segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Cerâmica ecológica

Verônica Scarpini mostra o adoquim 


Uma das principais atividades econômicas do município de Campos (RJ), a indústria cerâmica é também uma das mais impactantes do ponto de vista ambiental. O principal problema está na obtenção da matéria-prima, baseada no extrativismo mineral. Além de deixar o solo estéril para a agricultura — pois retira a sua camada fértil —, a extração de argila é uma séria ameaça à integridade dos lençóis freáticos.

Pesquisadores do Laboratório de Materiais Avançados (LAMAV) da UENF vêm tentando buscar alternativas para diminuir tais impactos e, ao mesmo tempo, incrementar o parque industrial de Campos. Eles obtiveram sucesso na produção de um piso do tipo adoquim (intertravado de cerâmica) utilizando em sua composição o refugo da cerâmica calcinada e quebrada, conhecido como chamote. Em escala laboratorial, foram produzidos pisos com resistência superior a 50 MPA (megapascais) — podendo, assim, ser utilizados em locais de tráfego pesado.

O estudo, orientado pelo professor Carlos Maurício Fontes Vieira (LAMAV), embasou a dissertação de mestrado da bióloga Verônica Scarpini Cândido pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência dos Materiais, defendida em 26/01 e intitulada “Utilização de argilito e chamote, proveniente de blocos de vedação, para produção de pavimento intertravado cerâmico - Adoquim.”

— O chamote normalmente é descartado às margens de rodovias ou em áreas de matas, não permitindo neste caso o desenvolvimento das plântulas. Ao utilizarmos este material, diminuímos substancialmente a quantidade de argila na massa — afirma Verônica.

Segundo a pesquisadora, o pavimento intertravado de cerâmica — adoquim — é uma alternativa ao piso intertravado de concreto, com a vantagem de não precisar ser pintado. Isto porque possui naturalmente uma cor avermelhada, proveniente dos óxidos de ferro presentes no material. Ela observa que, atualmente, as formas mais rústicas, como é o caso do adoquim, vêm sendo muito valorizadas no mercado. O chamote é triturado e misturado ao restante da massa, constituída por dois tipos de argila local e argilito proveniente de Itu (SP).

— O argilito é um material fundente, ou seja, capaz de diminuir o ponto de fusão e melhorar as propriedades físicas e mecânicas dos materiais cerâmicos, como absorção de água e resistência mecânica. Ele é necessário porque as argilas locais têm caráter refratário, ou seja, suportam altas temperaturas de queima. Isso não é vantajoso, pois requer uma quantidade maior de combustível para a queima — explica Verônica, acrescentando que duas indústrias de cerâmica locais estão apoiando as pesquisas e deverão incorporar a tecnologia da UENF em sua produção: a Stilbe e a Arte Cerâmica Sardinha.

Fúlvia D'Alessandri

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Errando que se aprende

Periódico científico editado pelo biólogo brasileiro Eduardo Fox (UFRJ) vai mostrar as pesquisas que não deram certo. Batizado de ‘Journal of Errorology” (Revista de Errologia), o periódico pretende mostrar o que os demais publicações científicas não mostram — já que o foco dos trabalhos são sempre os resultados positivos.

Para Fox, no entanto, é importante que os demais cientistas conheçam experimentos que tiveram resultados inesperados, para que não incorram no mesmo erro.

Veja a reportagem publicada no Jornal da Ciência.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Evapotranspiração no Norte Fluminense

Conhecer as taxas da evapotranspiração — passagem da água da superfície terrestre para a atmosfera — é fundamental para o uso racional da água na agricultura e nos estudos de diferentes ecossistemas. Um passo importante neste sentido foi dado por cientistas da UENF, que aplicaram uma nova metodologia, baseada em sensoriamento remoto, para estimar a evapotranspiração na Região Norte Fluminense. O resultado da pesquisa foi publicado no primeiro capítulo do livro ‘Evapotranspiration — Remote Sensing and Modeling’ (‘Evapotranspiração — Sensoriamento Remoto e Modelagem’), editado pelo professor Ayse Irmak, da Universidade de Nebrasca, USA.

