quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Saúde mental


Muitos já se perguntaram por que algumas pessoas mudam completamente de humor tão rápido, mas poucos sabem que esse pode ser um dos sintomas de um transtorno neurocomportamental. Hiperatividade, autismo e transtorno de conduta são alguns dos 350 transtornos neurocomportamentais identificados pela ciência. Mas como saber se uma criança apresenta sintomas de algumas destas doenças? Esse foi o tema da palestra que o professor Irineu Dias da Silva Filho, especialista em Saúde Mental de Crianças e Adolescentes da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCM/RJ), ministrou em 21/12 na UENF.

Segundo Irineu, grande parte dos transtornos neurocomportamentais tem causa genética. Um dos mais comuns é o Transtorno Afetivo de Humor Bipolar (TAB), considerado gravíssimo pelo fato de o paciente mudar da euforia para a depressão em questão de segundos. No Brasil, 3% a 4% da população sofre deste transtorno, enquanto no Japão pelo menos 9% da população é bipolar.

- Já é possível observar diferenças no comportamento da criança desde os dois anos de idade. Mas muitos pais não sabem como proceder. Há mães que se tornam depressivas. No entanto, há medicamentos e terapias para pessoas que sofrem com tais problemas – afirmou.

Outros problemas muito comuns, mas pouco conhecidos, são os Transtornos Disruptivos: o TOT (Transtorno do Opositor e Desafiador) e o TC (Transtorno de Conduta), que tornam a pessoa antissocial ao extremo, capaz de desafiar a todos e não aceitar regras. Enquanto os que padecem de TOT não aceitam limites, desafiando e opondo-se sempre a qualquer tipo de autoridade, os que sofrem de TC costumam agir de forma inadequada, quebrando e destruindo tudo que veem pela frente sempre que são contrariados.

Já a Hiperatividade, conhecida também como TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) é o transtorno que mais afeta crianças e adultos no mundo todo. O TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) ou Transtorno de Ansiedade, causado por excesso de preocupação, também pode ser observado em crianças, principalmente naquelas que têm um medo excessivo de se separar dos pais.

- O investimento na neurociência hoje é de bilhões de dólares, mas muitos ainda não sabem identificar os sintomas dos transtornos neurocomportamentais. O tratamento é essencial, principalmente quando o paciente ainda é criança, pois as chances de não se crescer com a doença e não querer ser ajudado são menores – disse Irineu, cuja palestra ocorreu no âmbito do curso de Educação Inclusiva, coordenado pela professora Nadir Francisca Sant’anna.

Rafaella Dutra


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Perigo ou avanço científico?


O anúncio de que cientistas holandeses e americanos criaram em laboratório uma linhagem mortal do vírus da gripe aviária deixou o mundo em alerta esta semana. O receio é que as informações possam cair nas mãos de terroristas e serem usadas como arma biológica de destruição em massa, ou ainda que um acidente deixe escapar o micro-organismo. Não seria melhor, então, proibir este tipo de pesquisa? Para o diretor do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da UENF, Gonçalo Apolinário, isso seria uma decisão equivocada.

Ele reconhece que os resultados devem servir de alerta para a necessidade de rigorosas normas de biossegurança no caso de pesquisas que envolvam manipulação genética de agentes infecciosos. No entanto, ressalta que o objetivo final desse tipo de pesquisa é o conhecimento dos mecanismos envolvidos, propiciando o desenvolvimento de métodos de diagnóstico precoce, produção de vacinas e medicamentos.

- Muitos grupos de pesquisa realizam estudos semelhantes para diferentes agentes causadores de doenças. Normalmente, são realizadas mutações em genes importantes para o processo infeccioso, no intuito de avaliar seu papel no contágio e progressão das doenças. Muitas vacinas e medicamentos que hoje utilizamos foram gerados a partir de estudos semelhantes - diz.

Neste caso específico, observa Gonçalo, os pesquisadores foram surpreendidos pelo grande efeito (risco) causado por um conjunto relativamente simples de mutações. Para ele, o lado positivo da pesquisa reside na “tomada de consciência” de que tais mutações podem vir a ocorrer naturalmente no futuro – gerando risco de uma epidemia devastadora. Agora, esse conhecimento gerado em laboratório permitirá desenvolver vacinas ou tratamentos preventivamente.

- Mas é claro que se justificam os temores de ‘vazamento’ acidental dessas cepas virais, bem como da utilização desses conhecimentos para a construção de armas biológicas. Isso leva à necessidade de análises de risco antes que projetos nesta linha sejam autorizados. É preciso considerar, por exemplo, a necessidade de estudos quanto à competência da equipe de pesquisa, infra-estrutura de segurança dos laboratórios, bem como a forma de divulgação dos dados obtidos - afirma.

Veja mais informações aqui.

Fúlvia D'Alessandri

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Preservando a geodiversidade

Você sabia que o autor da Teoria da Evolução, Charles Darwin, esteve no Brasil, chegando muito perto de Campos? Em 1832, ele atracou o navio Beagle no Rio de Janeiro com o objetivo de estudar as matas tropicais. A expedição de Darwin começou em Maricá e chegou até o Parque do Desengano, ao lado de Santa Maria Madalena. O "caminho de Darwin", que foi remontado em 2008 por seu tataraneto, Randal Keynes, agora pode integrar o segundo Geoparque brasileiro: Costões e Lagunas do Estado do Rio de Janeiro.

Pesquisadores brasileiros e suíços estão concluindo um dossiê a ser submetido à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). A ideia é que o Geoparque seja composto por toda a área litorânea que vai de Maricá até São Francisco de Itabapoana. Segundo a geóloga Maria da Glória Alves, que coordena os trabalhos na UENF, a área apresenta uma rica geodiversidade, sendo portanto de grande interesse científico, didático-pedagógico, turístico e ecológico.

— Enquanto a biodiversidade é constituída por todos os seres vivos e é consequência da evolução biológica ao longo do tempo, a geodiversidade é composta por todo o arcabouço terrestre que sustenta a vida, sendo o resultado da lenta evolução da terra. Ambas são essenciais e devem ser preservadas — explica.

Leia mais no Informativo da UENF.

Fúlvia D'Alessandri

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Milho-pipoca adaptado à região

Não há quem resista ao cheirinho de uma pipoca que acabou de sair do fogo. Mas será que alguma vez, enquanto você saboreava esta delícia, já parou para pensar no trabalho das pessoas que contribuíram para que aquele saquinho de pipoca fosse parar na prateleira do supermercado? Um destes profissionais é o pesquisador da área de melhoramento de plantas.

O melhoramento do milho-pipoca é uma das áreas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento Vegetal da UENF. O objetivo das pesquisas, coordenadas pelo professor Antônio Teixeira do Amaral Junior, do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV), é desenvolver variedades de milho-pipoca que sejam mais adaptadas ao clima e ao solo da região, oferecendo assim uma alternativa de renda para os pequenos produtores rurais.

Uma nova variedade, a UNB-2U, já está a caminho, devendo ser lançada no ano que vem. Este foi o tema da tese de doutorado de Rodrigo Moreira Ribeiro, defendida em fevereiro, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas da UENF. Intitulada “Ganhos genéticos em geração avançada de seleção recorrente na variedade de milho pipoca UENFV-Explosiva”, a tese teve a orientação do professor Amaral.

— A UENF desenvolve o único programa de melhoramento de milho-pipoca no Estado do Rio de Janeiro. Esta pesquisa constitui a etapa final antes do lançamento desta nova variedade. Esperamos que os produtores locais se conscientizem de que  o milho-pipoca pode ser uma boa alternativa à cana-de-açúcar, hoje em decadência — diz Rodrigo.

Se você quiser saber mais, veja a tese de Rodrigo.

