Embora não sejam vistos, os micro-organismos estão presentes em toda parte, sendo praticamente impossível eliminá-los completamente de um ambiente
Você não pode vê-los, mas eles estão em toda parte — nas paredes, no teto, no chão, nos móveis, nos objetos, no ar e até mesmo na comida que você come. A maior parte dos ambientes abriga um número indeterminado de micro-organismos que não permite ao ser humano, em momento algum, manter-ser afastado de formas microscópicas de vida.
Segundo o professor Júlio César Ferreira, pesquisador do Laboratório de Fisiologia e Bioquímica de Micro-organismos da UENF, os microrganismos só não são encontrados em locais muito quentes, com temperaturas superiores aos 120ºC. Abaixo de –5ºC, quando encontrados, apresentam-se na forma inativa.
— É praticamente impossível eliminar todos os micro-organismos de um ambiente. Mesmo nos locais mais assépticos eles são encontrados, como em centros cirúrgicos ou laboratórios. O que é possível fazer é diminuir a incidência, não eliminá-los completamente —, afirma, observando, no entanto,que a maioria dos microrganismos convive com o ser humano sem causar problemas.
Em casa, por exemplo, qualquer partícula de comida que caia no chão ou se fixe na parede, por mais microscópica que seja, vai servir de alimento para bactérias ou fungos. Mas, mesmo que você jamais coma dentro de casa, não conseguirá se livrar dos micro-organismos. Eles estão continuamente entrando e saindo de casa, através do ar, da água, da poeira trazida pelo vento etc.
— Nos locais onde as pessoas tendem a ficar sentadas ou deitadas, como sofás e colchões, por exemplo, a descamação da pele atrai ácaros (aracnídeos microscópicos),que vão se nutrir da queratina da pele e “defecar” ali. Tanto nesse material excretado quando nos restos de pele vai haver o crescimento de fungos — explica Júlio César.
Ele observa que, embora nem toda matéria orgânica que existe sirva de alimento para os seres humanos, haverá sempre um micro-organismo, na natureza, capaz de degradá-la. Até mesmo o petróleo ou a gasolina, se misturados à água, tornam-se alimento para fungos e bactérias.
— Um exemplo visível, em casa, é a fumaça que sai das frituras e que vai se acumular nas paredes. O que a gente chama genericamente de sujeira é, na realidade, um microambiente complexo, onde existem vários micro-organismos diferentes competindo ou colaborando no sentido de degradar aquela matéria orgânica — diz o pesquisador.
Segundo Júlio César, é impossível dizer quantas espécies de micro-organismos podem estar presentes dentro de casa. Estima-se que seja possível cultivar em laboratório apenas 5% dos micro-organismos que existem na natureza — em outras palavras, a maioria destes seres microscópicos sequer é conhecida.
Embora seja verdade que a maioria dos micro-organismos conviva normalmente com o ser humano, também é verdade que muitas doenças são causadas por eles. Tudo vai depender da quantidade de micro-organismos potencialmente patogênicos que entra, de uma só vez, no organismo.
— Micro-organismos como os vírus da gripe e do resfriado, além de bactérias causadoras de doenças como a coqueluche, a meningite e infecções de garganta, por exemplo, precisam de um ambiente que favoreça a sua concentração: um local fechado, com umidade do ar elevada e muita gente respirando junta. A tosse e o espirro liberam aerossóis (gotículas microscópicas) que abrigam o micro-organismo. Se você estiver num lugar assim, é possível que também pegue a doença — explica Júlio César.
Grande parte das doenças é adquirida fora de casa, no contato com pessoas infectadas, na ingestão de alimentos contaminados e até mesmo na manipulação e uso de objetos que também foram manipulados por pessoas infectadas. Como é impossível saber onde encontrar um micro-organismo patogênico, Júlio César dá alguns conselhos: lavar as mãos sempre que voltar da rua e, principalmente, quando as tiver colocado em algo que outras pessoas também tiverem manipulado (como ônibus, dinheiro, orelhão etc); não tomar refrigerante colocando a boca direto na lata ou na garrafa, sem lavar; e não comer alimentos que ficam expostos na rua.
— É bom lembrar que nosso corpo tem defesas naturais. O ser humano evoluiu convivendo com esses micro-organismos. Então, o mais importante é usar sempre o bom senso — conclui.
Fúlvia D'Alessandri
Fonte: Livro Descomplicando a Ciência
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