A pesquisa utiliza imagens orbitais do sensor Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (Modis), instalado a bordo dos satélites Terra e Aqua, obtidas gratuitamente junto à National Aeronautics and Space Administration (Nasa). Para estimar a evapotranspiração regional, como resíduo do balanço de energia na superfície, foi utilizado o algoritmo Surface Energy Balance Algorithm for Land (Sebal). Para a validação dos principais componentes do balanço de energia, foram utilizadas duas estações meteorológicas e duas micrometeorológicas de superfície instaladas na região.

— A evapotranspiração tem papel importantíssimo no ciclo hidrológico global.  Ela envolve a evaporação da água de superfícies de água livre (rios, lagos, represas, oceano etc), dos  solos e da vegetação úmida (que foi interceptada durante uma chuva), bem como a transpiração dos vegetais. De forma mais simples, a evapotranspiração pode ser entendida como o processo contrário ao da chuva, que é a passagem da água da forma de vapor para a forma líquida — explica o pesquisador José Carlos Mendonça, um dos autores do artigo ‘Assessment of Evapotranspiration in North Fluminense Region, Brazil, Using Modis Products and Sebal Algorithm’ (‘Avaliação da Evapotranspiração na Região Norte Fluminense, Brasil, Usando Produtos Modis e Algoritmo Sebal’),

A pesquisa, que poderá ser adotada em outras regiões, foi realizada com o apoio de diversos órgãos de fomento, como CNPq, Capes, Faperj e Fenorte. Além dos pesquisadores da UENF (José Carlos Mendonça e Elias Fernandes de Sousa), o trabalho contou com a participação dos pesquisadores Romísio Geraldo Bouhid André, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet); Bernardo Barbosa da Silva, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG); e de Nelson de Jesus Ferreira, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O livro, que reúne 23 capítulos relacionados à modelagem e simulação da evapotranspiração a partir do uso de sensoriamento remoto, pode ser baixado aqui.

Rafaella Dutra
Fúlvia D'Alessandri

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Investigando a Síndrome de Down


Cromossomos humanos

A Síndrome de Down é a anomalia genética com maior incidência mundial, acometendo um a cada 600 neonatos. No entanto, pouco se conhece a respeito das causas genéticas e ambientais que estão associadas a não disjunção do cromossomo 21 — erro genético que dá origem ao problema. Cientistas da UENF conseguiram aprimorar a principal técnica de análise de DNA (marcadores STR), o que vai permitir ampliar os conhecimentos sobre a anomalia.

Através da análise genômica computacional comparada, o doutorando Antônio Francisco Alves da Silva identificou, durante o seu mestrado, um novo painel de marcadores STR (do inglês Short Tandem Repeats). Estes constituem sequências curtas de DNA repetidas em série, altamente polimórficas, devido a uma variação no número de cópias destas unidades de repetição em um determinado segmento cromossômico. Compõem assim um sistema multialélico e informativo para rastreio da Trissomia 21 — causa genética da Síndrome de Down.

O estudo, intitulado “A recombinação pericentromérica e o estágio meiótico da não disjunção do cromossomo 21 na Síndrome de Down”, foi orientado pelo professor Enrique Medina-Acosta, do Laboratório de Biotecnologia (LBT) e chefe do Nudim (Núcleo de Diagnóstico e Investigação Molecular, que existe em parceria com o Hospital Escola Álvaro Alvim). Teve ainda a co-orientação da professora Regina Célia de Souza Campos Fernandes, da Faculdade de Medicina de Campos. Uma das principais conclusões da pesquisa é que a ausência de recombinação é um fator de risco para não disjunção dos cromossomos 21.


Equipe da pesquisa: da esquerda para a direita Cinthia
Bernades (mestranda), Maria Emilse da Rosa (técnica de
laboratório), Regina Célia de Souza (professora da FMC),
Enrique Medina-Acosta (professor da UENF), Thais
Louvain (mestranda), Antônio Francisco Alves da Silva
(doutorando), Fabrício Brum (mestrando) e Graziela de
Sá (mestranda)
— A maioria dos casos de não disjunção ocorre durante a meiose (divisão celular), na gametogênese (formação dos gametas ou células sexuais). Agora vamos poder elucidar o estágio meiótico da não disjunção, bem como identificar possíveis padrões de recombinação associados com os eventos de não disjunção do cromossomo 21 — explica.

