terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Coluna infinitum - Mitologia e o nome dos astros



Mitologia e o nome dos astros

Adriana Oliveira Bernardes


Aprendemos na escola os nomes de nossa estrela, de nosso satélite natural e dos planetas, mas poucos sabem o porquê de cada um deles. Através deste artigo, gostaria de esclarecer esta questão. Os planetas na Antiguidade eram tidos como divindades e por isso recebiam nomes de deuses e deusas do Olimpo.

Sol era o nome latino de Hélios, deus que era representado por um belo jovem que atravessava o céu numa carruagem de fogo com cavalos brancos que soltavam chamas pelas narinas. A Lua, Selene para os gregos, era irmã de Hélios, o Sol. E era representada por uma bela jovem, que também percorria o céu numa carruagem de prata puxada também por dois cavalos.

O planeta Mercúrio, por exemplo, recebeu o nome de Hermes. Mercúrio é nome latino do Deus emissário, que era responsável pela comunicação no Olimpo e por isso se deslocava rapidamente.
Este deus é sempre representado com uma túnica curta e um chapéu com asas. Esta divindade foi associada ao planeta cuja órbita em torno da nossa estrela era de 88 dias, a mais rápida travessia realizada no céu por um planeta.

Vênus era de uma beleza excepcional, admirado já em tempos remotos. Se hoje deslumbra muita gente quando está no céu, naquela época o fascínio era tanto que recebeu o nome da deusa da beleza e do amor: Afrodite. Conta-se que Afrodite casou-se com Vulcano, mas o traiu com Ares, deus da guerra, tendo dois filhos: Fobos e Deimos.

Ilustração da deusa Afrodite, chamada pelos romanos de Vênus


Nosso planeta, a Terra, recebeu dos gregos o nome de Gaia, deusa símbolo da fecundidade, que era representada por uma mulher. Foi considerada mãe do universo e dos deuses. O planeta Marte, por ser vermelho, cor que lembra o sangue, recebeu o nome do deus da guerra, Ares. Suas luas foram chamadas de Fobos (Medo) e Deimos (Destruição). Fobos, para os gregos, personificava o medo e incitava as pessoas no campo de batalha a fugirem. Já Deimos personificava o terror, acompanhando sempre Ares nos campos de batalha.

Júpiter era o maior dos planetas, por isso recebeu o nome do maior dos deuses do Olimpo, o chamado Deus dos Deuses, Zeus. Foi o responsável por destronar Saturno e após isto o mundo foi dividido entre ele e seus irmãos, Netuno e Plutão. Na divisão, Júpiter ficou com o céu, Netuno com o mar e Plutão com o mundo inferior.

O planeta Saturno tinha uma particularidade estranha para os que o observavam na Antiguidade: demorava 29 anos para dar uma volta completa em torno do Sol. Por isso recebeu o nome do Deus do tempo, Cronos. Para se ter uma idéia, Vênus levava quase um ano para completar sua órbita, Marte aproximadamente dois, Júpiter 12 anos e Saturno 29, por isso chama a atenção.

Deus Saturno, Cronos para os gregos



Urano e Netuno foram descobertos com telescópios, mas para seguir a tradição receberam também nome de deuses. Urano, o deus do céu, era esposo da Terra, tendo gerado os titãs, os ciclopes e os hecatônquiros. Porém os detestava, tendo aprisionado seus filhos nos confins da Terra. É Saturno, um deles, quem se revolta e o destrona.

Netuno é Posseidon, o deus do mar, tendo ficado com o reino das águas quando a Terra foi dividida entre ele, Júpiter e Plutão. Plutão, que hoje em dia não é mais considerado planeta e sim planeta anão, recebeu o nome do deus do mundo inferior, Hades.

A mitologia grega é extremamente rica e seu estudo, além de estimulante, pode auxiliar no aprendizado de Astronomia. No ano de 2007, tive oportunidade de coordenar o projeto Astronomia, Arte e Mitologia no Ensino Fundamental, realizando junto ao grupo que integrava o Clube de Astronomia “Marcos Pontes” um trabalho voluntário com o intuito de, através da estória de deuses e deusas gregas, apresentar a Astronomia de forma atrativa a alunos de escolas públicas e ao público em geral.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Desperdício de alimentos

Num mundo onde quase metade da população sofre de insegurança alimentar — segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) —, o que dizer do volume de alimentos desperdiçados todos os anos? Segundo o relatório Global Food: waste not, want not (“Comida Global: não desperdice, não queira"), divulgado no último dia 10 pelo Instituto de Engenheiros Mecânicos (Imeche) do Reino Unido, entre 30% e 50% dos alimentos produzidos anualmente acabam indo parar no lixo — o que representa de 1,2 a 2 bilhões de toneladas de comida desperdiçadas.

