospedeiro. Em contraste, a invasão pelos blastosporos pode acontecer mesmo na presença de drogas que inibem essas enzimas.

Mosquito Aedes aegypti
Dentro de horas após os blastosporos se ligarem à cutícula larval, os pesquisadores foram capazes de detectar complexas respostas imunológicas e estresse nas larvas. No entanto, essas defesas são insuficientes para proteger contra os invasores, e as larvas morrem dentro de 12-24 horas após o primeiro contato.

— Pontos múltiplos de entrada e danos brutos na cutícula e intestino (por blastoporos) resultam em morte larval rápida. Os conídios, por outro lado, não aderem à cutícula nem germinam no intestino, mas causam a mortalidade induzida pelo estresse, o que leva mais tempo para matar as larvas — afirmam os pesquisadores em seu artigo. Uma vez que os blastosporos são também baratos e rápidos para serem produzidos em meio líquido, os pesquisadores concluíram que estes podem ter um maior potencial para o controle do A. aegypti.

Colaboração científica

Aline e Talles na Universidade de Swansea
A pesquisa teve a participação de dois alunos/orientados do grupo de pesquisa do professor Richard (Patologia de Insetos) do LEF/UENF: Thalles Cardoso Mattoso e Aline Teixeira Carolino, que receberam bolsas de doutorado sanduíche da Capes. Thalles trabalhou principalmente na Universidade de Bath e ainda na Universidade de Swansea (ambas no Reino Unido) e Aline somente em Swansea. Na mesma época, o professor Richard fez estágio sênior apoiado pela Capes, ligado às duas Universidades.

— É importante ressaltar a importância desse estágio no exterior para firmar a colaboração com pesquisadores externos. Não foi tão fácil no início, mas o avanço foi surpreendente. Vamos dar continuidade a esta colaboração, com o objetivo de reduzir o sofrimento provocado por estas epidemias, minimizando os problemas ambientais e de saúde das pessoas — afirma o professor, lembrando que o próximo passo é desenvolver um inseticida biológico para uso doméstico.

Para Aline e Thalles, a experiência em atuar em Universidades estrangeiras foi inestimável. Thalles ressalta os ganhos de estar em contato com pesquisadores de vários países do mundo, com culturas inteiramente diferentes. Aline conta que foi muito bem recebida. Adaptou-se tão bem que foi convidada a continuar na Universidade de Swansea, mas não pôde aceitar o convite porque ainda não tinha defendido sua tese de doutorado. Ambos continuam atuando no LEF com o professor Richard, aguardando pedidos de bolsas de Pós-Doutorado Capes Nota Dez da Faperj.

— O que mais me chamou a atenção lá foi a rapidez com que a pesquisa se desenrola. Isso porque a burocracia lá é muito menor que aqui, principalmente no que se refere à compra de materiais necessários à pesquisa — diz Aline.

Para a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UENF, Rosana Rodrigues, o sucesso da pesquisa mostra o quanto é importante manter os investimentos em Ciência e Tecnologia no Brasil.

— Conseguir um avanço científico dessa natureza, capaz de mitigar o sofrimento da população sem agredir o meio ambiente, mostra o potencial da UENF em responder a um problema dessa magnitude. Nossa capacidade de pesquisa se equipara às maiores e mais tradicionais universidades do mundo. Temos certeza de que continuar investindo em ciência e tecnologia é a única saída para superar a crise pela qual estamos passando no Pais — conclui.

A equipe da UENF é constituída, além deles, de mais dois doutorandos, um pós-doutorando da Capes, dois bolsistas de Iniciação Científica e três bolsistas de extensão da UENF. O trabalho de campo vinha sendo feito há cinco anos em São João da Barra, mas teve que ser transferido para Campos por conta da falta de recursos da UENF. Atualmente, a pesquisa de campo está concentrada no condomínio Mondrian Life, em frente à UENF.

— As pesquisas continuam. Ainda temos recursos do programa Cientista do Nosso Estado, da Faperj, e aguardamos a liberação dos recursos da Rede Zika, também da Faperj cujo edital foi lançado no ano passado — informa Richard, que foi designado vice-coordenador da Rede Zika #1-Vetores.




segunda-feira, 4 de julho de 2016

Pesquisadores desenvolvem máquina que caracteriza corrosão

Busca-Pites permite monitorar corrosão de forma mais rápida e objetiva, aumentando a produtividade

Estima-se que os custos diretos com a corrosão nos países desenvolvidos está entre 3% e 4% do PIB. Os custos indiretos são da mesma ordem. Cerca de 20% de todo o aço produzido é usado para repor peças danificadas pela corrosão.

