quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Herança indígena

Pintura de Debret retratando cerimônia de dança dos Puri


Ao contrário dos Goitacá, os Puri — que vieram de São Paulo fugindo das "entradas e bandeiras" — sobreviveram ao domínio colonial, assimilando a cultura dos colonizadores  e perdendo sua identidade indígena

O fracasso dos colonizadores portugueses em relação aos índios Goitacá — praticamente dizimados por não aceitarem o seu subjugo — não se repetiu em relação a outra população indígena que viveu no Norte/Noroeste Fluminense: os índios Puri. Nômades, os índios Puri iniciaram no século XVII uma longa jornada pelo vale do Rio Paraíba do Sul, com o objetivo de escapar das “entradas e bandeiras” — que aprisionavam índios para o trabalho compulsório na exploração de ouro. Deixaram São Paulo e acabaram se fixando na bacia inferior do Paraíba, entre os rios Pomba, Negro e Muriaé.

De acordo com o estudo “Diversidade étnica dos indígenas na bacia do baixo Paraíba do Sul.
Representações construídas a partir da Etnohistória e da Arqueologia”, da historiadora Simonne Teixeira, as principais fontes históricas acerca deste período estão nos relatos dos viajantes e naturalistas estrangeiros que estiveram na região ao longo do século XIX. Muitos deles tiveram contato direto com os índios, cuja estrutura social já se encontrava muito fragmentada devido à interferência dos colonizadores. Freis capuchinhos italianos comandavam dois aldeamentos importantes na região: São José de Leonissa (atualmente São Fidélis) e Aldeia da Pedra (atualmente Itaocara), e muitos indígenas mantinham relações de trabalho com os colonizadores portugueses.

— No entanto, os relatos de naturalistas como Maximiliano e Burmeister, que estiveram por esta região em meados do século XIX, nos dão conta de que os índios Puri ainda seguiam nômades e com um reduzido conjunto de pertences, somente o suficiente para a sua sobrevivência no ambiente de densa vegetação em que viviam — diz Simonne, que atua no Laboratório de Estudo do Espaço Antrópico (LEEA) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF.

Segundo Simonne, o nomadismo dos índios é associado pelos autores a um paupérrimo conjunto de pertences. Burmeister, por exemplo, relata que “a choça do Puri se constituía de leves habitações, feitas de folhas de palmeira e assemelhando-se a grande gaiola de pássaros”.  Maximiliano escreve que os índios Puri possuíam poucos utensílios e que abandonavam suas moradas, as mais primitivas do mundo, “sem saudades, quando a região circunvizinha não mais lhes garante alimentos suficientes”.

— Com o processo de deflorestamento para a lavoura do café, os índios foram perdendo espaço. Muitos passaram a trabalhar nas fazendas, como diaristas, sobretudo no corte de árvores e carregamento de lenha pelo rio. O pagamento era irrisório: às vezes recebiam em troca tabaco, aguardente ou tecidos coloridos. Há muitos relatos de índios vivendo em estado de miséria — afirma, acrescentando que, ao final do século XIX, os índios “desaparecem” por completo da região, o que leva a crer que foram assimilados como parte da sociedade brasileira.

Segundo Simonne, o fato de a população indígena brasileira não ter deixado fontes textuais ou iconográficas contribuiu, durante muito tempo, para o pouco interesse pela história dos habitantes primitivos do Brasil. Francisco Adolfo Varnhagen chegou a afirmar que não haveria história para os índios, mas apenas “etnografia”, alegando que eles estariam “na infância da humanidade, em estado de barbárie e de atraso”. Para os historiadores antigos, os índios eram “seres terríveis, meio-feras, meio-gentes, sem lei, nem fé e nem rei, entregues a toda sorte de vícios e luxúria”.

— Esse modo de ver os índios como povos detentores de uma bestialidade primitiva pertencia ao ideário português, já claramente manifestada no processo de conquista e colonização da África. Para os primeiros historiadores, a história era movida pelo avanço da civilização europeia, enquanto os índios eram “meros objetos da ciência”, podendo, “quando muito, lançar alguma luz sobre as origens da história da humanidade, como fósseis vivos de uma época muito remota”  — diz Simonne.

Os naturalistas e viajantes foram, portanto, os principais construtores das representações sobre os índios. Até o século XX, a historiografia brasileira desprezou os indígenas, ignorando sua existência e a convivência entre eles e os brancos ao longo do processo de colonização e avanço para o interior.

— Certamente a pouca tradição acadêmica no Brasil, com a ausência de universidades até a transferência da Corte portuguesa, contribuiu para o parco conhecimento da população. A história dos índios no Brasil, até os anos 1980, foi basicamente uma crônica de sua extinção. O melhor seria dizer: a crônica de um povo que teimava em não desaparecer.

Fulvia D'Alessandri

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pesquisa busca controle biológico de vermes usando fungos

Estudos da UENF podem levar a método alternativo de controle do parasito em criação de ovinos; vermes adquirem resistência a produtos convencionais

Clóvis de Paula: 'Controle gradual'
O controle de vermes é fundamental em qualquer criação comercial, mas os vermífugos convencionais com o tempo perdem o efeito porque os parasitos adquirem resistência. Buscando um controle alternativo, pesquisadores da UENF vêm trabalhando em pesquisas que utilizam fungos nematófagos (que matam nematoides) para controlar verminoses em rebanhos de ovinos. Os estudos são coordenados pelo professor Clóvis de Paula Santos, do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual (LBCT) da UENF.

Os fungos nematófagos podem ser encontrados em muitos lugares na natureza. Eles estão, por exemplo, no solo de florestas e de áreas cultivadas, em pastagens, em esterco ou em vegetação em decomposição. Coletados em ambiente natural, eles têm sido cultivados em laboratório para servir às pesquisas. Misturados à alimentação do rebanho, os fungos são expelidos pelas fezes junto com os ovos de vermes. É ali, no pasto, que os fungos atacam os próprios ovos ou, principalmente, as larvas que resultam de sua eclosão.

Como os ovos evoluem muito rápido, os pesquisadores da UENF têm apostado nas espécies de fungos que atacam as larvas. Atualmente, os estudos se concentram na espécie Duddingtonia flagrans. Ao matar as larvas presentes nas fezes, os fungos reduzem a contaminação do pasto e a reinfecção dos carneiros e ovelhas.  Segundo a literatura científica, 97% dos vermes vivem no pasto, e não dentro nos animais.

- Estamos tentando uma metodologia de controle gradual, que tende a mostrar resultados ao longo de certo tempo. À medida que o animal ingere os fungos misturados com seu alimento, ele elimina estes fungos pelas fezes e eles combatem os vermes que nasceriam ali, interrompendo o ciclo reprodutivo do parasito - explica Clóvis.

A grande vantagem do “remédio natural” é que ele não perde seu efeito por conta de resistência dos vermes, ao contrário do controle químico. Outro ponto positivo é que certas espécies de fungos atacam nematoides das mais variadas espécies, e não apenas uma ou outra. Mas a pesquisa ainda tem desafios importantes para superar.

Um deles é identificar e elevar o chamado “tempo de prateleira” do produto, encontrando uma maneira de tornar mais longo o período em que os fungos permanecem vivos para serem usados no combate aos vermes. Outra tarefa é descobrir como obter grandes quantidades dos fungos para permitir a produção em larga escala do remédio alternativo. Em laboratório, a equipe do professor Clóvis já testou o cultivo em arroz parboilizado, milheto, milho, subprodutos da cana-de-açúcar como o bagaço e a torta de filtro e até nas próprias fezes dos animais. O melhor resultado até agora foi o uso de canjiquinha, feita de milho triturado.