O problema não é menos grave no Brasil, onde, segundo a Embrapa, mais de 26 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas todos os anos. Para o doutorando Luiz Fernando Miranda e a professora Karla Silva Ferreira, do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF (que assinam a coluna ‘Nutrição’, no Blog Ciência UENF), a ciência pode ajudar a minimizar o problema, desenvolvendo tecnologias sustentáveis, estudando técnicas para melhorar a produção, armazenamento e transporte de alimentos. Veja e entrevista:

Ciência UENF - O desperdício de alimentos é muito grande no Brasil? Quais as suas causas?
Sim. Segundo a Embrapa, o país desperdiça mais de 26 milhões de toneladas por ano, o que seria suficiente para alimentar 35 milhões de pessoas. Ou seja, além do desperdício, está havendo desigualdade na distribuição destes alimentos, justificando os milhões de famintos no Brasil.

Ciênca UENF- Uma grande parte do desperdício ocorre ainda na fase de produção de alimentos. É possível evitar este problema?
Sim. A falta de pessoal qualificado, erros no preparo do solo, seleção de sementes, proliferação de pragas, colheitas feitas em momento inadequado, armazenamento, embalagem e transporte inadequados contribuem para a perda de alimentos. Minimizando estes problemas, o desperdício seria bastante reduzido, e de quebra, os alimentos ficariam mais baratos, poupando a renda do consumidor. Não acho inteligente pensar em aumentar a produção de alimentos no Brasil sem diminuir as perdas. Além de não poupar o meio ambiente, é não pensar no próximo.

Ciência UENF - De que forma a pesquisa científica pode ajudar a evitar este problema?
Desenvolvendo tecnologia de forma sustentável, estudando técnicas para melhorar a produção, armazenamento e transporte dos alimentos, que não necessariamente devem ser caras. Além disso, trabalhos e estudos de extensão com objetivo de melhorar a qualidade dos alimentos no comércio, voltados principalmente para identificar e corrigir práticas inadequadas no armazenamento, tanto poderão servir como ferramenta para ações governamentais quanto para reduzir riscos à saúde do consumidor e o desperdício de alimentos.

Ciência UENF- A Uenf faz pesquisas nesta área?
Sim. Há inúmeros professores na uenf desenvolvendo pesquisas neste sentido, por exemplo, voltadas para prolongar a vida pós colheita de frutos, técnicas de conservação, aproveitamento de resíduos, desenvolvimento de variedades resistentes a algumas pragas e mais adequadas a Região etc.

Ciência UENF- Que alimentos estão mais sujeitos ao desperdício e de que forma podemos minimizar isto?
Todos os alimentos,  principalmente aqueles muito perecíveis, como as frutas, verduras, legumes, cárneos e laticínios. A má qualidade do transporte e o armazenamento dos alimentos in natura causam danos aos alimentos, tornando a sua aparência desagradável ao consumidor, e por isso acabam sendo desperdiçados. Outro problema grave é o descuido no controle da temperatura adequada e no manuseio de produtos cárneos e laticínios, com danos às embalagens. Este fato ocorre no transporte e distribuição destes produtos, propiciando assim a contaminação e multiplicação de microrganismos patogênicos. Há gestores de supermercados que desligam ou reduzem a temperatura de freezers com o intuito de economizar os custos com energia elétrica, desconsiderando o risco que um alimento conservado inadequadamente pode causar à saúde do consumidor. Outro problema de gestão é a liquidação de produtos vencidos ou que estão com prazo de validade expirando. Muitos consumidores compram estes produtos por estarem com baixos preços sem observar a data de validade. Recentemente, o PROCON de Campos disseminou uma campanha chamada "De olho na validade", alertando a população sobre problema.


Ciência UENF - Como minimizar as perdas?
O consumidor pode minimizar as perdas não comprando excesso de alimentos e planejando as compras, principalmente dos alimentos perecíveis, para que possam ser consumidos antes de estragar. Para isso, é importante fazer uma lista de compras, pois isto evita que se compre alimentos além do necessário. É importante também não comprar alimentos com data de validade vencida; higienizar e conservar adequadamente os alimentos para evitar que estraguem mais rapidamente; cozinhar exatamente a quantidade que será consumida; nas refeições, colocar no prato o que realmente vai comer ou ainda colocar pouca comida, e repetir se necessário.