A corrosão é especialmente crítica para a indústria de exploração e produção de óleo e gás offshore pelo ambiente severo a que submete os materiais usados por ela e pela logística difícil com que opera.

Diversas técnicas de monitoração e inibição da corrosão são usadas. A mais comum é a exposição e análise de cupons de corrosão. Esta técnica consiste em expor peças metálicas feitas de materiais e formas diversas (cupons de corrosão) durante algum tempo em determinado local a ser monitorado e depois caracterizar o dano produzido pela corrosão.

A corrosão por pites é uma das formas mais insidiosas de corrosão existentes. Ela é bastante comum em certos tipos de aço inoxidável.


Cupom de corrosão antes da exposição(a), depois da exposição (b) e após limpeza para caracterização (c), Pites podem ser vistos na superfície do cupom a ser caracterizado.


A caracterização da corrosão por pites em cupons consiste em contar o número de pites por unidade de área afetada, medir a área da abertura dos pites e sua profundidade. Devido às pequenas dimensões dos pites, a caracterização é geralmente feita com uso de microscópio em um procedimento quase que inteiramente manual. É uma tarefa que demanda muito trabalho, tempo e envolve subjetividade.

Os professores Angelus G. P. da Silva, Marcelo Filgueira, Ronaldo Paranhos e Elaine Pereira, do Laboratório de Materiais Avançados da UENF (LAMAV), e Ítalo de Oliveira Matias, da Universidade Cândido Mendes (UCAM), juntamente com os alunos de Pós-Graduação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência dos Materiais (PPGECM) Ianne Lima Nogueira e Daniel Corrêa Manhães, desenvolveram o Busca-Pites, como parte de um projeto de pesquisa financiado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP).

O Busca-Pites é uma máquina que introduz automação na rotina de caracterização de pites em cupons como forma de reduzir a subjetividade e aumentar a produtividade.  A máquina integra partes comerciais através de um software que as comanda. Os três parâmetros de caracterização de pites são determinados ao mesmo tempo e um relatório com os resultados é emitido. O programa fotografa a superfície do cupom, identifica os pites presentes na imagem, conta-os, determina a área da abertura de cada um e sua localização. Em seguida, ativa um sensor de tecnologia confocal que mede a profundidade de cada pite.

Tela do programa Busca-Pite exibindo pites de corrosão. Os pites  com contorno vermelho foram reconhecidos pelo programa. 

Enquanto a técnica convencional de microscopia mede os três parâmetros em dois procedimentos diferentes, o busca-pites faz o mesmo de uma vez apenas. Um teste comparativo revelou que a caracterização de pites pelo Busca-Pites consumiu 60% do tempo necessário para caracterizar pelo método convencional da microscopia, com a vantagem adicional que o Busca-Pites mede a profundidade de todos os pites, enquanto que a técnica de microscopia convencional determina a profundidade dos dez pites mais profundos apenas.

Veja aqui um vídeo que descreve o funcionamento do Busca-Pites


Texto: Angelus G.P.da Silva


quarta-feira, 29 de junho de 2016

Por que carnes processadas podem causar câncer?




Por que carnes processadas podem causar câncer?


Karla Silva Ferreira* e Vanessa Alves Henrique

Em Outubro de 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Agência Internacional de Investigação do Câncer (IARC) publicaram um relatório informando que o consumo excessivo de carne processada provavelmente seja cancerígeno para o ser humano. Este relatório foi elaborado por uma equipe composta por 22 especialistas de 10 países, que após intensa revisão de pesquisas científicas, concluíram que o risco de desenvolver câncer colorretal aumenta em 18% a cada porção de 50 gramas de carne processada ingerida diariamente.

Esta informação alarmou a população, no entanto não houve a devida explicação sobre a causa de carnes processadas serem cancerígenas. A razão mais provável é a utilização dos aditivos “nitrato” e “nitrito” nestes alimentos.

O nitrato e nitrito são componentes dos sais de cura e, consequentemente, colocados nos produtos curados, tais como salsicha, bacon, salame, mortadela, presunto, apresuntado (embutidos em geral) e também em alguns tipos de queijos (exceto os queijos frescais).

Durante o processo de cura o nitrato e nitrito participam de diversas reações nos alimentos e no organismo, dando origem tanto a substâncias prejudiciais quanto benéficas para a saúde. A figura 1 ilustra as reações do nitrato e nitrito.

As substâncias formadas a partir do nitrato são “nitro ácidos graxos” e “nitritos”. Durante o processo de cura, bactérias transformam parte do nitrato em nitrito. Já os “nitro ácidos graxos” são formados dentro do organismo quando a pessoa ingere alimentos contendo nitrato ou nitrito e lipídios insaturados. Estes compostos são benéficos para a saúde, pois abaixam a pressão arterial, contribuindo assim para a prevenção de doenças cardiovasculares. (ver matéria “Nitro ácidos graxos: mais um fator positivo na dieta do Mediterrâneo”  -http://uenfciencia.blogspot.com.br/2014/09/coluna-nutricao.html).

Os nitritos dão cor à carne, atuam como conservante mas geram substâncias cancerígenas. Como conservantes, inibem o crescimento da bactéria Clostridium botulinum, causadora do botulismo, que pode ser fatal.  O processo de coloração da carne ocorre após a conversão do nitrito em óxido nítrico (NO), que reage com a mioglobina produzindo a cor característica dos produtos curados: vermelha intensa quando a carne não é submetida a aquecimento (salames) ou rosa quando a carne é cozida (presuntos e apresuntados). Já as substâncias cancerígenas, denominadas nitrosaminas, são formadas pela reação do nitrito com proteínas, aminoácidos e outros compostos que contêm nitrogênio.



Os principais tipos de câncer relacionados com a ingestão de nitrosaminas são os de esôfago, fígado e estômago. Há fatores que favorecem e outros que inibem a sua formação nos alimentos. A adição de agentes redutores nos sais de cura, como a vitamina C, tem efeito inibidor. Por outro lado, o aquecimento propicia sua formação.  Desta forma, os teores podem ser mais elevados nos produtos curados que são aquecidos, por exemplo são maiores no bacon frito do que no cru. Na tabela 1 são apresentados os teores de nitrosaminas numa porção de 50g de alguns alimentos curados e na Figura 2 fotos de porções com, aproximadamente, 50 gramas de alguns destes produtos.




No Brasil, assim como na maior parte dos países, ainda não existe monitoramento nem legislação específica para avaliar a presença de nitrosaminas nos alimentos. Nos países em que há regulamentação específica para os teores de nitrosaminas em alimentos, estes são determinados de acordo com o hábito alimentar da população. Por exemplo, o teor máximo em carnes curadas, que é um dos alimentos com teores mais elevados de nitrosaminas, pode chegar a 1,5 microgramas em 50 gramas de alimento no Chile, mas apenas 0,5 nos Estados Unidos. Na tabela 2 são apresentados os limites máximos de nitrosaminas em alguns alimentos estabelecidos em alguns destes países.



Quanto às carnes vermelhas “in natura”, sem adição de nitrato e nitrito, não há comprovação científica de que possuam efeito cancerígeno. A Organização Mundial de Saúde apenas adverte que seu consumo excessivo pode trazer prejuízos à saúde. Esta advertência deveria ser estendida aos demais tipos de carnes, visto que as alterações que podem ocorrer com as carnes (durante o preparo e no organismo após a ingestão), levando à formação de substâncias prejudiciais para a saúde, ocorrem com qualquer tipo de carne e, em alguns casos, também com outros alimentos ricos em proteínas. A quantidade prudente de carne para ser ingerida diariamente é em torno de 100 gramas.

Com base nos estudos feitos até o momento, as atitudes mais sensatas com relação à prevenção dos problemas de saúde causados pela ingestão de carne são os seguintes:

1) Não confundir os termos “evitar” com ‘abolir totalmente”.
2) Evitar o consumo excessivo dos produtos curados, principalmente aquecidos.
3) Ingerir duas ou mais porções de hortaliças por dia e, quando possível, ingeri-los com azeite.

*Profa da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Nutricionista, Dra em Ciência e Tecnologia de Alimentos e Pós DS em Química Analítica.


Referências Bibliográficas
1 – Bragadutra, C., Rath, S., Reyes, F,G. Nitrosaminas voláteis em alimentos. Alim. Nutr. Araraquara v.18, n.1, p.111-120, 2007.

3- Canhos, D.L., Dias, E.L. Tecnologia de carne bovina e produtos derivados. Fundação Tropical de Pesquisas e Tecnologia, São Paulo, 440p. s.d.

2 – International Agency for Research on Cancer; World Health Organization. IARC Monographs evaluate consumption of red meat and processed meat. Comunicado de imprensa, Nº 240, 26 de Outubro de 2015.
Disponível em: https://www.iarc.fr/en/media-centre/pr/2015/pdfs/pr240_E.pdf. Acessado em 20/06/2016

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Pesquisadores da UENF criam provador virtual de roupas

Em um trabalho de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência dos Materiais da UENF, Élisson Michael Fernandes Meirelles Araújo desenvolveu um provador virtual de roupas, sob a orientação do professor Angelus G. P. da Silva, em cooperação com o professor Ítalo de Oliveira Matias, da Universidade Cândido Mendes.

A ideia original era adaptar um dispositivo lançado no mercado para jogos eletrônicos a uma aplicação de controle de movimentos de uma máquina por gestos. Os primeiros testes, entretanto, demonstraram que aquela era uma tarefa muito simples para o potencial daquele produto. Em busca de uma aplicação mais desafiadora, visto que não tinham à disposição uma máquina de operação complexa que permitisse seu comando por gestos, eles procuraram algo que exigisse a captura, o reconhecimento, a interpretação e resposta a gestos específicos, a adaptação da resposta a fatores ambientais,  e a medição de distâncias. Encontraram essas características e muitas outros desafios em um provador virtual de roupas.



Provadores virtuais de roupas são peça fundamental para incrementar o comércio de roupas pela internet e mesmo para oferecer ao cliente presencial uma forma de provar um número maior de alternativas para auxiliar a escolha da peça de maior agrado. Os provadores virtuais basicamente projetam sobre o corpo do usuário, ou de um modelo, a peça de roupa ou acessório, permitindo que ele sinta se a peça corresponde às suas expectativas.

- Existem diversas abordagens adotadas para construção de provadores virtuais. Nenhuma delas satisfaz completamente. A nossa é mais uma que também não resolve todos os problemas, mas nosso objetivo jamais foi desenvolver um provador virtual comercial, e sim desenvolver técnicas que devem ter um provador e que podem ser aproveitadas em aplicações que envolvam controle de máquinas por gestos. Isso, nós conseguimos - dizem os autores do projeto.



O provador desenvolvido captura a imagem do usuário com uma câmera, determina a distância e o tamanho do corpo do usuário e projeta a peça de vestuário escolhida sobre a parte do corpo correspondente, enquanto exibe a imagem em tempo real para o usuário. A peça de roupa projetada acompanha os movimentos do corpo, procurando se conformar aos movimentos realizados. O provador reage a determinados gestos do usuário e não se confunde com os demais elementos presentes na cena.

Veja aqui um vídeo que exibe o provador em funcionamento.

(Texto: Ângelus Giuseppe Pereira da Silva)

sexta-feira, 6 de maio de 2016

UENF desenvolve disco solar para tratamento de água

O disco solar está instalado no Núcleo de Energias Alternativas da UENF
O consumo de água contaminada é um dos principais problemas de saúde pública no Brasil. Com o objetivo de tentar mudar esta realidade, o Laboratório de Ciências Químicas da UENF (LCQUI) vem buscando uma forma eficiente e barata de tratamento da água, baseada no uso da energia solar. Já está em fase de testes, no Núcleo de Energias Alternativas da Universidade, o protótipo de um disco solar térmico capaz de promover a desinfecção da água através de um sistema de reflexão e seguimento solar. O sistema recebe a luz solar e a reflete para um ponto, onde esta é transformada em energia térmica capaz de aquecer a água até que ocorra a sua esterilização.

Intitulada “Construção e implementação no Brasil de sistemas de concentração solar e materiais fotocatalíticos para purificação química e biológica em águas e ar”, a pesquisa tem a coordenação da professora Maria Cristina Canela e colaboração do professor Benigno Sanchez Cabrero, do CIEMAT – Plataforma Solar de Almeria, Espanha, que atua como pesquisador visitante especial na UENF.