Fungos usam de ‘astúcia’ para capturar nematoides


Duddingtonia flagrans predando nematoide Panagrellus spp
Clóvis de Paula Santos está na UENF desde 2001, quando veio da Embrapa Gado de Leite, onde tinha atuado durante nove anos. Desde então ele vem pesquisando o uso de fungos nematófagos no combate a vermes em rebanhos.

Os estudos apontam situações muito interessantes da luta entre estes dois inimigos naturais, que travam batalhas só perceptíveis com o uso de microscópios. Os fungos têm diversas estratégias para matar os vermes. Alguns são chamados predadores e usam armadilhas. Eles assumem a forma de um entrelaçamento de filamentos (chamados hifas), com anéis adesivos (que grudam no nematoide “desavisado”) ou constritores (que se fecham e matam o verme), entre outros tipos de armadilhas.

Mas há outras situações em que os fungos se apresentam não como hifas, e sim protegidos por uma espécie de casca dura - forma tecnicamente chamada de esporos. Na forma de esporos os fungos infectam o nematoide, seja se deixando engolir por ele, seja germinando e penetrando ativamente em seu organismo. Uma vez inserido no verme, a destruição é questão de tempo.

Nos testes de laboratório e de campo, o produto tem dado bons resultados. Mas ainda é preciso avançar para se chegar a um produto que possa ser usado pelo produtor.

Gustavo Smiderle

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Sobrevalorização do mercado imobiliário

Décio Coimbra
O mercado imobiliário em geral, e em especial o de habitação, é fundamental para o desenvolvimento da sociedade. O crescimento equilibrado e sustentado do mercado de habitação se reflete futuramente em qualidade de vida, porém, quando cresce com distorções na dinâmica de preços, pode gerar sérios problemas sociais. É o que afirma o engenheiro e pesquisador da UENF Sebastião Décio Coimbra, que também atua como professor da Universidade Candido Mendes (Ucam-Campos).

A questão motivou o trabalho de conclusão do curso de Príscilla Pinheiro e Társila Manhães, alunas de Engenharia de Produção da Universidade Cândido Mendes, realizado sob a orientação de Décio e coorientação do economista Alexandre Said Delvaux. Em outubro deste ano, um artigo baseado na pesquisa foi selecionado e apresentado no Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), o maior evento na área do país, sob o titulo "Dinâmica de preços e análise de sobrevalorização no mercado imobiliário em uma cidade brasileira de médio porte".

— O assunto é bastante polêmico e de interesse geral no mundo e pelo Brasil afora. Em Campos, por exemplo, o preço do metro quadrado parece estar um pouco fora da realidade, impulsionado nos últimos anos pelo aumento da demanda devido aos megaprojetos anunciados para a região, como o Complexo Portuário do Açu — diz Décio.

A pesquisa é baseada em dados coletados em dez imobiliárias locais, considerando os bairros Alphaville, Jockey Club, Julião Nogueira, Parque Imperial e Pelinca, entre 2007 e 2011. O trabalho compara a valorização acumulada do preço do metro quadrado com a valorização acumulada dos aluguéis no mesmo período, considerando ainda a valorização dos índices de inflação do setor, como o INCC, adotado para o reajuste dos contratos de imóveis em construção, e o IGPM, adotado para o reajuste dos aluguéis.

— Enquanto os índices INCC e IGPM acumularam valorização, respectivamente, de 36,70% e 32,30%, os preços dos imóveis (padrão: apartamento dois quartos) tiveram valorização, na média, de até 171,90% o metro quadrado. Considera-se sobrevalorização quando o preço do metro quadrado não é acompanhado de valorização proporcional nos aluguéis, ou seja, o metro quadrado dos imóveis mostra valorização muito acima da valorização dos aluguéis — explica Décio.

Segundo o pesquisador, a sobrevalorização em curto prazo pode afugentar os novos investidores de forma a criar uma barreira para novos negócios, diminuindo a concorrência e gerando uma concentração do poder de compra.

— O principal problema é que isso se dá de forma sutil e só é visto como problema no longo prazo, quando seus efeitos se concretizam e o mercado tende a ajustar os preços para baixo. Quem comprou no pico e precisa vender pode não conseguir o preço que imaginou e quem investiu pode não ter como pagar, gerando um efeito dominó no setor — afirma.

Uma crise no setor imobiliário pode refletir em toda a economia local, afetando não só os profissionais da área, mas a sociedade como um todo. Em recente visita ao Brasil, o economista norte-americano Robert Shiller levantou a suspeita de que o fenômeno que ele chama de “bolha imobiliária” esteja ocorrendo também no Brasil. Segundo Décio, Shiller se baseou no aumento dos valores dos imóveis nos últimos cinco anos no país, período no qual os imóveis no Rio de Janeiro sofreram uma valorização de 225%, em São Paulo de 185% e no Distrito Federal de 115%.

Em Campos, os resultados da pesquisa mostraram fortes indícios de sobrevalorização nos bairros Parque Imperial e Julião Nogueira, com valorização do metro quadrado de, respectivamente, 94,80% e 82,60% acima da valorização dos aluguéis. Nos bairros Alphaville e Jockey, as sobrevalorizações respectivas ficaram em 46,30% e 22,50%. Já na Pelinca, a valorização não mostra indícios de sobrevalorização, pois está dentro de um patamar aceitável de 10% de variação devido a inconsistências nos dados.

Décio afirma que pretende continuar desenvolvendo pesquisas sobre o setor e já estuda a possibilidade de criar um índice de inflação do mercado imobiliário local, a exemplo do que existe em outras cidades, como Brasília.
 
— A ideia é que tal índice seja publicado periodicamente em um Boletim Informativo que explicaria as variações do período, a cada três ou seis meses, a partir de dados fornecidos por imobiliárias, cartórios e entidades do setor. Com este índice, o nível de informação para os tomadores de decisão e investidores aumentaria, possibilitando decisões mais pautadas em bases reais. Porém, isto vai além da esfera acadêmica, pois seria necessário estabelecer parcerias com as imobiliárias e entidades do setor.

Consulte o texto completo publicado no XXXIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção

Rebeca Picanço


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O novo retrato da biodiversidade na Amazônia

Enquanto metade de todas as árvores da floresta pertencem a poucas espécies, há 6 mil espécies que contam com menos de 1 mil árvores; pesquisador da UENF participa de estudo publicado pela Science
Concentração de espécies na Amazônia (foto: Wikipedia)
Com participação da UENF, uma pesquisa de impacto mundial indica que existam cerca de 16 mil espécies de árvores na Amazônia, com um número total estimado de 400 bilhões de indivíduos para a chamada Grande Amazônia, que inclui toda a bacia e as Guianas. Mas metade de todas estas árvores pertence a uma parcela muito pequena (227 ou 0,01%) das espécies encontradas. O estudo, que conta com a participação do professor Marcelo Trindade Nascimento, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF, foi publicado pela revista Science (edição de 18/10/13), um dos mais prestigiados periódicos científicos do mundo. As pesqsuisas foram lideradas pelo pesquisador Hans ter Steege, vinculado ao Naturalis Biodiversity Center, da Holanda.

Os dados apontam ocorrer na Amazônia o que os cientistas chamam de espécies hiperdominantes. De acordo com Marcelo Trindade, a comunidade científica ainda não tem explicação segura para a grande concentração de árvores em poucas espécies. Mas algumas suposições sugerem que estas espécies, chamadas hiperdominantes, devem apresentar características particulares que as tornam mais resistentes a patógenos (organismos causadores de doenças) ou a herbívoros especialistas ou ainda mais capazes de competir por recursos tais como água e nutrientes do solo. Para o pesquisador, o mais provável é que estas espécies apresentem um conjunto de características, e não uma ou outra, que as auxilie a serem abundantes em determinados habitats.

