Num mundo onde quase metade da população sofre de insegurança alimentar — segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) —, o que dizer do volume de alimentos desperdiçados todos os anos? Segundo o relatório Global Food: waste not, want not (“Comida Global: não desperdice, não queira"), divulgado no último dia 10 pelo Instituto de Engenheiros Mecânicos (Imeche) do Reino Unido, entre 30% e 50% dos alimentos produzidos anualmente acabam indo parar no lixo — o que representa de 1,2 a 2 bilhões de toneladas de comida desperdiçadas.
O problema não é menos grave no Brasil, onde, segundo a Embrapa, mais de 26 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas todos os anos. Para o doutorando Luiz Fernando Miranda e a professora Karla Silva Ferreira, do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF (que assinam a coluna ‘Nutrição’, no Blog Ciência UENF), a ciência pode ajudar a minimizar o problema, desenvolvendo tecnologias sustentáveis, estudando técnicas para melhorar a produção, armazenamento e transporte de alimentos. Veja e entrevista:
Ciência UENF - O desperdício de alimentos é muito grande no Brasil? Quais as suas causas?
Sim. Segundo a Embrapa, o país desperdiça mais de 26 milhões de toneladas por ano, o que seria suficiente para alimentar 35 milhões de pessoas. Ou seja, além do desperdício, está havendo desigualdade na distribuição destes alimentos, justificando os milhões de famintos no Brasil.
Ciênca UENF- Uma grande parte do desperdício ocorre ainda na fase de produção de alimentos. É possível evitar este problema?
Sim. A falta de pessoal qualificado, erros no preparo do solo, seleção de sementes, proliferação de pragas, colheitas feitas em momento inadequado, armazenamento, embalagem e transporte inadequados contribuem para a perda de alimentos. Minimizando estes problemas, o desperdício seria bastante reduzido, e de quebra, os alimentos ficariam mais baratos, poupando a renda do consumidor. Não acho inteligente pensar em aumentar a produção de alimentos no Brasil sem diminuir as perdas. Além de não poupar o meio ambiente, é não pensar no próximo.
Ciência UENF - De que forma a pesquisa científica pode ajudar a evitar este problema?
Desenvolvendo tecnologia de forma sustentável, estudando técnicas para melhorar a produção, armazenamento e transporte dos alimentos, que não necessariamente devem ser caras. Além disso, trabalhos e estudos de extensão com objetivo de melhorar a qualidade dos alimentos no comércio, voltados principalmente para identificar e corrigir práticas inadequadas no armazenamento, tanto poderão servir como ferramenta para ações governamentais quanto para reduzir riscos à saúde do consumidor e o desperdício de alimentos.
Ciência UENF- A Uenf faz pesquisas nesta área?
Sim. Há inúmeros professores na uenf desenvolvendo pesquisas neste sentido, por exemplo, voltadas para prolongar a vida pós colheita de frutos, técnicas de conservação, aproveitamento de resíduos, desenvolvimento de variedades resistentes a algumas pragas e mais adequadas a Região etc.
Ciência UENF- Que alimentos estão mais sujeitos ao desperdício e de que forma podemos minimizar isto?
Todos os alimentos, principalmente aqueles muito perecíveis, como as frutas, verduras, legumes, cárneos e laticínios. A má qualidade do transporte e o armazenamento dos alimentos in natura causam danos aos alimentos, tornando a sua aparência desagradável ao consumidor, e por isso acabam sendo desperdiçados. Outro problema grave é o descuido no controle da temperatura adequada e no manuseio de produtos cárneos e laticínios, com danos às embalagens. Este fato ocorre no transporte e distribuição destes produtos, propiciando assim a contaminação e multiplicação de microrganismos patogênicos. Há gestores de supermercados que desligam ou reduzem a temperatura de freezers com o intuito de economizar os custos com energia elétrica, desconsiderando o risco que um alimento conservado inadequadamente pode causar à saúde do consumidor. Outro problema de gestão é a liquidação de produtos vencidos ou que estão com prazo de validade expirando. Muitos consumidores compram estes produtos por estarem com baixos preços sem observar a data de validade. Recentemente, o PROCON de Campos disseminou uma campanha chamada "De olho na validade", alertando a população sobre problema.
Ciência UENF - Como minimizar as perdas?
O consumidor pode minimizar as perdas não comprando excesso de alimentos e planejando as compras, principalmente dos alimentos perecíveis, para que possam ser consumidos antes de estragar. Para isso, é importante fazer uma lista de compras, pois isto evita que se compre alimentos além do necessário. É importante também não comprar alimentos com data de validade vencida; higienizar e conservar adequadamente os alimentos para evitar que estraguem mais rapidamente; cozinhar exatamente a quantidade que será consumida; nas refeições, colocar no prato o que realmente vai comer ou ainda colocar pouca comida, e repetir se necessário.
Fúlvia D'Alessandri
Nenhum comentário:
Postar um comentário