Letícia Barroso e Fúlvia D'Alessandri

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Desenvolvimento sustentável

Dois projetos estruturantes serão apresentados pela UENF durante o Encontro do Colegiado do Território da Cidadania Norte, que ocorre nesta quarta, 21/12, das 14h às 17h, na Sala de Conferências do P4, na UENF. O programa Território da Cidadania, que envolve instâncias federais, estaduais e municipais, conta com a participação da UENF desde o seu início, em 2004, tendo à frente dos trabalhos o professor Luís Humberto Castillo Estrada, do Laboratório de Zootecnia e Nutrição de Animais (LZNA).

— Junto aos diversos atores do programa, temos elaborado diversos estudos, envolvendo principalmente os agricultores familiares da região. Os estudos originaram algumas teses de mestrado nos quatro Centros da UENF — disse o professor, lembrando que a Universidade participou ativamente da elaboração do Plano Territorial Sustentável do Norte e Noroeste Fluminense (PTRS) , que aponta todos os investimentos estratégicos para o desenvolvimento sustentável do setor agrário na região.

Segundo Castillo, o programa Territórios da Cidadania tem como objetivo promover o desenvolvimento econômico e universalizar programas  básicos de cidadania por meio de estratégias de desenvolvimento territorial sustentável. Além da UENF, também participam do programa o IFF, a UFRRJ, a UFF, a Emater e a Pesagro, além das Prefeituras da região e organizações civis (ONGs, OSCIPs, associações e cooperativas). No colegiado NF, 25% é formado por associações, outros 25% por ONGs. Os 50% restantes são formados por representantes da agricultura familiar, pescadores artesanais, caiçaras, ribeirinhos, quilombolas, entre outros.

Veja mais informações aqui.

Fúlvia D'Alessandri

domingo, 18 de dezembro de 2011

O que sai das descargas dos carros?

Marcelo Sthel no Laboratório de Ciências Físicas da UENF
Depois de cinco anos estudando o que sai da descarga de veículos movidos a todos os combustíveis (gasolina, álcool, diesel e gás natural veicular), o físico Marcelo Silva Sthel e um grupo de pesquisadores da UENF divulgam os resultados de suas pesquisas. Os estudos confirmam vilões já conhecidos e apontam algumas surpresas.

Há surpresas nos motores a álcool (etanol) e gás natural (GNV). Nos primeiros, a queima do álcool gera gás etileno -  um dos precursores do chamado ozônio troposférico, apontado como um dos causadores do efeito estufa e responsável por danos diretos à saúde humana. Nos motores a gás (GNV), detectou-se a liberação de metano (que é o próprio GNV antes da queima), gás com alto potencial de contribuição para o efeito estufa.  Outra surpresa no GNV é a emissão de óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO) e etileno, embora em quantidades menores do que nos motores a diesel.

A análise dos motores alimentados com gasolina e dos motores a diesel confirmou o que já se sabia. Carros a gasolina são emissores de gases como óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), gás carbônico (CO2) e etileno. Ônibus, caminhões e vans - todos movidos a diesel - emitem óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), gás carbônico (CO2), dióxido de enxofre (SO2) e etileno.

Saiba mais no Informativo da UENF.

Gustavo Smiderle

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Laboratório do aquecimento global

Um grande laboratório de 2,5 mil metros quadrados para medir em tempo real, 24 horas por dia, as reações de diferentes espécies de plantas à elevação na temperatura e ao aumento na concentração de gás carbônico (CO2)no ar livre. Esta experiência, voltada para prever as respostas das plantas ao aquecimento global, está sendo feita numa área da USP em Ribeirão Preto. O professor Hernan Maldonado, do CCTA/UENF, é um dos colaboradores da pesquisa, que tem a coordenação do professor Carlos Alberto Martinez, da USP.

Este observatório climático vai monitorar 24 horas por dia a reação de duas espécies de plantas às variações de temperatura e de concentração de CO2.  Trata-se de uma leguminosa (Stylosanthes guianensis) e de uma gramínea (Panicum maximum). O sistema se chama MiniFace (Free Air Carbon dioxide Enrichment) e que pode ser traduzido por ‘sistema de enriquecimento do ar livre com gás carbônico’.

A ideia é estudar como as plantas se comportam com as alterações climáticas em condições naturais e estudar o limite de uma planta no sequestro de carbono. Também serão estudadas alterações moleculares, bioquímicas, fisiológicas e produtivas das plantas quando expostas a elevados níveis de CO2 e temperatura.

Leia mais no Jornal da USP

Gustavo Smiderle

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Piscicultura ornamental em alta

Betta do tipo  Half Moon
Contemplar peixinhos se mexendo em um aquário pode ser bastante relaxante — há até estudos indicando uma possível relação entre a aquariofilia e a diminuição do nível de estresse. Mas, por detrás deste hobby milenar e dos seus supostos benefícios à saúde, existe um mercado altamente competitivo, impulsionado pelo uso de modernas tecnologias na área de piscicultura.

Com o apoio de pesquisadores da UENF, o produtor de peixes ornamentais Ronaldo Vilela, de Patrocínio de Muriaé (MG), está começando a se inserir neste mercado, que exige peixes de altíssima qualidade e paga muito bem por eles. Ronaldo foi um dos vencedores do Encontro Nacional de Criadores de Bettas (Enabettas 2011), realizado de 24 a 26/11 no Rio de Janeiro. Primeiro lugar nas categorias “HM Iridescente Long Fin” e “HM Não Iridescente Long Fin” e 2º nas categorias “HM Dragon Long Fin” e “HM Butterfly”, o produtor, que até pouco tempo vendia seus peixes por R$ 1 ou R$ 2, agora está vendendo cada exemplar por até R$ 150.

— Isso significa que a tecnologia que temos levado para estes produtores não só vem aumentando os parâmetros zootécnicos como também a qualidade dos peixes. Além disso, nos últimos cinco anos a UENF ministrou diversas palestras e cursos sobre seleção de reprodutores e padrões para julgamento, o que também contribuiu para a conquista dos prêmios — diz o professor Manuel Vazquez Vidal Junior, do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal (LZNA) da UENF, que apoia cerca de 50 produtores de betta no município de Patrocínio de Muriaé. No total, são apoiados cerca de 450 produtores em toda a Zona da Mata Mineira, maior polo de produção de peixes ornamentais.

Manuel observa que um dos que mais vêm atuando junto aos produtores é o aluno de Zootecnia da UENF Allex Trindade Branco, que está prestes a se formar. Uma das tecnologias implementadas pelos pesquisadores da UENF é a da inversão sexual, que permite gerar mais machos que fêmeas (bem menos valorizadas no mercado). Isso só é possível porque os peixes não nascem com o sexo fenotípico definido. Levados a ingerir ração com hormônio metil testosterona, os peixes desenvolvem testículos. Embora a tecnologia seja antiga, não servia para os betta porque estes só conseguem ingerir a ração com 15 a 20 dias de vida, período em que as gônadas femininas já estão em desenvolvimento.

— Desenvolvemos uma ração finíssima que é consumida nos primeiros dias de vida pelos betta e, em maior quantidade, pelos minúsculos animais que servem de alimento natural nas suas fases iniciais de vida: os rotíferos e daphnias. Assim, os betta também podem ingerir o hormônio — explica o professor, lembrando que, naturalmente, o percentual é de 60% de machos. Com a inversão, este índice sobe para 90%.

Fúlvia D'Alessandri

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Irradiação de alimentos

Não é de hoje que a irradiação de alimentos deixa as pessoas apreensivas. Os alimentos que passam por este processo podem interferir na saúde dos consumidores? Como ele funciona? O professor Fábio da Costa Henry, do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF, que orienta uma pesquisa sobre o assunto, nos explica a técnica utilizada e acaba com os boatos que circulam por aí:

— O objetivo dessa tecnologia nada mais é do que preservar os alimentos para que durem mais. Com uma dose controlada de radiação, as bactérias presentes nos alimentos sofrem uma mutação em seu DNA e morrem. Com isso, aumenta o tempo de prateleira dos alimentos.

 Foi o professor Fábio quem deu início às pesquisas com irradiação de alimentos na UENF, com a colaboração da professora Daniela Barros de Oliveira, que também atua no LTA. O foco de suas pesquisas é a irradiação em carnes e derivados. Segundo Fábio, as carnes contêm uma grande quantidade de água e gordura, o que contribui para a formação do ‘ranço oxidativo’, que além de causar a perda de qualidade do alimento pode comprometer a saúde do consumidor. Mas os professores estudam o uso de antioxidantes naturais, que minimizam o efeito negativo da irradiação em carnes e derivados.

 O professor garante que o processo de irradiação não causa a perda de nutrientes. Ele observa que o processo é feito à temperatura ambiente, não alterando, assim, o valor nutricional do alimento.

 — A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) criou uma legislação segundo a qual todos os alimentos que recebem a irradiação, antes de chegarem às prateleiras dos mercados, devem passar por uma análise microbiológica e, depois, uma análise sensorial, na qual são avaliadas as suas condições. Assim, não corremos o risco de comprar alimentos com alterações como gosto amargo ou até a perda de nutrientes — explica Fábio, lembrando que todo alimento irradiado ou que contenha ingredientes que passaram por esse processo deve ter uma identificação no rótulo.        
       
Símbolo de produtos irradiados
 Segundo Fábio, no Estado do Rio de Janeiro só há dois lugares que possuem o equipamento necessário para realizar o processo de irradiação. Um fica no Centro Tecnológico do Exército (Ctex) e o outro na Coppe/UFRJ. As pesquisas também contam com a participação do aluno de doutorado Felipe Roberto Ferreira Amaral do Valle, do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal. O professor Fábio Henry também está envolvido em um Projeto de Extensão no qual serão ministrados cursos para açougueiros e manipuladores, ensinando-os a manipular e conservar melhor as carnes, respeitando as condições de higiene. Com isso, ele procura reduzir o risco de intoxicação alimentar, que muitas vezes é causada pela má conservação e manipulação dos alimentos.

Rafaella Dutra 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Homem, o melhor amigo do cão...


Aluna colaboradora (à esquerda) e Indiara cuidando de um cão.
  Há tempos eles deixaram definitivamente para trás a instabilidade das ruas e fizeram do campus da UENF a sua moradia. Estamos falando de um grupo de oito cães — três fêmeas e cinco machos — que hoje vivem dentro da Universidade, onde recebem comida, carinho e a atenção de estudantes e servidores, além de cuidados médicos indispensáveis não só para a sua própria saúde quanto a do ambiente.

As principais responsáveis por isso são as estudantes Indiara Sales (doutoranda em Ciência Animal, formada em Medicina Veterinária) e Ana Carolina (aluna do curso de Zootecnia). Recentemente, todos os cães foram vacinados, vermifugados e identificados através de coleiras e carteiras de vacinação. Com isso, está afastado qualquer risco de transmissão de zoonoses no âmbito da comunidade universitária.

O trabalho só foi possível devido ao apoio do professor Antônio Peixoto Albernaz, chefe do Laboratório de Clínica e Cirurgia Animal (LCCA) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), que disponibilizou os setores do Laboratório para que fossem efetuadas as medidas sanitárias básicas.

Segundo Indiara, o trabalho junto aos cães começou em 2003, quando ela começou a cursar Medicina Veterinária na UENF. Recentemente, a Prefeitura da UENF exigiu que um professor da área de Medicina Veterinária fizesse o acompanhamento deste trabalho, para evitar a propagação de doenças e a necessidade de encaminhamento dos animais ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campos.

— No entanto, este trabalho começou em 2003, quando comecei a cursar Medicina Veterinária na UENF. Na verdade, estes animais nunca estiveram entregues à própria sorte. Eles são alimentados e as fêmeas, esterilizadas; logo não há reprodução dentro do campus. Além disso, sempre receberam cuidados veterinários — disse.

Mário Sérgio de Souza e Fúlvia D'Alessandri

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Congresso de Humanidades

"Gestão do conhecimento para o desenvolvimento sustentável". Este é o tema do  Congresso Latino-Americano de Humanidades de 2012, que acontece entre os dias 16 e 18 de fevereiro, com a participação da UENF. Em sua décima edição, o congresso será realizado no campus da Universidade de Guanajuato, no México. Três professores da UENF integram o Comitê Internacional: Bianka Pires André (LEEL/CCH), Carlos Henrique Medeiros de Souza (LEEL/CCH) e Sérgio Arruda de Moura (LEEL, diretor do CCH).

O objetivo geral do congresso é oferecer um ambiente de reflexão, discussão, análise e compartilhamento de avanços das pesquisas e da experiência entre os profissionais de diferentes áreas do conhecimento no setor público e demais organizações que queiram melhorar o ensino e a aprendizagem focando o desenvolvimento sustentável na América Latina.

No decorrer do evento serão abordados temas como ‘As redes sociais digitais nos processos educativos’; ‘Experiências educacionais sobre a sustentabilidade: inclusão curricular’ e ‘Educação latino-americana para o desenvolvimento teórico sobre o desenvolvimento sustentável: assuntos, áreas e categorias de análise’.

Outras informações aqui.

Gustavo Smiderle

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Alô, escola pública!

Boa notícia para quem não está na escola apenas para passar tempo:  pesquisadores da UENF estão captando recursos para equipar laboratórios de didática para aulas práticas de ciências e outras disciplinas em diversas escolas públicas de Campos (RJ). Ontem (terça, 06/12/11), foi inaugurado o Laboratório de Didática do Colégio Estadual Dr. Sylvio Bastos Tavares, no Parque Rosário.

Pelo menos quatro outras escolas contam com iniciativas semelhantes: Colégio Estadual Benta Pereira, em Guarus; Ciep Nilo Peçanha, na Lapa; Colégio Dom Otaviano de Abuquerque, em Ururaí; e Escola Municipal José do Patrocínio, na Penha.


Mas não basta montar laboratórios; é preciso que os professores utilizem o espaço com seus alunos. A dica é conferir se na sua escola tem laboratório, se funciona e o que se pode fazer para ele ser melhor aproveitado. 

Saiba mais aqui

Gustavo Smiderle

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

UENF terá Museu de Solos


Amostra de solo sendo retirada
 Em breve, será possível conhecer os principais tipos de solos da região sem sair de casa. O Museu de Solos do Baixo Paraíba do Sul, que está sendo montado na UENF, vai reunir em um mesmo lugar amostras dos solos mais comuns no Norte e Noroeste Fluminenses. O acervo ficará exposto na UENF e também será disponibilizado através da internet, de forma semelhante ao que já acontece no Museu de Solos do Rio Grande do Sul, da Universidade Federal de Santa Maria.

— A ideia é promover a divulgação do conhecimento científico e contribuir para formar na sociedade uma consciência coletiva que reconheça os solos como um componente essencial do ambiente — explica o professor Cláudio Roberto Marciano, que atua no Laboratório de Solos (LSOL) da UENF e coordena o projeto.

Segundo o professor, as amostras de solo (cientificamente conhecidas como “monólitos”) abrangem desde a camada superficial até camadas mais profundas (a um máximo de 1,5 m de profundidade), constituindo o chamado ‘perfil do solo’. A coleta segue normas apropriadas, incluindo um processo de impermeabilização com resina para conferir maior durabilidade ao material.

O projeto conta com o apoio da Faperj e do programa Universidade Aberta (Pró-Reitoria de Extensão da UENF). Até o momento, foram realizados testes de coleta e tratamento dos monólitos. Também foi feita a caracterização detalhada (morfologia, mineralogia, propriedades químicas e físicas etc) dos solos que, em breve, deverão compor o acervo.