— O professor Benigno vem trabalhando incansavelmente neste projeto junto conosco. Ele vem três meses por ano ao Brasil só para isso. Além disso, co-orienta os estudantes envolvidos e faz questão de fazer vários ensaios e aprimorar os experimentos com a sua experiência na Plataforma Solar de Almeria — diz a professora Maria Cristina.

Segundo ela, trata-se de uma tecnologia de fácil manipulação, não sendo necessária mão-de-obra especializada para a manutenção rotineira do equipamento. Constituído por uma estrutura leve de alumínio, o disco solar é multifacetado e conformado por espelhos simples, que são dispostos de maneira que haja baixa resistência ao ar. Além disso, o equipamento não requer custos altos de instalações.

Maria Cristina Canela e Benigno Sanchez
A ideia é utilizar o disco solar inicialmente em águas de poços rasos, muito utilizados na zona rural, onde não chega a rede de água potável. Dados do IBGE mostram que na zona rural 54,8% da água vem de poços e nascentes. Um estudo feito pela empresa Trata Brasil e Fundação Getúlio Vargas mostra que o SUS recebe cerca de 800 pacientes/dia com doenças diretamente ligadas ao saneamento ambiental inadequado, como diarreias, febre amarela, leptospirose, micoses, entre outras.

- O Brasil tem investido muito nos últimos anos em energias renováveis e o potencial brasileiro para energia solar não pode ser negligenciado e pode ser importante tanto do ponto de vista de grande escala como em pequenas unidades – afirma Cristina.

Segundo Cristina, a tecnologia de concentradores solares surgiu na década de 1970 como um caminho para a produção de energia através do aquecimento de um fluido e para tratamento de materiais pela concentração de energia do sol em uma área definida. Os discos solares podem produzir concentração de energia muito alta e então alcançar um aumento significativo de temperatura. Diferentes sistemas têm sido desenvolvidos para esta finalidade, embora em alguns casos estes discos possam necessitar de grandes áreas e serem muito caros.

 - Nosso disco solar pode captar a luz solar e concentrá-la em um ponto, onde deverá ter um sistema para passagem da água, que será aquecida a alta temperatura, promovendo a sua desinfecção. É um processo de baixo custo, que utiliza energia renovável, ocupa pouco espaço, não consome reagentes químicos e precisa de pouca manutenção – explica Cristina, lembrando que nas comunidades rurais o equipamento poderia ser utilizado para tratar a água a ser consumida no próprio local de uso, melhorando assim a qualidade de vida das populações e evitando problemas com enfermidades hídricas.


terça-feira, 19 de abril de 2016

Multiplicando conhecimentos sobre toxoplasmose

Estudos mostram que o município de Campos dos Goytacazes apresenta uma das mais altas prevalências de Toxoplasma gondii, o protozoário causador da toxoplasmose. A população mais atingida é a de baixo poder aquisitivo, que se contamina, na maioria dos casos, através da ingestão de água proveniente de poços artesanais, riachos e lagoas da região. A falta de informação está na raiz do problema.

Para tentar mudar esta realidade, pesquisadores da UENF realizaram o projeto de extensão “Multiplicadores de Conhecimentos Científicos em Toxoplasmose: Um Relato de Experiência com Estudantes de Ensino Médio de Escolas Públicas de Campos dos Goytacazes”, cujo relato de experiência está na atual edição da Revista de Extensão UENF “Estendendo conhecimento para o bem-estar social”. 

O público-alvo foram estudantes de ensino médio na faixa etária dos 15 a 18 anos, de cinco escolas de Campos: Centro Integrado de Educação Pública ou Ciep da Lapa (CIEP), Liceu de Humanidades de Campos (LICEU), Escola Técnica Estadual João Barcelos Martins (ETEJBM), Escola José Francisco Salles (EJFS) e Instituto Federal Fluminense (IFF).

Muitos demonstraram não possuir qualquer conhecimento sobre o que é a toxoplasmose, bem como sobre suas formas de contágio —  ingestão de carnes cruas ou mal cozidas, consumo de água ou alimentos contaminados e infecção transplacentária.