Segundo Antônio, um dos fatores de risco conhecidos para a Síndrome de Down é a idade acima de 34 anos da mulher. A maioria dos casos de disjunção tem origem materna. No entanto, indivíduos nascidos vivos representam uma proporção pequena, pois 80% deles são abortados ainda no primeiro trimestre de gestação. Entre os nascidos vivos, a apresentação clínica é  complexa, com graus diferenciados na expressão fenotípica, incluindo déficit mental e o dismorfismo facial característico.

Descrita em 1866 por John Langdon Down, a Síndrome de Down ocorre devido à presença de um cromossomo a mais nas células. Enquanto os demais indivíduos possuem 23 pares de cromossomos, totalizando 46 cromossomos em cada célula, os portadores da Síndrome possuem 47 cromossomos, sendo que o cromossomo extra se liga ao par 21.

Se quiser saber mais, veja  a tese.

Fúlvia D'Alessandri

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Cão ou gente?

Criação baseada na antropomorfização dos cães pode gerar problemas comportamentais

Cães com roupinha, sapato, perfume e até jóias são cada vez mais comuns nos dias de hoje. Mas será que, ao tratar os animais de estimação como se fossem seres humanos, estamos realmente fazendo bem a eles? Para os cientistas que estudam o comportamento dos animais, pode ser que não. Distúrbios como a Síndrome de Ansiedade de Separação em Animais — maior causa de abandono de cães — podem estar relacionados à forma como os animais são criados.

Em sua pesquisa de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UENF, a médica veterinária Sabina Scárdua buscou estudar padrões de apego entre cães e seus donos para tentar identificar fatores associados ao aparecimento da Síndrome — distúrbio comportamental mais comumente relatado em clínicas veterinárias. Os resultados alertam para o fato de que a forma de criação com apego excessivo pode prejudicar o bem-estar dos animais, gerando ansiedade e estresse.

— Nosso objetivo foi examinar o efeito de características individuais de cães (como sexo, idade, histórico de agressão e reação à saída do dono) e o efeito de características de criação dos cães (como estilo de moradia, companhia de outros animais, local onde dorme, recebimento ou não de punição física, tempo em que é deixado sozinho) no comportamento dos animais — explica.

Segundo Sabina, pesquisas mostram que os padrões de apego dos animais a seus donos são semelhantes aos das crianças por seus pais. Isso é possível observar através do Teste de Situação Estranha, criado em 1980 para estudar o apego em humanos mas adaptado para cães em 1998. No teste — utilizado na pesquisa — um cão e seu cuidador entram em uma sala não familiar e são apresentados a um estranho, para em seguida experimentar três episódios de separação e dois de reunião.

— Tipicamente, o estresse da separação ativa o sistema de ligação que torna o indivíduo estressado e carente para ganhar proximidade e conforto na reunião — explica Sabina.


Sabina e seu cão, que sofre de ansiedade
Orientada pela professora Rosemary Bastos, do Laboratório de Reprodução e Melhoramento Genético Animal (LRMGA) da UENF, a pesquisa mostrou cães que dormem na mesma cama ou no mesmo quarto que seus donos desenvolvem maior ansiedade quando separados deles. Fêmeas e cães mais jovens também experimentam maior ansiedade quando devem ficar longe dos seus donos. A pesquisa mostrou, no entanto, que o fato de o cão ser agressivo não influencia o nível de apego pelo dono, muito menos o fato de o cão morar em companhia de outros cães.

Participaram do teste homens e mulheres voluntários, na faixa de 18 a 60 anos, com diferentes profissões e estilos de criação de cães, junto com cães de ambos os sexos, na faixa de 01 a 14 anos de idade e de 16 raças diferentes.

— É provável que em alguns anos venhamos a discutir de forma mais fundamentada o estilo moderno de criação dos animais de estimação. Com o aumento dos distúrbios comportamentais em cães e gatos, é claramente preciso rever alguns conceitos — afirma Sabina, lembrando que os estudos sobre apego e sua relação com a Síndrome de Ansiedade de Separação em Animais continuam com o aluno Breno Garone, que cursa o último ano do curso de Medicina Veterinária da UENF.

Se você quiser saber mais sobre este assunto, veja o artigo científico Estudo exploratório da síndrome de ansiedade de separação em cães de apartamento, publicado na Revista Ciência Rural em março de 2010.

Fúlvia D'Alessandri

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Mais produtividade para o eucalipto

Com uma área plantada de 6.310.450 hectares, o eucalipto brasileiro ainda tem muito o que melhorar em termos de produtividade. Para tanto, é cada vez mais necessário o investimento em pesquisas científicas — como a realizada pelo doutor em Produção Vegetal pela UENF Fábio Afonso Mazzei Moura de Assis Figueiredo, que durante três anos se debruçou sobre o assunto.

Intitulada “Características morfofisiológicas de mudas clonais de eucalipto e suas implicações no padrão de qualidade para plantio e crescimento no campo”, a pesquisa, defendida em abril do ano passado, teve a orientação do professor José Geraldo de Araújo Carneiro, do Laboratório de Fitotecnia (LFIT) da UENF. Segundo o pesquisador, a produtividade da cultura, hoje em torno de 41 metros cúbicos/hectare/ano, pode alcançar 70 metros cúbicos/hectare/ano com a ajuda da ciência.

— A qualidade das mudas é determinante no crescimento e consequentemente na produtividade das áreas plantadas. Nosso objetivo foi explorar os diversos parâmetros morfológicos e fisiológicos que expressam a qualidade das mudas no viveiro e seu respectivo crescimento no campo — explica.

Devido à crise financeira mundial, em 2009 houve ema redução da taxa de crescimento das áreas de florestas plantadas com eucalipto, o que reduziu significativamente a demanda dos mercados compradores. No Brasil há 220 empresas de papel e celulose em cinco regiões, responsáveis por  14,4% do saldo da balança comercial, que geram 114 mil empregos diretos e outros 500 mil empregos indiretos. Os dados são do relatório anual de 2010 da Associação Brasileira de Celulose e Papel.

Fábio foi co-orientado pelo pesquisador Ricardo Miguel Penchel, da Fibria Celulose  - que atuou como parceira da UENF no desenvolvimento da pesquisa.

Veja a tese completa aqui

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Pequenos e poderosos

Embora não sejam vistos, os micro-organismos estão presentes em toda parte, sendo praticamente impossível eliminá-los completamente de um ambiente

Você não pode vê-los, mas eles estão em toda parte — nas paredes, no teto, no chão, nos móveis, nos objetos, no ar e até mesmo na comida que você come. A maior parte dos ambientes abriga um número indeterminado de micro-organismos que não permite ao ser humano, em momento algum, manter-ser afastado de formas microscópicas de vida.

Segundo o professor Júlio César Ferreira, pesquisador do Laboratório de Fisiologia e Bioquímica de Micro-organismos da UENF, os microrganismos só não são encontrados em locais muito quentes, com temperaturas superiores aos 120ºC. Abaixo de –5ºC, quando encontrados, apresentam-se na forma inativa.

— É praticamente impossível eliminar todos os micro-organismos de um ambiente. Mesmo nos locais mais assépticos eles são encontrados, como em centros cirúrgicos ou laboratórios. O que é possível fazer é diminuir a incidência, não eliminá-los completamente —, afirma, observando, no entanto,que a maioria dos microrganismos convive com o ser humano sem causar problemas.

Em casa, por exemplo, qualquer partícula de comida que caia no chão ou se fixe na parede, por mais microscópica que seja, vai servir de alimento para bactérias ou fungos. Mas, mesmo que você jamais coma dentro de casa, não conseguirá se livrar dos micro-organismos. Eles estão continuamente entrando e saindo de casa, através do ar, da água, da poeira trazida pelo vento etc.

— Nos locais onde as pessoas tendem a ficar sentadas ou deitadas, como sofás e colchões, por exemplo, a descamação da pele atrai ácaros (aracnídeos microscópicos),que vão se nutrir da queratina da pele e “defecar” ali. Tanto nesse material excretado quando nos restos de pele vai haver o crescimento de fungos — explica Júlio César.

Ele observa que, embora nem toda matéria orgânica que existe sirva de alimento para os seres humanos, haverá sempre um micro-organismo, na natureza, capaz de degradá-la. Até mesmo o petróleo ou a gasolina, se misturados à água, tornam-se alimento para fungos e bactérias.

— Um exemplo visível, em casa, é a fumaça que sai das frituras e que vai se acumular nas paredes. O que a gente chama genericamente de sujeira é, na realidade, um microambiente complexo, onde existem vários micro-organismos diferentes competindo ou colaborando no sentido de degradar aquela matéria orgânica — diz o pesquisador.

Segundo Júlio César, é impossível dizer quantas espécies de micro-organismos podem estar presentes dentro de casa. Estima-se que seja possível cultivar em laboratório apenas 5% dos micro-organismos que existem na natureza — em outras palavras, a maioria destes seres microscópicos sequer é conhecida.

Embora seja verdade que a maioria dos micro-organismos conviva normalmente com o ser humano, também é verdade que muitas doenças são causadas por eles. Tudo vai depender da quantidade de micro-organismos potencialmente patogênicos que entra, de uma só vez, no organismo.

— Micro-organismos como os vírus da gripe e do resfriado, além de bactérias causadoras de doenças como a coqueluche, a meningite e infecções de garganta, por exemplo, precisam de um ambiente que favoreça a sua concentração: um local fechado, com umidade do ar elevada e muita gente respirando junta. A tosse e o espirro liberam aerossóis (gotículas microscópicas) que abrigam o micro-organismo. Se você estiver num lugar assim, é possível que também pegue a doença — explica Júlio César.

Grande parte das doenças é adquirida fora de casa, no contato com pessoas infectadas, na ingestão de alimentos contaminados e até mesmo na manipulação e uso de objetos que também foram manipulados por pessoas infectadas. Como é impossível saber onde encontrar um micro-organismo patogênico, Júlio César dá alguns conselhos: lavar as mãos sempre que voltar da rua e, principalmente, quando as tiver colocado em algo que outras pessoas também tiverem manipulado (como ônibus, dinheiro, orelhão etc); não tomar refrigerante colocando a boca direto na lata ou na garrafa, sem lavar; e não comer alimentos que ficam expostos na rua.

— É bom lembrar que nosso corpo tem defesas naturais. O ser humano evoluiu convivendo com esses micro-organismos. Então, o mais importante é usar sempre o bom senso — conclui.

Fúlvia D'Alessandri
Fonte: Livro Descomplicando a Ciência

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Formigas, fungos e bactérias: uma equação que ganhou o mundo

Formigas-cortadeiras são protegidas por bactérias
contra a ação de fungos (Foto: Wikipedia)
Estudos de pesquisadores da UENF sobre formigas-cortadeiras ganharam o mundo desde a publicação, em 30/11/11, de um artigo do professor Richard Ian Samuels, do mestrando Thalles Cardoso Mattoso e da pesquisadora Denise Dolores Oliveira Moreira. O trabalho foi publicado pela revista britânica Biology Letters e depois citado por revistas ou periódicos de outros países, como Alemanha e Hungria. Até o verbete sobre formigas cortadeiras na Wikipedia da Alemanha foi atualizado citando o trabalho da UENF.

As pesquisas abrem novo caminho para o controle biológico das formigas-cortadeiras da espécie Acromyrmex subterraneus subterraneus utilizando fungos da espécie Metarhizium anisopliae. Estes fungos são capazes de infectar as bactérias e levá-las à morte, mas normalmente sua ação é impedida por colônias de bactérias do gênero Pseudonocardia, que funcionam como um escudo protetor das formigas.

Para neutralizar a ação defensiva da bactéria, os cientistas da UENF testaram em laboratório a aplicação de um antibiótico. Nos testes laboratoriais, a aplicação de gentamicina levou à redução na população das bactérias protetoras e ao aumento na mortalidade das formigas. Quase metade delas (47,7%) morreu com a aplicação da nova estratégia.

Richard e equipe também estão testando estratégias para melhorar a eficácia do controle químico das formigas. Mas isto é assunto para uma próxima postagem!

Gustavo Smiderle

Cientistas escrevendo para o grande público

Quatro pesquisadores da UENF participaram da elaboração de capítulos de um livro totalmente dedicado ao tema das formigas-cortadeiras: Ana Maria  Mattoso Viana, Denise Dolores Oliveira Moreira, Omar Bailez e Richard Ian Samuels, todos do Laboratório de Entomologia e Fitopatologia (LEF) do CCTA/UENF. Com o título ‘Formigas-cortadeiras: da bioecologia ao manejo’, o livro foi organizado por Terezinha Maria Castro Della Lucia, professora titular da Universidade Federal de Viçosa, e lançado em 2011 pela Editora da UFV.

O capítulo 8, 'Comunicação química em formigas-cortadeiras', foi elaborado por Ana Maria  Mattoso Viana,  Omar Bailez e Karla da Silva Malaquias (mestre em Ciências Naturais pela UENF).  No capítulo 12, Denise Dolores Oliveira Moreira, Milton Erthal Junior (doutor em Produção Vegetal pela UENF) e Richard Ian Samuels abordam o tema 'Alimentação e digestão em formigas-cortadeiras'. E no capítulo 17, Juliana de Oliveira Augustin,   Elena Diehl, Richard Ian Samuels e Simon Luke Elliot abordam 'Fungos parasitas de formigas-cortadeiras e de seu fungo mutualístico'.

O livro se destina a qualquer pessoa que se interesse por formigas-cortadeiras, seja pelas questões ligadas à produção agrícola, seja pelo seu papel no ecossistema ou pela curiosidade quanto à maneira de viver destes insetos.

Eliemar Campostrini, da UENF
Outro pesquisador da UENF, Eliemar Campostrini, também acaba de ser escolhido para uma tarefa importante na área editorial. Ele foi indicado pelo Dr. Paul H. Moore, do Centro de Agricultura do Havaí (Hawaii Agriculture Center), para ser revisor de um capítulo do livro 'Genetics and Genomics of Papaya', sobre genética e genômica na cultura do mamão, que será editado pelo Dr. Ray Ming, da Universidade de Illinois (EUA). O título do capítulo será 'Biology of the Papaya Plant'.

O livro fará parte de uma série especial a ser editada pela editora Springer, e a indicação é um reconhecimento internacional ao pesquisador e aos estudos realizados na UENF na área da Fisiologia do Mamoeiro. Paul Moore, que convidou Eliemar, e Ray Ming, editor do livro, são mundialmente respeitados na ciência da genética do mamoeiro.

Gustavo Smiderle

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Campos submersa. Dez mil anos atrás.



No tempo geológico, tantas vezes contado em milhões de anos, o que aconteceu há dez mil anos é como se tivesse ocorrido ontem. Neste 'ontem', a planície Goitacá não existia; tudo estava submerso. Um resumo dessa história, que tem algo a dizer sobre as inundações dos dias de hoje, foi incluído na coletânea Descomplicando a Ciência, elaborada pela Assessoria de Comunicação da UENF e lançada em 2011 pela EDUENF.

Confira a matéria 'Campos submersa', elaborada com a colaboração da professora e geóloga Maria da Glória Alves, do Laboratório de Engenharia Civil da UENF.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

De onde vêm as águas que enchem o Paraíba?


Clique para ampliar: mapa da Bacia do Paraíba do Sul - ANA 

Com a cheia do Paraíba do Sul, muitos ficam de olho na previsão do tempo para ver se haverá mais chuva em Minas ou em São Paulo. Mas  quais são exatamente as áreas que têm suas águas pluviais escoadas para o Paraíba diretamente ou através de seus afluentes?