Paolla Martinez e Fúlvia D'Alessandri

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Combate aos radicais livres


Fruta-pão
 Há muitos fatores que influenciam a saúde humana, mas um deles, sem dúvida, é a alimentação. Hoje os cientistas sabem que o tipo de dieta tanto pode ocasionar doenças como preveni-las. Neste último caso, encontram-se os alimentos chamados “antioxidantes”, que combatem os radicais livres. Pesquisadores do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF vêm estudando diversos tipos de vegetais com a finalidade de identificar compostos antioxidantes.

A bolsista de Iniciação Científica Mariana Barreto de Souza Arantes, do curso de Agronomia da UENF, estuda as propriedades da fruta-pão, mas, como está no início da pesquisa, ainda não conseguiu identificar os compostos antioxidantes na fruta. O que se sabe, de concreto, é que a fruta-pão contém alto teor de amido, podendo ser uma alternativa à batata e à mandioca. Como se trata de uma árvore, não exige grandes espaços para o cultivo, sendo perfeita para o consórcio com pastagens.

Segundo Mariana, que tem a orientação da professora Daniela Barros de Oliveira (LTA/UENF), os alimentos que contêm compostos antioxidantes previnem o envelhecimento celular ocasionado pela presença de radicais livres.

— O radical livre é uma molécula com um elétron desemparelhado que pode se unir a outras substâncias do organismo, causando problemas. Ele é precursor de câncer e doenças inflamatórias. O alimento antioxidante sequestra o radical livre, servindo de proteção — explica Mariana, lembrando que no Laboratório há também pesquisas, com a mesma finalidade, direcionadas para a graviola, a aroeira, a abóbora e o mandacaru.

Fúlvia D'Alessandri

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Mulheres e cidadania


Olympe de Gouges

As novas gerações talvez nem se deem conta do quanto as mulheres ampliaram seus espaços nas últimas décadas. Consideradas inferiores aos homens, durante muito tempo as mulheres sequer eram consideradas “cidadãs”, conforme explicou a professora Marinete dos Santos Silva em sua palestra “Mulheres e cidadania: uma reflexão”, ocorrida no âmbito do I Simpósio de Neurociências da UENF (21 a 23/11).

— No século XVIII, as mulheres não eram consideradas cidadãs e por isso não podiam intervir em assuntos políticos. Acreditava-se que as condições biológicas das mulheres as impediam de exercer funções que não fossem cuidar da casa e seguir a religião, o que mantinha a imagem de sóbrias e reservadas. Além disso, sofriam com a autoridade dos homens — disse Marinete.

A professora, que atua no Laboratório de Estudo da Sociedade Civil e do Estado (LESCE) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF, lembrou que, em 1791, a feminista revolucionária Olympe de Gouges escreveu a Declaração dos  Direitos das Mulheres e da Cidadã. Depois escreveu uma peça que não foi "bem vista" pelos jacobinos, e por tal "ousadia", foi guilhotinada em 1793.

Segundo Marinete, somente no início do século XIX as mulheres ganharam espaço no mercado de trabalho, para que pudessem ajudar nas despesas da casa. No entanto, ainda se discutia se elas podiam ou não ser consideradas cidadãs. Em 1869, o filósofo John Stuart Mill escreveu que as mulheres representavam metade da população e deveriam ter o direito de votar, uma vez que as políticas públicas também as afetavam. Stuart apoiava mudanças que permitiriam às mulheres trabalhar fora de casa, ganhando independência e estabilidade financeira.

— Só a partir do século XX começaram a aparecer os primeiros sinais de “vitória”. Mas até hoje as mulheres continuam ganhando menos em empresas privadas e não são bem vistas na política. As mulheres continuam sendo consideradas  donas de casa, mães e esposas  antes de serem vistas como profissionais e trabalhadoras — afirma Marinete.

Rafaella Dutra e Fúlvia D'Alessandri

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Saguis fora de lugar


Sagui da espécie Callithrix jacchus: bonitinho, mas perigoso.
Você recebe um sagui de presente e, com pena do bichinho, solta na mata mais próxima pensando estar prestando um serviço à natureza. Errado: em vez de ajudar o ambiente, você pode estar prejudicando a preservação do mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), ameaçado de extinção.

É o que mostram estudos desenvolvidos há mais de dez anos pela UENF em parceria com a Associação Mico-Leão-Dourado. O líder das pesquisas é o professor Carlos Ruiz-Miranda, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA/UENF). Uma síntese de todos estes anos de pesquisa está em um artigo publicado pela revista Ciência Hoje de julho de 2011.

Os estudos, iniciados em 1998, têm como cenário a Área de Proteção Ambiental (APA) da bacia do rio São João, que abrange os municípios de Silva Jardim, Casimiro de Abreu e Rio Bonito. É lá que os saguis e os micos-leões-dourados ocorrem em maior concentração.

Segundo o pós-doutorando Márcio Marcelo de Morais Júnior, um dos coautores do artigo, a introdução clandestina de saguis das espécies Callithrix jacchus e Callithrix penicillata pode gerar competição com os micos-leões, além de introduzir doenças. A tese de doutorado de Márcio aborda este tema.

Clique aqui se você quiser saber mais sobre o assunto.

Mário Sérgio de Souza, Gustavo Smiderle

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Golfinhos que ajudam pescadores

Foto de Lilian Sander Hoffman
Golfinhos são animais extremamente dóceis e inteligentes, que adoram fazer piruetas na água para chamar a atenção. Essa é a imagem que a maioria das pessoas tem dos golfinhos, popularizada, em grande parte, pela série de TV Fliper, produzida nos Estados Unidos na década de 1960. Mas não é assim que todo mundo vê estes animais. Para os pescadores artesanais, por exemplo, a imagem do golfinho tanto pode ser positiva quanto negativa, dependendo do local onde se encontram.

No litoral sul do Brasil, os golfinhos da espécie Tursiops truncatus (Montagu, 1821), popularmente conhecidos por golfinhos nariz-de-garrafa (foto), são considerados verdadeiros aliados para os pescadores, enquanto no Rio de Janeiro a sua presença é vista como um obstáculo para a captura de peixes. Os dados estão na tese de doutorado da bióloga Camilah Antunes Zappes pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UENF.

A interação positiva entre pescadores e golfinhos existe principalmente em Barra de Imbé/Tramandaí (RS). Ali, existe a chamada “pesca cooperativa”, na qual os golfinhos auxiliam os pescadores encurralando os cardumes de tainha até a praia. Nestes locais, já é costume entre os pescadores observar o comportamento dos golfinhos e só iniciar a pesca quando eles fazem a chamada “batida de cabeça”, contribuindo assim para a conservação da espécie. Já em outros locais, como o Arquipélago das Cagarras (RJ), por exemplo, os golfinhos são vistos como ‘competidores”. Muitas vezes, eles ficam presos acidentalmente nas redes de espera, pois não percebem o artefato submerso, já que não existe a intenção dos pescadores em capturá-los.

A pesquisa, realizada no litoral brasileiro e uruguaio, também teve por objetivo descrever e interpretar o conhecimento dos pescadores artesanais em relação ao golfinho nariz-de-garrafa e obter informações sobre a ecologia da espécie. O trabalho foi orientado pela professora Ana Paula Madeira Di Beneditto, do Laboratório de Ciências Ambientais da UENF, com coorientação do professor Artur Andriolo, do Laboratório de Ecologia Comportamental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Se você quiser saber mais, leia o artigo sobre a pesca cooperativa no Rio Grande do Sul. Camilah também está à disposição através do email camilahaz@yahoo.com.br

Fúlvia D'Alessandri

Desafios da energia nuclear

Usina nuclear em Angra dos Reis (RJ)
Não é só o risco de acidentes trágicos que paira negativamente sobre a produção de energia nuclear — como o ocorrido em Fukushima em março deste ano. Uma questão prática, porém crucial para o equilíbrio ambiental, ainda não foi resolvida: onde colocar o lixo nuclear? Esta é uma das questões que o Grupo de Divulgação do PIBID-Física ‘A nova face da energia nuclear’ procura levar à sociedade.