Segundo Marcelo Trindade, embora o estudo não tenha feito análise sobre o grau de devastação, ele contribui para instruir iniciativas de preservação. É que grande parte das espécies são raras e próprias de um ou de poucos habitats, não estando uniformemente distribuídos na região, e por isso podem desaparecer se parte do seu habitat for destruído.

Para o pesquisador da UENF, a pesquisa reforça o consenso quanto à necessidade de uma política articulada de preservação da Amazônia, que inclua todos os diferentes habitats da região. Isto aponta para a necessidade de uma interação de esforços entre os países por onde a Amazônia se espalha.

- Não basta um país se esforçar, pois alguns habitats raros e importantes podem ocorrer apenas em outro país – explica.

Agora o desafio é identificar que características estariam relacionadas a cada uma das espécies hiperabundantes, antevê o cientista da UENF. Ele não descarta a possibilidade de que algumas destas espécies tenham atingido a hiperdominância com o auxílio de populações humanas anteriores à chegada do europeu à região, embora este padrão de explicação se adeque mais a espécies do grupo das palmeiras, seringueiras e cacau e não a outros.

Quanto à raridade das árvores pertencentes aos 99,99% das demais espécies (as não dominantes, especialmente 6 mil espécies com populações menores do que 1 mil  indivíduos cada uma), o pesquisador explica que esse padrão já é bem conhecido para regiões tropicais e está relacionado à história evolutiva das diferentes espécies, que em geral apresentam o que os estudiosos chamam de conservação de nicho ecológico. Como a região tropical é ambientalmente heterogênea, ela permite um aporte de grande número de espécies, sendo que algumas ocorrem ou já ocorreram (e se extinguiram) em habitats específicos. Mas isto também tem um significado importante:

- Ao se destruir ou reduzir uma área de determinada vegetação, diversas espécies passam a estar ameaçadas em função desta perda de habitat. Muitas espécies raras talvez nunca cheguem a ser coletadas justamente por conta da grande perda de habitat que vivenciamos diariamente no mundo e em especial na Amazônia – conclui.

Pesquisa mobiliza 25 brasileiros


Marcelo e doutoranda Lidiany Carvalho em RR (acervo pessoal)
O estudo publicado pela Science envolveu especialistas de 120 instituições de todo o mundo, incluindo cerca de 25 pesquisadores brasileiros, nos quais se inclui Marcelo Trindade Nascimento, do LCA/UENF. A pesquisa analisa dados compilados a partir de 1.170 levantamentos florestais em todos os principais tipos florestais da Amazônia e é tida como a primeira estimativa de abundância, frequência e distribuição espacial em larga escala de milhares de espécies de árvores amazônicas.

Marcelo Trindade tem se dedicado a estudos em florestas monodominantes (em que predomina uma espécie), em especial na Amazônia – particularmente a ocorrência da espécie Peltogyne gracilipes (roxinho ou pau-roxo), que só ocorre na região de Roraima, ou seja, é endêmica de lá. Seus dados e análises contribuíram para o conjunto de informações trabalhadas nas estimativas do trabalho global.

Como acentua matéria sobre a pesquisa divulgada pelo The Field Museum, de Chicago, Estados Unidos, os autores da pesquisa têm cautela em colocar muita ênfase no papel das espécies hiperdominantes. Permanecem em aberto se as hiperdominantes sozinhas são capazes de suportar a grande variedade de ecossistemas da Amazônia ou se são os outros 99% das espécies de árvores que desempenham o papel mais importante na malha de interações sem que o sistema inteiro entre em colapso.

Fúlvia D'Alessandri
Gustavo Smiderle

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Criação de emas

Pesquisadores da UENF investigam parasitologia destes animais para ajudar produtores

As emas podem ser criadas com autorização do Ibama
A criação de emas vem se tornando uma pecuária alternativa no Brasil devido à boa qualidade dos produtos oriundos dessas aves e também pelo fato de estes animais serem dóceis e sociáveis, o que facilita seu manejo. Com o intuito de avançar no estudo parasitológico, hematológico e bioquímico, identificando e diagnosticando doenças, foram construídos em 2008 um criatório científico e um incubatório de emas na UENF. Professores do Laboratório de Sanidade Animal (LSA/CCTA) da UENF buscam ampliar o número de pesquisas relacionadas à parasitologia e também informar aos criadores de emas as principais doenças que acometem esses animais.

Aberto a diversos professores que têm trabalhado em uma série de pesquisas na UENF, o criatório científico possui hoje 13 emas que vivem sob o cuidado de funcionários da Universidade. De acordo com o professor Francisco de Oliveira, as aves foram adquiridas com autorização do Ibama e através do projeto “Criação de emas (Rhea americana): uma nova alternativa pecuária para o produtor rural do estado do Rio de Janeiro”, aprovado pela Faperj, tendo como principal objetivo trabalhar com os parasitas que causam problemas nas aves e detectar a espécie e as patologias envolvidas, além de fazer pesquisas também com infecção.

Procedimentos de coleta na UENF
— Como as emas são de origem brasileira, e as avestruzes, africana, nós pretendemos introduzir os parasitas da avestruz na ema para ver se há infecção cruzada. A gente vai analisar se os parasitas das avestruzes podem infectar a ema, pois estes são muito patogênicos para as avestruzes. Então nós queremos ver se as emas correm o risco de adquirir essas parasitoses e vir a ter problemas — explica o professor.

Francisco relata também que as emas existentes no criatório possuem OPG (Ovos por Gramas de Fezes) muito baixo, com poucos parasitas, pois elas já chegaram à Universidade vermifugadas, o que é essencial para a saúde do animal. Portanto, a coleta dos parasitas internos a fim de obter uma boa descrição ainda será feita.

Emas e avestruzes pertencem ao grupo das ratitas, aves que não voam. Segundo o professor Francisco, a ideia de fazer pesquisas com emas surgiu após uma constatação de que havia grande dificuldade em trabalhar com avestruz por este ser um animal bastante agressivo. Francisco diz que pouco tempo atrás, na região, existiam pequenos e médios criadores de avestruzes, porém muitos desistiram da criação devido à dificuldade com o manejo. Além disso, havia também sérios problemas em avestruzes devido à parasitose.

— Esse tipo de problema é gerado pela falta de profissionais habilitados com conhecimentos técnicos na criação de ratitas. As avestruzes são animais de grande porte e muito agressivos, o que dificulta o seu manejo. Já as emas possuem menor porte e são mais dóceis, o que facilita a sua lida, além de possuírem as mesmas qualidades de produtos e subprodutos das avestruzes. Portanto, as emas são uma boa alternativa de criação para substituir as avestruzes no Norte Fluminense, tornando-se um mercado promissor para o estado e país — disse.


Interesse vem crescendo no Brasil

Pesquisadores estudam se parasitas de avestruz infectam ema
Existem duas espécies de emas: a ema maior ou comum, Rhea americana, e a ema menor ou de Darwin, Pterocnemia pennata, ambas oriundas da América do Sul. Somente a primeira é criada em cativeiro, principalmente nas Américas e Europa. Estas aves são onívoras, alimentam-se de pastagem, sementes e insetos, e podem viver até 40 anos. De acordo com Francisco, cada fêmea bota um ovo a cada dois ou três dias, totalizando em média 40 ovos por período reprodutivo. Além disso, a carne é livre de gordura, rica em proteínas, ômega 3 e ferro.

