sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Perigo ou avanço científico?
O anúncio de que cientistas holandeses e americanos criaram em laboratório uma linhagem mortal do vírus da gripe aviária deixou o mundo em alerta esta semana. O receio é que as informações possam cair nas mãos de terroristas e serem usadas como arma biológica de destruição em massa, ou ainda que um acidente deixe escapar o micro-organismo. Não seria melhor, então, proibir este tipo de pesquisa? Para o diretor do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da UENF, Gonçalo Apolinário, isso seria uma decisão equivocada.
Ele reconhece que os resultados devem servir de alerta para a necessidade de rigorosas normas de biossegurança no caso de pesquisas que envolvam manipulação genética de agentes infecciosos. No entanto, ressalta que o objetivo final desse tipo de pesquisa é o conhecimento dos mecanismos envolvidos, propiciando o desenvolvimento de métodos de diagnóstico precoce, produção de vacinas e medicamentos.
- Muitos grupos de pesquisa realizam estudos semelhantes para diferentes agentes causadores de doenças. Normalmente, são realizadas mutações em genes importantes para o processo infeccioso, no intuito de avaliar seu papel no contágio e progressão das doenças. Muitas vacinas e medicamentos que hoje utilizamos foram gerados a partir de estudos semelhantes - diz.
Neste caso específico, observa Gonçalo, os pesquisadores foram surpreendidos pelo grande efeito (risco) causado por um conjunto relativamente simples de mutações. Para ele, o lado positivo da pesquisa reside na “tomada de consciência” de que tais mutações podem vir a ocorrer naturalmente no futuro – gerando risco de uma epidemia devastadora. Agora, esse conhecimento gerado em laboratório permitirá desenvolver vacinas ou tratamentos preventivamente.
- Mas é claro que se justificam os temores de ‘vazamento’ acidental dessas cepas virais, bem como da utilização desses conhecimentos para a construção de armas biológicas. Isso leva à necessidade de análises de risco antes que projetos nesta linha sejam autorizados. É preciso considerar, por exemplo, a necessidade de estudos quanto à competência da equipe de pesquisa, infra-estrutura de segurança dos laboratórios, bem como a forma de divulgação dos dados obtidos - afirma.
Veja mais informações aqui.
Fúlvia D'Alessandri
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O Professor Gonçalo Apolinário definiu muitíssimo bem a questão de "análises de risco" (antes que projetos nesta linha sejam autorizados): 1 - Competência da equipe de pesquisa; 2 - Infraestrutura de segurança dos laboratórios; 3 - Forma de divulgação dos dados obtidos; como bons exemplos. Eu digo que, a biossegurança é fundamental em todo Centro de Pesquisa. E, neste contexto a Universidade, envolvendo indivíduos em vários níveis, não deve incorrer em risco biológico por patógenos sem vacina estabelecida. A Universidade é pública, o Ensino e a Ética são objetivos finais que seguem à Pesquisa Científica. Meus parabéns ao Prof. Gonçalo pelas lúcidas colocações.
ResponderExcluirSílvia Gonçalves