O artigo tem a assinatura das professoras Lílian Maria Garcia Bahia de Oliveira (UFRJ) e Alba Lucínia Peixoto Rangel (UENF), além dos bolsistas Rhônia França Gomes Rosa (mestre em Biociências e Biotecnologia), Rebeka da Conceição Souza (Graduada em Ciências Biológicas), Larissa Farias Crispino (Graduada em Ciências Biológicas), Cíntia Alves Cardoso (Licenciada em Biologia), Flávia Pereira Vieira (Doutora em Biociências e Biotecnologia) e Maycon Bruno de Almeida (Mestre em Biociências e Biotecnologia).






segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Carboidratos: um grupo de nutrientes com diferentes comportamentos e funções no organismo


Karla Silva Ferreira, Luiz Fernando Miranda da Silva e Maicon Martins Teixeira


Os carboidratos fazem parte de um grupo de compostos que tem em comum o fato de possuírem uma molécula de água para cada átomo de carbono. Daí a denominação de hidrato de carbono, carbono hidratado ou carboidrato. Os carboidratos mais simples possuem de três a seis átomos de carbonos.

A glicose, frutose e galactose possuem seis átomos de carbono e são as unidades básicas dos principais carboidratos da alimentação. Elas se ligam entre si ou umas com as outras para formar a sacarose, lactose, amido, as fibras alimentares, dentre outros carboidratos, cada um com características distintas, tais como intensidade do gosto doce, solubilidade em água, capacidade de ser digeridos, absorvidos e a maneira como são metabolizados pelo organismo.

A glicose é o mais comum dos açúcares e essencial para o funcionamento de muitos órgãos. A frutose é o mais facilmente metabolizado e, se ingerido em excesso, pode trazer sérios problemas para a saúde. Algumas pessoas não metabolizam a galactose e isso deve ser identificado logo no nascimento. No decorrer da vida, muitos indivíduos perdem a capacidade de digerir a lactose, o que pode causar desconforto no sistema digestório, mas não alergia. Estas informações são melhor detalhadas em outras matérias deste blog.



A glicose, frutose, galactose e seus derivados, sacarose, lactose e maltose, possuem gosto doce e são, coletivamente, denominados de açúcares ou monossacarídeos. Já os formados por mais de vinte unidades de glicose, frutose, derivados da galactose ou mistura destes, podem ser digeríveis ou não digeríveis e são, coletivamente, denominados polissacarídeos. Os principais polissacarídeos digeríveis são a amilose, a amilopectina e  maltodextrina -  todos formados por glicose.  Já os principais não digeríveis são a celulose (formada por glicose), a pectina (formada por um derivado da glactose), os frutoligossacarídeos (formada por frutose) e a hemicelulose (formada por diversos monossacarídeos). Os carboidratos não digeríveis constituem as fibras alimentares.



Os carboidratos absorvidos podem fornecer energia, participar na eliminação de substâncias tóxicas ou serem transformados em proteínas, gorduras, colesterol e outras substâncias importantes para o organismo.  A quantidade de carboidratos no corpo dos animais é bem limitada porque a capacidade dos animais para armazenar carboidratos é muito restrita. Em um adulto bem alimentado a quantidade de carboidrato armazenada fica entre 300 e 500 gramas, o que não equivale nem a 1% do peso corporal. Após uma refeição rica em carboidrato, com quantidade que ultrapassa a necessidade momentânea de energia e de síntese de substâncias essenciais, todo o excedente é transformado em gordura, que vai sendo armazenada no tecido adiposo. Como resultado, a pessoa engorda, podendo também ter os níveis sanguíneos de triglicerídeos e lipoproteínas de baixa densidade elevadas (Ex. LDL). Por outro lado, com uma alimentação pobre em carboidrato, as proteínas ingeridas ou até mesmo as do corpo serão transformadas em carboidrato para manter os níveis de glicose no sangue dentro da faixa necessária para que a pessoa não morra.

Portanto, uma alimentação sem carboidrato não é saudável, além de ser muito difícil de ser seguida. Poucos alimentos não contêm carboidratos ou os contêm em quantidades desprezíveis. São apenas alguns do reino animal, como as carnes, ovos, manteiga, determinados queijos e os óleos. Todos os alimentos de origem vegetal, além do mel, do leite, iogurtes e outros laticínios, possuem algum tipo de carboidrato.