Fúlvia D'Alessandri




sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Coluna Nutrição - Goiaba



 Goiaba


Luiz Fernando Miranda e Karla Silva Ferreira*


Entre as frutas produzidas em regiões tropicais e subtropicais, a goiaba se destaca pela sua rica composição nutricional, que apresenta teores elevados de vitaminas, minerais, fibras, beta-caroteno e licopeno.  Dentre as vitaminas, destacam-se os elevados teores de vitamina C, vitamina E e ácido fólico.

As diferenças no valor nutritivo entre as variedades de goiaba são pouco significativas do ponto de vista nutricional, com exceção das de cor branca e vermelha, visto que nas brancas os teores de licopeno são inexpressivos.

A goiaba verde, devido à maior presença de taninos, pode prender ligeiramente o intestino caso as sementes não sejam ingeridas, pois estas funcionam como fibras e, se consumidas em quantidade adequada, evitam a prisão de ventre. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a recomendação de fibra é de 25 a 35g por dia. Outro tipo de fibra presente nas goiabas é a pectina, que contribui para a redução de absorção do colesterol dietético, além de reduzir a velocidade de absorção dos carboidratos, o que é mais saudável.

A goiaba vermelha, assim como outros vegetais de cor vermelha (ex. pitanga, melancia, mamão, tomate e morango), é rica em licopeno. O licopeno é um carotenoide sem atividade pró-vitamina A, que possui elevada atividade  antioxidante, com capacidade de sequestrar o oxigênio singlete, que é uma espécie extremamente reativa de oxigênio. 

Os antioxidantes da dieta após absorção são encontrados dentro das células ou na circulação, protegendo as substâncias e membranas celulares de serem oxidadas ou danificadas, ajudando a prevenir, por exemplo, doenças cardiovasculares e câncer.

O licopeno pode ser encontrado na natureza em duas formas: cis e trans. A forma trans é menos absorvida, mas quando esta substância é submetida a altas temperaturas é transformada na forma cis, que é melhor absorvida pelo organismo. Isto ocorre no processo de fabricação de molho de tomate e goiabada. Portanto, a goiabada é melhor fonte de licopeno do que a goiaba por duas razões: por ser mais concentradoe por possuir maior teor de licopeno na forma cis. Estudos mostram que, após a ingestão de licopeno, este predomina no plasma e também se acumula nos tecidos humanos (ex. próstata, fígado, pulmão), protegendo estes órgãos.

Na tabela abaixo, são apresentados os principais nutrientes encontrados na goiabada vermelha.


* Doutorando e professora do Laboratório de Tecnologia de Alimenos (LTA) da UENF

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Insatisfação com o transporte público

Pesquisa feita pela mestranda Giselle Azevedo Pinto, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UENF, mostra uma grande insatisfação com o transporte público de Campos em um grupo de 300 usuários. A maior insatisfação refere-se ao número de veículos em horário crítico, segurança nos terminais rodoviários e nos pontos de ônibus fora dos terminais.

A pesquisa — feita através de um questionário aplicado em março de 2012 na Avenida Quinze de Novembro — embasou a dissertação de mestrado de Giselle. Intitulada “Um estudo sobre a melhoria da qualidade do serviço de transporte urbano por ônibus em Campos dos Goytacazes-RJ”, a pesquisa teve a orientação do professor Daniel Ignácio de Souza Júnior, do Laboratório de Engenharia de Produção (LEPROD) da UENF.

Mais da metade dos entrevistados (62,6%) revelou estar muito insatisfeita ou insatisfeita com o número de veículos atuando nos horários críticos. Em relação à segurança nos terminais rodoviários, 72,7% disseram estar insatisfeitos ou muito insatisfeitos. Já 72,7% dos usuários revelaram que estão insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a segurança nos pontos de ônibus fora do terminal rodoviário.

A pesquisa registrou também grande índice de insatisfação em relação ao horário das rotas, pontualidade, segurança dentro do veículo, rapidez nas viagens, número de veículos, assentos e coberturas nos pontos de espera e identificação/ condição dos pontos de parada. Para a Empresa Municipal de Transportes (Emut), porém, a maioria dos itens foi considerada ‘regular’, exceto o que se refere à limpeza dos ônibus, para o qual a empresa se mostrou insatisfeita.

Em contrapartida, 62,7% dos entrevistados estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a habilidade do motorista na hora de dirigir e 61% deles,  muito satisfeitos com o valor da passagem.   As linhas consideradas mais bem atendidas são as que cobrem os distritos de Donana e Goytacazes, além do bairro Parque Imperial.