— Até hoje não foi encontrada uma solução ambientalmente correta para despejar o lixo nuclear. Com isso, ele continua sendo depositado em grandes galpões, desertos ou até mesmo no fundo dos oceanos, sendo um risco ao ambiente — diz o aluno Thiago Serafim, que participa do Grupo ao lado dos colegas Vinícius Guimarães e Júlio César Faria, sob a coordenação da professora Marília Paixão Linhares, do Laboratório de Ciências Físicas da UENF (LCFIS).

O tema foi apresentado durante o Evento Unificado das Licenciaturas da UENF, ocorrido em 09/11, no Centro de Convenções, no âmbito da III Semana Acadêmica Unificada da UENF. Também foi abordado em uma oficina realizada recentemente pelo Grupo no Colégio João Pessoa, em Campos dos Goytacazes (RJ). Segundo Thiago, uma grande preocupação, no momento é que sejam reprimidos ou cancelados os estudos sobre o uso da energia nuclear, tendência reforçada com o desastre de Fukushima. Outra questão que também gera desconfiança em relação à energia nuclear é o fato de ela utilizar em sua produção o mesmo material necessário na fabricação de armas nucleares: o plutônio.

Thiago considera impossível ignorar os riscos da energia nuclear, mas lembra que, como tudo na vida, existem os prós e os contras. Seu custo, por exemplo, é menor do que o da energia produzida em termoelétricas. Além disso, a produção de energia nuclear não necessita de agentes externos, como sol, vento ou grandes áreas de construção, como ocorre com as energias solar, eólica e hidroelétrica.

— Para manter o atual padrão de vida no mundo, é necessário achar novas fontes de energia. Nosso grupo tem por objetivo divulgar informações que possam ajudar as pessoas a opinar e decidir sobre questões que afetam suas vidas — afirma Thiago.


Rafaella Dutra, Lys de Miranda, Victor Mathias e Fúlvia D'Alessandri




'Não vejo o futuro sem energia nuclear'

Veja aqui a entrevista com David Cahen, chefe do Departamento de Energia Alternativa do Instituto Weizman de Israel, concedida ao Jornal O Estado de São Paulo.

Espaço para a divulgação científica


Espaço da Ciência (Foto: Éder Souza)
 A preservação das diversas espécies de animais é um dos objetivos dos biólogos. Mas o que fazer quando alguns deles são encontrados já sem vida? Uma visita ao Espaço da Ciência da UENF mostra que os animais podem ser úteis até depois de mortos. Ali, cerca de 200 animais empalhados — ou “taxidermizados”, como preferem os cientistas — ajudam a contar a própria história para estudantes, em sua maioria de ensino fundamental e médio.

— A maioria do acervo é composta por animais mortos devido a atropelamentos, ou ainda em virtude de maus tratos. O acervo exposto está autorizado pelo Ibama para exposição didática — diz o professor Ronaldo Novelli, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF, que coordena o Espaço da Ciência. O local abriga ainda cerca de 500 animais conservados em formol, além de 2 mil animais marinhos coletados pelo próprio Novelli, que também é mergulhador.

Oito estagiários são os responsáveis por recepcionar os visitantes, que ficam sabendo tudo sobre a vida e os costumes dos animais, bem como sobre todo o processo de taxidermização. Eles também são os responsáveis pela reprodução dos filmes sobre a Natureza fluminense que são exibidos na sala de cinema da UENF.

— O objetivo do Espaço da Ciência é divulgar a ciência de forma lúdica e educativa. Futuramente, contaremos também com uma sala de cinema 3D — diz Novelli. Nos últimos dois anos — após mudança para o campus da UENF — o Espaço da Ciência já recebeu cerca de 5 mil visitantes, provenientes de várias escolas de ensino fundamental e médio de Campos e também de outras cidades do Norte e Noroeste Fluminense, como São Fidélis, Macaé e São João da Barra.

Reaberto em 2009, com o apoio da Reitoria da UENF e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) — que investiu R$ 23 mil no projeto —, o Espaço da Ciência ocupa uma área de 300 m2 dentro do campus da UENF, próximo ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA). De 1999 a 2004, o Espaço funcionou fora da UENF, em uma área na Avenida Alberto Lamego. Na época, registrou a presença de mais de 50 mil visitantes. As visitas, que devem ter no máximo 70 alunos por escola, devem ser marcadas previamente pelo telefone (22) 2739-7275, às segundas e terças-feiras, das 8h às 18h.


Éder Souza
Fúlvia D'Alessandri
           

Qual o fôlego da agricultura familiar?

Assentados vendem seus produtos na Feirinha 
Agroecológica da UENF,  toda terça, pela manhã 
(foto Alexsandro Azevedo - ASCOM UENF)
O que gera mais benefícios: o grande agronegócio ou a agricultura familiar? A agrônoma Fernanda Fernandes resolveu pesquisar o assunto em sua monografia de final de curso na UENF. Eis alguns dados: a agricultura familiar gera em torno de 75% da ocupação no setor rural (12,3 milhões de pessoas) e 38% da produção agrícola brasileira (R$ 54,4 bilhões).

Embora a agricultura familiar movimente 84,4% dos estabelecimentos agropecuários, eles juntos ocupam apenas 24,3% das terras agricultáveis do país. Os dados são do Censo Agropecuário de 2006.

O estudo também aponta ‘sérios desafios’ para o fortalecimento deste tipo de cultivo. Entre eles, uma ampla reforma agrária, políticas de preços e de crédito rural, melhoria das estradas e armazenamento dos produtos.

A monografia, que tem como título ‘Agricultura familiar e desenvolvimento sustentável’, foi orientada pelo professor Paulo Marcelo de Souza, do Laboratório de Engenharia Agrícola da UENF. Veja o que Fernanda diz sobre o tema, que tem forte componente político:

– A sustentabilidade será alcançada quando a sociedade escolher o fortalecimento e o desenvolvimento da agricultura familiar através de um programa de políticas públicas que visem à redução dos problemas sociais, associado a políticas agrícolas, industriais e agrárias de curto, médio e longo prazo.

Gustavo Smiderle

Famílias contemporâneas: quantas voltas o mundo dá!

O livro foi lançado em BH e em Campos
Tese de doutorado de Daniela Bogado Bastos de Oliveira, a segunda concluída no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UENF, em 28/04/11, acaba de ser publicada como livro. A obra, ‘Famílias contemporâneas: as voltas que o mundo dá e o reconhecimento jurídico da homoparentalidade’, sai pela editora Juruá.

O lançamento nacional ocorreu dia 14/11, em Belo Horizonte (MG), durante o VIII Congresso Brasileiro de Direito de Família, realizado pelo IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família).  Em Campos (RJ), o livro foi lançado na semana seguinte, em 21/11, no salão do júri do Fórum Teresa Gusmão de Andrade.

À luz da teoria de gênero, o livro aborda a questão das famílias homoparentais, formadas por homossexuais com filhos e apontadas como novo paradigma de família pós-convencional. Aborda ainda as sentenças e acórdãos relativos à adoção de filhos por casais homoafetivos.

Gustavo Smiderle

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Campos submersa


Há 10 mil anos, tudo era água entre o litoral atual e a Serra do Imbé

Se fosse possível entrar em uma espécie de “tunel do tempo” e regredir até 10 mil anos atrás, grande parte dos campistas precisaria de um barco para se locomover. E os sanjoanenses, coitados, assim como os quissamãenses, jamais encontrariam vestígios de suas cidades. Pode parecer estranho, mas — acredite — houve um tempo em que a água do mar encobria praticamente tudo que existe hoje entre a Serra do Imbé e o litoral da região.