Na década de 1990, a exploração comercial de ratitas foi considerada o maior sucesso do agrobusiness nos Estados Unidos. Acompanhando a tendência mundial, embora esta seja uma atividade nova, o interesse pela exploração de avestruzes e emas no Brasil vem crescendo, devido à boa qualidade dos produtos oriundos destes animais.

Atualmente, a criação comercial de emas é uma alternativa pecuária reconhecida pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa). Por se tratar de um animal silvestre, a atividade é controlada pelo Ibama, que proíbe sua caça. O comércio da carne só é permitido de animais oriundos de criatórios comerciais registrados junto aos órgãos competentes (Ibama/Mapa/Anvisa).

Thais Peixoto

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Pesquisa da Uenf ganha prêmio Milton Krieger

Suzane Ariádina de Souza, ao ganhar o Prêmio
O trabalho intitulado “O papel de PQQ na resistência a estresses abióticos em Gluconacetobacter diazotrophicus e interação com Arabidopsis thaliana” de autoria da doutoranda Suzane Ariádina de Souza, do Programa de Genética e Melhoramento de Plantas da UENF, recebeu o prêmio Milton Krieger, oferecido pela Sociedade Brasileira de Genética. A entrega do Prêmio foi realizada durante o 59º Congresso Brasileiro de Genética, que ocorreu entre os dias 16 e 19/09, em Águas de Lindoia, São Paulo.

Ao todo, foram 878 trabalhos inscritos desenvolvidos no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.O trabalho da UENF, que conquistou o primeiro lugar na categoria "Genética de Microrganismos”, foi desenvolvido sob a orientação do professor Gonçalo Apolinário de Souza Filho, do Laboratório de Biotecnologia (LBT), e coorientação da professora Aline Chaves Intorne, do Laboratório de Fisiologia e Bioquímica de Microrganismos (LFBM), ambos do Centro de Biociências e Biotecnologia da UENF.

A pesquisa teve como principal objetivo investigar o papel da molécula PQQ na tolerância a estresses abióticos em Gluconacetobacter diazotrophicus e interação com  Arabidopsis thaliana. Gluconacetobacter diazotrophicus é uma bactéria que promove o crescimento vegetal, agindo no controle biológico de patógenos. Esse microrganismo apresenta alta tolerância a diferentes estresses ambientais, incluindo metais, salinidade, pressão osmótica e calor.

Segundo Suzane, Gluconacetobacter diazotrophicus foi isolada de cana-de-açúcar, porém a pesquisa utiliza a Arabidopsis thaliana por se tratar de uma planta com curto ciclo de vida e mais fácil de ser trabalhada em laboratório.

— Trata-se de uma planta modelo muito utilizada por pesquisadores da área de biologia molecular. Iniciamos o estudo na Arabidopsis thaliana para posteriormente termos a possibilidade de trabalhar com outras plantas como a cana-de-açúcar. — explica.

Suzane conta que o processo de pesquisa foi iniciado ainda em 2009, quando a professora Aline cursava doutorado e desenvolvia um estudo na biblioteca de mutantes do LBT.

— Ao fazer a caracterização, ela observou que alguns mutantes não solubilizavam fósforo e zinco e achou interessante. Iniciamos o processo de identificação desses mutantes e verificamos que eles pertenciam à via PQQ. A Pirroloquinolina quinona (PQQ) pode ser encontrada não só em bactérias, como também em plantas e animais. É uma molécula muito importante, pois possui atividade antioxidante, faz parte da produção de vitaminas e é muito utilizada na fabricação de medicamentos — diz.

Suzane afirma que o trabalho já possui dados suficientes para ser finalizado e deve ser publicado até o final desse ano. A doutoranda destaca a importância do trabalho premiado e afirma que pretende dar continuidade à pesquisa até 2015, quando concluirá o programa de doutorado.

— Esse trabalho é importante porque conseguimos estudar a importância da molécula PQQ, tanto para a bactéria quanto para a planta. Pretendo dar continuidade à pesquisa através do estudo de outros mutantes — afirma.

Rebeca Picanço

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Bem-estar animal

Rosemary Bastos alimenta um filhote de lhama
Modo como os animais de criação são tratados está diretamente relacionado aos índices de produtividade dos rebanhos

Cuidar bem dos animais não é só uma demonstração de afeto aos amigos de quatro patas. No que se refere aos animais de produção - como bovinos, bubalinos, suínos, ovinos, caprinos, peixes e aves — a forma de tratamento pode fazer toda a diferença na produtividade. O manejo inadequado pode interferir, por exemplo, na qualidade da carne e do leite.

Segundo a professora Rosemay Bastos, do Laboratório de Reprodução e Melhoramento Genético Animal (LRMGA) da UENF — que coordena um projeto de extensão desde 2007 sobre bem-estar animal, guarda responsável e zoonoses em escolas direcionado as crianças/adolescentes e professores — o bem-estar animal é uma ciência que busca garantir condições básicas para uma boa qualidade de vida de todos os animais, sendo estes de produção ou não.

O conceito de bem-estar envolve três elementos que se inter-relacionam: a questão física, mental e comportamental do animal — aspectos estes que podem interferir na produtividade e qualidade final do produto.

— Se a pessoa for agressiva durante o manejo, por exemplo, gera estresse no animal.  Isso é altamente prejudicial, pois o estresse prejudica fisiologicamente, além de afetar o próprio desenvolvimento e a produção de carne ou de leite. Já se sabe que o estresse faz com que ocorra a diminuição da acidez da carne que é necessária para conservá-la; além disso, gera uma carne escura, dura e seca — explica a professora.

O manejo inadequado pode ocorrer, segundo Rosemary, em qualquer etapa do processo da cadeira produtiva, como na alimentação, no transporte e na condução para o abate, gerando prejuízos econômicos aos produtores e danos aos animais e tratadores. Ela observa que a prática do bem-estar considera as cinco liberdades necessárias aos animais: ser livres de medo e estresse; de fome e sede; de desconforto; de dor, lesões e doenças e a liberdade de expressar seus comportamentos naturais.

Juliana Costa
Rosemary destaca que as boas práticas voltadas ao bem-estar animal não requerem necessariamente custos ao produtor. Segundo ela, materiais de baixíssimo custo podem ser utilizados. Por exemplo, durante o manejo para condução de bovinos, podem ser utilizadas bandeiras feitas com sacos plásticos ou tecidos de baixíssimo custo. O objetivo do uso de bandeiras é orientar os animais, bem como minimizar os riscos aos peões, já que a haste é longa.  Outro exemplo são os chocalhos para a condução de suínos, que podem ser feitos de garrafa pet, com pedras dentro. O intuito é sempre o de evitar o manejo agressivo e facilitar o entendimento do animal.

— O custo só é um pouco alto quando é necessário trocar toda a estrutura de confinamento, por exemplo. Mas o lucro compensa depois, pois o produtor pode se inserir na cadeia dos produtos agroecológicos e orgânicos e assim atingir um público-alvo mais exigente, disposto a pagar um preço mais alto pelo produto de melhor qualidade — diz a zootecnista Juliana Costa, que junto com Rosemary coordenou/ministrou o curso “Bem-estar animal: cuidar para produzir”, realizado este ano pela terceira vez, durante a Semana do Produto Rural da UENF.

Também é essencial que o ambiente de confinamento seja limpo, do contrário os animais podem evitar deitar mesmo quando cansados. Isso pode gerar problemas como, por exemplo, claudicação em bovinos. No caso dos animais que vivem no pasto, também é necessário que haja árvores e a quantidade e dimensões corretas de bebedouro e comedouro, de acordo com o número de animais.

— Como existe dominância dentro dos rebanhos, nem todos os animais conseguem comer ou beber água se houver um número excessivo de animais para cada comedouro ou bebedouro. Há casos de fêmeas que, inclusive, tem a reprodução prejudicada devido a problemas nutricionais.

Juliana lembra que, em meio aos protestos ocorridos no Brasil recentemente, uma das reivindicações é a criação de um departamento específico, no campo do meio ambiente, para lidar com a questão dos maus tratos aos animais. A ideia é criar um canal no qual as pessoas possam fazer denúncias de crueldades contra os animais e que estas possam originar investigações mais direcionadas. É importante lembrar que todos os animais são protegidos por lei.

Os animais precisam de sombra
Rosemary e Juliana pretendem realizar em breve um projeto de divulgação das boas práticas animais (manejo racional), com palestras itinerantes nas propriedades do Norte Fluminense.

Fazendas em São Paulo e Mato Grosso já adaptadas

Embora a questão do bem-estar animal ainda caminhe a passos lentos no Brasil — se comparado aos demais países — já existem fazendas adaptadas no interior de São Paulo e no Mato Grosso. Segundo Rosemary, há até uma propriedade, no Mato Grosso, com certificado internacional de boas prática voltadas ao bem-estar animal.

— Isso é muito importante, pois o Brasil é um dos maiores exportadores de carne, e alguns países da Europa, por exemplo, já solicitam este certificado. No exterior, já é comum que as fazendas tenham o selo de boas práticas de bem-estar animal. É uma exigência de mercado, à qual o Brasil também tem que se adaptar — afirma.

Segundo a professora, as cinco liberdades relacionadas ao bem-estar animal foram criadas em 1992 pelo Conselho de Bem-estar de Animais de Produção do Reino Unido. As normas foram elaboradas após a denúncia feita por uma jornalista acerca dos maus tratos que os animais vinham sofrendo na década de 60. Hoje as cinco liberdades são utilizadas universalmente.     

— Se preocupar com o bem-estar animal é sem dúvida vantajoso para os animais, pessoas e para toda a cadeia produtiva. Esta será uma exigência universal para o futuro bem próximo e os produtores brasileiros realmente terão de se adequar para permanecerem competitivos no mercado nacional e internacional – conclui.

Thais Peixoto
Fulvia D'Alessandri

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Feira agroecológica

Agricultores do Assentamento Zumbi dos Palmares participam desde 2007 de Feira Agroecológica na UENF

Você sabia que para ter uma alimentação saudável não é necessário ter muitos gastos? Com preços acessíveis, é possível comprar alimentos orgânicos vindos diretamente da produção agroecológica. Na Feirinha de Produtos Agrícolas, que funciona no prédio P5 da UENF toda terça-feira de manhã, são comercializados alimentos sem agrotóxicos produzidos por agricultores da região Norte Fluminense.

Criada através de uma parceria entre o Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB/UENF) e o Instituto de Agroecologia e Meio Ambiente (IAMASOL), a feira acontece desde 2007 e está em constante fortalecimento da agricultura familiar. A iniciativa é parte do projeto “Agroecologia: Difusão e Popularização de Tecnologias com Base Ecológica para a Agricultura no Norte Fluminense”, que há sete anos vem realizando diferentes trabalhos com o objetivo de difundir, incentivar e promover a agroecologia da região.

De acordo com o coordenador do projeto, professor Fábio Coelho, cresce cada vez mais o número de agricultores interessados na produção agroecológica.

— Muitos agricultores que ainda relutavam entre o convencional e o agroecológico, estão cada vez mais satisfeitos com a produção e comercialização de seus produtos agroecológicos. Isto devido ao retorno econômico mais promissor, bem como o menor risco de contaminação pela não utilização de agrotóxicos — disse.

Fábio afirma que a agricultura familiar é o setor que ocupa maior parte da mão-de-obra, servindo para assegurar a permanência da família no meio rural. Além da feirinha, o projeto realiza ações como cursos sobre as diversas técnicas de cultivo em agricultura orgânica e assistência técnica a partir de reuniões que auxiliam  a comercialização.

— Além da comercialização dos produtos, os agricultores da feirinha também trocam experiências entre si e com a comunidade universitária. Percebe-se que está havendo maior difusão da agroecologia no campo e na cidade através de pesquisas e trabalhos participativos, fortalecendo assim, a agricultura familiar e o desenvolvimento rural sustentável — disse.

Em 2007 o projeto resultou em vitórias concretas nos Assentamentos Zumbi dos Palmares em termos de crescimento na utilização de técnicas agroecológicas que reduzem o nível de contaminação por agrotóxicos. A partir de então, o trabalho se ampliou e agricultores do assentamento começaram a participar do projeto.

— A ideia é que todos os produtores melhorem a renda familiar, possam desenvolver os conhecimentos em agricultura agroecológica, tenham maior acesso aos alimentos básicos, maior preservação do meio ambiente e recursos naturais, maior produção de alimentos de melhor qualidade biológica sem contaminação por agrotóxicos, e consequentemente, obtenham melhoria nas condições de saúde e de vida, tanto no campo quanto na cidade.  Além disso, buscamos a diminuição do impacto ambiental e a sustentabilidade — explica Fábio.

Uma das conquistas dos agricultores foi conseguir um transporte para levar os produtos e os próprios feirantes até a UENF toda terça-feira. Isto foi possível em 2009, quando os produtores se reuniram com o reitor da Universidade e ficou estabelecido o apoio cedido pela UENF. Neste mesmo ano houve um crescimento no número de visitas, como também a possibilidade de manejo de pragas utilizando agentes de controle biológico cedidos por professores do LEF/CCTA em busca de soluções por meios mais ecológicos.

Além disso, o projeto ainda elabora um “jornalzinho” com informações sobre agroecologia e feiras solidárias e, atualmente, realiza cursos sobre cultivo e manejo de pragas da goiaba, abacaxi e coco. O próximo passo da equipe, em união com a Pesagro, é a implantação de uma horta-mandala, onde aulas práticas serão ministradas.      

Em seu aniversário de 20 anos, em agosto, a Universidade prestou uma homenagem ao agricultor Cícero Guedes, um dos integrantes da Feira, morto no início do ano. O local onde a Feira é realizada semanalmente, no prédio P5, recebeu o nome de “Espaço Agroecológico Cícero Guedes”.

Thais Peixoto

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Projeto Família Responsável

O professor Ângelo Burla conversou com os alunos
Numa parceria com o Rotary Club e escolas da rede pública de Campos, pesquisadores da UENF vêm desenvolvendo o projeto "Família Responsável", que tem por objetivo a prevenção da gravidez na adolescência. A primeira etapa do projeto ocorreu terça-feira, 19/09, quando um grupo de 60 alunos do 1º ano do ensino médio do CIEP Nilo Peçanha assistiu a aulas práticas ministradas por professores e estudantes da UENF sobre o aparelho reprodutor dos bovinos.

Os adolescentes tiveram a oportunidade de ver, através de microscópios e estereomicroscópios, espermatozoides, oócitos, embriões, fetos conservados e células da trompa uterina. Também foram utilizados órgãos de bovinos para mostrar como funciona todo o processo de reprodução do animal. De acordo com a presidente do Rotary Club e médica veterinária do Laboratório de Reprodução e Melhoramento Genético Animal (LRMGA) da UENF, Carla Sobrinho Paes, ao utilizar o bovino como modelo biológico, os estudantes passam a ter mais consciência do próprio organismo e percebem como é a mobilidade das células, tanto animais quanto humanas.

— No momento em que a gente mostra o aparelho genital de uma fêmea e de um macho, além dos espermatozoides, os oócitos, embriões e as glândulas que estão envolvidas no processo reprodutivo, eles se conscientizam que essas células têm vida. Então a gente está sempre contextualizando com a espécie humana para mostrar aos alunos que o processo é o mesmo, ou seja, o organismo dos animais funciona de forma similar ao organismo humano — disse Carla, acrescentando que o material utilizado nas aulas práticas é doado por um matadouro e também é utilizado em pesquisas no Laboratório da UENF.


Os alunos visitaram a área rural da Universidade
O professor Ângelo Burla, do LRMGA, explicou aos estudantes como funcionam os mecanismos de regulação da temperatura no processo de formação do espermatozoide no bovino. Segundo Burla, milhões de espermatozoides são produzidos a cada dia. Até que estejam em condições de fertilizar o óvulo, eles passam por várias etapas. O ciclo completo dura em média 58 dias. Em sua explanação, o professor falou também sobre os mitos e verdades sobre a vasectomia.  

— Uma função é a produção espermática que se dá por um grupo de células existentes no testículo. A outra questão é a produção hormonal, que é por outro grupo celular. Então não significa que por ter tirado um fragmento e causado uma interrupção no trajeto dos espermatozóides, vá causar algum problema na produção hormonal. Ela continua independentemente desta situação —disse.

A 2ª etapa do projeto “Família Responsável” acontecerá nesta quinta-feira, 26/09, no CIEP Nilo Peçanha, de 8h30 às 11h30. Dessa vez, serão realizadas palestras abordando sexualidade, puberdade, ciclo menstrual e doenças sexualmente transmissíveis.

Para a aluna Noara Azevedo, de 18 anos, o projeto é bastante interessante, pois amplia o conhecimento na área e faz com que eles tenham mais certeza de qual carreira seguir.

— Muita coisa foi novidade para mim, principalmente sobre o sistema reprodutivo dos animais. E eu sempre gostei de Biologia, mas agora estou mais interessada ainda, acho que é o curso ideal para mim — disse.

Thaís Peixoto

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Darcy Ribeiro dá nome a alcaloide

Substância extraída da planta Rauvolfia grandiflora foi isolada por pesquisadores da UENF e batizada de ‘darcyribeirina’

Imortalizado no nome da UENF e, mais recentemente, em uma estátua colocada no foyer do Centro de Convenções, o mestre Darcy Ribeiro também será lembrado para sempre no reino vegetal. Seu nome foi escolhido para denominar um alcaloide da planta Rauvolfia grandiflora, da família Apocynaceae. Isolada em 2001, a substância foi batizada de “darcyribeirina” pelos pesquisadores do Laboratório de Ciências Químicas (LCQUI) do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da UENF, responsáveis pelo estudo.

O trabalho foi publicado em 2002 na revista científica internacional Tetrahedron Letters, sob o título “Darcyribeirine, a novel pentacyclic indole alkaloid from Rauvolfia grandiflora Mart”. A substância foi isolada durante as atividades de pesquisa da então mestranda em Produção Vegetal da UENF Náuvia Maria Cancelieri, com a orientação do professor Ivo José Curcino Vieira e coorientação do professor Raimundo Braz Filho.
   
Nativa da Mata Atlântica, a planta Rauvolfia grandiflora é abundante nas regiões Norte e Noroeste Fluminense e também no Espírito Santo. A coleta da espécie foi feita em uma fazenda no município de Bom Jesus do Itabapoana, com o objetivo de analisar a composição química das cascas de suas raízes. Segundo Curcino, trata-se de um tipo de planta invasora que pode ser uma das responsáveis pela mortalidade dos animais, já que os alcaloides são bastante tóxicos quando consumidos por bovinos.
Ivo Curcino

— Para o gado não comer, os fazendeiros costumam podar a planta por cima, mas as raízes possuem um tronco bem grande. Então a gente coletou as cascas desses troncos para fazer a análise de sua composição química — diz. 

No entanto, os alcaloides são substâncias que apresentam em seu esqueleto um ou mais átomos de nitrogênio. Portanto, a produção dessa substância na Rauvolfia é considerada importante, uma vez que ela possui grande variedade de atividade biológica, agindo no tratamento de diversos problemas, como arritmias cardíacas, tumores, febre, depressão, entre outros.

A pesquisa resultou no isolamento de oito alcaloides: isoreserpilina, darcyribeirina, darcyribeirina B, 11-demetoxidarcyribeirina, 10-demetoxidarcyribeirina, N-óxido-isoreserpilina, N-óxido-7-hidroxiindolina-isoreserpilina e isoreserpina. Segundo o professor, dentre os oito alcaloides, seis são inéditos na espécie, inclusive a darcyribeirina, o que torna a pesquisa pioneira. Apesar de a planta já ter sido analisada no Recife, ainda não havia estudos com essa classe de substâncias.

— Até então ninguém tinha pesquisado os alcaloides dessa espécie, especialmente o novo alcaloide darcyribeirina, pois era uma substância natural desconhecida. Essa dissertação foi inédita, criando o cenário para outras atividades de pesquisa com a classe dos alcaloides, envolvendo o grupo de pesquisadores de produtos naturais da UENF — disse Curcino, lembrando que o trabalho estimulou outro estudo com uma substância diferente, publicado em outra revista. Graças às pesquisas, o grupo  se tornou referência para trabalhar com essa classe substâncias.

O professor observa que, após esta pesquisa com os alcaloides,  surgiram parcerias entre a UENF e outras universidades, como a UFF e UFRJ. Estas parcerias resultaram em trabalhos de prevenção contra a enzima da inibição do mal de Alzheimer, atividades biológicas anticancerígenas e anti-leucêmicas.

Raimundo Braz
Atividades medicinais deverão ser investigadas

De acordo com o professor Raimundo Braz Filho, o Brasil possui de 40 a 200 mil espécies vegetais — o que representa um terço das espécies de plantas existentes no planeta — e cerca de 10 mil delas são medicinais. Portanto, é possível realizar mais pesquisas com diversas substâncias para tratamento e preservação da saúde humana. Braz ressalta que o alcaloide darcyribeirina poderá ser investigado para avaliação de atividades medicinais.

Para a autora da dissertação, Náuvia Maria Cancelieri, o estudo foi muito gratificante e as constatações despertaram mais empenho na pesquisa.

— Estes fatos, aliados à grande importância farmacológica dos alcaloides isolados de espécies do gênero Rauvolfia, fizeram com que o estudo fitoquímico de Rauvolfia grandiflora fosse bastante excitante — conclui a pesquisadora.

Thaís Peixoto
Fúlvia D'Alessandri

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Preservando as orquídeas

Projeto de extensão da UENF busca conscientizar a população sobre necessidade de preservar as orquídeas em seu habitat

A região Sudeste concentra a maior parte dos produtores de orquídea — uma das principais flores cultivadas e comercializadas no país. Com o intuito de conscientizar a população sobre a necessidade de preservação destas flores em seu habitat, os professores Virgínia Silva Carvalho e Henrique Duarte Vieira, do Laboratório de Fitotecnia (LFIT) da UENF, realizam há cinco anos o projeto de extensão “Entendendo as plantas da família Orchidaceae: conhecer para preservar e produzir com sustentabilidade”.

Durante os cinco anos deste projeto foram ministrados mais de 40 cursos na UENF, na Associação Orquidófila Vale do Itabapoana (AOVI) e no Jardim Botânico do Rio de Janeiro durante a Exposição “OrquidaRio”, com um público estimado de mais de mil pessoas.