Giselle ouviu ainda representantes das 14 empresas de ônibus existentes em Campos — responsáveis por um total de 348 ônibus em circulação na cidade. Ao contrário dos usuários, os representantes das empresas de ônibus consideram satisfatório o serviço prestado. No entanto, apenas 38,5% das empresas afirmaram possuir frotas adaptadas a usuários portadores de deficiência.

— A análise da pesquisa mostra que todas as condições apresentadas no questionário precisam ser melhoradas. O grande desafio é determinar quais condições devem ser melhoradas no futuro próximo pelas empresas e quais deverão ter ajuda do governo municipal — diz Giselle.

Fúlvia D'Alessandri
Ana Clara Vetromille

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Seca no NF: ‘sem expectativa de solução’

Professor da UENF diz que é preciso aceitar o fenômeno, investindo mais em técnicas que possam minimizar os efeitos da falta de chuvas na região

Não há expectativa de solução para a ocorrência de seca no Norte Fluminense. A opinião é do professor e pesquisador Elias Fernandes de Souza, do Laboratório de Engenharia Agrícola (LEAG) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da UENF. Segundo ele, é preciso que haja a ‘aceitação’, ou seja, o reconhecimento de que períodos de seca são recorrentes na região e, desta forma, planejar e elaborar investimentos em técnicas agrícolas que possam minimizar os efeitos da seca na produção agrícola — como é o caso da irrigação.

— Podem ocorrer períodos de chuvas suficientes e bem distribuídas, mas a história das chuvas na região mostra que a frequência de ocorrência de secas é maior que os períodos úmidos — diz, lembrando que, junto com a Região dos Lagos, o Norte Fluminense é a região mais seca do Estado do Rio de Janeiro.

Segundo Elias, não há um levantamento preciso da área agrícola irrigada na região. Ele observa que, com a queda do parque industrial da cana-de-açúcar nos últimos anos, a área, que já não era muito extensa, sofreu uma grande redução. Além das usinas e dos produtores de cana-de-açúcar, há utilização de irrigação principalmente entre os produtores de frutas (abacaxi, goiaba, coco, lima e laranja) e hortícolas, principalmente tomate.

— Todos sofrem com a seca, mas o setor que mais sente os efeitos da seca na região certamente é o agrícola. Altas temperaturas, baixa umidade e solo seco criam um ambiente impróprio para o crescimento das plantas e consequentemente para toda a cadeia produtiva na agricultura — afirma.

Segundo o professor e pesquisador José Carlos Mendonça, que também atua no LEAG/UENF, o déficit hídrico do solo, aliado aos ventos fortes, resseca a vegetação e favorece as queimadas. Além disso, o rebaixamento do lençol freático permite a oxidação de áreas do solo normalmente reduzidas, favorecendo a emissão de gases que podem intoxicar os animais. A seca também compromete o nível dos rios e lagoas, impactando o regime de reprodução dos peixes e a atividade pesqueira em geral.

Ele afirma que o que está causando a seca são diferentes fenômenos relacionados à circulação atmosférica global, como a existência de um forte sistema de baixa pressão no Oceano Atlântico Sul e a forte intensidade da alta subtropical do Atlântico Sul, que injeta ventos fortes na costa leste do Brasil, principalmente entre as regiões Norte do Rio de Janeiro, Estado do Espírito Santo e Sul da Bahia.

Professor Valdo Marques
— A presença do centro de baixa pressão no Oceano Atlântico Sul funciona como uma espécie de sumidouro, atraindo para o Oceano, nas proximidades da Região Sul do Brasil, as massas de ar oriundas da Antártida. Já a Alta Subtropical do Atlântico Sul funciona como um bloqueio às entradas dessas frentes — explica, ressaltando que as regiões que mais sofrem com a seca são o Norte e o Noroeste do Estado do Rio de Janeiro, principalmente os municípios de Campos dos Goytacazes, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Quissamã, que estão mais próximos do litoral.

Segundo o professor Valdo Marques, do Laboratório de Meteorologia da UENF (LAMET), há possibilidade de o regime normal de chuvas começar ainda neste mês de janeiro. Já Mendonça observa que há uma previsão, porém de baixa probabilidade, de chuvas para o próximo fim de semana, principalmente a partir de 11/01.

— No período de 1960 a 2000, segundo um relatório que elaboramos na época, a chuva diminuiu em torno de 30% na região de Campos. Mas, nos anos 2000 a 2011, não se registrou grande deficiência hídrica na região. Assim, esta seca de agora se insere naquilo que os meteorologistas chamam de ‘Variabilidade Climática Inter-Anual’— afirma Valdo Marques.

Ana Clara Vetromille
Fúlvia D'Alessandri