Para entender essa história é preciso regredir ainda mais no tempo. Tudo começou há cerca de 200 milhões de anos, quando a separação dos continentes sul-americano e africano — que até então formavam o super-continente denominado “Pangea” — deu origem ao oceano Atlântico. Com a separação, as rochas da região se soergueram, formando as cadeias de montanhas que hoje existem paralelas ao litoral brasileiro.

“Nessa época, o mar chegava até as montanhas. Mas, aos poucos, as chuvas foram originando um sistema de drenagem. Os rios transportavam os materiais erodidos das serras e dos tabuleiros da região e os depositavam nas partes baixas do novo relevo. E assim foi sendo crianda a Bacia Sedimentar de Campos, que na parte marinha deu origem ao petróleo e, na parte continental, originou os depósitos de argila”, explica a geóloga Maria da Glória Alves, pesquisadora do Laboratório de Engenharia Civil (LECIV) da UENF.

Primeiro, formou-se uma estreita faixa de terra — denominada “Formação Barreiras” — proveniente dos sedimentos trazidos das partes altas do continente pelos rios e canais. Um destes rios era o Paraíba, cuja formação data de 1,8 milhões de anos atrás. Naquela época, a planície ainda não estava formada, e o Paraíba desaguava no mar muito antes do local onde viria a existir a cidade de Campos.

O processo de evolução do Rio Paraíba divide as opiniões dos cientistas. Para o geólogo campista Alberto Ribeiro Lamego, os sedimentos trazidos pelo Paraíba foram formando uma faixa de terra perpendicular ao continente, criando dois golfos — o Golfo de Campos e o Golfo da Lagoa Feia. (Veja mapas). Segundo ele, há cerca de 10 mil anos, o Paraíba invadiu a baixada, indo desembocar na “laguna” de São Thomé. Geólogos modernos, no entanto, se contrapõem a esta teoria, por acreditarem que o rio não teria força suficiente para chegar tão longe, tendo que “brigar” com o mar. Para eles, foi preciso que o mar descesse para que o Paraíba pudesse, enfim, traçar sua trajetória.

Segundo Surguiu, por volta de 5.100 anos atrás, teria ocorrido o evento denominado “última transgressão marinha”. Até então, o mar ora subia, ora descia, mas depois deste evento, o mar nunca mais subiu. Com a descida do mar, formaram-se barras arenosas, criando no meio uma região protegida, de águas calmas, na qual o Paraíba ía depositando seus sedimentos. Sem o mar para brigar com ele, finalmente o Paraíba pôde seguir seu caminho. Movimentos tectônicos, ocorridos posteriormente, produziram um desvio de quase 90 graus em seu percurso, fazendo com que o rio passasse a desembocar em Atafona.

“Nos últimos 5 a 6 mil anos, formou-se a planície de inundação do Paraíba e, consequentemente, os depósitos de argila da região. A Lagoa Feia foi o que sobrou dessa história: ela é o resto do que não foi preenchido por sedimentos. Mas, no início, ela era cerca de 5 a 6 vezes maior do que é hoje. Tudo era água chegando até Campos”, diz Maria da Glória.

Fúlvia D'Alessandri
Fonte: Descomplicando a Ciência, pág. 86/87

quarta-feira, 30 de março de 2011

Pesquisas com animais: necessidade com responsabilidade

Clóvis de Paula Santos*

Você já parou para pensar como são produzidos os medicamentos ou equipamentos usados em hospitais ou clínicas no diagnóstico ou tratamento de inúmeras doenças? Se ainda não, é importante saber que, em alguma etapa do seu método de desenvolvimento, houve a utilização de animais, quer seja diretamente na pesquisa, ou para se avaliar a qualidade do produto a ser utilizado.

O uso de animais para fins científicos é uma prática adotada há séculos. Há registros que antecedem a Jesus Cristo, como o do filosófo grego Aristóteles (384 - 322 a.c.), que em seus estudos estabelecia semelhanças e diferenças funcionais e de conformação entre órgãos de animais e de seres humanos. Desde este momento inicial, com caráter mais descritivo, é notória a evolução das pesquisas utilizando animais. Hoje se reconhece que, sem isso, não teria sido possível chegarmos a todo o conhecimento dos mecanismos dos processos vitais, bem como ao aperfeiçoamento dos métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças existentes e daquelas que irão surgir — tanto na medicina humana quanto na veterinária.

Um bom exemplo do quanto este conhecimento nos ajuda em nosso dia a dia — sem que muitas vezes nos demos conta — são as doenças cardiovasculares, que afetam milhões de pessoas no mundo inteiro. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, este grupo de doenças — que inclui o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC) — está entre as principais causas de óbito.

Pois bem, muito provavelmente você já ouviu falar em eletrocardiograma, cateter, angiograma, desfribrilador etc. Estas são algumas das metodologias de diagnóstico para avaliar o estado de funcionamento do coração ou sua recuperação e foram desenvolvidos tendo-se como base estudos, sobretudo em cães.

Outro exemplo é o tratamento do câncer. Para se ter uma ideia, na década de 1930, para cada cinco vitimas da doença, menos de uma tinha sobrevida de cinco anos. Hoje em dia quase metade das pessoas diagnosticadas sobrevive mais de cinco anos e, em muitos casos, nunca mais a doença reaparece. As galinhas foram um dos primeiros modelos para se explicar como o câncer cresce e se espalha. O uso de quimioterapia, radiação e cirurgia, que são métodos de tratamento, foram desenvolvidos sobretudo em camundongos, ratos, cães, macacos, dentre outros animais. As vacinas ou medicamentos que utilizamos são também outro bom exemplo. Antes que possam ser comercializados, tais produtos devem obrigatoriamente ter sua qualidade testada em animais. Portanto, devemos reconhecer que os animais foram e continuam sendo muito importantes para o desenvolvimento científico na área de medicina.

Para evitar o uso de animais de maneira indiscriminada e sem critérios éticos, existem hoje regras a serem seguidas, mas nem sempre foi assim. Durante muito tempo, existiu a visão de que não deveríamos ter nenhuma preocupação moral a respeito do uso dos animais em experiências científicas. Contudo, esta concepção vendo sendo alterada principalmente a partir do século 18. Algo extremamente relevante em relação aos aspectos éticos da experimentação são os princípios propostos por dois cientistas, Russel e Burch, em 1959. Segundo eles, o caminho da investigação cientifica deve se basear em três “R”: Replacement (substituição), Reduction (redução) e Refinement (refinamento). Ou seja, sempre que for possível, deve haver a substituição de animais por sistemas não sensíveis, tais como cultura de tecidos ou uso de plantas. A redução do uso de animais poderia ser conseguida pelo uso de experimentos bem desenhados e métodos estatísticos apropriados. Os procedimentos experimentais poderiam ser melhorados pelo refinamento dos métodos usados, tais como o uso de procedimentos menos estressantes ou animais mais baixos na escala evolutiva.

Além de critérios éticos, o uso de animais na ciência esta sujeito a questões legislativas. A Inglaterra foi um dos países pioneiros a criar e aperfeiçoar as leis regulando o uso de animais. Hoje em dia grande parte dos países tem a preocupação de regulamentar o uso de animais criados para experimentação e possui legislação semelhante à inglesa.

Recentemente o Brasil pôde enfim ter uma lei federal estabelecendo procedimentos de conduta para o uso científico de animais. A lei 11.794, de 08 de outubro de 2008, também denominada Lei Arouca, em homenagem ao falecido deputado Sérgio Arouca, foi regulamentada em julho do ano passado através do decreto 6.899/09. Estão previstas nesta legislação a criação, composição e funcionamento de um órgão em nível federal ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, já funcionando, denominado Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea). A criação ou utilização de animais para pesquisa ficarão restritas, exclusivamente, às instituições credenciadas junto ao devido conselho, ficando o credenciamento dependente da criação prévia de uma Comissão de ética no uso de animais (Ceua). Além disto, estão sujeitas a penalidades como advertência, multa, suspensão, interdição temporária e definitiva aquelas instituições ou pessoas que transgredirem atividades reguladas nestas leis.