— Nos cursos explicamos a importância de preservar as orquídeas em seu habitat e de não utilizar substratos oriundos da extração, como o xaxim e a casca de peroba, como formas de preservação do bioma. As orquídeas têm uma relação direta com fungos e insetos, sendo responsáveis pelo equilíbrio do meio ambiente — explica Virginia.

Os cursos buscam ampliar o nível de conhecimento e capacitar os produtores nas técnicas de cultivo e na produção comercial. Desta forma, vêm sendo oferecidos também cursos mensais sobre cultivo de orquídeas aos produtores, orquidófilos e demais interessados na produção de mudas de orquídeas in vitro. 

Virgínia Silva Carvalho
Neste ano foram desenvolvidos protocolos para a produção de mudas em larga escala visando atender aos produtores da região Norte e Noroeste Fluminense, como também aos mercados internos e externos. Segundo Virginia, o método utilizado para o semeio in vitro de orquídeas propõe a redução dos custos de produção. Portanto, há uma substituição de componentes do meio de cultura por outros mais simples como, por exemplo, a troca da sacarose P.A. por açúcar cristal, ágar por amido, entre outros que simplificam o preparo do meio de cultura e reduzem os custos de produção.

Além disso, o projeto busca impulsionar o desenvolvimento da floricultura na região Norte e Noroeste Fluminense, como também abordar a importância de reintroduzir plantas em ambientes de conservação e da reconstituição de habitats degradados pela ação indiscriminada do homem.

De acordo com Virginia, o fortalecimento de polos regionais e a grande variedade do consumo de espécies contribuem para o aumento da produção de orquídeas, o que garante maior empregabilidade tanto na área rural quanto nas cidades, propriedades e empresas agrícolas.

— Esse crescimento representa uma alternativa altamente eficiente e eficaz para o desenvolvimento econômico e social sustentável e equânime entre as diversas macrorregiões geográficas do País — disse.

Segundo Virgínia, os pesquisadores envolvidos no projeto realizam reuniões mensais na UENF, todas as segundas quartas-feiras de cada mês, às 19h, na Sala de Conferência do prédio. P4.

Extrativismo era comum até o século XX

Até o século XX o comércio de orquídeas tropicais era realizado de forma extrativista e sem preocupação com a preservação dos habitats. Devido à falta de conhecimento das técnicas de cultivo, a maioria das plantas acabava morrendo na Europa, onde eram levadas após serem retiradas das florestas tropicais americanas e asiáticas.

O cultivo comercial de orquídeas só teve um grande incentivo a partir do século XX com o aprimoramento dos métodos de propagação. De acordo com Virginia, a comercialização dessas plantas no Brasil é recente, embora a atividade já contabilize números bastante significativos.

— São mais de 4 mil produtores, cultivando uma área de aproximadamente seis mil hectares anualmente, em 304 municípios brasileiros em 12 polos de produção. Atualmente é notável o crescimento e consolidação de importantes polos florícolas no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal e na maioria dos estados do Norte e do Nordeste. O Rio de Janeiro importa cerca de 90% das flores que consome, sendo o segundo maior consumidor do Brasil, o que se traduz em um grande potencial de crescimento da floricultura no estado — relata Virgínia, acrescentando que os dados são da floricultura brasileira e não apenas dos produtores de orquídeas.


Thaís Peixoto
Álvaro Sardinha

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Emissão de metano por ruminantes

Pesquisa coordenada por professor da UENF é premiada pela Sociedade Brasileira de Zootecnia (SBZ)

Um dos três principais gases do efeito estufa — com potencial de aquecimento global 21 vezes superior ao dióxido de carbono — o metano é liberado na atmosfera, em grande parte, pela ação antrópica (realizada pelo homem). A agropecuária é uma delas, respondendo por 30% das emissões mundiais de metano na atmosfera. E os ruminantes constituem o grupo de animais que mais contribui para isso, sendo responsável por 25% das emissões totais de gás metano.

Uma pesquisa coordenada pelo professor Carlos Augusto de Alencar Fontes, do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal (LZNA) da UENF, mostra que é possível interferir nesse processo através da alimentação dos animais. Intitulada “Níveis de metano e perdas energéticas em bovinos de corte, suplementados ou não, em pastagem de capim mombaça (Panicum maximum c. Mombaça), a pesquisa foi considerada a melhor apresentada durante a 49ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia (SBZ), realizada de 22 a 26/07/13, fazendo jus ao Prêmio Ismael Leal Barreto, concedido pela SBZ.

Financiada pela Capes e pela Faperj, a pesquisa teve como um de seus objetivos quantificar a emissão de metano por bovinos criados em regime de pasto, em forrageira tropical, suplementados ou não com ração concentrada.

— Concluimos que a suplementação com concentrado age de forma efetiva na mitigação da emissão de metano, reduzindo a proporção da energia perdida na forma de CH4 — disse o professor Fontes.

Segundo o professor, estima-se que o rebanho bovino brasileiro libere anualmente para a atmosfera 9,4 milhões de toneladas de metano, provenientes da fermentação ruminal. Isso corresponde a 92,1% de todo o metano gerado pelas atividades agrícolas nacionais.

— Só o CO2 gerado pelo desmatamento das florestas tem participação mais importante que o metano na produção do efeito estufa no país — afirma.

Ele explica que o metano é produzido pelos microrganismos metanogênicos ruminais, a partir de hidrogênio (H2) e gás carbônico (CO2). Durante a fermentação ruminal, os carboidratos são convertidos em ácidos graxos de cadeia curta, principalmente os ácidos acético, propiônico e butírico. A formação destes ácidos é acompanhada pela produção de H2 gerando metano.

— A proporção dos ácidos graxos formados e, consequentemente, a produção de metano são influenciadas pelo alimento consumido pelo animal, bem como outros fatores. Com o aumento de alimentos concentrados na dieta, as emissões de metano podem ser reduizidas em até 67% — explica.

Professor Carlos Augusto Alencar Fontes
De acordo com Fontes, a produção de metano constitui importante perda energética, que pode chegar a até 14% da energia digestível digerida. Desta forma, fatores associados à redução da emissão de CH4 estão relacionados positivamente ao aumento da eficiência alimentar dos ruminantes.

Segundo o professor, o rebanho bovino brasileiro — constituído predominantemente por animais zebuínos criados em sistemas extensivos — está sujeito à estacionalidade (climática) de oferta de alimentos. Isso resulta em baixos ganhos diários médios de peso e no alcance tardio do peso de abate. A suplementação energética pode reduzir a emissão diária de metano, resultando em ganho de peso e reduzindo a idade de abate.

— No caso dos animais destinados ao abate, produzidos em regime de pasto, a intensificação do processo produtivo, com utilização de forrageiras adaptadas e mais produtivas, práticas adequadas de manejo e animais com melhor potencial genético podem reduzir significativamente a produção total de metano, com benefícios para o meio ambiente — afirma, lembrando o conhecimento da emissão de CH4 nas condições locais é indispensável para balizar tomadas de decisões futuras que conduzam a sistemas de produção mais sustentáveis.

O estudo teve ainda a participação dos seguintes pesquisadores: Alexandre Berndt (Embrapa Pecuária Sudeste-São Carlos), Rosa Toyoko Shiraishi Frighetto (Embrapa Meio Ambiente-Jaguariúna), Viviane Aparecida Carli Costa (Pós-doc do sistema PNPD/Capes), João Gomes de Siqueira (técnico de nível superior, doutor da UENF), Karina Zorzi (Pós-doc do sistema PNPD/Capes), Elizabeth Fonsêca Processi (doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UENF) e Tiago Neves Pereira Valente (Pós-doc do sistema PNPD/Capes).