Com 57 mil quilômetros quadrados de extensão (área equivalente à superfície de todo o Estado do Rio mais um terço), a bacia de drenagem do Paraíba envolve três estados: São Paulo, Minas e Rio de Janeiro.

No trecho mineiro, maior responsável pelo aporte de água nesta cheia de 2012, os pontos extremos da bacia estão em municípios ou localidades como Divino, Visconde do Rio Branco, Ubá, Santos Dumont, Juiz de Fora e Santa Rita do Jacutinga, na Zona da Mata.

Em São Paulo, a bacia do Paraíba drena a região entre as serras do Mar e da Mantiqueira, incluindo municípios como Guaratinguetá, Lorena, Taubaté, São José dos Campos e Jacareí.

Ilha do Cunha, em Campos - foto Alexsandro
Azevedo - 04/01/12
No Rio de Janeiro, a bacia do Paraíba inclui grande parte da região serrana (Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo), quase todo o Noroeste (exceto Bom Jesus do Itabapoana e Varre-Sai) e trechos de Cardoso Moreira, Cambuci e São Fidélis. Em Campos, a maior parte do território compõe a bacia da Lagoa Feia (que se estende da serra do Imbé até a Baixada Campista, passando pela Lagoa de Cima e Rio Ururaí), como mostraram as enchentes de 2008/2009.

Rio Paraibuna, em SP, um dos formadores do Paraíba
O Paraíba do Sul é formado pela confluência dos rios Paraitinga e Paraibuna, ainda em São Paulo. A partir da nascente mais longínqua, do Paraitinga, as águas viajam cerca de 1.100 quilômetros até encontrar o mar em Atafona e Gargaú. Por um capricho da natureza, sua busca até encontrar o oceano começa bem perto  do litoral. Em alguns trechos, as águas límpidas do Paraibuna estão a pouco mais de 20 quilômetros da costa norte do estado de São Paulo.

A Bacia do Paraíba do Sul é objeto de estudos sistemáticos da UENF desde 1994. Ao longo destes 18 anos, pesquisadores do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) têm cooperado com instituições nacionais ou internacionais e participado ativamente de discussões sobre processos de tomada de decisão em questões ambientais ligadas à bacia. Atualmente, participam, entre outros projetos, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) sobre transferências de materiais na interface continente oceano, do CNPq.

- O Rio Paraíba do Sul deve ser visto como fonte estratégica de abastecimento de água potável, principalmente para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo – afirma o professor Carlos Eduardo de Rezende, chefe do LCA/UENF.

Gustavo Smiderle

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Entenda as unidades de medida de chuvas e cheias

Casa parcialmente inundada na região do Matadouro, Campos

Em tempos de chuvas fortes e inundações, circulam muitos dados sobre medidas de volumes de chuva e níveis dos rios. Mas o que estas medidas realmente significam? A repórter Rafaella Dutra ouviu o especialista Valdo Marques, professor titular do Laboratório de Meteorologia da UENF.

Os quantitativos de chuva são expressos em milímetros a partir de dois tipos de aparelhos. Um deles, chamado pluviômetro, mede a quantidade acumulada de chuva que cai em um período de 24 horas. Já o pluviógrafo mede continuamente, podendo variar o período entre uma medição e outra até 25 segundos. O pluviógrafo tem dois tipos: um bastante antigo e outro mais moderno, eletrônico, que calcula, através de pulsos, o quantitativo de chuva expresso em milímetros e referente ao período de tempo regulado pelo operador. Geralmente é calculado de hora em hora.

Paraíba no Centro de Campos, ainda sem ultrapassar o dique
- Se em 1 m² chover pelo menos 25 mm por hora, a chuva é considerada forte e merece uma atenção maior - explica o professor Valdo. Os parâmetros de intensidade são os seguintes: para volumes de 1,1 mm a 5 mm, a chuva é considerada fraca; de 5,1 a 25 mm é considerada moderada; de 25,1 a 50 mm é forte; e a partir de 50 mm é muito forte.

O pesquisador José Carlos Mendonça, que atuou por três anos como professor visitante do Laboratório de Meteorologia da UENF, explica a medição de chuva em outras palavras:

- Quando utilizamos a unidade milímetros, estamos nos referindo à altura da coluna de água. Um milímetro é igual a um litro em um metro quadrado. Se você espalhar uniformemente um litro de água sobre uma superfície de um metro quadrado, você terá uma coluna d´água de um milímetro. Sessenta milímetros seria o mesmo que espalhar 60 litros em um metro quadrado. Se chover 60 mm em uma área de 1 mil metros quadrados, teremos então um volume de 60 mil litros ou 60 metros cúbicos.

Também o nível dos rios é sempre monitorado e anunciado em tempos de chuvas intensas. No caso do Rio Paraíba do Sul em Campos (RJ), a medição é feita em relação ao nível do mar, e não em relação ao nível normal ou mesmo ao fundo do rio.  Às 12h desta quarta, 04/01, o Paraíba atingiu a cota 10,87 metros, levando a Defesa Civil a interditar a Ponte Barcelos Martins e a se decidir pela colocação de sacos de areia em bueiros. Às 16h, o rio já tinha atingido a cota 11 metros. Para períodos de verão, em que a vazão é maior, o nível normal seria algo em torno de 8 metros acima do nível do mar, como explica Mendonça.

Proximidades da llha do Cunha, em Campos
Nos três primeiros dias do ano, Campos registrou 85,4 milímetros de chuva, o que equivale a 63,2% da média de chuvas para o mês inteiro. Os dados, da estação do INMET no Colégio Agrícola.

As fotos desta postagem são de Alexsandro Cordeiro de Azevedo, da ASCOM/UENF, e foram feitas por volta das 12h desta quarta, 04/01/12. Veja outros registros abaixo:


No bairro da Pecuária, água minando atinge o asfalto
 
Acesso à ponte da Lapa, do Centro para Guarus


Morador circula no alagamento: riscos à saúde

Rafaella Dutra / Gustavo Smiderle

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Paraíba do Sul ultrapassa cota 10

Até as 14h desta terça, 03/01/12, o volume de chuvas registrado em Campos (RJ) foi de 85,4 milímetros. Isto corresponde a 63,2% da média de chuvas para todo o mês de janeiro, que é de 135,1 milímetros.  Os dados, da estação do INMET no Colégio Agrícola, foram informados pelo pesquisador José Carlos Mendonça, que atuou por três anos como professor visitante do Laboratório de Meteorologia da UENF.

Às 14h desta terça, 03/01/12, a medição do nível do Rio Paraíba do Sul em Campos (RJ) foi de 9,89 m. A tendência é de elevação de oito a nove centímetros por hora, que deve ser manter por algum tempo em vista das fortes chuvas ocorridas na Zona da Mata de Minas e no Noroeste Fluminense, que integram a bacia do Paraíba do Sul. Durante a madrugada de quarta, 04/01, o nível do rio chegou a atingir a cota 10,63 metros.

- Municípios como Laje do Muriaé já apresentam problemas desde ontem (02/01), e hoje (03/01) a cidade de Cardoso Moreira está com cerca de 60 centímetros de água na região central - informa Mendonça.

Na tarde de terça, estimava-se que os níveis mais altos do Paraíba do Sul ocorreriam na noite desta terça e na madrugada de quarta.  Neste momento (16h de terça, 03/01), a maré está baixando, o que favorece a descarga do rio para o mar. Nova maré alta é esperada para o período em torno de zero hora desta quarta.
Conforme o serviço de Meteorologia, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (responsável pelo alto volume de chuvas no sudeste em dezembro e início de janeiro) passará a causar fortes chuvas no Espírito Santo, em especial nas regiões de Vitória e dos vales do Jequitinhonha e Mucuri. Para Campos, a tendência é de diminuição das chuvas nas próximas horas, havendo previsão de novos volumes mais intensos a partir de quinta ou sexta-feira.

Gustavo Smiderle