Muitas instituições há anos antecederam a regulação da Lei Arouca e já contam com os comitês de éticas institucionais. Na UENF a Ceua foi instituída em 2002. Nestes oito anos de funcionamento, 124 projetos foram submetidos e, deste total, 99 foram avaliados, 16 estão em avaliação e oito foram cancelados. Dos avaliados, cinco caducaram, um foi reprovado e os demais foram aprovados. Os projetos abrangem diversas áreas, como Anestesiologia, Bem-Estar Animal, Cirurgia: Transplante, Aperfeiçoamento de Metodologias, Comportamento Animal, Farmacologia, Imunologia/Diagnóstico, Morfologia/Anatomia, Parasitologia, Parasitologia/Bioquímica, Parasitologia/imunologia, Reprodução, Terapia Celular, Nutrição, Virologia, Biologia Molecular e Patologia Clínica.

Embora já com este tempo de funcionamento, a maioria (80%) destes processos vem tramitando de 2008 para cá. Recentemente, recebemos apoio da FAPERJ. Com isto será possível adquirir e mobiliar um espaço cedido pela Reitoria e contratar serviço para desenvolvimento de base de dados e interface para gestão de projetos sob deliberação da Ceua. Desta maneira acreditamos que a comissão estará melhor estruturada para um pleno funcionamento.

(Artigo publicado na Revista Nossa UENF, nº 02, agosto/setembro de 2010)

* Professor e pesquisador do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual (LBCT) da UENF e presidente da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da UENF.


Convivendo com o inimigo - Coevolução entre patógenos e humanos

Andrea C. Vetö Arnholdt*

Staphylococcus
Temos a tendência a achar que a ciência e a tecnologia, no formato em que se encontram agora ou em que se encontrarão em 20 anos, poderão resolver a maior parte dos problemas de saúde enfrentados pela humanidade, particularmente aqueles ligados a doenças causadas por micro-organismos patogênicos. No entanto, vários destes organismos, chamados aqui de parasitas ou patógenos, convivem com a espécie humana há pelo menos quatro milhões de anos, desde o paleolítico. Naquele período as populações humanas eram pequenas, viviam dispersas, e eram caçadoras-coletoras. Contudo, já carregavam consigo parasitas que coevoluiram com seus ancestrais pré-hominídeos tais como o piolho (Pediculus humanus), os helmintos Enterobius vermicularis e Trichuris trichiura (causadores da oxiurose e tricuriose, respectivamente, parasitoses do cólon terminal, reto e intestino grosso). Ascaris lumbricoides e Ancylostoma duodenale são também helmintos que coevoluíram com nossos ancestrais.

O parasita unicelular causador da malária (Plasmodium falciparum), juntamente com outros protozoários intracelulares como Trypanosoma gambiense (causador da doença do sono) e as bactérias Salmonella enterica (diarreia), Salmonella thyphimurium (febre tifoide), Staphylococcus epidermis ou saprophyticus (relacionados a piodermatite e infecções do trato urinário feminino, respectivamente), também parecem ser herança dos pré-hominídeos, embora sua comprovação requeira estudos moleculares mais aprofundados. Existe uma parte da parasitologia dedicada à identificação destas relações, chamada Paleoparasitologia, que é extremamente interessante e na qual o Brasil se destaca em estudos realizados na Fiocruz e na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp).

Com o domínio da agricultura no Neolítico, houve uma mudança nos hábitos alimentares e de deslocamento, tornando as populações sedentárias e paradoxalmente, em termos nutricionais, mais pobres, em decorrência da falta de diversidade de sementes e caça que antes era encontrada durante o deslocamento de uma dada tribo.  Estes assentamentos trouxeram maior proximidade entre os seres humanos e animais. Progressivamente, problemas ligados às condições sanitárias destas comunidades passaram a se acumular. Surgem nesse período as zoonoses, causadas por micro-organismos que têm como hospedeiros (alvos) primários animais e apenas eventualmente infectam humanos. Estes podem ser infectados através de picadas de inseto, ingestão de carne de animais contaminada ou através da contaminação de mordidas infligidas por outros animais. Estão entre as zoonoses que atingiram as populações agrícolas durante o estabelecimento das primeiras cidades no velho mundo a fasciolose (Fasciola hepatica, transmitida pelo porco, pela cabra); a “tênia do peixe” Diphyllobothrium latum; Taenia sp (transmitida pelo boi ou pelo porco); entre muitas outras. Diversas infecções bacterianas se propagaram na espécie humana quando da domesticação de animais para a produção, tais como brucelose, antrax, tuberculose. Estas práticas iniciais da agroprodução já geravam surtos de expansão de mosquitos como o Anopheles gambie, transmissor da malária, em função do desequilíbrio causado pelas queimadas para a colheita e pela geração de reservatórios de água parada.

O desenvolvimento de centros urbanos trouxe o agravamento dos problemas sanitários e de abastecimento de água, e com eles surtos de cólera, de tifo, da peste negra, doenças de origem bacteriana. Doenças virais, antes raras, passaram a circular na população, dada a concentração de indivíduos em grandes populações (acima de um número mínimo de indivíduos para a manutenção da doença em termos transmissionais), tais como sarampo, caxumba, catapora, e a varíola. Esta última foi a primeira doença completamente eliminada em sua transmissão endêmica através de campanhas de vacinação. O último caso relatado foi no Sudão, África, em 1977.

O exemplo do vírus do sarampo é bastante ilustrativo para entendermos como estes patógenos, originalmente encontrados em animais domésticos, podem se diferenciar e se tornar característicos da espécie humana. Pesquisas recentes sugerem que este vírus, do gênero Morbillivirus, teve os primeiros surtos epidêmicos datados dos séculos 11 e 12. Análises genéticas e antigênicas mostram que este vírus, chamado aqui de MeV, é muito semelhante ao vírus da peste bovina (chamado de RPV), e o convívio em proximidade entre humanos e bovinos foi o promotor da sua adaptação ao homem. Na arquitetura pré-medieval e medieval, não raro havia nichos internos nas casas para o os animais, já que estábulos eram encontrados apenas nas propriedades mais abastadas. Graças ao avanço das tecnologias de sequenciamento gênico e das análises em bancos de dados através de diferentes plataformas e softwares, é possível fazermos uma regressão evolutiva, chamada de “molecular clock analysis”, que, baseada nos padrões fenotípicos de amostras virais coletadas em diferentes períodos, ou de diferentes vírus, é capaz de converter a distância genética em tempo. Assim, pode-se chegar ao “período do ancestral comum mais recente” (TMRCA) estimado para o vírus do sarampo circulante hoje, que data aproximadamente de 1943. Com esta técnica, foi estimado que os vírus MeV e RPV divergiram entre os anos de 1074-1171. Contudo, não é eliminada a hipótese de que tenha havido um ancestral comum, que tenha então originado o vírus humano e o bovino.

Nestes muitos anos de coevolução, micro-organismos também serviram e servem como reguladores do sucesso da espécie humana. Alguns pensadores argumentam que indivíduos debilitados de alguma maneira são mais susceptíveis a infecções, e que sua eliminação seria parte do processo de manutenção de um estoque genético saudável. Dessa forma, o ser humano adapta o seu sistema imunológico à eliminação do patógeno. Há, porém, exemplos de patógenos extremamente bem sucedidos evolutivamente, como o Toxoplasma gondii. Este parasita intracelular infecta o hospedeiro, levando a princípio danos controlados a este, mantendo-se no indivíduo após o período inicial de infecção aguda, em uma relação de equilíbrio parasita-hospedeiro. Através de diversas estratégias de escape do sistema imunológico, o T. gondii se mantém na população, sem destruí-la. Existe uma corrente de pensamento que atribui à eliminação de diversos helmintos em populações humanas dos países desenvolvidos o aumento de doenças crônico-degenerativas de cunho imunológico, como as doenças de Crohn e a esclerose múltipla. Modelos experimentais de indução destas doenças em camundongos mostram que a administração de ovos de helmintos leva a uma diminuição da severidade das reações autoimunes causadoras destas patologias.  Sendo assim, será que poderíamos considerar alguns dos patógenos que coevoluiram com os hominídeos primitivos, e que são presentes até hoje na espécie humana, como nossos simbiontes?

As epidemias e pandemias

O aumento da mobilidade das populações humanas, o estabelecimento de rotas comerciais, a revolução industrial e as grandes guerras foram os principais responsáveis pela disseminação de bactérias e vírus em escalas pandêmicas, isto é, com características de epidemias que atingem um ou mais continentes. O melhor exemplo de pandemia são as infecções pelo vírus Influenza, causador da gripe. Apesar de os primeiros relatos de pandemias de gripe datarem de 1889 com a gripe asiática (Influenza subtipo H2N8), e de 1918 (Influenza subtipo H1N1) com a gripe espanhola (a mais conhecida, com um saldo de mortes de aproximadamente 50 milhões de pessoas), há evidências históricas de que o vírus é responsável por surtos epidêmicos desde a Idade Média. A mais recente pandemia foi a de 2009, quando o H1N1 se espalhou por todos os continentes, tendo origem no México. Porém, mesmo com milhões de casos reportados, apenas 16.813 mortes foram oficialmente documentadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O vírus Influenza é um vírus capaz de manter-se tanto em populações humanas quanto em populações animais. Na verdade, a “gripe suína” é uma herança da diferenciação da forma humana do vírus H1N1, que no início do século 20 saltou do homem para o porco, dando origem a duas linhagens de H1N1, uma humana e uma suína. O vírus H1N1 humano continuou circulando após a pandemia de 1918, e em 2009 atingiu escalas pandêmicas novamente.

Já a gripe aviária, causada pelo vírus Influenza subtipo H5N1, parece ter tido sua origem através da mistura dos genes do vírus humano e do vírus aviário. As aves, especialmente as aves aquáticas selvagens, são reservatórios de todos os subtipos de Influenza já identificados. O surto de gripe aviária teve origem na China, e até o presente se espalhou por 60 países causando cerca de 280 mortes. Porém, o vírus continua circulando em aves, tanto selvagens quanto de cativeiro, podendo transmitir-se para mamíferos, contaminando ocasionalmente alguns indivíduos. Mas não é transmitida ainda de humano para humano, o que o mantém sob controle. No entanto, os virologistas ainda não têm claro como se dão estes saltos de animais para humanos, e como o vírus se adapta para escapar da resposta imunológica do hospedeiro humano. Vários são os grupos que se dedicam a estes estudos, com o intuito de prever ou pelo menos minimizar os efeitos de uma pandemia eventualmente causada pelo H5N1.

O vírus HIV também é resultado de um salto entre espécies. Estudos realizados em Los Alamos, no Novo México, utilizando supercomputadores para a análise de mais de 160 subtipos de HIV do início dos anos 2000, mostram que dez dos onze subtipos M de HIV são oriundos de um único ancestral comum, num padrão característico de adaptação de uma espécie para outra. Estes estudos datam esta divergência entre 1910 e 1930. Porém, de que modo o vírus saltou dos chimpanzés para o homem não é inteiramente sabido ainda. Existem sugestões de que o desmatamento de regiões de floresta para dar lugar a fazendas, o hábito de aprisionar, de vender animais empalhados e até de comê-los são condições favoráveis para esta adaptação de uma espécie para a outra.

A tecnologia a favor do patógeno

Nas últimas décadas, temos presenciado o surgimento e ressurgimento de patógenos que, graças ao uso indiscriminado de antibióticos, apresentam características de resistência a múltiplas drogas. Existem cepas de Mycobacterium tuberculosis , bacilo causador da tuberculose, caracterizadas como resistentes a drogas de primeira linha, rifampicina e isoniazida, as MDRs e cepas resistentes a drogas de segunda linha como etambutol e piraziamida, conhecidas como XDR (extremamente resistentes). O tratamento para a tuberculose é um tratamento lento, de seis meses ininterruptos de administração diária de doses controladas de medicamento. Infelizmente, após algumas semanas de tratamento, o paciente sente uma melhora considerável e abandona o tratamento sem que tenham sido eliminadas todas as bactérias. Este comportamento favorece o crescimento das bactérias que sobreviveram à administração do antibiótico, ou seja, as resistentes. Estas bactérias resistentes àquele determinado antibiótico permanecem no indivíduo e contaminam outros indivíduos que, ao utilizarem aquele antibiótico, não serão capazes de eliminar estas micobactérias.  São estimados meio milhão de casos de MDR e XDR em cerca de 46 países em todo o mundo. No entanto, presume-se que estes números sejam subestimados, uma vez que são necessárias ferramentas de diagnóstico molecular disponíveis para a correta identificação do bacilo resistente.

O mais recente caso de resistência a antibióticos está sendo noticiado neste momento: a superbactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase). É uma cepa modificada de K. pneumoniae que apresenta uma enzima em um plasmídio, uma beta-lactamase capaz de hidrolisar derivados carbapenêmicos. Estes plasmídios são transferidos de geração para geração de bactérias, e hoje já são observados em Israel, China, Taiwan, Grécia, Estados Unidos e, mais recentemente, no Brasil. Alguns isolados de K. pneumoniae da Grécia são resistentes a todos os -lactâmicos e combinações de inibidores de -lactamases (ampicilina, ampicilina/sulbactam, amoxicilina/acido clavulânico, cefalosporina, piperaciclina, ciprofloxacina, entre outros).

A saúde (ou a doença) globalizada

Estes exemplos mostram que a evolução da ciência nas últimas décadas é capaz de esclarecer muitos detalhes sobre a evolução da relação patógeno-hospedeiro. É capaz de desenvolver ferramentas de diagnóstico precisas e medicamentos capazes de conter a disseminação de vários dos micro-organismos que são problemas de saúde pública. Porém, falhas no sistema de saúde, promovendo o uso indiscriminado de antibióticos, e mais grave ainda, a falta de acesso igualitário à saúde em um mundo globalizado contribuem para a permanência destes patógenos nas populações humanas e em seus reservatórios. O último relatório da OMS sobre os fatores de risco globais para a saúde estima que dois milhões de crianças com idade inferior a cinco anos morrem por ano em consequência da má nutrição e da falta de acesso à água tratada. Obviamente que tais condições são principalmente observadas em países de baixa renda, fazendo com que, dos 17% das mortes por diarreia no mundo, 73% delas aconteçam nestes países. Para as mortes por sarampo, doença para a qual existe uma vacina extremamente eficaz, dos 4% mundiais, 47% dos casos de morte ocorrem em países de baixa renda, onde a cobertura vacinal é de apenas 60% da população. Aliado a estes índices, está a distribuição precária de medicamentos na rede pública, que atende a apenas 44% da população.

Outro estudo da OMS mostra que, em cenários de mudança climática tendendo à estabilização da emissão de CO2 em 750ppm, os custos do tratamento de doenças como a diarreia e a malária chegarão, em 2030, a 4-12 bilhões de dólares. Isto é aproximadamente o gasto de todo o mundo em assistência médica. É necessário que os governos entendam a saúde sob a perspectiva global de adaptação e transmissibilidade de micro-organismos e entendam a característica globalizada da saúde. É preciso que entendam que a manutenção de um mundo saudável reside não apenas no conhecimento das interrelações entre humanos e patógenos, mas nas condições igualitárias de acesso a informação e a base econômica necessária a este estado de equilíbrio.

(Artigo publicado na Revista Nossa UENF, nº 01, junho/julho 2011)

* Professora e pesquisadora do Laboratório de Biologia do Reconhecer (LBR) da UENF