Fulvia D'Alessandri







quarta-feira, 31 de julho de 2013

Por dentro das rochas

Pesquisa sobre a estrutura interna de reservatórios na Bacia de Campos utiliza dados sigilosos cedidos pela UOBC-Petrobras 

Dentre os estudos necessários para a prospecção de petróleo, um dos mais importantes é o que caracteriza o conjunto de rochas que compõem os reservatórios. Dados de um importante campo de petróleo da Bacia de Campos foram cedidos sob sigilo pela UOBC-Petrobras para que a UENF desenvolvesse a pesquisa “Interpretação de reservatório turbidítico na Bacia de Campos usando inversão sísmica e perfis de poços”, defendida no último dia 04/07 pela então mestranda Maria Gabriela Pimentel Pantoja, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Reservatório e de Exploração da UENF.

Orientada pelo professor Antonio Abel González Carrasquilla e coorientada pelo professor Fernando Sérgio de Moraes, ambos do Laboratório de Engenharia e Exploração de Petróleo da UENF (LENEP/UENF), a pesquisa utilizou softwares comerciais para interpretação de dados gentilmente cedidos pelas multinacionais Senergy  (empresa escocesa, que desenvolve o software Interactive Petrophysics para interpretação de dados geofísicos de poço) e Fugro (holandesa, subsidiária da empresa francesa Compaigne Generale de Geophysique - CGG, que cedeu o software Jason para interpretação de dados sísmicos). 

A pesquisa busca compreender melhor a estrutura interna de um reservatório turbidítico (depósito sedimentar, originado por correntes de turbidez submarinas) situado na Bacia de Campos. Para desenvolver a pesquisa, Gabriela também contou com uma bolsa de estudo financiada pela Petrobras, através de projeto coordenado pelo professor Fernando Moraes.

A Banca Examinadora teve a presença dos professores Marco Antônio Rodrigues de Ceia (LENEPUENF),  Roseane Marchezi Misságia (LENEP/ UENF) e  Klédson Tomaso Pereira Lima (Petrobras), além do orientador e do co-orientador da pesquisa.

— O objetivo da pesquisa foi delinear a distribuição de fácies (conjunto de rochas com determinadas características distintivas) e de porosidade de um reservatório turbidítico da Bacia de Campos, chamado Campo C — diz Gabriela.

Segundo ela, trata-se de um reservatório descoberto em 1984, localizado a cerca de 80 km da costa. Para tanto foram usadas informações provindas da geologia, dados de poços e da sísmica. Dentre outras coisas, buscou-se promover a estimativa de largura e espessura dos reservatórios e indicar as regiões de maior porosidade.

— Os reservatórios turbidíticos de águas profundas representam uma das mais importantes reservas mundiais. Esses sistemas de águas profundas se constituem, muitas vezes, de depósitos heterogêneos e complexos compostos por camadas de espessuras subsísmicas. Nestes casos, as ferramentas de análise e modelagem são levadas ao limite — afirma.

Segundo a pesquisadora, o conhecimento da geometria e da arquitetura dos reservatórios é fundamental no processo de caracterização. Isto porque a distribuição e o deslocamento de fluidos no interior das rochas são controlados pela forma (geometria) dos corpos sedimentares, bem como pelo arranjo (arquitetura) espacial destes corpos. No entanto, quanto mais complexos são estes reservatórios, mais difícil se torna caracterizá-los.

Com uma área aproximada de 100.000 km²,  a Bacia de Campos está localizada no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro e ao sul do Estado do Espírito Santo. A Bacia abriga cerca de 2 mil poços perfurados em mais de três décadas de exploração petrolífera.

Fulvia D'Alessandri

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Surto de botulismo em rebanhos em Campos


Pesquisadores da UENF ajudam a firmar diagnóstico e orientam produtores sobre como evitar novos surtos da doença

Uma intoxicação exógena, denominada botulismo hídrico, causada pela ingestão de toxinas através da água contaminada, levou a óbito 163 bubalinos de diversas categorias, sendo 65% (105 animais) fêmeas gestantes ou em fase de amamentação. A mortalidade foi registrada em um período de cinco meses, com estudo em local pantanoso e topografia de baixo declive em Campos dos Goytacazes. O diagnóstico foi firmado pelo professor Eulogio Queiroz de Carvalho; seu orientado, o doutorando Raphael Mansur Medina; do Laboratório de Morfologia e Patologia Animal (LMPA) da UENF; e os médicos veterinários Serafim Saldanha Braga de Azeredo, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e Cláudio Vilela Vieira, coordenador de Defesa Agropecuária do Rio de Janeiro.

Na maioria dos casos, o gado apresentava dificuldades respiratórias, estado mental aparentemente normal e sinais neurológicos de paralisia flácida da musculatura, o que dificultava a locomoção. Nos pastos foram observadas coleções de água esverdeada com elevada quantidade de matéria orgânica, constituída por fezes dos próprios búfalos,  aves aquáticas e  urubus. Nesses locais os animais vinham a óbito.

O grupo detectou que a prática nas propriedades era a de não recolher as carcaças que se decompunham na pastagem ou em contato com a água pantanosa. Com a ocorrência crescente da enfermidade e de óbitos, eram muitas as carcaças decompostas presentes na água que os animais bebiam, fator que retroalimentava a mortalidade.

Segundo Eulógio, a ocorrência de botulismo depende de uma série de fatores envolvendo a intensidade da contaminação ambiental pelos esporos da bactéria Clostridium botulinum, além da presença de substrato e a existência de condições ideais para sua multiplicação e formação de toxina. A proliferação da doença foi causada pelo sistema de produção utilizado (o manejo dos animais).  Os dejetos deixados no ambiente determinaram a forma e intensidade do surto. Diante do quadro encontrado, os pecuaristas receberam orientações técnicas para evitar que novos surtos da doença venham a ocorrer.

Nas análises realizadas no Laboratório de Enfermidades Infecciosas dos Animais, da Unesp/Araçatuba, foi possível detectar a toxina botulínica tipo C, o que levou à confirmação do diagnóstico clínico-patológico e epidemiológico de botulismo hídrico realizado na UENF. Também foram feitas análises em amostras de fígado, conteúdo intestinal e conteúdo ruminal dos animais necropsiados, nos quais foram diagnosticadas lesões compatíveis com a desnutrição. Na opinião de Eulógio, este fator deve ter contribuído para o agravamento dos efeitos da toxina encontrada no ambiente e nos órgãos examinados.

Intoxicação pode acometer também o homem

Resultante da ingestão de toxinas previamente formadas pela bactéria anaeróbia Clostridium botulinum, o botulismo é uma intoxicação exógena grave que pode estar acometer tanto o homem quanto os animais, inclusive aves e outras espécies.

Nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás foram registrados surtos esporádicos de botulismo hídrico em bovinos. No Maranhão existem descrições de surtos de botulismo enzoótico em búfalos, relacionados com a presença de matéria orgânica vegetal nas poças formadas em períodos de estiagem e ingeridas pelos animais.

Para controlar e evitar a enfermidade, é necessário evitar a permanência de cadáveres no pasto e no pântano e/ou áreas alagadas e evitar situações de descontrole no manejo da suplementação mineral e alimentar. 

— É necessária a retirada imediata dos animais da pastagem contaminada; a eliminação de carcaças nos campos e no pântano; tratamento de suporte fornecendo água e alimentos de boa qualidade; vacinação do rebanho contra botulismo a partir de quatro meses e revacinação 30 a 40 dias após, depois a vacinação anual. Porém, como o desafio é muito grande, faz-se necessária a vacinação semestral até o controle total do problema — conclui o professor.

Thais Peixoto