sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Coluna Nutrição: Alimentação e festas de fim de ano






Alimentação e festas de fim de ano


Luiz Fernando Miranda e Karla Silva Ferreira*



Panetone engorda? Cerveja e rabanada aumentam a “gordura da barriga”? Existe dieta desintoxicante? Estas são algumas dúvidas muito comuns em festas de fim de ano, temas recorrentes em revistas populares, telejornais, e, claro, não poderíamos deixar de comentar aqui no blog Ciência UENF.

Não existe alimento que engorda, nem que emagrece. O que leva um indivíduo a ganhar ou perder peso é o desequilíbrio energético diário. Para entender melhor o que isso significa, suponhamos que um indivíduo necessite de uma quantidade diária de energia de 1500 Kcal. Se ele comer somente uma fatia de panetone (270 Kcal), a quantidade de energia obtida ainda será inferior ao que ele necessita. Entretanto, se além do panetone este mesmo indivíduo ingerir duas fatias de rabanada (477 Kcal), duas latas de cerveja de 350ml (286 Kcal), uma porção de castanha portuguesa (95 Kcal/50g), duas fatias grossas de peito de chester (99Kcal/100g), duas colheres de servir de arroz (128 Kcal/100g) e duas colheres de sopa de farofa simples (111 Kcal/porção de 30g), isso totalizará 1608 kcal. Observe que o somatório energético é superior ao que o indivíduo necessita diariamente, e provavelmente, haverá pequeno ganho de peso corporal. Portanto, não será o panetone, nem nenhum dos alimentos citados anteriormente que o engordará, mas sim o conjunto dos alimentos que ele ingeriu no dia.
               
Muitas vezes, o ganho de peso corporal devido à ingestão excessiva de alimentos em único dia não é percebido. Por exemplo, se uma pessoa diariamente ganha 66g de gordura (quantidade imperceptível) sem haver compensação, no final do mês ele terá engordado três quilos. A perda de peso não necessariamente envolve só a gordura, mas sim proteínas corporais (ex. músculos) e água. Quem faz restrição alimentar exagerada perde gordura corporal e músculos também. O ganho de peso pode estar associado à hidratação, aumento dos músculos e excesso de gordura corporal. No caso de indivíduos sedentários e sem alimentação equilibrada, o excesso de gordura é mais comum, e se diz que ele engordou.           

Em relação às bebidas alcoólicas, não existe comprovação científica da relação direta entre consumo de cerveja, por exemplo, e aumento de gordura abdominal. Mesmo assim, o álcool deve ser evitado. Ingerir bebidas alcoólicas em excesso e em longo prazo contribui para o surgimento de câncer de boca, esôfago, laringe, faringe, cirrose e outras doenças.  Estas bebidas também contribuem para desidratação pela elevada formação de urina, que resulta em dor de cabeça e mal estar (ressaca). Para amenizar este efeito desidratante do álcool, é aconselhável bastante ingestão de água. A cor da urina, normalmente tida como referência para verificação do estado de hidratação (cor clara indica boa hidratação), não pode ser utilizada quando se consome excesso de bebida alcoólica. O álcool faz com que a urina fique clara, mesmo que o indivíduo esteja desidratado. Normalmente, quando se ingere pouco líquido, a urina tende a ficar mais concentrada, e, portanto, amarelada.           

Devido ao consumo excessivo de alimentos, são elaboradas dietas com a promessa de que desintoxicam, ou que promovem a limpeza do corpo. Isto também é um mito. Estas dietas são ricas em antioxidantes, substâncias que não possuem capacidade de limpar o organismo, mas sim de reduzir a formação de substâncias que danificam as células por reação de oxidação, ou neutralizá-las. Reações deste tipo ocorrem a todo o momento, em qualquer ser vivo e durante a vida inteira, e não somente em humanos durante festas de fim de ano. Por isso, é recomendado estar sempre hidratado, consumir vegetais diariamente e evitar alimentos com elevado teor de gordura, carboidrato e sal (rever matéria “alimentação adequada” neste blog). Muitos tipos de dietas são criados sem respaldo científico, e muitas vezes, por serem muito restritivas, exigem muita mudança do hábito alimentar repentinamente. Práticas assim dificilmente são sustentadas. O indivíduo abandona cedo, e normalmente retorna ao peso anterior. Segundo o Conselho Nacional de Saúde dos EUA, 95% das pessoas que seguem dietas sem educação nutricional retornam ao peso anterior à dieta em até cinco anos.                                         

Os alimentos secos, como castanhas, nozes e amêndoas, são muito nutritivos. O vinho, embora contenha álcool, se consumido moderadamente, é benéfico à saúde, pois é rico em substâncias antioxidantes (ex. resveratrol).             

Por fim, não deixe de consumir o que deseja, mesmo que seja rabanada ou sorvete. A estratégia é intercalar ou combinar a ingestão destes alimentos com frutas e outros vegetais disponíveis na ceia, que podem até reduzir seu apetite. Consulte um nutricionista, que, entre outras coisas, lhe informará a sua necessidade energética diária, pois isto varia entre os indivíduos. Também por isto, as dietas jamais devem ser copiadas.

Boas festas!

* Doutorando e professora do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF

Um comentário: