segunda-feira, 16 de julho de 2018

Coluna Nutrição: Deficiência de vitamina D na gestação e depressão pós-parto




Deficiência de vitamina D na gestação e depressão pós-parto


Larissa Leandro da Cruz e Karla Silva Ferreira


Apesar de ser conhecida como vitamina D, uma vitamina lipossolúvel, conceitualmente se trata de um pró-hormônio produzido a partir da ação do raio ultravioleta B na pele quando há exposição à luz solar (Figura 1).



Esta vitamina apresenta importante função para a absorção do cálcio e, consequentemente, para a saúde dos dentes e dos ossos. As situações que favorecem a sua deficiência podem gerar condições como o raquitismo, a osteomalácia e a osteoporose.

Nos últimos anos, com os avanços em estudos populacionais e na área da saúde, tem sido observado que a deficiência de vitamina D está associada a outras manifestações clínicas e a patologias, tais como baixa imunidade, fadiga, fraqueza muscular, dor crônica, doenças cardiovasculares e respiratórias, diabetes, alguns tipos de câncer, doenças autoimunes como a esclerose múltipla e a psoríase e quadros depressivos, incluindo a depressão pós-parto. Para mais detalhes, veja a matéria sobre vitamina D publicada em novembro de 2015 no Blog da Ciência da UENF:  “Sem sol, peixes, gema de ovo, fígado e manteiga; sem vitamina D”.

Um grupo de pesquisadores australianos avaliou 796 gestantes com o objetivo de verificar se as concentrações séricas de vitamina D, durante o período gestacional, estariam associadas a sintomas da depressão pós-parto. As gestantes tiveram amostras de sangue coletadas no segundo trimestre de gestação (18ª semana) para que a análise da vitamina D fosse realizada.

Além disso, até três dias pós-parto, as mesmas gestantes responderam a um questionário de seis perguntas derivadas da Escala de Depressão Pós-parto de Edimburgo, que avalia a ansiedade, a tristeza, as flutuações de humor, os episódios de choro, mudanças de apetite e distúrbios do sono não relacionados ao cuidado do bebê.

Os pesquisadores concluíram que concentrações mais baixas de vitamina D, no segundo trimestre da gravidez, estão ligadas a sintomatologias que podem indicar a perturbação do humor e a um maior risco de sintomas depressivos pós-parto, especialmente nos primeiros dias após o nascimento.

Recentemente a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) anunciou a mudança do valor de referência para as concentrações sanguíneas de vitamina D: atualmente valores a partir de 20 ng/mL são considerados normais, enquanto que anteriormente era acima de 30 ng/mL. Ainda, aquelas pessoas que estão entre as dosagens de 20 a 30 ng/mL não necessitam de reposição da vitamina.

As concentrações séricas baixas ou insuficientes de vitamina D, durante a gestação, não terão consequências somente para as mães, mas também para os bebês. Alguns estudos associam a deficiência de vitamina D a dificuldades de desenvolvimento para os filhos, como atraso de linguagem e doença mental grave.  Maiores riscos para a psicopatologia infantil e problemas de internalização em crianças pré-escolares também já foram relatados.

Diante desta observação, profissionais que atendam gestantes, durante as consultas de pré-natal, devem ter o cuidado de avaliar o status desta vitamina e adotar condutas que possam prevenir a sua deficiência ou, quando existente, tratá-la, seja por meio de orientações a respeito da exposição solar ou consumo de alimentos fontes de vitamina D ou suplementos nutricionais.

A principal fonte de vitamina D é a luz do sol, que é responsável por 80 a 90% de toda a vitamina D que o corpo necessita.  Para isso, é preciso que haja exposição de braços e pernas, sem o uso do protetor solar, por cerca de 5 a 30 minutos entre o horário de 10h às 15h, duas vezes por semana. Afora a exposição à luz solar e uso de suplementos nutricionais, poucos são os alimentos fontes naturais de vitamina D. São eles:  salmão, sardinha, ovo, leite, fígado, queijos e alimentos enriquecidos com vitamina D.

Controlar fatores que possam favorecer o desenvolvimento de um quadro depressivo no pós-parto imediato é crucial também para o estabelecimento do aleitamento materno, uma vez que algumas puérperas com depressão deixam de amamentar seus bebês. Portanto, o cuidado da saúde durante a gestação é importante tanto para a mãe quanto para o filho.

Referências:

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2) Marques CDL, Dantas AT, Fragoso TS, Duarte ALBP. A importância dos níveis de vitamina D nas doenças autoimunes. Rev Bras Reumatol 2010;50(1):67-80.
3) Maeda SS, Borba VZC, Camargo MBR, Silva DMW, Borges JLC, Bandeira F, Castro ML. Recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da hipovitaminose D. Arq Bras Endocrinol Metab. 2014;58/5.
4) Hasselmann MH, Werneck GL, Silva CV. Symptoms of postpartum depression and early interruption of exclusive breastfeeding in the first two months of life. Cad Saúde Pública. 2008; 24 (Suppl 2):S341-52.
5) Dennis CL, McQueen K. The relationship between infant-feeding outcomes and postpartum depression: a qualitative systematic review. Pediatrics. 2009; 123(4):e736-51.
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7) Sociedade Brasileira de Dermatologia. Disponível em: http://www.sbd.org.br/. Acesso em 15/03/2018.
8) Marques CDL, Dantas AT, Fragoso TS, Duarte ALBP. A importância dos níveis de vitamina D nas doenças autoimunes. Rev Bras Reumatol 2010;50(1):67-80.
9) Robinson M, Oddy WH, Li J, Kendall GE, de Klerk NH, Silburn SR, Zubrick SR, Newnham JP, Stanley FJ, Mattes E (2008) Pre- and postnatal influences on preschool mental health: a large-scale cohort study. J Child Psychol Psychiatry 49(10):1118–1128.
10) Robinson M, Kendall GE, Jacoby P, Hands B, Beilin LJ, Silburn SR, Zubrick SR, Oddy WH (2011) Lifestyle and demographic correlates of poor mental health in early adolescence. J Paediatr Child Health 47(1):54–61.