A recomendação da Organização Mundial de Saúde é que a quantidade de carboidrato na alimentação deve ser tal que forneça, diariamente, em torno de 60% da quantidade de energia necessária para o indivíduo saudável. Quanto maior a ingestão energética, maior deve ser a porcentagem de carboidrato na dieta. Por exemplo, em uma dieta de 2000 Kcal/dia, 1200 Kcal deve ser proveniente de carboidrato, o que corresponde a 300 gramas de carboidrato.

A partir do ano de 2000, foram intensificados os estudos relacionados com a ingestão de tipos específicos de carboidratos. Com base nos resultados destes estudos, em 2007, a Organização Mundial de Saúde solicitou que seja dada ênfase às fontes alimentares de carboidratos mais saudáveis, tais como os que possuem menor quantidade de açúcares, maior quantidade de fibra e que sejam mais nutritivas. Neste sentido, os melhores alimentos são as hortaliças, frutas, leguminosas e cereais integrais. Estes alimentos possuem combinação de carboidratos digeríveis e não digeríveis, além de possuírem outros nutrientes e substâncias benéficas para a saúde. Além disso, há estudos apontando que a porcentagem de carboidratos na dieta poderia ser reduzida para em torno de 50%.

Nas tabelas 1 a 3  são apresentados os teores de carboidratos, fibras e o valor energético de alguns alimentos.







Referências bibliográficas

1. Cox, MM;  Nelson, DL. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª edição, Artmed, 2011, 1274p.
2. Fennema, OR;  Parkin, KL;  Damodaran, S. Química de alimentos de Fennema. 4ª edição, ARTMED, 2010, 900p.
3. Nishida, C;   Nocito, FM. -  FAO/WHO Scientific Update on carbohydrates in human nutrition: introduction - European Journal of Clinical Nutrition, 2007. V.1, p. 1-4.  doi:10.1038/sj.ejcn.1602935.
4. Mann, J.  Dietary carbohydrate: relationship to cardiovascular disease and disorders of carbohydrate metabolism - European Journal of Clinical Nutrition, 2007. V.1, p. 100–111.
5. Mann, J; Cummings, JH; Englyst, HN; Key, T;  Liu, S; Riccardi, R; Summerbell, C; Uauy, R; Dam, RMV;  Venn, B; Vorster, HH; and Wiseman, M. - FAO/WHO Scientific Update on carbohydrates in human nutrition: conclusions - European Journal of Clinical Nutrition, 2007. V.1, p. 132-137.
6. Schwingshackl, L; and Hoffmann, G. – Long term effects of low fat diets either low or high in protein on cardiovascular and metabolic risk factors: a systematic review and metaanalysis - Nutrition Journal, 2013. V.12, p. 48.
7. Maughan, R. - Carbohydrate metabolism – Basic Science, 2013. V.1, p. 273-277.
8. Thibault, L. - Paradoxical effects of a high sucrose diet or effects of nutritional inadequacy? -  Appetite, 2003. V.41, p. 103.
9. John, SW. - Challenging the Fructose Hypothesis: New Perspectives on Fructose Consumption and Metabolism - American Society for Nutrition, 2013. V. 4, p. 246-256.
10. Kimber, L; Stanhope; Schwarz, JM; Nancy, L; Keim; Griffen, SC;  Bremer, AA; James, L; Graham; Hatcher, B; Cox, CL; Dyachenko, A; Zhang, W; McGahan, JP; Seibert, A; Krauss, RM; Chiu, S; Schaefer, EJ; Masumi ; Otokozawa, S; Nakajima, K; Nakano, T; Beysen, C; Hellerstein, MK; Berglund, L; and Havel, PJ. - Consuming fructose-sweetened, not glucose-sweetened, beverages increases visceral adiposity and lipids and decreases insulin sensitivity in overweight/obese humans - The Journal of Clinical Investigation, 2009. V.119, p. 1322-1334.
11. Agricultural Research Service United States Department of Agriculture -                          Disponível em : http://ndb.nal.usda.gov/ndb/foods. Acessado em: 26 de agosto de 2014.
12. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - TACO. (2011) Tabela Brasileira de Composição de Alimentos/UNICAMP: Disponível em http://www.unicamp.br/nepa/taco. Data de acesso: 20/02/2015.